Cães e gatos órfãos costumam receber carinho e alimento de mães 'postiças' inclusive entre raças diferentes
As "famílias afetivas" são muito comuns em abrigos de animais.As fêmeas acabam amamentando ninhadas que não são delas
Revista do CB - Correio Braziliense
Publicação:11/05/2014 11:00Atualização: 10/05/2014 13:58
Segundo o comportamentalista animal Renato Buani, não há nada de incomum nisso. “Cães vivem em matilha e tratam a criação dos filhotes de maneira conjunta. Quando a mãe está debilitada, o lógico é que outras fêmeas assumam esses filhotes. É um instinto de sobrevivência e de preservação da espécie encontrado também nos cães domésticos”, explica.
Orcilene Arruda de Carvalho é responsável pelo abrigo de animais Flora e Fauna e conta com essa adoção espontânea entre os bichos para garantir a sobrevivência dos filhotes recém-chegados. “Na hora de receber os animais, favorecemos fêmeas prenhas e filhotes, porque são os mais vulneráveis. Por isso, a adoção acaba acontecendo naturalmente. Sempre tem uma mãezinha de leite para amamentar os bebês e as chances de sobrevivência deles aumentam muito”, conta.
A cadela Brisa chegou ao abrigo com três filhotes. Enquanto a ninhada já encontrou donos, ela continua no abrigo com os dois filhotes de leite que amamentou. Tornou-se “mãe postiça” deles, brinca Orcilene. Já a gata Brisa dá conta de amamentar toda a ninhada que teve e ainda ficou responsável por alimentar um filhote adotivo. Lá, também está a cadela Jaqueline, que compartilhou o leite dos filhotes que teve com mais um cão. Já a vira-lata Thamy perdeu toda a ninhada, mas amamentou outros filhotes abandonados que chegaram ao local. “Apesar da perda dos filhotes, o instinto maternal ficou e ela amamenta quem chega”, conta a protetora.
A gata Jennifer, resgatada pela advogada Luciana Pereira, 44 anos, demonstrou ser uma mãezona. Além de cuidar da própria cria, ela adotou outros gatinhos resgatados pela dona e os filhotes rejeitados por uma outra gata. “Na época que adotamos a Jennifer, resgatamos outras duas gatas prenhas e ela acabou sendo a mãe de leite de todos os 12 filhotes. Eles já estão com cinco meses, mas ainda dá leite para todos e quer dar banho nos gatinhos. É uma relação bem maternal.”
O contato dos filhotes com as fêmeas provoca o aumento do hormônio responsável pela produção do leite, permitindo que as mães “postiças” amamentem normalmente. De acordo com a médica veterinária Iliria Malaquias, o leite das cadelas é “universal” — não varia de acordo com a raça — e de extrema importância nos primeiros meses de vida do animal. “Se não mamar, o filhote pode ter prejuízo no desenvolvimento, não receber anticorpos importantes para a imunidade e, no caso de entrar em contato com algum microrganismo, pode até ir a óbito”, afirma.
A adoção entre animais pode até ultrapassar as barreiras da espécie. Mesmo idosa, a cadela Cherry passou a dar leite com a chegada da gata Mimi na casa da pensionista Nelma Castilho, 48 anos. “Ela cuida da gata como se fosse filhote dela, lambe ela todinha e, depois, dá de mamar.” De acordo com ela, o afeto entre a cadela e gata é grande e pegou todos de surpresa. “A Cherry antes tinha ciúmes de qualquer bicho que eu trazia para casa. Era muito ciumenta, mas acho que teve uma identificação entre as duas. Elas se dão muito bem.”
É a primeira vez que Nelma vê a cadela que adotou há cinco anos amamentando. Cherry ficou doente quando teve a própria ninhada e não pôde cuidar dos filhotes que gerou. Segundo a veterinária Iliria Malaquias, o ideal é que os filhotes sejam amamentados por animais da mesma espécie, mas a amamentação de gatos por cães não chega a ser prejudicial e ajuda no desenvolvimento do filhote. Já o comportamentalista animal Renato Buani acredita que não deve ser motivo de espanto se a gata Mimi ficar com um comportamento canino. “As cadelas que adotam gatos tendem a tratar o animal como se fosse da mesma espécie. O cão então vai tentar trazer aquele animal para o perfil dele, ensiná-lo a ter os mesmos hábitos”, esclarece.
Só benefícios
A morte das mães biológicas de cães e gatos, o abandono dos filhotes ou a ocorrência de doenças nas mães podem impedir que os filhotes recém-nascidos tenham contato com o leite materno, mas é importante que eles consigam uma mãe de leite para conseguir sobreviver.
» O leite é um alimento completo para o filhote e não agride o sistema digestivo, que ainda está frágil.
» Até a quarta semana de vida, o leite é o único alimento que o filhote precisa.
» Caso a amamentação seja impossível, o filhote precisa ser alimentado com uma mistura caseira especialmente preparada para a raça em questão.
Saiba mais...
Filhotes de cães e gatos precisam de leite materno para sobreviver, mas nem sempre o encontram à disposição. Isso pode acontecer por vários motivos. Algumas cadelas e gatas abandonam a ninhada após o parto; a mãe pode estar doente e, por isso, impedida de amamentar; ou ainda o número de filhotes pode ser grande demais e a mãe não conseguir atender à ninhada inteira. Em todos esses casos, é possível que os filhotes encontrem mães de leite. Muitas dessas gatas e cadelas vão além da amamentação e adotam filhotes alheios como se fossem os delas. Elas cuidam, protegem e até sentem ciúme.Adoção espontânea entre os bichos é para garantir a sobrevivência dos filhotes recém-chegados
Orcilene Arruda de Carvalho é responsável pelo abrigo de animais Flora e Fauna e conta com essa adoção espontânea entre os bichos para garantir a sobrevivência dos filhotes recém-chegados. “Na hora de receber os animais, favorecemos fêmeas prenhas e filhotes, porque são os mais vulneráveis. Por isso, a adoção acaba acontecendo naturalmente. Sempre tem uma mãezinha de leite para amamentar os bebês e as chances de sobrevivência deles aumentam muito”, conta.
A cadela Brisa chegou ao abrigo com três filhotes. Enquanto a ninhada já encontrou donos, ela continua no abrigo com os dois filhotes de leite que amamentou. Tornou-se “mãe postiça” deles, brinca Orcilene. Já a gata Brisa dá conta de amamentar toda a ninhada que teve e ainda ficou responsável por alimentar um filhote adotivo. Lá, também está a cadela Jaqueline, que compartilhou o leite dos filhotes que teve com mais um cão. Já a vira-lata Thamy perdeu toda a ninhada, mas amamentou outros filhotes abandonados que chegaram ao local. “Apesar da perda dos filhotes, o instinto maternal ficou e ela amamenta quem chega”, conta a protetora.
A gata Jennifer, resgatada pela advogada Luciana Pereira, 44 anos, demonstrou ser uma mãezona. Além de cuidar da própria cria, ela adotou outros gatinhos resgatados pela dona e os filhotes rejeitados por uma outra gata. “Na época que adotamos a Jennifer, resgatamos outras duas gatas prenhas e ela acabou sendo a mãe de leite de todos os 12 filhotes. Eles já estão com cinco meses, mas ainda dá leite para todos e quer dar banho nos gatinhos. É uma relação bem maternal.”
O contato dos filhotes com as fêmeas provoca o aumento do hormônio responsável pela produção do leite, permitindo que as mães “postiças” amamentem normalmente. De acordo com a médica veterinária Iliria Malaquias, o leite das cadelas é “universal” — não varia de acordo com a raça — e de extrema importância nos primeiros meses de vida do animal. “Se não mamar, o filhote pode ter prejuízo no desenvolvimento, não receber anticorpos importantes para a imunidade e, no caso de entrar em contato com algum microrganismo, pode até ir a óbito”, afirma.
A adoção entre animais pode até ultrapassar as barreiras da espécie. Mesmo idosa, a cadela Cherry passou a dar leite com a chegada da gata Mimi na casa da pensionista Nelma Castilho, 48 anos. “Ela cuida da gata como se fosse filhote dela, lambe ela todinha e, depois, dá de mamar.” De acordo com ela, o afeto entre a cadela e gata é grande e pegou todos de surpresa. “A Cherry antes tinha ciúmes de qualquer bicho que eu trazia para casa. Era muito ciumenta, mas acho que teve uma identificação entre as duas. Elas se dão muito bem.”
É a primeira vez que Nelma vê a cadela que adotou há cinco anos amamentando. Cherry ficou doente quando teve a própria ninhada e não pôde cuidar dos filhotes que gerou. Segundo a veterinária Iliria Malaquias, o ideal é que os filhotes sejam amamentados por animais da mesma espécie, mas a amamentação de gatos por cães não chega a ser prejudicial e ajuda no desenvolvimento do filhote. Já o comportamentalista animal Renato Buani acredita que não deve ser motivo de espanto se a gata Mimi ficar com um comportamento canino. “As cadelas que adotam gatos tendem a tratar o animal como se fosse da mesma espécie. O cão então vai tentar trazer aquele animal para o perfil dele, ensiná-lo a ter os mesmos hábitos”, esclarece.
Só benefícios
A morte das mães biológicas de cães e gatos, o abandono dos filhotes ou a ocorrência de doenças nas mães podem impedir que os filhotes recém-nascidos tenham contato com o leite materno, mas é importante que eles consigam uma mãe de leite para conseguir sobreviver.
» O leite é um alimento completo para o filhote e não agride o sistema digestivo, que ainda está frágil.
» Até a quarta semana de vida, o leite é o único alimento que o filhote precisa.
» Caso a amamentação seja impossível, o filhote precisa ser alimentado com uma mistura caseira especialmente preparada para a raça em questão.