Infertilidade é o mesmo que esterilidade? Medicina amplia chances de realizar sonho de ser pai
A infertilidade masculina pode ter várias causas, mas para quase todas há um tratamento específico. Necessidade de recorrer ao banco de sêmen foi bastante reduzida. Entenda agora o porquê
O primeiro esclarecimento já começa na diferença entre infertilidade – redução das chances de se conseguir uma gestação natural, que conta com várias opções de tratamento – e a esterilidade, que é a ausência total dessa chance, determinando o uso de gametas (células que se fundem no momento da fecundação) doados.
De acordo com o especialista em reprodução assistida Marco Melo, da Clínica Vilara, as causas mais comuns da infertilidade masculina são as alterações na produção dos espermatozoides. Elas podem ser de:
-concentração - a quantidade de espermatozoides encontrada no líquido ejaculado;
-motilidade – capacidade de o gameta se movimentar;
-morfologia – o espermatozoide deve ter uma forma adequada para conseguir fecundar o óvulo.
Essas alterações, por sua vez, podem ter diversas causas, mas na grande maioria dos casos - 85% - não é possível identificar um único elemento responsável pela infertilidade. “Além dos fatores genéticos, estudos associam o tabagismo, o abuso de drogas e de hormônios anabolizantes, além do uso de computadores portáteis no colo, às alterações na fertilidade. Elas podem ser temporárias ou permanentes. Entretanto, as causas ainda não foram totalmente esclarecidas”, explica o médico.
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Carência de vitaminas pode influenciar até na fertilidade masculina
Outra possibilidade é a obstrução dos canais que transportam os espermatozoides a partir do testículo. As causas são variadas – desde uma doença genética ou sexualmente transmissível, até uma obstrução consciente causada pela cirurgia de vasectomia. Entre os males de origem genética que podem afetar a fertilidade está a fibrose cística, caracterizada por uma produção de muco muito mais viscosa que o normal. Esse muco pode formar 'rolhas' nos canais deferentes, responsáveis pelo transporte dos espermatozoides para fora dos testículos.
Marco Melo destaca que a varicocele – aparecimento de varizes de maior calibre que aumentam a temperatura dos testículos e podem afetar a produção de espermatozoides – está, atualmente, na berlinda. Vários estudos indicam que ela pode ser consequência – e não causa – de um problema de fertilidade.”Existem homens que têm varicocele e são férteis. E existem aqueles que não tem essa alteração e apresentam problemas de fertilidade. Por não haver uma conclusão definitiva, a cirurgia para tratamento da varicocele só é indicada nos casos em que há dor e/ou há alteração morfológica, com o crescimento exagerado da bolsa escrotal”, esclarece o especialista.
O médico acrescenta que a melhor forma de tratar a varicocele seria com sua identificação precoce, ainda na infância e na adolescência – antes que o problema cause danos aos testículos. Mas essa possibilidade normalmente esbarra na falta de hábito do homem brasileiro de frequentar o consultório urológico.
Soluções
Portanto, em todos os outros casos, há alternativas, que só foram possíveis com a evolução mais recente das técnicas. “Nos anos 90, passamos a utilizar a técnica ICSI - Intra Citoplasmatic Sperm Inject ou Injeção Intracitoplasmática. Por meio da micromanipulação de gametas, cada óvulo é fecundado individualmente pelo espermatozoide, no laboratório, diminuindo drasticamente a quantidade de gametas masculinos necessários para que se tenha sucesso. Com as técnicas que existiam até então, eram necessários pelo menos 80 mil espermatozoides para realizar a fertilização in vitro, tornando o procedimento impossível para os homens que produziam uma quantidade menor”, esclarece Melo.
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No caso da ejaculação retrógrada, Marco Melo lembra que é possível também fazer um tratamento medicamentoso para reverter o processo. Ou ainda uma terapia para que a urina presente na bexiga não cause danos aos espermatozoides e seja possível coletar os gametas na própria excreção.
Importante: Cercada de preconceitos, a infertilidade masculina não tem, na maioria dos casos, vínculo com o vigor sexual. A alteração espermática, mesmo com nível de testosterona normal, é frequente. Além disso, os tratamentos para fertilidade não favorecem a disfunção erétil - este é um outro mito que acaba se transformando em uma cilada para a vida sexual, familiar e afetiva masculina. Muitos homens evitam procurar uma solução para a infertilidade por medo de que isso signifique redução da virilidade.
Saiba a diferença entre Inseminação e Fertilização
Uma vez que seja definido o procedimento mais indicado para cada caso de infertilidade, poderá ser definido também, se necessário, o método que será utilizado para fecundação do óvulo, que pode ser a inseminação artificial ou a fertilização in vitro (FIV):
- No caso da fertilização, o tratamento começa com injeções diárias à base de hormônios, para que depois o especialista possa coletar os óvulos da mulher e colocá-los em um ambiente que simula as condições das trompas em laboratório. Nesse mesmo ambiente, são colocados os espermatozoides selecionados.
Dentro dessa modalidade, com a técnica ICSI, um aparelho injeta um espermatozoide em cada óvulo. Ela é indicada quando o homem tem uma quantidade muito baixa de espermatozoides. No momento em que um óvulo for fecundado, o embrião é transferido para o útero. A taxa de sucesso é de 40%, em média, mas pode aumentar para até 50%, quando a mãe tem menos de 37 anos; e cair para 20%, quanto tem mais de 40. “Se o homem tem uma 'vantagem' reprodutiva, é essa: um indivíduo de 50 anos carrega espermatozoides que têm, no máximo, 90 dias de vida. Uma mulher de 37 anos carrega óvulos de 37 anos”, lembra Marco Melo.
O especialista relata que, por outro lado, alguns estudos apontaram maior frequência de autismo e esquizofrenia em filhos de homens que foram pais após os 50 anos. Ou seja, não foi identificado problema de fertilidade, ou capacidade de gerar filhos, vinculado à idade; mas a maior prevalência dessas doenças estaria relacionada à fragmentação ou lesão do DNA espermático com o envelhecimento.
Quando procurar o médico? Indica-se que seja realizada a consulta inicial se houver ausência de gravidez após 12 meses de relações sexuais regulares, sem uso de método anticoncepcional, é claro. É preciso ficar atento a alguns fatores que determinam a redução desse prazo: se a mulher tiver mais de 35 anos, se é portadora da síndrome dos ovários policísticos ou de endometriose; se o homem passou por cirurgia de reversão da vasectomia ou teve infecções pélvicas. Nestas situações, a consulta deve ser feita após seis meses de tentativas regulares.