Cresce a convicção de que exercícios físicos ajudam no combate a doenças degenerativas

Exercício físico aumenta a produção de substâncias que atuam na proteção das células do cérebro

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Correio Braziliense Publicação:15/03/2014 15:00Atualização:14/03/2014 11:01
Todo mundo já sabe que a prática regular de atividades físicas traz diversos benefícios à saúde. Além dos resultados estéticos, movimentar o corpo faz bem para o coração e para a mente, uma vez que ajuda no controle da ansiedade e do estresse. O que pode surpreender é que o exercício físico também serve como aliado para prevenir e retardar o avanço de doenças degenerativas. Muitas vezes, são patologias hereditárias e ainda sem cura, caracterizadas pela lesão gradual de células do organismo e cuja evolução traz limitações físicas e mentais, como o Alzheimer e a doença de Parkinson.

“No caso das doenças do sistema nervoso central, como Alzheimer e Parkinson, a atividade física é benéfica porque protege o cérebro”, afirma o neurologista Nasser Allen, pesquisador do Laboratório de Neurociências e Comportamento da Universidade de Brasília. “O exercício físico aumenta a produção de substâncias que atuam na proteção das células do cérebro, prolonga a vida dessas células e previne que elas entrem num processo de morte”, completa.

Todos esses processos são benéficos para as funções cognitivas dos pacientes. “São funções relacionadas ao pensamento, como memória de curto e longo prazos, atenção, cálculo, noção de tempo e de espaço e memória operacional e de trabalho — lembrar onde você estacionou o carro, por exemplo”, explica Allen. Ainda de acordo com o médico, a atividade aeróbica melhora a irrigação sanguínea no cérebro, o que previne o surgimento de demências.

Carlos Jorge capricha na academia para combater os sintomas do Parkinson, descoberto há quatro anos (Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Carlos Jorge capricha na academia para combater os sintomas do Parkinson, descoberto há quatro anos
Diagnosticado com Parkinson há quatro anos, Carlos Jorge Tinoco de Carvalho, 51 anos, perdeu o controle urinário e tem dificuldades para escrever e digitar — ele chega a tomar mais de 10 comprimidos por dia em razão dos comprometimentos. Ainda assim, manteve-se ativo depois de descobrir a doença. Além da ir para academia, Carlos nada e faz dança de salão. Ele garante que sente vários benefícios por movimentar o corpo. “Fortalece a musculatura, diminui muito o tremor e melhora a coordenação. No começo, não conseguia nem andar direito”, revela o servidor público aposentado, que não se esquece de exercitar a cabeça. “Estou sempre lendo e estudando sobre Parkinson”, reforça.

Sabe-se que o exercício aeróbico favorece a conexão entre os neurônios, aumentando a capacidade de aprendizagem e adaptação. O mesmo ocorre quando o cérebro é estimulado com exercícios mentais, como jogos de estratégias e aprendizado de idiomas. “O tratamento das doenças degenerativas vai combinar tudo isso: exercícios para o corpo e para o cérebro com o uso de remédios”, explica o especialista Nasser Allen.

Eliana Vidal de Andrade, 61 anos, frequenta a academia três vezes por semana como parte do tratamento, que inclui também terapia cognitiva e medicamentos. Os médicos acreditam que ela se encaixa no quadro de Alzheimer precoce, nome dado quando a doença aparece em pacientes com menos de 65 anos. “Até pelo convívio social que o exercício físico proporciona, ele ajuda muito para retardar a perda de consciência, que a gente já sabe que vai acontecer por se tratar de uma doença degenerativa”, afirma a publicitária e atriz Érica Vidal, 28, filha de Eliana.

“Como ela já se exercitava antes da doença, ainda lembra o caminho e consegue ir à academia sozinha”, conta Érica. Ela diz ainda que a mãe adora fazer os exercícios e costuma ficar pronta para as atividades com horas de antecedência. “Ela nunca se esquece de ir malhar e volta sempre mais animada.”

Vaidoso aos 83 anos, o servidor público aposentado Lélio Raphanelli levou para a terceira idade o cuidado com o corpo que teve a vida inteira. “Melhora o humor, a vida pessoal, melhora tudo”, comenta sobre os exercícios físicos. “Com o passar dos anos, a gente sente que nunca está imune ao aparecimento de qualquer doença, então é melhor cuidar do corpo e da mente”, diz Lélio. Ele revela como mantém o cérebro ativo: “Adoro fazer palavras cruzados e estou sempre viajando. Gosto de conhecer os palácios, a história e a gastronomia dos lugares”.

Esse tipo de preocupação é uma tendência em franco crescimento nas academias, afirma o personal trainner Alexandre Pereira. “Com o aumento da expectativa de vida, os idosos têm se preocupado cada vez mais com a qualidade de vida durante o envelhecimento. A classe médica, por sua vez, tem divulgado a importância da prática de exercícios físicos tanto na prevenção quanto na contenção do avanço de doenças degenerativas”, acredita.

Três ótimos motivos para não ser sedentário:
-Ao atrasar o avanço das doenças degenerativas, os exercícios permitem que o paciente preserve por mais tempo a memória e a noção de tempo e espaço. O sono mais equilibrado, consequência do exercício físico, também favorece as capacidades cognitivas.
-A prática de atividades físicas tem um lado preventivo, pois possibilita a formação de novas conexões no cérebro. Isso é muito importante diante de doenças como Alzheimer, cuja principal característica é a perda progressiva de conexões neurais.
-Trabalhar o corpo favorece a produção de hormônios que dão sensação de bem-estar, como a endorfina. Por isso, quem faz exercícios regularmente fica mais alegre e estável, menos sujeito a ansiedade e depressão.

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