Vaginas criadas em laboratório são implantadas com sucesso em quatro pacientes
Pesquisa beneficia mulheres com síndrome que impede a formação completa da vagina e do útero, ainda na gestação
Letícia Orlandi - Saúde Plena
Publicação:12/04/2014 10:52Atualização: 12/04/2014 11:37
Um artigo publicado na última quinta-feira (10) na revista científica Lancet registra o sucesso em uma experiência que criou, em laboratório, vaginas artificiais para quatro mulheres. Desenvolvida pela equipe da instituição norte-ameircana Wake Forest Baptist Medical Center’s Institute for Regenerative Medicine, a pesquisa utilizou amostras de tecido e suportes biodegradáveis para recriar o órgão e tentar obter uma cura para a condição chamada 'aplasia vaginal' ou síndrome Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser (MRKH). As quatro mulheres participantes da pesquisa tiveram a vagina formada de forma incompleta ou ausente, ainda no útero.
As meninas tinham entre 13 e 18 anos de idade na época das cirurgias, que foram realizadas entre junho de 2005 e outubro de 2008. A pesquisa é considerada um passo muito importante porque, atualmente, o tratamento envolve uma cirurgia que cria a cavidade ausente, utilizando pele da própria paciente ou partes do intestino. Os resultados alcançados, no entanto, estavam longe do satisfatório para a maioria das mulheres operadas, com deficiência muscular e problemas de estreitamento. As complicações chegam a tingir 75% dos casos pediátricos, com necessidade de dilatação do canal.
A aplasia vaginal pode estar vinculada a outros problemas no aparelho reprodutor feminino. Em duas participantes, no entanto, o órgão, ainda que pouco desenvolvido, estava conectado ao útero. Para elas, existe a possibilidade até mesmo de uma futura gravidez por meio da concepção natural, uma vez que elas já apresentam sinais de menstruação regulares.
As estruturas foram projetados usando células musculares e epiteliais (células que revestem as cavidades do corpo) de uma pequena biópsia de órgãos genitais externos de cada paciente. Em seguida, as células foram anexadas a um material biodegradável que foi costurado à mão, em forma semelhante à da vagina. Estes suportes foram feitos sob medida.
Cerca de cinco a seis semanas após a biópsia, os cirurgiões criaram um canal na pélvis do paciente e suturaram os suportes. Pesquisas anteriores já haviam demonstrado que, uma vez que essas células iniciais são implantadas, formam-se nervos e vasos sanguíneos, construindo o tecido completo. Ao mesmo tempo, o material biodegradável é absorvido pelo organismo. “Agora eu tenho vida normal e, ao mesmo tempo, me sinto diferente”, disse uma das mulheres, cuja identidade não foi revelada.
Procedimento parecido já havia sido utilizado para criar bexigas, vasos sanguíneos e traqueias. Na Suíça, outra pesquisa com técnica semelhante conseguiu recriar narizes para pacientes com câncer de pele, evitando a necessidade de cartilagem retirada da orelha e das costelas. Existem também tentativas de fabricar órgãos mais complexos, como o coração e o rim. Em ratos, rins artificiais já foram capazes de filtrar e produzir urina, mas ainda há um longo caminho até chegar à funcionalidade em humanos.
Um dos coordenadores do estudo e diretor do Instituto Wake Forest, Anthony Atala, explica que esta foi a primeira vez em que um órgão foi criado inteiramente, sem um modelo prévio. “Este estudo piloto é o primeiro a demonstrar que os órgãos vaginais podem ser construídos no laboratório e usados com sucesso em seres humanos ", disse Atala ao site da instituição de pesquisa. "Isso pode representar uma nova opção para pacientes que necessitam de cirurgias reconstrutivas vaginais. Além disso, este estudo é mais um exemplo de como as estratégias de medicina regenerativa podem ser aplicadas a uma variedade de tecidos e órgãos”, completou.
A equipe de Atala usou uma abordagem semelhante à das bexigas de substituição que foram implantadas em nove crianças a partir de 1998, tornando-se o primeiro projeto no mundo a inserir órgãos cultivados em laboratório em humanos. A equipe também tem implantado, com sucesso, tubos de urina - a uretra - em meninos.
Os pesquisadores ponderam que, para que os resultados obtidos se tornem um procedimento rotineiro, no entanto, são necessários grandes experimentos, com mais participantes, observados por um período maior, para assim definir a futura utilização em larga escala. O tratamento também pode ser potencialmente aplicado a pacientes com câncer vaginal ou ferimentos , de acordo com os pesquisadores.
Suporte biodegradável foi utilizado para implantar células cultivadas em laboratório e tornar os canais funcionais
As meninas tinham entre 13 e 18 anos de idade na época das cirurgias, que foram realizadas entre junho de 2005 e outubro de 2008. A pesquisa é considerada um passo muito importante porque, atualmente, o tratamento envolve uma cirurgia que cria a cavidade ausente, utilizando pele da própria paciente ou partes do intestino. Os resultados alcançados, no entanto, estavam longe do satisfatório para a maioria das mulheres operadas, com deficiência muscular e problemas de estreitamento. As complicações chegam a tingir 75% dos casos pediátricos, com necessidade de dilatação do canal.
Saiba mais...
Com a técnica pioneira, as quatro jovens declaram ter níveis 'normais' de desejo, lubrificação, orgasmo, satisfação e relação sexual sem dor. Além das respostas das pacientes durante as visitas de acompanhamento, foram utilizados biópsias, ressonância magnética e exames internos para verificar a funcionalidade do órgão.A aplasia vaginal pode estar vinculada a outros problemas no aparelho reprodutor feminino. Em duas participantes, no entanto, o órgão, ainda que pouco desenvolvido, estava conectado ao útero. Para elas, existe a possibilidade até mesmo de uma futura gravidez por meio da concepção natural, uma vez que elas já apresentam sinais de menstruação regulares.
As estruturas foram projetados usando células musculares e epiteliais (células que revestem as cavidades do corpo) de uma pequena biópsia de órgãos genitais externos de cada paciente. Em seguida, as células foram anexadas a um material biodegradável que foi costurado à mão, em forma semelhante à da vagina. Estes suportes foram feitos sob medida.
As quatro jovens declaram ter níveis 'normais' de desejo, lubrificação, orgasmo, satisfação e relação sexual sem dor
Procedimento parecido já havia sido utilizado para criar bexigas, vasos sanguíneos e traqueias. Na Suíça, outra pesquisa com técnica semelhante conseguiu recriar narizes para pacientes com câncer de pele, evitando a necessidade de cartilagem retirada da orelha e das costelas. Existem também tentativas de fabricar órgãos mais complexos, como o coração e o rim. Em ratos, rins artificiais já foram capazes de filtrar e produzir urina, mas ainda há um longo caminho até chegar à funcionalidade em humanos.
Um dos coordenadores do estudo e diretor do Instituto Wake Forest, Anthony Atala, explica que esta foi a primeira vez em que um órgão foi criado inteiramente, sem um modelo prévio. “Este estudo piloto é o primeiro a demonstrar que os órgãos vaginais podem ser construídos no laboratório e usados com sucesso em seres humanos ", disse Atala ao site da instituição de pesquisa. "Isso pode representar uma nova opção para pacientes que necessitam de cirurgias reconstrutivas vaginais. Além disso, este estudo é mais um exemplo de como as estratégias de medicina regenerativa podem ser aplicadas a uma variedade de tecidos e órgãos”, completou.
A equipe de Atala usou uma abordagem semelhante à das bexigas de substituição que foram implantadas em nove crianças a partir de 1998, tornando-se o primeiro projeto no mundo a inserir órgãos cultivados em laboratório em humanos. A equipe também tem implantado, com sucesso, tubos de urina - a uretra - em meninos.
Os pesquisadores ponderam que, para que os resultados obtidos se tornem um procedimento rotineiro, no entanto, são necessários grandes experimentos, com mais participantes, observados por um período maior, para assim definir a futura utilização em larga escala. O tratamento também pode ser potencialmente aplicado a pacientes com câncer vaginal ou ferimentos , de acordo com os pesquisadores.