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Pai escreve diário para as três filhas desde a gravidez de cada uma delas; conheça essa história

Pai coruja e presente, Marcus Antoni Rebuzzi acompanhou e registrou os instantes que julgou mais importantes da vida das filhas. Dos mais prosaicos aos grandiosos. Das conquistas às decepções.

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Lilian Monteiro - Estado de Minas Publicação:21/10/2014 09:00Atualização:20/10/2014 11:40
As filhas Milene e Melina se encantam com o diário de suas vidas escrito pelo pai, Marcus Rebuzzi (Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
As filhas Milene e Melina se encantam com o diário de suas vidas escrito pelo pai, Marcus Rebuzzi
Esta história começa em novembro de 1929. Emocionada com o nascimento da primeira filha, Myres, dona Mirtes decide escrever um diário sobre cada passo na vida da primogênita. Faz o mesmo com os irmãos Myriam, Marzio e Marcus. A trajetória dos rebentos descrita em cada página se encerrava no dia em que se casavam. Era quando recebiam sua história, acompanhada de uma carta. Dona Mirtes morreu em 1984 e Marcus Antoni Rebuzzi, o caçula, foi o único a continuar o legado da mãe. No dia seguinte ao seu casamento com Norma, Marcus passou a escrever em seu diário e decidiu que no dia em que a mulher ficasse grávida começaria a registrar a história, agora, de seus filhos.

“Na carta da minha mãe, ela dizia que o diário era a resenha do dia em que fui concebido até minha chegada ao altar. Ela me deu de presente as cenas da minha vida. Anotações incríveis, amorosas, de cuidado. Em uma delas, acredite, ela escreveu que só fui dormir uma noite inteira pela primeira vez em 4 de abril de 1940, ou seja, a fiz passar muitas noites em claro, desde 17 de maio de 1939! Fiquei emocionado e agradecido pelo carinho. Ela dizia que eu era uma das pétalas de seu trevo de quatro folhas. Achei que era minha missão continuar.” Para ele, seu diário “é minha memória, o histórico da minha vida”.

Marcus, hoje com 75 anos, aposentado, mas ainda trabalhando com consultoria e auditoria, é formado em administração de empresas e contabilidade, e pode acrescentar no currículo o papel de escritor e poeta. Adora escrever e todo o seu talento está no diário das três filhas: a turismóloga Maíra, a jornalista Melina e a designer de produto Milene. A mulher, Norma, logo, logo terá publicado no livro Minhas mulheres os mais de 150 poemas que recebeu do amado desde o começo do namoro. Namoro, aliás, que já dura 37 anos.

O primeiro diário de Marcus data de 10 de outubro de 1980, diante da feliz notícia da primeira gravidez de Norma. Nele, escreveu que “o amor é o principal legado que podemos oferecer”. Infelizmente, o feto parou de crescer. A tristeza, que ainda emociona, foi cicatrizada com a chegada em 30 de março de 1982 de Maíra. Foi quando começou a levar para as páginas de diários, nada secretos, o passo a passo de suas três princesas, ele que sempre sonhou ser pai de meninas.

Pai coruja e presente, Marcus acompanhou e registrou os instantes que julgou mais importantes da vida das filhas. Dos mais prosaicos aos grandiosos. Das conquistas às decepções. Aprendizados, alegrias, choros, travessuras, a queda do umbigo e do primeiro dente de leite, a formatura, as primeiras palavras, o boletim, a superação do vestibular, o diploma. A riqueza de detalhes e a forma de relatar cada momento emocionam quem tem o privilégio de folhear os diários. No de Maíra há o registro de seus batimentos cardíacos 60 minutos antes do nascimento. Em todos eles há o dia em que cada uma andou, a dor de barriga, os gastos até o nascimento (anotações como 55 fraldas, dois babadores, seis cueiros ), nome dos professores, a conquista de medalha na natação, a festa de 15 anos, a viagem à Disney... “Tenho o vocabulário das meninas, o ‘duduno’ (dormindo) usamos em casa até hoje e, ao longo dos anos, passei a escrever cartas dentro do diário. Em uma delas, registrei minha desconfiança de que a Milena não estava estudando para o vestibular. Quebrei a cara, ela passou em quarto lugar.”

PERSONALIDADES
Em cada diário Marcus registra a vida das filhas e descortina suas personalidades. Ele faz tudo com tanto capricho, que é encantador: há mechas de cabelo, botões de flores, cartões especiais... As páginas são declarações de amor. “Minhas filhas são meu orgulho. Elas me ensinam mais do que eu as ensinei. Os diários servem para lembrar, está tudo lá. A nossa vida é um livro aberto. Os anos passam, eu pego para ler e é como se fossem férias. As lembranças são únicas. Às vezes, choro. Hoje em dia, a convivência anda tão difícil, que sou feliz por elas terem seguido o melhor caminho. Eu e Norma passamos o exemplo e elas nos orgulham.” Aliás, no primeiro diário, do bebê que não nasceu, Marcus define bem como formou sua família. Nas boas-vindas desse anjinho que se foi, ele escreveu: “Somos iluminados por merecê-lo e fazê-lo gente”. Gente foi o que fez com Maíra, Melina e Milene.

Marcus conta que a assiduidade da escrita se perdeu à medida que as meninas se transformaram em mulheres. “Elas cresceram e as anotações diminuíram, já que passam a ter a vida delas. Hoje, faço um resumo dos fatos mais importantes no ano. Tanto que anotei num deles que estava cada vez mais difícil escrever sobre as meninas. Minha paciência diminuiu e o tempo não ajuda. Confesso que peço perdão à minha mãe pela falta de entusiasmo. Às vezes, sinto que ela me cobra. A Melina já recebeu o dela, fiz o mesmo ritual da minha mãe. Numa caixa, coloquei o diário, a carta e a entreguei no seu casamento. Agora espero pelo da Maíra e da Milene.” Pelo amor e dedicação, não duvidem se Marcus começar o diário dos netos...
A riqueza de detalhes chama a atenção, como a medalha de natação de uma das filhas (Tulio Santos/EM/D.A Press)
A riqueza de detalhes chama a atenção, como a medalha de natação de uma das filhas

HISTÓRIAS DA VIDA

“É mais uma demonstração de amor, admiração, preocupação, carinho e cuidado de um pai para suas filhas. É o registro da minha vida, sob a ótica do meu pai, e que vou guardar para o resto da minha vida”
MAÍRA

“Casei-me em outubro de 2010 e recebi meu diário. Sempre leio e choro. Na carta, meu pai escreveu ‘daqui para frente cabe a você decidir se quer continuar ou não esta caretice e estendê-la aos seus futuros filhos. Que Deus a proteja sempre e ao Jader (o marido), meu primeiro filho depois dos 71 anos’. Os últimos registros foram meu convite e a cópia da certidão de casamento. Vou seguir a tradição assim que meu primeiro filho vier. É uma lembrança para o resto da vida.”
MELINA

“Este diário é mais do que etapas de minha vida retratadas por meu pai. É quase uma biografia. É minha história que começou antes de eu ter consciência do que era isso. Um tanto quanto coruja em seu discurso, as páginas que ele escreve sobre mim mostra muito dele, um pai amoroso, dedicado e que mesmo passando por duras etapas em sua vida nunca deixou de dar a mim, minha mãe e minhas irmãs todo o seu amor.”
MILENE

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