Bactéria responsável por intoxicação alimentar e meningite 'dorme' para escapar de antibiótico
Um novo estudo, publicado na revista Nature, traz uma importante informação sobre como a E. coli se comporta na presença dos remédios que buscam matá-la, o que deve ajudar a desenvolver novas estratégias de combate
Flávia Franco - Correio Braziliense
Publicação:06/07/2014 13:30Atualização: 06/07/2014 13:28
O maior problema enfrentado por médicos em relação ao tratamento de doenças causadas por infecções bacterianas é a crescente capacidade desses microrganismos de sobreviverem à ação de antibióticos. Algumas espécies são responsáveis por epidemias globais, como a Escherichia coli, que causa desde intoxicação alimentar até meningite e septicemia, mal com alta taxa de mortalidade. Um novo estudo, publicado na revista Nature, traz uma importante informação sobre como a E. coli se comporta na presença dos remédios que buscam matá-la, o que deve ajudar a desenvolver novas estratégias de combate.
No estudo, os autores fizeram experimentos em culturas de bactéria para observar como esses seres se comportavam durante uma aplicação de antibióticos. De acordo com Nathalie Balaban, líder do trabalho e pesquisadora da Universidade Hebraica (Israel), o objetivo era adquirir mais conhecimento sobre de que maneira a E. coli evolui sob essas circunstâncias.
Os resultados obtidos apontam para uma tolerância maior dos micro-organismos aos medicamentos, mas não a uma maior resistência. Em outras palavras, a bactéria não se torna propriamente imune à ação dos medicamentos, mas encontra uma maneira de suportar sua ação até que ele saia do organismo e ela possa voltar a se multiplicar. “O estudo permite o desenvolvimento de tratamentos e protocolos diferenciados que podem ajudar na prevenção dessa evolução da tolerância”, acredita Nathalie.
Mutações O método seguido pelos pesquisadores foi executado da seguinte forma: em laboratório, as culturas de E. coli eram expostas a concentrações altas de ampicilina e tinham seu comportamento monitorado. A droga era inserida no sistema por um tempo e depois retirada, simulando assim um tratamento no corpo humano, quando a droga circula no organismo por um tempo até ser eliminada e, então, uma nova dose é aplicada.
Os cientistas notaram que a droga interrompia a atividade das bactérias momentaneamente, mas, assim que ela era retirada da cultura, a E. coli voltava a suas atividades normais. “Depois de 10 ciclos (de aplicação), os micro-organismos apresentaram uma tolerância maior por meio de mutações que permitiram a eles adotar um estado de dormência durante o período de ação do antibiótico. Desde que continuassem nesse estado, o remédio se mostrava ineficaz em eliminá-los”, afirma Nathalie.
Prevenção De acordo com especialistas que não participaram do trabalho, o estudo não chega a ser propriamente inovador, pois há outros feitos em linhas semelhantes de investigação. No entanto, é mais um alerta sobre a importância do uso correto dos antibióticos. “O trabalho diz que, se o paciente toma antibiótico e não mata totalmente as bactérias, elas têm mais chances de ter resistências”, aponta Renato Grinbaum, coordenador do Comitê de Antimicrobianos da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Segundo ele, o mais importante é a prevenção, para evitar que os microrganismos mais resistentes se espalhem. “Esse processo da bactéria é um mecanismo natural, não existe um antibiótico que seja isento”, afirma. “À medida que se usa um determinado antibiótico em uma comunidade, a tendência é que a bactéria se adapte para sobreviver, é uma seleção natural daqueles microrganismos que não respondem mais ao antibiótico”, reforça.
A infectologista Eliana Bicudo explica que qualquer bactéria pode sofrer alterações genéticas que aumentem a resistência e a tolerância aos medicamentos. “O antibiótico elimina apenas as bactérias que são mais sensíveis a ele, mas uma colônia sempre vai ter micro-organismos mais resistentes. Se o paciente estiver mais debilitado ou interromper o período do tratamento, por exemplo, essas bactérias podem invadir a corrente sanguínea e causar infecções mais fortes”, afirma.
Para evitar a disseminação e a contaminação por essas bactérias, as principais recomendações de Grinbaum são o uso com cautela de antibióticos e a atenção em relação à higiene básica. “As pessoas têm o hábito de tomar antibióticos para tudo, e isso não deve ser feito. É necessário também cuidado ao lavar as mãos, para não passar adiante ou contrair doenças provenientes dessas bactérias”, conclui.
No estudo, os autores fizeram experimentos em culturas de bactéria para observar como esses seres se comportavam durante uma aplicação de antibióticos. De acordo com Nathalie Balaban, líder do trabalho e pesquisadora da Universidade Hebraica (Israel), o objetivo era adquirir mais conhecimento sobre de que maneira a E. coli evolui sob essas circunstâncias.
Os resultados obtidos apontam para uma tolerância maior dos micro-organismos aos medicamentos, mas não a uma maior resistência. Em outras palavras, a bactéria não se torna propriamente imune à ação dos medicamentos, mas encontra uma maneira de suportar sua ação até que ele saia do organismo e ela possa voltar a se multiplicar. “O estudo permite o desenvolvimento de tratamentos e protocolos diferenciados que podem ajudar na prevenção dessa evolução da tolerância”, acredita Nathalie.
Mutações O método seguido pelos pesquisadores foi executado da seguinte forma: em laboratório, as culturas de E. coli eram expostas a concentrações altas de ampicilina e tinham seu comportamento monitorado. A droga era inserida no sistema por um tempo e depois retirada, simulando assim um tratamento no corpo humano, quando a droga circula no organismo por um tempo até ser eliminada e, então, uma nova dose é aplicada.
Os cientistas notaram que a droga interrompia a atividade das bactérias momentaneamente, mas, assim que ela era retirada da cultura, a E. coli voltava a suas atividades normais. “Depois de 10 ciclos (de aplicação), os micro-organismos apresentaram uma tolerância maior por meio de mutações que permitiram a eles adotar um estado de dormência durante o período de ação do antibiótico. Desde que continuassem nesse estado, o remédio se mostrava ineficaz em eliminá-los”, afirma Nathalie.
Saiba mais...
Essa dormência descoberta foi categorizada pelos pesquisadores como a primeira mudança evolutiva das bactérias. A tolerância surgiu por meio de um ajuste do tempo de latência do micro-organismo. Balaban e sua equipe observaram que esse estágio ocorre entre a introdução de um novo ambiente e o momento em que a bactéria começa a se reproduzir, sem apresentar nenhuma mudança de resistência. E cada nova evolução prolongou ainda mais o estágio de dormência. “Nosso próximo passo é entender a frequência com que essa evolução ocorre em pacientes que estão tomando antibióticos em doses diárias ou duas vezes por dia. Essa descoberta pode contribuir para uma nova linha de medicamentos específicos”, espera a pesquisadora.- Estudo mostra que bactérias podem sobreviver até uma semana em aviões
- Hospitais do Rio identificam três pacientes com bactéria resistente a antibióticos
- Bactérias facilitam progressão da Aids
- Baixa na produção e pesquisa de antibióticos aumenta preocupação com disseminação de superbactérias
- Prescrição exagerada de medicamento pode facilitar surgimento de superbactéria
- Aglomerações de pessoas no inverno favorecem aumento de casos de meningite
- Meningite transmitida por parasita avança no Brasil
Prevenção De acordo com especialistas que não participaram do trabalho, o estudo não chega a ser propriamente inovador, pois há outros feitos em linhas semelhantes de investigação. No entanto, é mais um alerta sobre a importância do uso correto dos antibióticos. “O trabalho diz que, se o paciente toma antibiótico e não mata totalmente as bactérias, elas têm mais chances de ter resistências”, aponta Renato Grinbaum, coordenador do Comitê de Antimicrobianos da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Segundo ele, o mais importante é a prevenção, para evitar que os microrganismos mais resistentes se espalhem. “Esse processo da bactéria é um mecanismo natural, não existe um antibiótico que seja isento”, afirma. “À medida que se usa um determinado antibiótico em uma comunidade, a tendência é que a bactéria se adapte para sobreviver, é uma seleção natural daqueles microrganismos que não respondem mais ao antibiótico”, reforça.
A infectologista Eliana Bicudo explica que qualquer bactéria pode sofrer alterações genéticas que aumentem a resistência e a tolerância aos medicamentos. “O antibiótico elimina apenas as bactérias que são mais sensíveis a ele, mas uma colônia sempre vai ter micro-organismos mais resistentes. Se o paciente estiver mais debilitado ou interromper o período do tratamento, por exemplo, essas bactérias podem invadir a corrente sanguínea e causar infecções mais fortes”, afirma.
Para evitar a disseminação e a contaminação por essas bactérias, as principais recomendações de Grinbaum são o uso com cautela de antibióticos e a atenção em relação à higiene básica. “As pessoas têm o hábito de tomar antibióticos para tudo, e isso não deve ser feito. É necessário também cuidado ao lavar as mãos, para não passar adiante ou contrair doenças provenientes dessas bactérias”, conclui.