Em carta ao papai Noel, jovem pede para voltar a enxergar
David da Silva, 14 anos, quer um transplante de córnea para recuperar a visão, bastante comprometida por pela doença
Manoela Alcântara - Correio Braziliense
Publicação:27/11/2014 15:38Atualização: 27/11/2014 15:56
Desde os 2 anos, David usa óculos. Ele tinha dois graus de miopia. Embora os médicos afirmassem que haveria uma regressão da doença, o grau aumentou a cada ano. Hoje, ele tem 15 graus de miopia no olho direito e 9 graus no esquerdo. As lentes comuns não adiantam mais, exceto as especiais para ajudá-lo a enxergar com mais conforto. “Sou muito esforçado em casa e na escola, minha mãe me elogia muito. Mas o que eu queria, se for possível, é uma cirurgia de córnea, pois estou com baixo rendimento no estudo e perdi uma oportunidade de trabalhar no Jovem Menor Aprendiz”, diz a carta de David endereçada ao Papai Noel.
O jovem foi incentivado a enviar o pedido ao bom velinhho pelos professores do Centro de Ensino Fundamental 308, do Recanto das Emas, no Distrito Federal. Há quatro anos, os docentes criaram o Natal Solidário. Eles tentam atender os pedidos das 750 crianças matriculadas na instituição. Acionam amigos, parentes, fazem todo o esforço possível para que elas tenham um Natal diferente. Muitos pedem cestas básicas, outros sonham com videogames. “Não queria nada disso. Adoro desenhar, escrever, mas minha visão piorou muito no último ano. Todos os médicos que vamos dizem: ‘seu problema é gravíssimo’, mas não conseguem resolver. Por isso, pedi ajuda ao Papai Noel” conta David.
Embora tenha idade para estar no ensino médio, o adolescente ainda cursa o 6º ano do ensino fundamental — não é por falta de empenho, mas devido às dificuldades e também à vergonha de falar sobre a limitação. “Muitas vezes, na aula de matemática, não consigo enxergar nada que está no quadro. Não digo nada, não vou ficar atrapalhando”, diz. Para conseguir ler, David precisa chegar muito perto do papel, o que já foi motivo de chacota entre os amigos. Com traços de desenhista profissional, o adolescente tentou fazer um curso de computação para se profissionalizar, mas esbarrou na doença. “Como não consigo enxergar, tinha que ficar com o rosto colado no computador. O professor perguntava se eu queria entrar dentro da máquina e queria saber onde estavam os óculos. Eu não falava nada, mas não consegui dar continuidade ao curso”, conta David.
Diagnóstico
A mãe, Francinete, coleciona laudos. As visitas a oftalmologistas começaram em 2002, mas, somente em 2013, um dos médicos identificou a ceratocone de David como patologia grave. Foi a primeira vez que um profissional abordou a necessidade de um transplante. “No mesmo dia, coloquei o nome dele na fila da espera dos transplantes. Mas, desde então, ele piorou muito e ocorreu um problema que retirou o nome dele da lista”, diz a mãe. Em maio último, Francinete recebeu uma carta da Secretaria de Saúde do DF informando que David tinha sido contemplado com a cirurgia. Ela e Davi foram ao local determinado e, lá, esperaram por 8 horas a consulta. “Quando chegou nossa vez o médico disse que ali era para fazer cirurgia de catarata e mandou que voltássemos para casa”, lembra Francinete.
Mãe e filho obedeceram à recomendação e passaram a esperam uma nova carta. Mas, na semana passada, foi ao Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) e teve uma surpresa desagradável. “Eles deram baixa no nome dele, como se tivesse feito a cirurgia. Voltamos para o fim da fila”, lamentou. Bem-humorada, ela não perde a esperança de ver o filho voltar a enxergar novamente. “Ele é ótimo aluno, ama desenhar, mas a baixa visão atrapalha muito. Acredito que vamos conseguir.” Uma outra oportunidade também poderia ter ajudado David, mas a falta de condições financeiras não possibilitou que ele fizesse a cirurgia. Mãe e filho teriam que ir para Sorocaba (SP) em busca de tratamento. “Não tinha dinheiro para pagar as passagens”, acrescenta Francinete.
Enquanto a reportagem estava na casa da auxiliar de serviços gerais, funcionários da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) bateram à porta. Eles queriam cortar a água da casa, onde ela mora com os quatro filhos por falta de pagamento. “Este mês, vendi balinhas dentro do ônibus. Consegui R$ 141. Ia comprar mais para vender, mas tive que colocar comida dentro de casa. Tivemos um vazamento de água em casa e a conta já passa dos R$ 500. Não tenho como pagar”, afirma a mãe de David.
Na carta ao Papai Noel, David diz que é um bom aluno, gosta de desenhar e lamenta ter perdido uma oportunidade de trabalho
Saiba mais...
A tradição de escrever cartas para o Papai Noel é comum entre crianças, adolescente e até adultos. Bolas, bonecas, videogames, brinquedos são os pedidos mais corriqueiros. Mas o desejo de David Oliveira da Silva, 14 anos, é especial. Ele quer voltar a enxergar. O adolescente tem ceratocone — uma doença na córnea — e recuperar a visão somente será possível por meio de transplante. Uma lente especial, chamada Rose K2 também poderia ajudá-lo a melhorar a qualidade de vida temporariamente a um custo de R$ 1,2 mil. Mas a mãe do rapaz, Francinete Oliveira, 38 anos, está desempregada e não consegue comprá-la.- Ceratocone é uma das degenerações mais comuns do globo ocular
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Desde os 2 anos, David usa óculos. Ele tinha dois graus de miopia. Embora os médicos afirmassem que haveria uma regressão da doença, o grau aumentou a cada ano. Hoje, ele tem 15 graus de miopia no olho direito e 9 graus no esquerdo. As lentes comuns não adiantam mais, exceto as especiais para ajudá-lo a enxergar com mais conforto. “Sou muito esforçado em casa e na escola, minha mãe me elogia muito. Mas o que eu queria, se for possível, é uma cirurgia de córnea, pois estou com baixo rendimento no estudo e perdi uma oportunidade de trabalhar no Jovem Menor Aprendiz”, diz a carta de David endereçada ao Papai Noel.
O jovem foi incentivado a enviar o pedido ao bom velinhho pelos professores do Centro de Ensino Fundamental 308, do Recanto das Emas, no Distrito Federal. Há quatro anos, os docentes criaram o Natal Solidário. Eles tentam atender os pedidos das 750 crianças matriculadas na instituição. Acionam amigos, parentes, fazem todo o esforço possível para que elas tenham um Natal diferente. Muitos pedem cestas básicas, outros sonham com videogames. “Não queria nada disso. Adoro desenhar, escrever, mas minha visão piorou muito no último ano. Todos os médicos que vamos dizem: ‘seu problema é gravíssimo’, mas não conseguem resolver. Por isso, pedi ajuda ao Papai Noel” conta David.
Embora tenha idade para estar no ensino médio, o adolescente ainda cursa o 6º ano do ensino fundamental — não é por falta de empenho, mas devido às dificuldades e também à vergonha de falar sobre a limitação. “Muitas vezes, na aula de matemática, não consigo enxergar nada que está no quadro. Não digo nada, não vou ficar atrapalhando”, diz. Para conseguir ler, David precisa chegar muito perto do papel, o que já foi motivo de chacota entre os amigos. Com traços de desenhista profissional, o adolescente tentou fazer um curso de computação para se profissionalizar, mas esbarrou na doença. “Como não consigo enxergar, tinha que ficar com o rosto colado no computador. O professor perguntava se eu queria entrar dentro da máquina e queria saber onde estavam os óculos. Eu não falava nada, mas não consegui dar continuidade ao curso”, conta David.
Diagnóstico
A mãe, Francinete, coleciona laudos. As visitas a oftalmologistas começaram em 2002, mas, somente em 2013, um dos médicos identificou a ceratocone de David como patologia grave. Foi a primeira vez que um profissional abordou a necessidade de um transplante. “No mesmo dia, coloquei o nome dele na fila da espera dos transplantes. Mas, desde então, ele piorou muito e ocorreu um problema que retirou o nome dele da lista”, diz a mãe. Em maio último, Francinete recebeu uma carta da Secretaria de Saúde do DF informando que David tinha sido contemplado com a cirurgia. Ela e Davi foram ao local determinado e, lá, esperaram por 8 horas a consulta. “Quando chegou nossa vez o médico disse que ali era para fazer cirurgia de catarata e mandou que voltássemos para casa”, lembra Francinete.
Mãe e filho obedeceram à recomendação e passaram a esperam uma nova carta. Mas, na semana passada, foi ao Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) e teve uma surpresa desagradável. “Eles deram baixa no nome dele, como se tivesse feito a cirurgia. Voltamos para o fim da fila”, lamentou. Bem-humorada, ela não perde a esperança de ver o filho voltar a enxergar novamente. “Ele é ótimo aluno, ama desenhar, mas a baixa visão atrapalha muito. Acredito que vamos conseguir.” Uma outra oportunidade também poderia ter ajudado David, mas a falta de condições financeiras não possibilitou que ele fizesse a cirurgia. Mãe e filho teriam que ir para Sorocaba (SP) em busca de tratamento. “Não tinha dinheiro para pagar as passagens”, acrescenta Francinete.
Enquanto a reportagem estava na casa da auxiliar de serviços gerais, funcionários da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) bateram à porta. Eles queriam cortar a água da casa, onde ela mora com os quatro filhos por falta de pagamento. “Este mês, vendi balinhas dentro do ônibus. Consegui R$ 141. Ia comprar mais para vender, mas tive que colocar comida dentro de casa. Tivemos um vazamento de água em casa e a conta já passa dos R$ 500. Não tenho como pagar”, afirma a mãe de David.
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Agência: 7987
Nome da titular: Francinete de Oliveira Santos
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