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Cientistas descobrem gene que ajuda na fixação de embriões; técnicas de fertilização podem ser aprimoradas

Pesquisa abre a possibilidade de novas sondagens em torno de problemas como infertilidade e formação anormal da placenta

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Flávia Franco - Correio Braziliense Publicação:22/09/2014 14:00Atualização:22/09/2014 11:22
A localização do embrião no útero materno é essencial para que a gravidez se desenvolva sem riscos. Cientistas buscam aprimorar técnicas de fertilização que garantam a acomodação correta do bebê. Um recente estudo feito nos EUA indica que a expressão do gene Wnt5a está vinculada a esse processo. A descoberta, publicada na Cell Reports, abre a possibilidade de novas sondagens em torno de problemas como infertilidade e formação anormal da placenta.

Segundo Sudhansu K. Dey, pesquisador do Centro Médico do Hospital Infantil de Cincinnati e líder do estudo, o Wnt5a é responsável por sinalizar o crescimento celular no desenvolvimento de embriões. Eles chegaram a essa conclusão após analisarem o papel de genes relacionados a segmentos musculares no mesmo processo. O Msx, que desempenha papel importante no direcionamento do útero para receber o óvulo fecundado, chamou a atenção da equipe.

Em experimentos com camundongos, ao deletar os genes Msx do útero, as cobaias ficaram inférteis e houve aumento dos níveis de Wnt5a. “Nós nos perguntamos se a sinalização entre o Wnt5a e seu receptor, o ROR, desempenhava algum papel na biologia uterina e na implantação do embrião. Descobrimos que, quando o Msx é inativado, a sinalização do Wnt5a é interrompida”, detalha.

A sinalização molecular no útero do Wnt5a em conjunto com os receptores ROR faz com que as câmaras de implantação uterinas se formem em intervalos regulares e ajuda a direcionar o embrião para se fixar no lugar correto.

Interação complexa
Esse processo é bastante complexo, pois envolve uma interação do embrião com o endométrio (revestimento interno do útero). Segundo Rogério Leão, ginecologista e obstetra do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, a implantação embrionária depende da ativação de vários genes, com ação de diferentes substâncias e sinais enviados pelo embrião e pelo órgão feminino, e que deve ocorrer em perfeita sincronia. “Esse processo não é totalmente compreendido, e o estudo ajuda a entendê-lo melhor”, avalia.

A relevância da pesquisa, segundo Edson Lo Turco, chefe de Embriologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), não se resume ao processo de implantação embrionária. “O Wnt5a está relacionado com a sinalização para a liberação de cálcio intracelular. O entendimento e o controle da expressão desse gene poderiam ser aplicados tanto para o aumento das taxas de implantação quanto para a diminuição da proliferação de células neoplásicas (quando há um crescimento anormal dos tecido)”, afirma.

De acordo com Jurandir Passos, especialista em medicina fetal do laboratório Exame, o trabalho dos americanos identifica pela primeira vez a associação do gene com outras moléculas, como a ROR. O médico confirma que essas informações têm grande relevância para tratamentos de fertilidade . “Quanto mais entendermos esse processo, maior será o domínio das técnicas de reprodução assistida, a ponto de chegarmos ao dia em que, se o casal quiser um bebê, apenas um ovo será implantado.”

Chefe do Serviço de Ginecologia do Hospital São Lucas da Pontifícia da Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Mariângela Badalotti pondera que, apesar da relevância do estudo, as aplicações clínicas não ocorrerão em um futuro próximo. “Foi mostrado que uma má regulação dessa via compromete a adequada implantação de embriões em ratas. Nesse momento, não podemos dimensionar a relação que isso possa ter com humanos.” A médica reforça que, mesmo que alguns aspectos da implantação sejam semelhantes entre ratos e humanos, há mecanismos específicos de cada espécie. (FF)

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