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Casos de intoxicação acidental ou criminosa de animais são muito frequentes; saiba o que fazer

Sintomas são devastadores e aparecem com rapidez. Se o seu bicho for vítima dessa maldade, procure o veterinário imediatamente

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Revista do CB - Correio Braziliense Publicação:06/09/2014 14:30Atualização:05/09/2014 08:48
Os sintomas são devastadores e aparecem com rapidez. Convulsões, hemorragias, tremores musculares e vômitos são fortes indícios de um quadro de envenenamento. Dependendo da quantidade e do tipo de substância, bastam 30 minutos para a saúde do animal se deteriorar dramaticamente. “É uma luta contra o tempo”, afirma o veterinário Juliano Veiga. Curiosos, os pets são capazes de encontrar e ingerir pesticidas e outros produtos químicos mal guardados. Muitas vezes, porém, eles são vítimas da maldade humana.

“Já perdi as contas de quantos animais perdi dessa maneira”, lamenta Wilma dos Reis, 33 anos. Ela e a família costumam adotar animais e, atualmente, têm duas cadelas e três gatos. Há dois meses, eles sofreram a perda de cinco felinos — todos envenenados. Entre as vítimas, estava a gata mais velha, Polaca, de 10 anos. A bacharel em direito conta que os animais estavam salivando e miando muito. “Decidimos usar uma receita recomendada na internet”, relata. Diluíram com água um comprimido de carvão vegetal, que tem propriedade de se unir a toxinas e eliminá-las com as fezes. Contudo, o composto conseguiu ajudar na recuperação apenas da gata Angela, 3 anos. Os demais não resistiram.
A gata Ângela, de Wilma dos Reis, foi a única da ninhada a sobreviver ao envenenamento (Arquivo Pessoal)
A gata Ângela, de Wilma dos Reis, foi a única da ninhada a sobreviver ao envenenamento

Existem várias crendices e sugestões populares sobre o assunto, como oferecer leite, água oxigenada e até remédios para cólica menstrual. Mas adiar o atendimento tentando soluções alternativas não é recomendado por especialistas. “Na internet, existem muitas informações que atrapalham. O leite, por exemplo, não ajuda. Ele é capaz de diminuir a acidez no estômago, mas não vai combater os sintomas”, alerta o veterinário Rafael Alves. As chances de sobrevivência aumentam quando os animais são levados diretamente aos profissionais, que vão tomar as atitudes mais efetivas para cada caso, como lavagem gástrica, reposição de vitaminas e uso de antitóxicos específicos.

Ainda assim, as chances de recuperação são reduzidas. “O que geralmente ocorre é a ingestão de veneno de rato, sendo o chumbinho o mais comum”, aponta Juliano Veiga. A substância inibe o funcionamento da vitamina K, importante na coagulação sanguínea. Ela não é nem sequer considerada um bom raticida devido à elevada toxidade, capaz de matar rapidamente. O rato morre próximo ao veneno, o que funciona como um aviso aos demais para não consumir a “isca”. “É um produto que já foi abolido, mas muita gente continua usando, e lojas agropecuárias vendem por baixo dos panos”, aponta. O veterinário também ressalta o perigo de pessoas serem contaminadas, com sintomas igualmente devastadores.

Veiga ressalta outra característica interessante nesses casos. Eles são mais comuns no período de chuvas, porque as águas eventualmente espalham o veneno colocado em pontos específicos e facilitam o acesso a ele por alvos não planejados. A geografia é outro fator mencionado por veterinários. “É comum em lugares mais carentes porque os animais costumam ter maior acesso à rua. Nessas situações, há pessoas que realmente colocam o veneno, às vezes, com a intenção de deixar a casa mais vulnerável para assaltá-la depois”, relata o veterinário Rafael Alves.

"Na internet, existem muitas informações que atrapalham. O leite, por exemplo, não ajuda. Ele é capaz de diminuir a acidez no estômago, mas não vai combater os sintomas”
Rafael Alves, veterinário

Vizinhança sob suspeita
Desavenças com os vizinhos são uma motivação recorrente. Uma estudante, que preferiu não se identificar, conta que a vizinha costumava reclamar da sujeira deixada por animais no quintal da casa dela. Pouco tempo depois, dois gatos apareceram mortos no lugar. A vítima seguinte foi a gata da estudante. “Ela pareceu muito abatida, salivando muito — não conseguiu sobreviver”, descreve. A família da jovem ameaçou denunciar a situação. Desde então, os casos cessaram.

Seguir em frente com as acusações não é uma atitude usual, fazendo com que as estatísticas oficiais se distanciem da realidade. Em 2013, a Delegacia Especial de Proteção ao Meio Ambiente e à Ordem Pública (Dema) registrou apenas duas denúncias, três ocorrências e três termos circunstanciados. Tudo indica que os números vão continuar semelhantes em 2014 (até o começo de agosto, havia apenas três denúncias, duas ocorrências e dois termos circunstanciados).

A estudante Dayane Souza, 21 anos, teve a cadela de 8 meses envenenada e preferiu não registrar o ocorrido. “Não tinha como provar e também seria ruim porque suspeitávamos de conhecidos da família”, revela. O delegado adjunto da Dema, Richard Valeriano, avalia que o contexto “é difícil porque é um crime cometido na surdina e, muitas vezes, as pessoas têm apenas desconfianças, faltando elementos indicativos”. Para evitar a situação, ele aconselha não deixar os animais soltos fora de casa e instalar telas de proteção para evitar fugas.

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