Veja qual o segredo para ganhar pouco peso e mais saúde na gestação
Alimentação saudável e atividade adequada contribuem para o bem-estar na gestação e ajudam a futura mamãe a se recuperar no pós-parto
Zulmira Furbino
Publicação:17/09/2014 09:00Atualização: 16/09/2014 11:15
No estúdio de dança, o som delicado do piano pode ser ouvido de fora da sala. Lá dentro, o chão coberto com linóleo e os espelhos largos esperam pelo burburinho das bailarinas. Mas o que chama a atenção mesmo é o barrigão de uma das professoras de balé, que faz alongamento. No momento em que você lê esta reportagem, Gabriel, o primeiro filho de Ana Carolina Pagano, de 38 anos, já veio ao mundo. Até uma semana antes do parto, porém, a mamãe-dançarina manteve-se na ativa. “Danço desde os 3 anos. A gravidez não me impediu de manter um dos maiores prazeres de minha vida”, explica.
Assim como ela, é cada vez maior o número de mulheres que se entregam às mais variadas formas de atividade física durante a gestação. O balé é só uma delas. Ioga, pilates, musculação, hidroginástica, caminhada, step e até spinning estão entre os exercícios mais indicados para as gestantes contemporâneas. Para se entregar a uma gravidez ativa e saudável, basta o sinal verde do médico. E muita disposição. Mas os benefícios da prática de exercícios físicos vão além do óbvio controle de peso e manutenção da forma física, indicam trabalhos realizados na Universidade de São Paulo (USP) e por neurocientistas nos Estados Unidos.
Na universidade brasileira, uma pesquisa elaborada pela nutricionista Carolina Harumi Kurashima, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), relaciona diretamente o ganho de massa livre de gordura e água no corpo da gestante com um maior peso da criança. Em congresso de neurociências realizado em San Diego (EUA), no ano passado, pesquisas também mostraram que a prática de atividades físicas durante a gravidez faz com que o cérebro dos bebês se desenvolva de maneira mais intensa, o que sugere que eles poderão ter habilidades cognitivas afiadas durante toda a vida.
Segundo o obstetra Frederico Peret, diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), para iniciar uma atividade física sem complicações o ideal é que a gestante tenha o respaldo de quatro profissionais – o próprio médico, um fisioterapeuta, um educador físico e um nutricionista. Na impossibilidade de reunir todos esses profissionais, basta a orientação do obstetra e do personal trainning.
Quando nossas avós ficavam grávidas, elas não deixavam de arrumar a casa, lavar a roupa, cozinhar, pegar lenha, fazer longas caminhadas e, ao mesmo tempo, cuidar da família. Todas essas atividades garantiam o reforço muscular e a atividade aeróbica necessários a uma gravidez saudável. Esse tempo passou. Hoje, recursos como carro, elevador, eletrodomésticos, além das demandas do mercado de trabalho, podem facilmente levar uma pessoa ao sedentarismo. Por isso mesmo, fazer exercícios físicos durante a gestação é mais necessário do que nunca. (Colaborou Virgínia Gonzaga)
Grávidas na ativa
A empresária Ana Gutierrez, proprietária da Academia Bodytech, está entrando no nono mês de gravidez, mas sua forma física é invejável. Ganhou apenas quatro quilos e por isso a barriga quase não aparece. Mesmo assim, o bebê já pesa 2,2 quilos. Ana faz atividade física “puxada” desde os 12 anos. Dona de um corpo acostumado à malhação, para ela fazer ginástica durante a gestação foi uma questão de manter o ritmo de vida de muitos anos. É claro, porém, que a empresária se cercou de cuidados. Nos primeiros meses descansou, para que o corpo pudesse se preparar para acolher a menininha que está a caminho. Depois disso, praticou musculação leve, além de caminhadas em casa. Agora, já a cerca de 30 dias do parto, parou de se exercitar outra vez.
A prática de exercícios também garante uma recuperação mais tranquila no pós-parto. Para Talvane Ferrari Parízio, ginecologista-obstetra do Hospital Belo Horizonte, os exercícios durante a gravidez são mais do que indicados, embora não seja comum que essa recomendação seja dada no consultório médico. “Gravidez não é doença. O que ocorre é que muitas mulheres sentem medo de se exercitar nesse período.” Parízio diz que recebe muitas indagações de suas pacientes a respeito do assunto. “Elas perguntam até mesmo se é permitido subir escadas. Sempre brinco que sim, o que não pode é cair da escada. As gestantes precisam ter cuidado com a queda, mas fazer exercício acompanhado de orientação é sempre benéfico.”
O acompanhamento é necessário porque cada gravidez é uma gravidez. A fisioterapeuta Renata Canguçu alerta que a estrutura óssea da gestante se torna mais frágil devido ao aumento do peso sob as articulações. “Caso a grávida esteja sentindo dores nos joelhos, o profissional vai poder indicar qual o melhor movimento a ser feito para acabar com o incômodo”, observa. Ela explica que o pilates é uma das atividades mais indicadas para o período gestacional, já que trabalha o alongamento, melhora a postura, fortalece os músculos das costas e evita as dores nas articulações. “Por conta do peso da barriga, as gestantes tendem a ficar com o corpo mais caído e curvado. Além da força, o pilates alonga o peitoral, deixando a mulher mais ereta”, destaca.
SEM IMPEDIMENTOS Bia Bicalho, coordenadora de aulas coletivas da Bodytech, teve duas gestações e em ambas trabalhou até as vésperas dos partos. “Quem avalia a saúde de uma gestante é o médico que a acompanha. Se você tem uma gestação que flui bem, não há impedimentos. Sempre pratiquei exercício físico e dei aulas até o fim. Como era professora de step, no último mês retirei o degrau para reduzir o impacto”, recorda. Eram mais ou menos sete da noite quando a bolsa de Bia estourou em plena academia, quando ela estava se preparando para dar aulas. “Depois disso passei em casa para pegar a malinha do neném, tomei um banho, e ainda fui abastecer o carro com meu marido antes de irmos para a maternidade”, lembra.
Bia acredita que o corpo precisa estar saudável, independentemente da gestação e defende que essa é uma fase da existência feminina. “Cada época da vida tem suas especificidades. Fazendo o treinamento adequado é perfeitamente possível manter a atividade física durante a gravidez, desde que com liberação médica. Trata-se de manter um treino específico para cada etapa da vida”, sustenta. Segundo ela, muitas das alunas grávidas da academia eram corredoras e corriam de barriga. “Elas passavam superbem. É claro que faziam trotinho e que seus corpos já estavam habituados ao exercício”. (Colaborou Virgínia Gonzaga)
INTENSIDADE IDEAL
Como cada gravidez é única, as gestantes devem observar o que pode ou não ser feito durante esse período
Flávia Kolle é analista de sistemas. Gabriela Aires é farmacêutica. Ana Gutierrez é empresária. Ana Carolina Pagano é psicóloga e bailarina. Bia Bicalho é professora de ginástica. Além do sexo feminino, o que essas mulheres têm em comum? Todas praticaram ou ainda praticam atividade física regular na gestação. Movimentar o corpo durante a gravidez traz benefícios inquestionáveis para as gestantes. Mas disposição para encarar qualquer tipo de exercício corporal nesta fase da vida não significa que não existam dúvidas sobre quais são as atividades mais adequadas e a intensidade ideal. Por isso mesmo, o Bem Viver foi buscar junto aos especialistas dicas do que se deve ou não fazer durante esse período.
É preciso levar em conta que há exercícios específicos sugeridos para cada trimestre da gestação. De acordo com o educador físico Diogo Fiorini, as atividades recomendadas para os primeiros três meses são sempre as mais leves, de modo a evitar que a gestante se esforce demais ou chegue a um limite, principalmente porque os 90 dias iniciais são os mais sensíveis do período gestacional. “Caminhada, pilates e ioga são práticas ideais para serem realizadas durante os três primeiros meses da gravidez”, indica. Como não existe uma dinâmica universal para todas as gestantes, já que uma gravidez nunca é igual a outra, as atividades devem ser planejadas conforme as necessidades de cada mulher.
Gabriela Aires espera seu primeiro filho e já está com quatro meses de gravidez. Como praticava ioga antes de engravidar, resolveu continuar com a atividade, tomando o cuidado de evitar exercícios que movimentam excessivamente o abdômen ou que provoquem excessiva circulação sanguínea. Junto com a ioga, antes de engravidar, Gabriela também fazia natação. “Cheguei à conclusão de que a natação força muito, por isso parei de nadar nos três primeiros meses. Já a ioga dá mais concentração e melhora a vitalidade”, explica.
Na segunda etapa, entre o quarto e o sexto mês, a futura mamãe já pode se fortalecer e se exercitar mais. A opção de Gabriela foi aliar a natação – reduzindo o esforço que fazia antes de engravidar de 1.500 metros para 500 metros – à ioga, que também trabalha a respiração de forma intensa. “Na hora de escolher uma atividade, não consegui achar uma aula específica para gestantes. Procurei muito, mas acabei permanecendo na mesma academia”, diz. Além de ioga e natação, os especialistas recomendam dança, musculação, spinning ou qualquer outra atividade sem forte impacto.
No terceiro trimestre, a gestante já não consegue desenvolver as atividades com tanto vigor. Em geral, isso ocorre porque ela ganhou peso devido ao crescimento do bebê. Ela pode se sentir inchada devido às dificuldades na circulação sanguínea. Por isso, nessa fase, as atividades físicas mais indicadas são as realizadas dentro da água. “Tanto a hidroginástica quanto a natação contam com movimentos que aumentam o volume plasmático, facilitando o xixi e diminuindo a retenção líquida”, observa Fiorini.
MASSAGENS Flávia Kolle está no quinto mês de gestação e espera ansiosamente pela filha Beatriz. Como sempre teve retenção de líquidos, já tinha o hábito de fazer drenagem linfática pelo menos três vezes ao ano. Na gravidez continua com as massagens, só que uma vez a cada semana. Além disso, optou pela hidroginástica. Do segundo para o terceiro mês, descobriu um mioma no colo do útero e teve de ser operada. Assim que foi liberada, voltou à atividade física. “Confesso que tive medo de fazer ginástica. Conversei muito com o meu professor e agora dispenso os abdominais. Faço exercícios físicos com foco no bem-estar e não para perder peso. A hidroginástica ajuda a relaxar, melhora o sono e me traz uma sensação de leveza”, observa.
A bailarina Elaine Reis praticou atividade física até o fim de suas duas gestações. Para isso, seu primeiro passo foi conseguir o aval do obstetra. Ela também dá aulas de balé e explica que esse tipo de exercício não é recomendado nos três primeiros meses da gravidez. “A partir daí é possível dançar até as vésperas do parto. Gravidez não é doença e em geral mulheres grávidas ficam muito bem dispostas. Eu me sentia linda. Trabalhar com música é muito relaxante”, declara. (Colaborou Virgínia Gonzaga)
Frederico Peret - obstetra e diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de MG (Sogimig)
Resposta do corpo
“A atividade física é essencial para as gestantes, mas elas devem ficar atentas para algumas situações que acontecem durante a prática. Assim como nenhuma grávida tem necessidades iguais a outra, as reações do corpo também são diferentes. Por isso, é necessário ficar alerta às respostas dadas pelo corpo. Normalmente, durante esse período a mulher engorda cerca de 400 gramas por semana. Se, em vez de estabilidade ou ganho do peso houver perda, será preciso procurar um médico. O cansaço excessivo também é motivo de atenção. Outro ponto a ser analisado é se a mamãe está com inchaços acima do normal mesmo praticando atividades que reduzem a retenção de líquido.”
A professora de balé Ana Carolina Pagano, de 38 anos, se exercitou até o fim da gravidez
Assim como ela, é cada vez maior o número de mulheres que se entregam às mais variadas formas de atividade física durante a gestação. O balé é só uma delas. Ioga, pilates, musculação, hidroginástica, caminhada, step e até spinning estão entre os exercícios mais indicados para as gestantes contemporâneas. Para se entregar a uma gravidez ativa e saudável, basta o sinal verde do médico. E muita disposição. Mas os benefícios da prática de exercícios físicos vão além do óbvio controle de peso e manutenção da forma física, indicam trabalhos realizados na Universidade de São Paulo (USP) e por neurocientistas nos Estados Unidos.
Na universidade brasileira, uma pesquisa elaborada pela nutricionista Carolina Harumi Kurashima, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), relaciona diretamente o ganho de massa livre de gordura e água no corpo da gestante com um maior peso da criança. Em congresso de neurociências realizado em San Diego (EUA), no ano passado, pesquisas também mostraram que a prática de atividades físicas durante a gravidez faz com que o cérebro dos bebês se desenvolva de maneira mais intensa, o que sugere que eles poderão ter habilidades cognitivas afiadas durante toda a vida.
Segundo o obstetra Frederico Peret, diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), para iniciar uma atividade física sem complicações o ideal é que a gestante tenha o respaldo de quatro profissionais – o próprio médico, um fisioterapeuta, um educador físico e um nutricionista. Na impossibilidade de reunir todos esses profissionais, basta a orientação do obstetra e do personal trainning.
Quando nossas avós ficavam grávidas, elas não deixavam de arrumar a casa, lavar a roupa, cozinhar, pegar lenha, fazer longas caminhadas e, ao mesmo tempo, cuidar da família. Todas essas atividades garantiam o reforço muscular e a atividade aeróbica necessários a uma gravidez saudável. Esse tempo passou. Hoje, recursos como carro, elevador, eletrodomésticos, além das demandas do mercado de trabalho, podem facilmente levar uma pessoa ao sedentarismo. Por isso mesmo, fazer exercícios físicos durante a gestação é mais necessário do que nunca. (Colaborou Virgínia Gonzaga)
Ana Gutierrez, proprietária da Bodytech, ganhou poucos quilos na gravidez graças à atividade física, alimentação correta e uma boa qualidade de vida
A empresária Ana Gutierrez, proprietária da Academia Bodytech, está entrando no nono mês de gravidez, mas sua forma física é invejável. Ganhou apenas quatro quilos e por isso a barriga quase não aparece. Mesmo assim, o bebê já pesa 2,2 quilos. Ana faz atividade física “puxada” desde os 12 anos. Dona de um corpo acostumado à malhação, para ela fazer ginástica durante a gestação foi uma questão de manter o ritmo de vida de muitos anos. É claro, porém, que a empresária se cercou de cuidados. Nos primeiros meses descansou, para que o corpo pudesse se preparar para acolher a menininha que está a caminho. Depois disso, praticou musculação leve, além de caminhadas em casa. Agora, já a cerca de 30 dias do parto, parou de se exercitar outra vez.
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“Engordar durante a gestação não tem nada a ver com ter um bebê saudável. Ganhei poucos quilos graças à atividade física regrada, alimentação correta e uma boa qualidade de vida”, explica Ana. De acordo com ela, o fato de fazer musculação três vezes por semana garantiu a ausência de inchaço e de edemas, além do baixo ganho de peso. Como proprietária de uma academia, Ana Gutierrez acompanha o dia a dia das alunas grávidas que permanecem fazendo atividades físicas. A não ser em casos de gestação de risco, segundo ela, todas as alunas da Bodytech que engravidam continuam fazendo exercícios. “A atividade física nesse momento da vida é superindicada. Ela prepara o corpo da gestante. É fundamental para o alongamento muscular e a postura, já que há uma alteração do centro de gravidade do corpo da mulher nessa fase”, explica.-
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A prática de exercícios também garante uma recuperação mais tranquila no pós-parto. Para Talvane Ferrari Parízio, ginecologista-obstetra do Hospital Belo Horizonte, os exercícios durante a gravidez são mais do que indicados, embora não seja comum que essa recomendação seja dada no consultório médico. “Gravidez não é doença. O que ocorre é que muitas mulheres sentem medo de se exercitar nesse período.” Parízio diz que recebe muitas indagações de suas pacientes a respeito do assunto. “Elas perguntam até mesmo se é permitido subir escadas. Sempre brinco que sim, o que não pode é cair da escada. As gestantes precisam ter cuidado com a queda, mas fazer exercício acompanhado de orientação é sempre benéfico.”
O acompanhamento é necessário porque cada gravidez é uma gravidez. A fisioterapeuta Renata Canguçu alerta que a estrutura óssea da gestante se torna mais frágil devido ao aumento do peso sob as articulações. “Caso a grávida esteja sentindo dores nos joelhos, o profissional vai poder indicar qual o melhor movimento a ser feito para acabar com o incômodo”, observa. Ela explica que o pilates é uma das atividades mais indicadas para o período gestacional, já que trabalha o alongamento, melhora a postura, fortalece os músculos das costas e evita as dores nas articulações. “Por conta do peso da barriga, as gestantes tendem a ficar com o corpo mais caído e curvado. Além da força, o pilates alonga o peitoral, deixando a mulher mais ereta”, destaca.
SEM IMPEDIMENTOS Bia Bicalho, coordenadora de aulas coletivas da Bodytech, teve duas gestações e em ambas trabalhou até as vésperas dos partos. “Quem avalia a saúde de uma gestante é o médico que a acompanha. Se você tem uma gestação que flui bem, não há impedimentos. Sempre pratiquei exercício físico e dei aulas até o fim. Como era professora de step, no último mês retirei o degrau para reduzir o impacto”, recorda. Eram mais ou menos sete da noite quando a bolsa de Bia estourou em plena academia, quando ela estava se preparando para dar aulas. “Depois disso passei em casa para pegar a malinha do neném, tomei um banho, e ainda fui abastecer o carro com meu marido antes de irmos para a maternidade”, lembra.
Gabriela Aires praticava ioga antes da gravidez e hoje, com quatro meses, continua com os exercícios
INTENSIDADE IDEAL
Como cada gravidez é única, as gestantes devem observar o que pode ou não ser feito durante esse período
Flávia Kolle é analista de sistemas. Gabriela Aires é farmacêutica. Ana Gutierrez é empresária. Ana Carolina Pagano é psicóloga e bailarina. Bia Bicalho é professora de ginástica. Além do sexo feminino, o que essas mulheres têm em comum? Todas praticaram ou ainda praticam atividade física regular na gestação. Movimentar o corpo durante a gravidez traz benefícios inquestionáveis para as gestantes. Mas disposição para encarar qualquer tipo de exercício corporal nesta fase da vida não significa que não existam dúvidas sobre quais são as atividades mais adequadas e a intensidade ideal. Por isso mesmo, o Bem Viver foi buscar junto aos especialistas dicas do que se deve ou não fazer durante esse período.
É preciso levar em conta que há exercícios específicos sugeridos para cada trimestre da gestação. De acordo com o educador físico Diogo Fiorini, as atividades recomendadas para os primeiros três meses são sempre as mais leves, de modo a evitar que a gestante se esforce demais ou chegue a um limite, principalmente porque os 90 dias iniciais são os mais sensíveis do período gestacional. “Caminhada, pilates e ioga são práticas ideais para serem realizadas durante os três primeiros meses da gravidez”, indica. Como não existe uma dinâmica universal para todas as gestantes, já que uma gravidez nunca é igual a outra, as atividades devem ser planejadas conforme as necessidades de cada mulher.
Flávia Kolle está no quinto mês de gestação e faz massagem uma vez por semana
Gabriela Aires espera seu primeiro filho e já está com quatro meses de gravidez. Como praticava ioga antes de engravidar, resolveu continuar com a atividade, tomando o cuidado de evitar exercícios que movimentam excessivamente o abdômen ou que provoquem excessiva circulação sanguínea. Junto com a ioga, antes de engravidar, Gabriela também fazia natação. “Cheguei à conclusão de que a natação força muito, por isso parei de nadar nos três primeiros meses. Já a ioga dá mais concentração e melhora a vitalidade”, explica.
A bailarina Elaine Reis fez atividade física até o fim de suas duas gestações
Na segunda etapa, entre o quarto e o sexto mês, a futura mamãe já pode se fortalecer e se exercitar mais. A opção de Gabriela foi aliar a natação – reduzindo o esforço que fazia antes de engravidar de 1.500 metros para 500 metros – à ioga, que também trabalha a respiração de forma intensa. “Na hora de escolher uma atividade, não consegui achar uma aula específica para gestantes. Procurei muito, mas acabei permanecendo na mesma academia”, diz. Além de ioga e natação, os especialistas recomendam dança, musculação, spinning ou qualquer outra atividade sem forte impacto.
No terceiro trimestre, a gestante já não consegue desenvolver as atividades com tanto vigor. Em geral, isso ocorre porque ela ganhou peso devido ao crescimento do bebê. Ela pode se sentir inchada devido às dificuldades na circulação sanguínea. Por isso, nessa fase, as atividades físicas mais indicadas são as realizadas dentro da água. “Tanto a hidroginástica quanto a natação contam com movimentos que aumentam o volume plasmático, facilitando o xixi e diminuindo a retenção líquida”, observa Fiorini.
MASSAGENS Flávia Kolle está no quinto mês de gestação e espera ansiosamente pela filha Beatriz. Como sempre teve retenção de líquidos, já tinha o hábito de fazer drenagem linfática pelo menos três vezes ao ano. Na gravidez continua com as massagens, só que uma vez a cada semana. Além disso, optou pela hidroginástica. Do segundo para o terceiro mês, descobriu um mioma no colo do útero e teve de ser operada. Assim que foi liberada, voltou à atividade física. “Confesso que tive medo de fazer ginástica. Conversei muito com o meu professor e agora dispenso os abdominais. Faço exercícios físicos com foco no bem-estar e não para perder peso. A hidroginástica ajuda a relaxar, melhora o sono e me traz uma sensação de leveza”, observa.
A bailarina Elaine Reis praticou atividade física até o fim de suas duas gestações. Para isso, seu primeiro passo foi conseguir o aval do obstetra. Ela também dá aulas de balé e explica que esse tipo de exercício não é recomendado nos três primeiros meses da gravidez. “A partir daí é possível dançar até as vésperas do parto. Gravidez não é doença e em geral mulheres grávidas ficam muito bem dispostas. Eu me sentia linda. Trabalhar com música é muito relaxante”, declara. (Colaborou Virgínia Gonzaga)
Frederico Peret - obstetra e diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de MG (Sogimig)
Resposta do corpo
“A atividade física é essencial para as gestantes, mas elas devem ficar atentas para algumas situações que acontecem durante a prática. Assim como nenhuma grávida tem necessidades iguais a outra, as reações do corpo também são diferentes. Por isso, é necessário ficar alerta às respostas dadas pelo corpo. Normalmente, durante esse período a mulher engorda cerca de 400 gramas por semana. Se, em vez de estabilidade ou ganho do peso houver perda, será preciso procurar um médico. O cansaço excessivo também é motivo de atenção. Outro ponto a ser analisado é se a mamãe está com inchaços acima do normal mesmo praticando atividades que reduzem a retenção de líquido.”