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Entenda os benefícios da disciplina positiva

Andreia Mortensen é neurocientista e professora no Departamento de Farmacologia e Fisiologia na Universidade Drexel, na Filadélfia (EUA)

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Carolina Cotta - Estado de Minas Publicação:28/09/2014 09:00Atualização:26/09/2014 11:04
Quais as consequências de uma educação punitiva?

Muitos acreditam que uma educação punitiva dá limites, orienta e ensina a criança a não fazer coisas erradas. Porém, quando as crianças recebem castigos frequentes, quando são pouco ouvidas, pouco direcionadas e acolhidas, elas não aprendem a criar seus próprios valores, pois não tiveram oportunidade. Quando elas são sempre condicionadas por uma força superior; os pais, no caso; sem a chance de serem questionadoras e acolhidas em seus questionamentos, elas se acostumam a ter uma presença "magistral" para lhes dizer o que fazer. Então, quando essa pessoa não está presente, abre-se uma oportunidade para fazer o ‘errado’. E assim ela aprendeu a mentir, a esconder. E não aprendeu a se comportar bem por ter internalizado de fato valores morais, éticos, de respeito e empatia. Esse padrão pode ser levado para o resto da vida. Dessa forma não é preciso pensar, questionar, criticar, só "obedecer".

 (Divulgação)
E os castigos?

Castigos ensinam as crianças a procurar uma autoridade externa para decidir como elas devem se comportar, ao invés de olharem para si mesmas. Elas não aprendem, em colaboração com outros, a fazer escolhas, elas não aprendem como decidir o que é bom para elas e para quem lhes é importante. O que elas aprendem, ao invés disso, é se submeter a uma autoridade e poder, a obedecer. Além disso, os castigos ensinam que é permitido usar de força física ou psicológica de alguém mais forte. Que é justificável usar desse jogo de poder em certas situações. Quando crescem nesse ambiente, as crianças internalizam que agressões, educação e amor andam juntos, e tendem então reproduzir esse padrão quando tem seus próprios filhos. Isso acontece porque os castigos distanciam as crianças de seus pais e aumenta a desconfiança naqueles que, biologicamente, devem cuidar delas, prover segurança e sentimento de pertencimento a esse mundo.

Que evidências comprovam os benefícios de uma educação sem violência?

Nossos avós provavelmente reproduziram o que aprenderam na própria infância. Só que hoje há centenas de estudos sobre os efeitos de castigos físicos na infância comprovando que esses estão ligados a maior probabilidade de vários efeitos adversos, incluindo problemas de comportamento na vida adulta, depressão, tristeza, ansiedade, sentimentos de melancolia, uso de drogas e álcool, e desajuste psicológico geral. Não é mais justificado, simplesmente, reproduzir esse tipo de criação, sem questionamentos. Além de estudos científicos, há evidências empíricas suficientes de países que não utilizam castigos físicos com suas crianças e em que as taxas de violência contra a criança e criminalidade muito menores que países como o Brasil, desmistificando, assim, argumentos de que os castigos são necessários para tornar as crianças ‘adultos direitos, do bem’. Devemos entender as fases de desenvolvimento da criança (para ter então expectativas reais dos comportamentos de cada fase), e os benefícios e malefícios de diferentes estilos de criação. Um desses estilos é a ‘disciplina positiva’, na qual não se usa o termo "obediência" (e na sequência, desobediência). O estilo onde se espera que o filho siga suas ordens, ou regras, sem questionar – que é o princípio da obediência – implica em uma criação autoritária. Na disciplina positiva falamos em conexão, em vínculo, antes de correção, ou melhor, de orientação.

Como estratégias de educação com afeto podem ajudar?


Disciplinar não é bater, não é corrigir mau comportamento. Disciplina é toda ação que influencia o desenvolvimento da criança. Então, devemos pensar como queremos que ela se desenvolva. Queremos que ele tenha sensibilidade, confiança em si mesmo, boa autoestima? Que aprenda a fazer as escolhas certas, que ele tenha vivido experiências que de fato lhe permitiram aprender a fazer essas escolhas? Que tenha respeito pelas autoridades, mas não as tema, pelo contrário, tenha liberdade de questioná-las? Que tenha habilidades de resolver problemas de maneira diplomática, sem ter que usar jogo de força/poder? Que tenha valores de honestidade, integridade, ética, e responsabilidade. Se respondeu sim a todas essas questões, então um modelo autoritário de criação – no qual você manda, a criança obedece, mas se não obedecer você castiga – definitivamente não se encaixa no seu estilo familiar e nos objetivos que tem para a pessoa que deseja que seu filho seja no futuro.

Quais são os princípios básicos da disciplina positiva?

Alguns princípios básicos da disciplina positiva – que é parte da criação com apego –, incluem conexão: um relacionamento saudável entre pais e filhos, com abertura para conversar, para se expressar tanto sentimentos felizes como tristes. Inclui também conhecimento, relacionado com a conexão, importante também é se informar sobre o comportamento de cada faixa etária para entender o quanto a criança pode ter de autonomia e desejo; ajudar a respeitar autoridades, com base na confiança, e não a temer, o que é muito diferente; orientar limites, e assim dar uma estrutura com regras adequadas para a idade, que respeitem a todos; valorizar a cooperação familiar; dar bons exemplos (essencial); confiar em seu filho, o que ajuda em sua auto-estima; e entender que eles também tem sentimentos e desejos, que podem ser diferentes dos meus; além de ensinar empatia e exercer o diálogo familiar: fale e escute seu filho. Então, a obediência em si não é o essencial, mas a cooperação que vem com uma dinâmica familiar respeitosa.

Pode dar um exemplo?


Veja a diferença essencial: crianças que se sentem bem, que se sentem acolhidas, ouvidas, respeitadas, querem cooperar na casa, na família. Não há necessidade de palmadas, castigos, cantinho do pensamento, gritos. Nós expressamos claramente nossas expectativas como família, nós permitimos que nossos filhos se expressem, e nós os ajudamos a criar uma dinâmica familiar respeitosa e empática. Então, experimente trocar o objetivo da obediência por uma relação de conexão, bom vínculo e confiança com seu filho. Se tudo isso existe, a cooperação vem naturalmente. É claro que eles não vão querer cooperar o tempo todo. São crianças e querem, e devem, testar seus limites. E para entender o que de fato é certo ou errado eles têm que testar. Se compreendermos essas situações não como desafios pessoais a nossa autoridade, mas sim como uma questão de desenvolvimento, tudo fica mais fácil. Se a criança não quer ouvir e cooperar de jeito nenhum, então é provável que seja a hora de mudar de estratégia. Ela está tendo emoções muito fortes para lidar sozinha e precisa de sua ajuda? Ela é muito nova para ter controle próprio? Ela está querendo ser autônoma e eu não estou permitindo e isso criou uma frustração imensa? Ela está com alguma necessidade não atendida no momento, ou passou por alguma situação estressante na escola, com amiguinhos, e que interferiu em seu estado emocional? Ao analisar todo o contexto dessa forma e ao procurar suprir suas necessidades e ao permitir que ela se expresse, em breve terá sua cooperação.

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