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Infertilidade é o mesmo que esterilidade? Medicina amplia chances de realizar sonho de ser pai

A infertilidade masculina pode ter várias causas, mas para quase todas há um tratamento específico. Necessidade de recorrer ao banco de sêmen foi bastante reduzida. Entenda agora o porquê

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Letícia Orlandi - Saúde Plena Publicação:08/08/2014 08:30Atualização:08/08/2014 10:20

Com a evolução das técnicas, a necessidade de recorrer a espermatozoides doados passou a atingir menos de 1% dos homens que desejam ser pais (Janine Moraes/CB/D.A Press)
Com a evolução das técnicas, a necessidade de recorrer a espermatozoides doados passou a atingir menos de 1% dos homens que desejam ser pais
Se, nos anos 90, um casal com dificuldades para engravidar procurasse ajuda e o problema estivesse relacionado ao esperma do candidato a pai, a solução mais frequente seria recorrer a um banco de doadores. Apenas 20 anos depois, a realidade é bem diferente, e as chances de realizar esse sonho aumentaram muito também para os homens.

O primeiro esclarecimento já começa na diferença entre infertilidade – redução das chances de se conseguir uma gestação natural, que conta com várias opções de tratamento – e a esterilidade, que é a ausência total dessa chance, determinando o uso de gametas (células que se fundem no momento da fecundação) doados.

De acordo com o especialista em reprodução assistida Marco Melo, da Clínica Vilara, as causas mais comuns da infertilidade masculina são as alterações na produção dos espermatozoides. Elas podem ser de:

-concentração - a quantidade de espermatozoides encontrada no líquido ejaculado;
-motilidade – capacidade de o gameta se movimentar;
-morfologia – o espermatozoide deve ter uma forma adequada para conseguir fecundar o óvulo.


Essas alterações, por sua vez, podem ter diversas causas, mas na grande maioria dos casos - 85% - não é possível identificar um único elemento responsável pela infertilidade. “Além dos fatores genéticos, estudos associam o tabagismo, o abuso de drogas e de hormônios anabolizantes, além do uso de computadores portáteis no colo, às alterações na fertilidade. Elas podem ser temporárias ou permanentes. Entretanto, as causas ainda não foram totalmente esclarecidas”, explica o médico.

 

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Carência de vitaminas pode influenciar até na fertilidade masculina

 

 

Diagnóstico precoce de problemas que podem levar à infertilidade esbarra na resistência masculina em frequentar o consultório médico (Daniela Santiago/Esp.CB/D.A Press)
Diagnóstico precoce de problemas que podem levar à infertilidade esbarra na resistência masculina em frequentar o consultório médico
Uma condição que também pode afetar a possibilidade de uma gestação natural é a ausência de ejaculação ou a ejaculação retrógrada, que respondem por menos de 5% dos casos de infertilidade masculina. Um dos fatores de risco para esse problema é o diabetes, porque as altas taxas glicêmicas favorecem o desenvolvimento da doença neuropática periférica. Com nervos danificados, a ejaculação pode ser direcionada à bexiga; e não à uretra, como seria o caminho normal. E mais: caso o paciente desenvolva aterosclerose, a obstrução dos vasos sanguíneos que irrigam o pênis pode dificultar a ereção. Ou seja, mais um motivo pelo qual diabetes é uma doença que deve ser controlada e acompanhada com atenção.

Outra possibilidade é a obstrução dos canais que transportam os espermatozoides a partir do testículo. As causas são variadas – desde uma doença genética ou sexualmente transmissível, até uma obstrução consciente causada pela cirurgia de vasectomia. Entre os males de origem genética que podem afetar a fertilidade está a fibrose cística, caracterizada por uma produção de muco muito mais viscosa que o normal. Esse muco pode formar 'rolhas' nos canais deferentes, responsáveis pelo transporte dos espermatozoides para fora dos testículos.

Marco Melo destaca que a varicocele – aparecimento de varizes de maior calibre que aumentam a temperatura dos testículos e podem afetar a produção de espermatozoides – está, atualmente, na berlinda. Vários estudos indicam que ela pode ser consequência – e não causa – de um problema de fertilidade.”Existem homens que têm varicocele e são férteis. E existem aqueles que não tem essa alteração e apresentam problemas de fertilidade. Por não haver uma conclusão definitiva, a cirurgia para tratamento da varicocele só é indicada nos casos em que há dor e/ou há alteração morfológica, com o crescimento exagerado da bolsa escrotal”, esclarece o especialista.

O médico acrescenta que a melhor forma de tratar a varicocele seria com sua identificação precoce, ainda na infância e na adolescência – antes que o problema cause danos aos testículos. Mas essa possibilidade normalmente esbarra na falta de hábito do homem brasileiro de frequentar o consultório urológico.

Taxas de sucesso nas tentativas de fecundação do óvulo variam de acordo com a técnica: inseminação artificial ou fertilização in vitro (Fábio Cortez/DN/D.A Press)
Taxas de sucesso nas tentativas de fecundação do óvulo variam de acordo com a técnica: inseminação artificial ou fertilização in vitro
Além da azoospermia - nome que se dá à ausência de espermatozoides no líquido ejaculado – por causas obstrutivas, existe ainda a azoospermia secretora. Ela pode aparecer em vários graus – desde uma concentração menor de espermatozoides até a ausência completa deles. Nos casos de ausência total, aí sim, a única saída será o banco de sêmen. Essa situação atinge menos de 1% do total de casais com problemas de fertilidade.

Soluções
Portanto, em todos os outros casos, há alternativas, que só foram possíveis com a evolução mais recente das técnicas. “Nos anos 90, passamos a utilizar a técnica ICSI - Intra Citoplasmatic Sperm Inject ou  Injeção Intracitoplasmática. Por meio da micromanipulação de gametas, cada óvulo é fecundado individualmente pelo espermatozoide, no laboratório, diminuindo drasticamente a quantidade de gametas masculinos necessários para que se tenha sucesso. Com as técnicas que existiam até então, eram necessários pelo menos 80 mil espermatozoides para realizar a fertilização in vitro, tornando o procedimento impossível para os homens que produziam uma quantidade menor”, esclarece Melo.

Para coletar os espermatozoides, é possível realizar uma biópsia do testículo ou a aspiração de epidídimo – pequeno duto retorcido responsável pelo armazenamento dos gametas produzidos. Para casos mais graves, existe ainda a microdissecção testicular, que, desde os anos 2000, tornou viável alcançar as 'ilhas' de geração das célula reprodutivas, aumentando o espectro de homens candidatos a participar da fertilização in vitro.

No caso da ejaculação retrógrada, Marco Melo lembra que é possível também fazer um tratamento medicamentoso para reverter o processo. Ou ainda uma terapia para que a urina presente na bexiga não cause danos aos espermatozoides e seja possível coletar os gametas na própria excreção.

 

Importante: Cercada de preconceitos, a infertilidade masculina não tem, na maioria dos casos, vínculo com o vigor sexual. A alteração espermática, mesmo com nível de testosterona normal, é frequente. Além disso, os tratamentos para fertilidade não favorecem a disfunção erétil - este é um outro mito que acaba se transformando em uma cilada para a vida sexual, familiar e afetiva masculina. Muitos homens evitam procurar uma solução para a infertilidade por medo de que isso signifique redução da virilidade.  


Saiba a diferença entre Inseminação e Fertilização

Uma vez que seja definido o procedimento mais indicado para cada caso de infertilidade, poderá ser definido também, se necessário, o método que será utilizado para fecundação do óvulo, que pode ser a inseminação artificial ou a fertilização in vitro (FIV):


Introdução da técnica de Injeção Intra-Citoplasmática (ICSI) ampliou as possibilidades da fertilização in vitro, mesmo quando o homem produz uma quantidade muito pequena de espermatozoides (ASRM/Divulgação)
Introdução da técnica de Injeção Intra-Citoplasmática (ICSI) ampliou as possibilidades da fertilização in vitro, mesmo quando o homem produz uma quantidade muito pequena de espermatozoides
- Na inseminação, os espermatozoides com maior mobilidade e mais potencial são separados em laboratório e injetados no útero da mulher, em uma área próxima às trompas. Se tudo der certo, eles vão fecundar o gameta feminino e gerar o feto. Para potencializar as chances de fecundação, a mãe faz um tratamento hormonal. É uma técnica indicada no caso de problemas de mobilidade e a taxa de sucesso é de 15% a 17%, em mães com menos de 37 anos; e de 8%, em mães com mais de 40 anos. Para se ter uma ideia, a taxa de sucesso em tentativas 100% naturais é de 20 a 25% nos seres humanos.

 

- No caso da fertilização, o tratamento começa com injeções diárias à base de hormônios, para que depois o especialista possa coletar os óvulos da mulher e colocá-los em um ambiente que simula as condições das trompas em laboratório. Nesse mesmo ambiente, são colocados os espermatozoides selecionados.

Dentro dessa modalidade, com a técnica ICSI, um aparelho injeta um espermatozoide em cada óvulo. Ela é indicada quando o homem tem uma quantidade muito baixa de espermatozoides. No momento em que um óvulo for fecundado, o embrião é transferido para o útero. A taxa de sucesso é de 40%, em média, mas pode aumentar para até 50%, quando a mãe tem menos de 37 anos; e cair para 20%, quanto tem mais de 40. “Se o homem tem uma 'vantagem' reprodutiva, é essa: um indivíduo de 50 anos carrega espermatozoides que têm, no máximo, 90 dias de vida. Uma mulher de 37 anos carrega óvulos de 37 anos”, lembra Marco Melo.

O especialista relata que, por outro lado, alguns estudos apontaram maior frequência de autismo e esquizofrenia em filhos de homens que foram pais após os 50 anos. Ou seja, não foi identificado problema de fertilidade, ou capacidade de gerar filhos, vinculado à idade; mas a maior prevalência dessas doenças estaria relacionada à fragmentação ou lesão do DNA espermático com o envelhecimento.

 (Soraia Piva / EM / DA Press)
A infertilidade conjugal acomete quase 20% dos casais e, quando avaliadas as causas detectáveis mais comuns, observa-se que os fatores de origem masculina estão presentes em uma proporção semelhante aos de origem feminina. Em termos gerais, é possível considerar que 40% das causas são puramente masculinas, 40% são femininas, 10% são causas mistas e em 10% dos casos não se encontra um fator determinante.

 

Quando procurar o médico? Indica-se que seja realizada a consulta inicial se houver ausência de gravidez após 12 meses de relações sexuais regulares, sem uso de método anticoncepcional, é claro. É preciso ficar atento a alguns fatores que determinam a redução desse prazo: se a mulher tiver mais de 35 anos, se é portadora da síndrome dos ovários policísticos ou de endometriose; se o homem passou por cirurgia de reversão da vasectomia ou teve infecções pélvicas. Nestas situações, a consulta deve ser feita após seis meses de tentativas regulares.

 

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