Mercúrio aumenta risco de doenças autoimunes; atenção com os frutos do mar

O metal chega ao corpo humano principalmente pela ingestão de frutos do mar pescados em áreas contaminadas. Estudo dos Estados Unidos aponta que o estrago pode ser maior entre as mulheres

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Correio Braziliense Publicação:16/02/2015 15:00Atualização:11/02/2015 10:37
Frutos do mar apresentam taxas mais altas de mercúrio despejado em mares e rios (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)
Frutos do mar apresentam taxas mais altas de mercúrio despejado em mares e rios
Com complicações completamente distintas, doenças como a esclerose múltipla, o diabetes tipo 1 e o vitiligo têm um fator em comum. O desenvolvimento desses males autoimunes pode estar ligado à ingestão de mercúrio. É o que indica um estudo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, publicado hoje no jornal Environmental Health Perspective.

A pesquisa indica que mesmo níveis baixos do metal podem influenciar no surgimento dessas enfermidades que atacam o sistema imunológico. A descoberta serve como um alerta ao consumo de frutos do mar, que apresentam taxas mais altas da substância despejada em mares e rios. Atividades de garimpo e de mineração estão entres as principais responsáveis pela contaminação.

As doenças autoimunes acontecem quando estruturas de defesa passam a atacar células saudáveis do próprio corpo, acreditando se tratarem de inimigas. As razões do desajustes ainda não são conhecidas pela ciência. “Mas, agora, temos um bom motivo do por que as pessoas desenvolverem doenças autoimunes”, explicou à imprensa Emily Somers, professora do Departamento de Medicina Interna da Universidade de Michigan e autora principal do estudo.

Prevenção
Por falta de informações sobre a origem dos males autoimunes, os cientistas da instituição norte-americana saíram em busca de fatores externos que pudessem estar ligados ao problema de saúde. “Um grande número de casos dessas enfermidades não é explicado pela genética. Por isso, acreditamos que estudar causas ambientais nos ajudaria a entender por que a autoimunidade acontece e como podemos ser capazes de intervir”, explicou Somers.

No estudo, foram utilizados dados sobre mulheres com 16 a 49 anos e participantes de um grande levantamento nutricional — o National Health and Nutrition Examination — realizado entre 1999 e 2004. Durante a análise das informações, os cientistas notaram que a maior exposição ao mercúrio encontrado nos frutos do mar foi relacionado a uma taxa maior de autoanticorpos — proteínas produzidas pelo sistema imunológico quando ele não consegue distinguir entre os próprios tecidos e células potencialmente prejudiciais.

Essa condição é uma precursora dos problemas autoimunes. “A presença de autoanticorpos não significa necessariamente que eles vão levar a uma doença. No entanto, nós sabemos que os autoanticorpos podem preceder os sintomas e o diagnóstico delas”, destacou Somers.
A mineração é uma das atividades que mais poluem rios e mares com mercúrio, contaminando animais aquáticos  (AFP PHOTO)
A mineração é uma das atividades que mais poluem rios e mares com mercúrio, contaminando animais aquáticos

Moderação
Os autores observam ainda que há muitos benefícios para a saúde com a ingestão de frutos do mar, fontes de proteína magra e nutrientes vitais. No entanto, os resultados fornecem novas evidências de que as mulheres em idade reprodutiva devem estar atentas ao tipo de peixe que estão consumindo. Já existe uma recomendação às grávidas que ingiram até 340g por semana. O estudo, portanto, serve, segundo eles, como um alerta maior ainda em relação a exposição ao mercúrio.

“Para as mulheres em idade fértil, que estão particularmente em risco de desenvolver esse tipo de doença, essa limitação pode ser especialmente importante a fim de que mantenham o controle do consumo de frutos do mar”, completa a autora. Em altas doses, o mercúrio também pode prejudicar o desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso dos fetos.

Males recorrentes

O diabetes é uma das doenças autoimunes mais frequente. Surge quando o copo não consegue mais produzir a quantidade essencial de insulina para que o açúcar do corpo se mantenha em taxas normais. Um estudo divulgado, no mês passado, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre estima que cerca de 20% da população brasileira com 35 a 74 anos pode estar com a doença. O resultado é muito superior aos dados do Ministério da Saúde. A pesquisa mais recente sobre a prevalência do diabetes no Brasil, a pesquisa Vigitel de 2013, indica que o problema acomete 6,9% da população. Outra doença autoimune frequente é a esclerose múltipla, que ataca o sistema nervoso central de forma lenta e progressiva, provocando dificuldades sensitivas e motoras que comprometem a qualidade de vida.

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