Com a promessa de afinar a cintura, manga africana divide opiniões de especialistas
O extrato de manga africana ganhou apelido de "seca barriga". Apesar de não existir consenso, especialistas reconhecem que o extrato da planta, vendido em cápsulas em lojas naturais e pela internet, pode ajudar, sim, a emagrecer, porém, não é o milagre vendido por aí
Luciane Evans
Publicação:24/03/2014 15:00Atualização: 25/08/2014 12:28
Nativa do Sudeste Asiático e da África, produzindo frutos amarelos, ricos em fibras e sementes ricas em gorduras saudáveis, a Irvingia gabonensis é cultivada naturalmente em florestas de Camarões, na África. O extrato da manga é feito a partir da semente ou do caroço dessa árvore, e a descoberta de suas propriedades veio depois que estudos epidemiológicos mostraram que em algumas tribos da África Ocidental havia uma incidência muito baixa de obesidade e de diabetes, e o fato foi atribuído ao uso de uma pasta feita da semente da manga africana que as tribos usam para engrossar a sopa. A partir daí, muitas pesquisas foram feitas até o desenvolvimento do extrato, que já é comercializado no Brasil.
De acordo com Maria Tereza Teixeira, especialista em nutrição e auriculoacupuntura, trabalhos científicos comprovam a eficácia do extrato na redução de peso. “Outro efeito é a melhora da dislipidemia e da saúde cardiovascular com redução do colesterol ruim (LDL) e melhora dos níveis do bom colesterol (HDL)”, cita. Ela explica que a causa da perda de peso é a restauração dos níveis normais de leptina na corrente sanguínea. “A leptina é uma proteína secretada por adipócitos (células de gordura) que age no sistema nervoso central, promovendo menor ingestão alimentar e incrementando o metabolismo energético. Com esse aumento, há uma aceleração da taxa do metabolismo e consequente redução do apetite. Além disso, a Irvingia gabonensis inibe a adipogênese (formação de células de gordura) nos adipócitos.”
A especialista defende que a manga é uma opção para quem quer "secar a barriga". “É uma alternativa mais segura se comparada às substâncias emagrecedoras que aceleram o metabolismo, estimulando a frequência cardíaca. Mas não existem milagres e o uso deve ser conciliado com alimentação saudável e atividades físicas regulares.” A nutricionista esportiva Renata Paz comenta que apesar dos benefícios e de se tratar de algo natural, para consumi-lo é necessária orientação nutricional. “Não é algo para usar sem acompanhamento, pois pode causar distúrbios intestinais e ainda queda da glicose”, alerta.
NEM TANTO EFEITO
Por outro lado, em 2008, quando surgiram os primeiros artigos científicos sobre a planta, a Clínica Be Light Estar Bem fez testes para conhecê-la melhor. “Com o resultado obtido, paramos de trabalhar com ela”, afirma uma das sócias da clínica e nutricionista, especialista em nutrição biomolecular, Patrícia Alves Soares. Ela explica que, por se tratar de um produto importado, há efeitos que podem ser alcançados com produtos nacionais usados por nós no dia a dia. “A potencialidade dela não é diferente do leite desnatado, dos derivados do leite de cabra e da planta Bauhinia forficata, mais conhecida como pata-de-vaca”, diz.
De acordo com Patrícia, o que há de melhor na manga africana é a gordura chamada de ácido láurico, que atua como anti-inflamatório e estimula o sistema imunológico; e a substância termorgênica. Patrícia explica que as células de gordura agem como soldados em nossos sistema de defesa. “Ela tem o potencial de redução de resistência à insulina. A insulina é o ‘caminhão’ que recebe o carboidrato e a proteína que a gente ingere. Esse caminhão tem que ser direcionado aos tecidos ativos, que gastam energia. Quando você tem muitos caminhões, essas células não aceitam a quantidade de energia e os caminhões vão para outro lugar, no caso, o tecido adiposo. A manga africana tentaria fazer permitir que esses nutrientes a mais que comemos fossem aceitos pelas células ativas, diminuindo o que vai para as células gordurosas”, diz.
Assim, segundo Patrícia, mesmo que se consiga organizar esse funcionamento e continuar comendo muito, as células ativas recusam os nutrientes. “Por isso, dizemos que a manga africana, para quem está fazendo uma restrição calórica e atividade física, pode trazer resultado, porém, não altera o metabolismo da pessoa sedentária, sem bons hábitos alimentares.” Ela destaca ainda que na Associação Americana de Nutrição Clínica e na Associação Europeia, ambas muito respeitadas na área científica, não há pesquisas sobre a manga. Ainda de acordo com Patrícia, mulheres que usam anticoncepcional não devem usar o produto. “Ele não vai funcionar, pois a medicação impede o efeito.” Em suma, a nutricionista diz que são necessários alguns requisitos para que a cápsula surta efeito. “Mas o ácido láurico presente no extrato pode complicar ações no fígado, se usado a longo prazo”, avisa.
Não existem milagres: o uso deve ser conciliado com alimentação saudável e atividades físicas regulares
Saiba mais...
Da África ela veio como promessa na dieta para um emagrecimento saudável, chegou aqui e ganhou a apelido de “seca barriga”. Desde 2008, quando começaram a aparecer artigos científicos defendendo os benefícios da Irvingia gabonensis, mais conhecida como manga africana, muitos foram os profissionais que a indicaram como aliada na perda de peso, e muitos foram aqueles que não viram vantagem alguma nela. Seis anos depois de seu aparecimento, ela voltou a ser assunto e nutricionistas ainda não entraram em consenso sobre a real potencialidade desse alimento. Mas tanto quem o defende quanto quem não o recomenda reconhecem que o extrato da planta, vendido em cápsulas em lojas naturais e pela internet, pode ajudar, sim, a emagrecer, porém, não é o milagre vendido por aí.- Usado por famosos, goji berry é aliado do emagrecimento e começa a se tornar febre em BH
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Nativa do Sudeste Asiático e da África, produzindo frutos amarelos, ricos em fibras e sementes ricas em gorduras saudáveis, a Irvingia gabonensis é cultivada naturalmente em florestas de Camarões, na África. O extrato da manga é feito a partir da semente ou do caroço dessa árvore, e a descoberta de suas propriedades veio depois que estudos epidemiológicos mostraram que em algumas tribos da África Ocidental havia uma incidência muito baixa de obesidade e de diabetes, e o fato foi atribuído ao uso de uma pasta feita da semente da manga africana que as tribos usam para engrossar a sopa. A partir daí, muitas pesquisas foram feitas até o desenvolvimento do extrato, que já é comercializado no Brasil.
De acordo com Maria Tereza Teixeira, especialista em nutrição e auriculoacupuntura, trabalhos científicos comprovam a eficácia do extrato na redução de peso. “Outro efeito é a melhora da dislipidemia e da saúde cardiovascular com redução do colesterol ruim (LDL) e melhora dos níveis do bom colesterol (HDL)”, cita. Ela explica que a causa da perda de peso é a restauração dos níveis normais de leptina na corrente sanguínea. “A leptina é uma proteína secretada por adipócitos (células de gordura) que age no sistema nervoso central, promovendo menor ingestão alimentar e incrementando o metabolismo energético. Com esse aumento, há uma aceleração da taxa do metabolismo e consequente redução do apetite. Além disso, a Irvingia gabonensis inibe a adipogênese (formação de células de gordura) nos adipócitos.”
A especialista defende que a manga é uma opção para quem quer "secar a barriga". “É uma alternativa mais segura se comparada às substâncias emagrecedoras que aceleram o metabolismo, estimulando a frequência cardíaca. Mas não existem milagres e o uso deve ser conciliado com alimentação saudável e atividades físicas regulares.” A nutricionista esportiva Renata Paz comenta que apesar dos benefícios e de se tratar de algo natural, para consumi-lo é necessária orientação nutricional. “Não é algo para usar sem acompanhamento, pois pode causar distúrbios intestinais e ainda queda da glicose”, alerta.
Maria Tereza Teixeira: "A manga africana é uma alternativa mais segura"
Por outro lado, em 2008, quando surgiram os primeiros artigos científicos sobre a planta, a Clínica Be Light Estar Bem fez testes para conhecê-la melhor. “Com o resultado obtido, paramos de trabalhar com ela”, afirma uma das sócias da clínica e nutricionista, especialista em nutrição biomolecular, Patrícia Alves Soares. Ela explica que, por se tratar de um produto importado, há efeitos que podem ser alcançados com produtos nacionais usados por nós no dia a dia. “A potencialidade dela não é diferente do leite desnatado, dos derivados do leite de cabra e da planta Bauhinia forficata, mais conhecida como pata-de-vaca”, diz.
De acordo com Patrícia, o que há de melhor na manga africana é a gordura chamada de ácido láurico, que atua como anti-inflamatório e estimula o sistema imunológico; e a substância termorgênica. Patrícia explica que as células de gordura agem como soldados em nossos sistema de defesa. “Ela tem o potencial de redução de resistência à insulina. A insulina é o ‘caminhão’ que recebe o carboidrato e a proteína que a gente ingere. Esse caminhão tem que ser direcionado aos tecidos ativos, que gastam energia. Quando você tem muitos caminhões, essas células não aceitam a quantidade de energia e os caminhões vão para outro lugar, no caso, o tecido adiposo. A manga africana tentaria fazer permitir que esses nutrientes a mais que comemos fossem aceitos pelas células ativas, diminuindo o que vai para as células gordurosas”, diz.
Assim, segundo Patrícia, mesmo que se consiga organizar esse funcionamento e continuar comendo muito, as células ativas recusam os nutrientes. “Por isso, dizemos que a manga africana, para quem está fazendo uma restrição calórica e atividade física, pode trazer resultado, porém, não altera o metabolismo da pessoa sedentária, sem bons hábitos alimentares.” Ela destaca ainda que na Associação Americana de Nutrição Clínica e na Associação Europeia, ambas muito respeitadas na área científica, não há pesquisas sobre a manga. Ainda de acordo com Patrícia, mulheres que usam anticoncepcional não devem usar o produto. “Ele não vai funcionar, pois a medicação impede o efeito.” Em suma, a nutricionista diz que são necessários alguns requisitos para que a cápsula surta efeito. “Mas o ácido láurico presente no extrato pode complicar ações no fígado, se usado a longo prazo”, avisa.