Acostumadas a acumular funções, mulheres estão mais suscetíveis ao infarto
Diante das exigências para se impor no mercado de trabalho e do acúmulo de funções, a incidência de casos nelas está cada vez maior. Em 2011, mais de 43 mil brasileiras morreram com doenças cardiovasculares, 41,9% das ocorrências. Há 50 anos, a taxa era de 10%
Julia Chaib - Correiro Braziliense
Ana Pompeu - Correio Braziliense
Publicação:16/09/2014 09:00Atualização: 15/09/2014 10:28
A luta das mulheres por mais igualdade no mercado de trabalho, somada ao acúmulo de funções em casa, onde muitas vezes elas são as responsáveis pela renda e pelas tarefas domésticas, resultou em um aumento significativo no número de infartos entre as brasileiras. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), enquanto há 50 anos as mulheres representavam 10% das ocorrências, atualmente, elas estão empatadas com os homens. Em setembro, se comemora o Dia Mundial do Coração. O mês foi escolhido para intensificar a prevenção e a orientação em caso de doenças cardiovasculares. Especialistas aproveitam o momento para conscientizar a população e a classe médica sobre o tema. O país registra, em média, 300 mil infartos por ano, desses 80 mil são fatais.
Não bastasse o estresse, tanto pacientes quanto profissionais de saúde não conseguem identificar o quadro com a agilidade necessária. “Os sintomas do infarto nos homens são diferentes”, explica o médico. Enquanto nos homens a dor do lado esquerdo do peito e o formigamento no braço são logo relacionados ao evento, as mulheres sentem náuseas, fadigas intensas, dor no estômago. “Há uma demora na procura por um profissional e, muitas vezes, os próprios médicos têm dificuldade em associar os sintomas ao infarto”, afirma. Por isso, Augusto De Marco sugere a promoção de campanhas permanentes incentivando hábitos saudáveis, alimentação balanceada, momentos de lazer e detalhando os sintomas.
O integrante da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista Marcelo Cantarelli comenta que o infarto tem avançado em países em subdesenvolvimento, na África, na Ásia e na América do Sul. “Esses números no primeiro mundo começam a mostrar queda e estabilização. Nós somos novos em atitudes de prevenção. Enquanto lá há tentativas de mudanças de hábitos alimentares, aqui a gente começou a copiá-los, com redes fast-food, levando a um aumento da obesidade infantil, por exemplo.”
Demora
Cantarelli coordena a campanha Coração Alerta que acontece neste mês em todo o país. “A ideia é reduzir a mortalidade por meio da informação.” O médico explica que o tratamento só é efetivo quanto mais cedo for aplicado. Segundo Cantarelli, se a pessoa for atendida nas três primeiras horas do início do infarto, ela tem uma mortalidade de 4% a 5%, na primeira, é inferior a 2%, e a cada hora a chance de morrer aumenta.
Uma pesquisa feita pela Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostra que as pessoas demoram, em média, até duas horas após o início do infarto para fazer contato com o médico. “Às vezes, ela não reconhece o sintoma ou o minimiza e espera passar”, lamenta Cantarelli.
A despreocupação com os sintomas quase tirou a vida da aposentada Christiana Fernandes Guerra Waknin, 79 anos. Em 2006, ela estava na Europa para visitar a filha e viajaria de uma cidade a outra, quando, no caminho do aeroporto, sentiu uma dor no peito. Como havia andado muito, ela achou que pudesse ser uma fadiga devido a exercício físico. Na hora do embarque, uma funcionária da companhia aérea percebeu que Christiana estava pálida e chamou uma ambulância enquanto a aposentada era levada ao avião. “Eu cheguei a subir no avião. E depois disso apaguei”, conta. Christiana teve um infarto que levou a uma morte súbita abortada — quando o coração para e a pessoa é reanimada. Como a ambulância estava ao lado, os paramédicos a salvaram e a levaram ao hospital, onde ela ficou internada cerca de 15 dias.
Christiana passou cerca de uma hora sentindo dor no peito, embora não tenha observado nada no braço esquerdo, sintoma comum em casos de infarto. Um ano depois, a aposentada teve de fazer uma cirurgia para colocar uma Ponte de safena. Segundo Christiana, o fator genético teve mais influência do que o estilo de vida. Apesar de não beber nem fumar e se alimentar corretamente, ela incluiu uma nova atividade no cotidiano para conservar a saúde. “Hoje, pratico exercícios físicos sempre”, relata.
Por minimizar sintomas, Christiana Waknin teve de ser reanimada
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Os últimos dados consolidados de mortes por infarto mostram que, em 2011, as mulheres eram 41,9% das vítimas — 43.317 brasileiras. No mesmo período, 60.158 homens morreram depois de um infarto, 58,1% dos óbitos. O presidente do Congresso Brasileiro de Cardiologia, Augusto De Marco, acredita que esse aumento se deve, em grande parte, à mudança na rotina das mulheres. “O número de mulheres em condição de comando nas empresas cresceu muito. Além de ganharem espaço no mercado de trabalho, elas mantiveram as atribuições anteriores de mães, esposas, donas de casa. Essa sobrecarga aumenta os níveis de estresse”, afirma o médico. Outro dado é o elevado número de mulheres tabagistas. De acordo com De Marco, o risco de infarto é seis vezes maior entre as fumantes.- SAMU inclui medicamento trombolítico para aumentar chances de sobrevivência de vítimas de infarto
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Não bastasse o estresse, tanto pacientes quanto profissionais de saúde não conseguem identificar o quadro com a agilidade necessária. “Os sintomas do infarto nos homens são diferentes”, explica o médico. Enquanto nos homens a dor do lado esquerdo do peito e o formigamento no braço são logo relacionados ao evento, as mulheres sentem náuseas, fadigas intensas, dor no estômago. “Há uma demora na procura por um profissional e, muitas vezes, os próprios médicos têm dificuldade em associar os sintomas ao infarto”, afirma. Por isso, Augusto De Marco sugere a promoção de campanhas permanentes incentivando hábitos saudáveis, alimentação balanceada, momentos de lazer e detalhando os sintomas.
O integrante da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista Marcelo Cantarelli comenta que o infarto tem avançado em países em subdesenvolvimento, na África, na Ásia e na América do Sul. “Esses números no primeiro mundo começam a mostrar queda e estabilização. Nós somos novos em atitudes de prevenção. Enquanto lá há tentativas de mudanças de hábitos alimentares, aqui a gente começou a copiá-los, com redes fast-food, levando a um aumento da obesidade infantil, por exemplo.”
Demora
Cantarelli coordena a campanha Coração Alerta que acontece neste mês em todo o país. “A ideia é reduzir a mortalidade por meio da informação.” O médico explica que o tratamento só é efetivo quanto mais cedo for aplicado. Segundo Cantarelli, se a pessoa for atendida nas três primeiras horas do início do infarto, ela tem uma mortalidade de 4% a 5%, na primeira, é inferior a 2%, e a cada hora a chance de morrer aumenta.
Uma pesquisa feita pela Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostra que as pessoas demoram, em média, até duas horas após o início do infarto para fazer contato com o médico. “Às vezes, ela não reconhece o sintoma ou o minimiza e espera passar”, lamenta Cantarelli.
A despreocupação com os sintomas quase tirou a vida da aposentada Christiana Fernandes Guerra Waknin, 79 anos. Em 2006, ela estava na Europa para visitar a filha e viajaria de uma cidade a outra, quando, no caminho do aeroporto, sentiu uma dor no peito. Como havia andado muito, ela achou que pudesse ser uma fadiga devido a exercício físico. Na hora do embarque, uma funcionária da companhia aérea percebeu que Christiana estava pálida e chamou uma ambulância enquanto a aposentada era levada ao avião. “Eu cheguei a subir no avião. E depois disso apaguei”, conta. Christiana teve um infarto que levou a uma morte súbita abortada — quando o coração para e a pessoa é reanimada. Como a ambulância estava ao lado, os paramédicos a salvaram e a levaram ao hospital, onde ela ficou internada cerca de 15 dias.
Christiana passou cerca de uma hora sentindo dor no peito, embora não tenha observado nada no braço esquerdo, sintoma comum em casos de infarto. Um ano depois, a aposentada teve de fazer uma cirurgia para colocar uma Ponte de safena. Segundo Christiana, o fator genético teve mais influência do que o estilo de vida. Apesar de não beber nem fumar e se alimentar corretamente, ela incluiu uma nova atividade no cotidiano para conservar a saúde. “Hoje, pratico exercícios físicos sempre”, relata.