Devo parar de seguir a dieta Dukan?
No fim de janeiro, organização médica francesa expulsou o médico e nutricionista por explorar comercialmente uma dieta que provoca desequilíbrios alimentícios e se aproveita da obsessão pelos efeitos imediatos no processo de emagrecimento
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Profissionais de saúde encaram a decisão francesa como uma confirmação de que há algo de podre no reino das proteínas. As críticas se tornaram mais frequentes a partir de 2010, quando Jean-Michel Cohen, médico francês e também autor de livros de sucesso, vinculou Dukan a problemas cardíacos e câncer. Cohen chegou a dizer que 'os únicos beneficiados pelos tratamentos de Dukan eram a indústria do emagrecimento, médicos, vendedores de comprimidos e a mídia'. Por isso, ele foi acionado judicialmente, mas o processo foi arquivado em 2011.
Além disso, o colegiado médico não está sozinho. A Agência de Segurança Sanitária na Alimentação da França também classificou a dieta como 'desequilibrada' e denunciou que 80% das pessoas recuperam os quilos perdidos em até um ano. Já a Agência Espanhola de Segurança Alimentar inseriu o método Dukan em uma espécie de 'lista negra', ao lado de outros sistemas classificados pelos peritos como 'fraudes' causadoras de doenças cardiovasculares e renais no futuro, além de perda de cálcio e de vitaminas. Os autores espanhois salientaram que não havia nenhum estudo científico que comprovasse o sistema Dukan e que 'número de livros vendidos' nunca foi solução para nenhuma doença. A Associação Britânica de Nutricionistas também incluiu o método em seu rol de 'cinco dietas das celebridades a serem evitadas', entre 2010 e 2013.
Fundamentos
A nutricionista explica que o fundamento do sistema Dukan é o fato de que o organismo “gasta” mais energia para metabolizar proteínas. “Mas, em longo prazo, o efeito acaba sendo o contrário, estimulando a obesidade. Precisamos lembrar que, antes de calorias, os alimentos possuem nutrientes essenciais para o metabolismo”, alerta a professora. Existem, por exemplo, substâncias necessárias no processo de mobilização de gordura. A alimentação desequilibrada pode prejudicar esse processo e até impedir a perda de peso.
Além disso, os alimentos recomendados por Pierre Dukan são ricos em sal. “O cardápio proposto pode favorecer o surgimento de cálculos renais e doenças crônico-degenerativas, como as cardiovasculares e o câncer. Devido ao desequilíbrio no ph do sangue, que fica muito ácido, o organismo pode utilizar o cálcio ósseo, poderoso alcalinizante, para neutralizar o efeito colateral. O resultado é risco aumentado de osteoporose”, adverte.
A nutricionista explica ainda que existe limite, baseado em fatores como idade e sexo, para a quantidade máxima diária de proteínas ingeridas. O excesso não é armazenado no organismo e sim metabolizado pelo fígado e eliminado pelos rins – ou seja, os dois órgãos podem ser sobrecarregados: este é um dos perigos de seguir uma dieta hiperproteica com base em um livro ou site, sem acompanhamento nutricional e médico.
Quando a proteína faz mal
Patrícia ensina que as melhores fontes para a obtenção de proteínas são leite desnatado, queijo Minas light, iogurte light, carne de boi em corte magro, frango sem pele, peixe e ovos. Mas essas são apenas sugestões mais saudáveis, nada definitivas. “O ideal é que uma dieta personalizada seja programada, de forma detalhada, para você saber qual a quantidade ideal para seu perfil. A reeducação alimentar é muito melhor para o organismo do que qualquer dieta muito restrititva”, pondera a professora.
Pergunta inicial
Patrícia Andrade recomenda uma reflexão. “Não acho que nenhum grupo de pessoas – independente de idade, peso, objetivo – deve adotar a dieta Dukan. Os carboidratos são as principais fontes de energia do corpo e sua exclusão pode levar a sintomas como fraqueza e até desmaios, além de irritabilidade”, reforça a pesquisadora. “Muitos profissionais se aproveitam de situações como essas para ganharem visibilidade no mercado, mas a prescrição dietética é atribuição do nutricionista*”, defende a professora.
Não é a primeira vez que uma alimentação superproteica entra em moda. Publicada originalmente em 1972, a dieta do cardiologista americano Robert Atkins ganhou o mundo nos anos 1990. Em relação ao Dukan, o cardápio Atkins acrescenta o agravante de permitir a ingestão de gorduras de origem animal à vontade, com recomendação de vegetais quase nula. “Além disso, ele não recomendava atividade física e nem um período de estabilização da dieta”, explica Patrícia Andrade.
Em vez de dieta, reeducação alimentar. “Podemos recomendar a ingestão de carboidratos de baixo índice glicêmico para quem deseja emagrecer, a exemplo de alimentos integrais. É interessante, sim, evitar cereais refinados, açúcar e batatas. Por outro lado, com relação às gorduras, elas são necessárias - mas deve-se preferir aquelas presentes no azeite, no abacate, nas sementes oleaginosas, por exemplo; e em quantidades moderadas, calculadas de forma personalizada”, observa a especialista.
Em vez de seguir os conselhos propostos por um livro, a dica é bem clara: evite chegar em um estado de desespero que pode torná-lo vulnerável a propostas imediatistas. “As dietas altamente restritivas representam um stress para o organismo. A orientação individual e a mudança de hábitos é que trazem resultados duradouros”, conclui a professora.