BodyTalk: terapia alternativa baseada na escuta do corpo cresce no Brasil

A técnica é usada para tratar diversos problemas de saúde, incluindo o câncer, e pode ser combinada a tratamentos convencionais. Palestra e workshop sobre o tema acontecem esta semana em BH

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Valéria Mendes - Saúde Plena Publicação:24/03/2015 10:00Atualização:24/03/2015 11:26
O Bodytalk parte do princípio da medicina tradicional chinesa de que o ser humano tem a capacidade inata de equilibrar corpo e mente. O instrutor Márcio Ribeiro (foto) vem a BH para palestra gratuita (Isadora Ribeiro/Divulgação )
O Bodytalk parte do princípio da medicina tradicional chinesa de que o ser humano tem a capacidade inata de equilibrar corpo e mente. O instrutor Márcio Ribeiro (foto) vem a BH para palestra gratuita
Há 12 anos, a funcionária pública aposentada, Cláudia Roquete, 59 anos, foi diagnostica com fibromialgia, uma doença que se manifesta por dores em todo o corpo e tem causa desconhecida. Depois de passar por vários profissionais, medicações como antidepressivos e sessões de acupuntura, nada se resolveu. Seguindo a indicação de uma amiga chegou ao BodyTalk. “Em um mês de sessão já não tinha mais dor, era inacreditável”, relata.

A terapia desenvolvida nos anos 90 pelo australiano Jonh Veltheim parte do princípio da medicina tradicional chinesa de que o ser humano tem a capacidade inata de equilibrar corpo e mente. Assim, pode ser usada para tratar diversos problemas de saúde e ser combinada a tratamentos convencionais. Como não é invasiva – as sessões se atém à escuta do corpo através do contato do terapeuta com o punho do paciente –, a técnica não tem contra-indicação e pode ser aplicada em pessoas de qualquer idade e em qualquer estado de saúde: grávidas, recém-nascidos, crianças, idosos, pacientes acamados, recém-operados, em estado de coma ou acometidas pelo câncer.

É o caso da dona de casa Lisieux Vidigal, 61 anos, que utilizou o BodyTalk como terapia complementar para o câncer de canal anal diagnosticado em 2006. Ela já conhecia a terapia muito antes da notícia do tumor já que ela, o marido e os filhos faziam com regularidade. “Nosso objetivo era o bem-estar. O BodyTalk alinha a gente como um todo, nos ajuda com as mazelas que vamos adquirindo ao longo da vida”, diz.

O tratamento indicado para Lisieux incluía a cirurgia para retirada do tumor e sessões de quimioterapia e radioterapia após o procedimento. A dona de casa passou por sete médicos para encontrar um tratamento alternativo que evitasse a necessidade da quimio e radioterapia. “Apesar da indicação de todos os especialistas, eu não queria fazer. Fui alertada para os riscos de ter que usar a bolsa de colostomia por toda a vida, mas eu me recusava. Resolvi procurar o BodyTalk para me preparar para o procedimento cirúrgico. Era uma decisão minha e meu único desejo era não sentir dor, queria me preparar para passar pelo processo da melhor forma possível”, narra.

Ela se lembra do médico dizendo 'faremos a cirurgia e depois a gente vê' [se referindo à quimioterapia e radioterapia]. “Só que não precisou. Surpreendido com o resultado após o procedimento cirúrgico, meu médico pediu revisão de lâmina e chegou a cogitar troca de exame no laboratório. Nunca mais tive nada. Estou curada”, revela.

As sessões de BodyTalk se atém à escuta do corpo através do contato do terapeuta com o punho do paciente (Isadora Ribeiro/Divulgação )
As sessões de BodyTalk se atém à escuta do corpo através do contato do terapeuta com o punho do paciente
Após sua experiência, Lisieux afirma indicar o BodyTalk a pacientes com câncer. “Não tem mágica, não tem nada a ver com religião, é uma técnica que tem um efeito muito grande na nossa vida como um todo”, sintetiza.

Apesar de ser muito procurado para tratar questões de saúde física, geralmente depois que o paciente já peregrinou por consultórios e passou pelas abordagens tradicionais de tratamento sem encontrar solução para o sintoma, o BodyTalk também pode ser útil para os problemas de ordem psicológica e emocional.

Cláudia Roquete, por exemplo, diz recomendar a terapia não apenas para pessoas sem diagnóstico, mas para qualquer um que esteja sofrendo com algum problema. “Já aconselhei para ansiedade com o vestibular, psoríase, depressão e perda de um ente querido. Eu só indico pelo fato de ter vivido a autocura”, diz.

Crescimento no Brasil
O BodyTalk não fala em diagnóstico, não se propõe a substituir as abordagens da medicina tradicional e usa a expressão autocura para os resultados alcançados. Os relatos de pacientes submetidos à técnica e o impacto das histórias narradas boca a boca respaldam o crescimento dessa técnica que, inclusive, tem sido utilizada em unidades de saúde no Brasil.

Em 2010, o Serviço de Saúde do Exército Brasileiro aprovou uma portaria para implantar e incorporar Núcleos de Estudos em Terapias Integradas (NETI) que incluía não apenas o BodyTalk, mas também Reike, Homeopatia, Acupuntura, entre outros. Sete terapeutas se revezam no atendimento a pacientes do Hospital Militar de Área de Brasília (HMAB). “A agenda está sempre cheia”, afirma a terapeuta Heloísa Salgueiro que faz esse trabalho na unidade desde 2012. Outro exemplo é o projeto 'Cuidando de quem cuida' realizado no Hospital Municipal Carmela Dutra, no Rio de Janeiro. Lá, o atendimento com a terapeuta de BodyTalk Célia Barboza é oferecido aos funcionários da instituição desde maio de 2013 e tem a adesão de médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e fonoaudiólogos, mas também dos setores administrativos e de serviços gerais.

Entenda a terapia
Como toda abordagem terapêutica, o BodyTalk começa com a anamnese, uma entrevista em que o paciente descreve seu histórico de saúde e explica a razão de estar ali. Embora exista a escuta do paciente, a fala não é imprescindível para o tratamento, já que a técnica parte do conceito de que o corpo tem uma sabedoria inata. Ou seja, o próprio corpo sabe se curar. “O processo precisa de pouca participação do paciente que pode, inclusive, dormir na sessão”, explica a terapeuta Sabrina Tunes.
Terapeutas fazem perguntas mentais preestabelecidas pelo protocolo chamado 'biofeedback neuromuscular' (Isadora Ribeiro/Divulgação )
Terapeutas fazem perguntas mentais preestabelecidas pelo protocolo chamado 'biofeedback neuromuscular'

Na sequência da entrevista, a pessoa pode se deitar ou ficar sentada para dar início ao atendimento. Pelo punho do paciente o terapeuta vai acionar as respostas do corpo. “Seguindo o protocolo chamado biofeedback neuromuscular, faço perguntas mentais preestabelecidas e, para cada uma das questões elaboradas, tiro um 'sim' ou um 'não'”, detalha a terapeuta. Sabrina Tunes explica que, com esse procedimento, o especialista é capaz de vasculhar todos os níveis do complexo corpo-mente. “O grande mérito desse protocolo é a sua amplitude, nada fica de fora. Vários terapeutas atuando no mundo desde a sua sistematização em 1993 e até hoje não se deu falta de nenhum item da vida”, observa.

O BodyTalk parte do pressuposto de que o sintoma existe em razão de uma falha de comunicação nos sistemas que compõem o corpo. “O terapeuta precisa descobrir essa falha para, em seguida, restabelecer a comunicação. Por isso falamos em autocura já que o terapeuta apenas desvenda as conexões que estavam prejudicadas, mas o corpo encontra o equilíbrio naturalmente”, detalha Sabrina.

A sessão é encerrada com a técnica chamada implementação: toques sutis no topo da cabeça e na altura do coração. “Resumidamente, o toque na cabeça é para ativar o cérebro para que ele refaça os links e o toque no coração é para manter essas reconexões ativas”, explica.

Outra curiosidade do BodyTalk é que a necessidade ou não de uma nova sessão e o intervalo entre uma e outra – caso haja necessidade – é determinado pelo próprio corpo. Portanto, não há como saber previamente o tempo de tratamento, nem a frequência com que as sessões acontecerão. O tempo de uma sessão varia de 45min a 1h e o valor médio do atendimento é de R$220.

No caso da professora universitária Josana Matedi Prates Dias, 42 anos, foram necessárias apenas três sessões para que o corpo dela resolvesse problemas de pele que a incomodaram por aproximadamente dois anos. “Com 40 anos voltei a ter uma série de problemas como espinhas e dermatites. Procurei dermatologistas e passei por vários tratamentos alopáticos. Também consultei com uma nutricionista e a mudança na alimentação até trouxe um alívio nos sintomas”, narra.

Nessa mesma época, Josana também passou a manifestar alergia a bebidas alcoólicas. “Não bebo quase nada, mas quando ia, por exemplo, tomar um vinho num momento com amigos e família, uma simples gota de álcool provocava uma vermelhidão ao redor no meu nariz”, diz.

A professora universitária, que “já tinha tentado de tudo com alopatia”, decidiu procurar uma terapia alternativa e descobriu o BodyTalk. “Os meus problemas desapareceram e ainda tive uma grande sensação de bem-estar. É um outro caminho, muitas vezes difícil de explicar com o que nós, ocidentais, conhecemos de medicina. É uma intervenção muito sutil, fiquei muito impressionada. Achei poderoso”, resume.

O único instrutor do BodyTalk no Brasil, o fisioterapeuta, acupunturista e mestre reikiano, Márcio Ribeiro, que estará em Belo Horizonte nesta semana para palestra e workshop, afirma que a técnica ainda não apresentou resultados significativos para doenças neurológicas, como Alzheimer e Parkinson. Para ele, a grande diferença do BodyTalk para os tratamentos convencionais é o foco na particularidade. “Cada indivíduo é consolidador da sua doença, a doença é do doente, abordá-la na coletividade gera grandes problemas para se alcançar a cura porque cria-se o estereótipo de que todo mundo é igual. Todas as terapias fazem sentindo, mas nem sempre uma dor de cabeça precisa de um analgésico. O que a pessoa carrega como doença pode ter vindo de outro lugar”, defende o terapeuta.

Sessões à distância
Além da medicina tradicional chinesa, o BodyTalk também busca referências no conceito da física quântica de que somos todos indivisíveis e inseperáveis. Por isso, uma sessão de BodyTalk pode tanto ser feita à distância como também com um substituto do paciente. Nesses casos, o terapeuta usa o próprio punho. “É muito comum, por exemplo, usar a mãe para tratar o filho pequeno que tem dificuldade em se manter por muito tempo quieto”, explica a terapeuta Sabrina Tunes.

Márcio Ribeiro explica que a função do terapeuta é comunicar com a sabedoria inata do corpo e restabelecer vínculos que precisam entrar em sintonia. “Eu não preciso estar na presença do paciente, ele só precisa estar ciente de que está recebendo a terapia”, explica.

Palestra e workshop em BH
Nesta sexta-feira (27/03), às 19h30 na Avenida Bandeirantes 615c, Bairro Anchieta, o instrutor de BodyTalk Márcio Ribeiro virá a Belo Horizonte para uma palestra gratuita e aberta ao público para demonstrações da técnica. “Será uma palestra de introdução ao mundo do BodyTalk para divulgar o trajeto da formação filosófica e científica com informações técnicas das aplicações da terapia”, explica. O terapeuta também vai ensinar uma das técnicas, chamada córtices, que é utilizada para deixar o raciocínio mais interligado entre os dois hemisférios do cérebro.

O workshop BodyTalk Acesso: A linguagem da saúde é pago e acontece no sábado (28/03) de 8h às 18h no mesmo endereço da palestra. “É uma oportunidade de aprender cinco técnicas de autoaplicação para a manutenção do equilíbrio do corpo-mente”, afirma o instrutor.

Veja exemplos de como a medicina tradicional chinesa enxerga os órgãos e outras partes do corpo para além das funções fisiológicas:

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