Bebês que nascem com baixo peso podem sofrer de lesão renal; pesquisa italiana cria máquina especial para eles

O problema tem se tornado cada vez mais comum em crianças internadas, com uma incidência de quase 20% entre aquelas sob cuidado intensivo. A maior dificuldade, nesse caso, é que os equipamentos disponíveis para sanar a insuficiência renal foram projetados para adultos

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Bruna Sensêve - Correio Braziliense Publicação:27/05/2014 15:30Atualização:27/05/2014 13:44
Pesquisadores italianos apresentam um dispositivo de hemodiálise criado exclusivamente para bebês que pesem entre 2 quilos e 10 quilos (Cláudio Ronco/Divulgação)
Pesquisadores italianos apresentam um dispositivo de hemodiálise criado exclusivamente para bebês que pesem entre 2 quilos e 10 quilos
Aproximadamente 18% dos bebês que nascem com baixo peso sofrerão uma lesão renal aguda. O problema tem se tornado cada vez mais comum em crianças internadas, com uma incidência de quase 20% entre aquelas sob cuidado intensivo. A maior dificuldade, nesse caso, é que os equipamentos disponíveis para sanar a insuficiência renal foram projetados para adultos e precisam de adaptação quando usados em quem tem menos de 15 quilos, tornando o processo impreciso e precário.

Em um artigo publicado na edição especial da revista científica Lancet dedicada aos principais trabalhos em nefrologia, pesquisadores italianos apresentam um dispositivo de hemodiálise criado exclusivamente para bebês que pesem entre 2 quilos e 10 quilos. A equipe relata a primeira vez que o equipamento foi usado para salvar um recém-nascido na cidade de Vicenza, na Itália.

Em agosto de 2013, após ter submetido a nova máquina a todas as fases de testes in vitro e laboratoriais, o time de médicos liderados pelo professor Cláudio Ronco se deparou com um grave caso de falência múltipla de órgãos em uma recém-nascida com apenas 2,9 quilos e internada em uma unidade de terapia intensiva (UTI). A pequena paciente piorou, emagreceu e precisou da hemodiálise. O novo equipamento foi, então, utilizado. “Vinte e cinco dias após o nascimento e depois de mais de 400 horas de tratamento, a hemofiltração foi interrompida. A bebê foi extubada e começou a avançar para a completa alimentação oral”, detalha Ronco.

Nesse momento, segundo o líder do trabalho, a menina estava com a circulação sanguínea estável, a condição respiratória restaurada e pesava 3 quilos. “Depois de 30 dias do início do tratamento, ela estava respirando normalmente, sem oxigênio suplementar, fazendo quantidades adequadas de urina e tinha a função de fígado regular. Em 39 dias, recebeu alta da UTI”, complementou o pesquisador.

A nova máquina para terapia de substituição renal contínua (CRRT), nomeada de Carpediem (uma sigla para máquina de diálise pediátrica cardiorrenal de emergência e também referência a uma expressão latina que significa “aproveite o dia”), tem como principal vantagem, segundo Ronco, evitar erros no volume de ultrafiltração – a diálise feita com equipamentos adultos em crianças tem uma tendência a não ser precisa na retirada do líquido: tira muito ou pouco. “No primeiro caso, leva à desidratação e à perda de pressão arterial. Quando sai pouco líquido, acaba levando à pressão arterial elevada e a edemas”, explica.

O equipamento utiliza ainda um cateter menor do que o tradicional, podendo, assim, evitar lesões de vasos sanguíneos. “Esperamos que o nosso sucesso incentive o desenvolvimento de outras tecnologias médicas – por exemplo fluidos e monitores – especificamente projetadas para bebês e crianças pequenas”, defende Ronco, que apresentará o estudo em Amsterdã, durante o congresso da Associação Renal Europeia e da Associação Europeia de Transplante e Diálise, com início previsto para o próximo dia 31.

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