Terapia sistêmica proporciona clareza para questões passadas e presentes

Dinâmica da psicologia sistêmica ajuda o indivíduo a se reencontrar em seu contexto familiar, profissional e afetivo, entre outras situações naturais da vida

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Zulmira Furbino Publicação:22/12/2015 10:00
'A gente não vai olhar para o ser humano só na sua individualidade. Somos interdependentes. Então, nossas memórias inconscientes, provenientes de até sete gerações de antepassados, nos influenciam' - Cristina Camargo, psicóloga, psicoterapeuta e terapeuta holística (MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS)
"A gente não vai olhar para o ser humano só na sua individualidade. Somos interdependentes. Então, nossas memórias inconscientes, provenientes de até sete gerações de antepassados, nos influenciam" - Cristina Camargo, psicóloga, psicoterapeuta e terapeuta holística
Num tempo em que o individualismo no mundo anda cada vez mais intenso, uma dinâmica da psicologia sistêmica, criada pelo alemão Bert Hellinger, chama o mundo a reinserir o ser humano em seu contexto familiar, profissional, amoroso, entre outras situações naturais da vida. Hellinger, filósofo, teólogo, pedagogo e psicanalista, nasceu em 1925 e desenvolveu a constelação familiar na década de 1970, a partir de sua experiência de 16 anos na África do Sul. A técnica ensina a descortinar uma dinâmica que, na maioria das vezes, permanece escondida nos sistemas de relacionamento familiar, o que também pode ser estendido para diversos outros campos da vida.

A empresária Aléxia Lisboa Villela, de 48 anos, encontrou nessa dinâmica uma forma de resolver questões profundas em sua vida. Ela sempre gostou de fazer terapia, estudou psicologia até quase se formar e reconhece que sabia identificar onde precisava melhorar, mas, simplesmente, não conseguia fazer isso. Sua pergunta era: “Se tenho consciência, por que não consigo mudar?”. Nessa fase da vida, com a mãe doente, ela percebeu que seria difícil dar conta de tudo sozinha e aceitou o convite do irmão para participar de uma sessão de constelação familiar. “Não acredito naquela terapia em que você depende do terapeuta. A constelação é pontual, mostra onde está a sua dificuldade. A partir daí, você, conscientemente, consegue ter forças para enfrentar as dificuldades que vivenciou durante a prática”, diz.

A empresária Aléxia Lisboa encontrou na constelação familiar uma forma de resolver situações profundas
em sua vida (ARQUIVO PESSOAL)
A empresária Aléxia Lisboa encontrou na constelação familiar uma forma de resolver situações profundas em sua vida
Aléxia lembra que uma das questões que a técnica a ajudou a resolver foi sua dificuldade com a música, que ela descobriu ter origem na infância, quando perdeu uma tia que tocava piano para ela dançar. “Estudei música, mas depois ela começou a me incomodar.” Passando pela constelação, a música deixou de incomodá-la tanto. Outro assunto resolvido foi o luto pela morte de um irmão mais novo, quando ele tinha apenas 2 anos. “Até fazer a constelação, não conseguia fechar o luto. Isso se refletia em minha maneira de levar a vida, sempre muito séria, com muito peso. Depois de trabalhar essa questão, consegui mais leveza de viver e isso se reflete até em minha forma de lidar com meus filhos. Nunca bati neles, mas antes era aquela coisa séria e formal. Hoje, sinto mais leveza na maternidade”, diz.

De acordo com a psicóloga Cristina Camargo, psicoterapeuta e terapeuta holística, a constelação familiar pode ser encarada como um braço da psicologia sistêmica, que vê o ser humano inserido num contexto, e não de forma isolada. “A gente não vai olhar para o ser humano só na sua individualidade. Somos interdependentes. Então, nossas memórias inconscientes, provenientes de até sete gerações de antepassados, nos influenciam. Desde a época das cavernas, temos uma necessidade de pertencimento. Naquela época, se o homem andasse sozinho num lugar, seria presa fácil para os animais. Andar em bando era uma forma de se sentir seguro”, compara. Nesse sentido, segundo ela, as dinâmicas mostram, por exemplo, o esforço que uma pessoa faz para “pertencer” à família, como sacrificar, de forma inconsciente, a própria prosperidade para se manter dentro de um clã sem recursos econômicos.

HIERARQUIA
Além do pertencimento, a constelação familiar leva em consideração o equilíbrio entre o dar e o receber e a ordem da hierarquia. “Se, num relacionamento, você dá mais do que recebe, nesse momento, muitas vezes, o outro fica ressentido. Se você faz algo de ruim para mim e eu perdoo a troco de nada, acabou a possibilidade da relação, porque você se colocou num lugar superior”, compara. Observar a ordem da hierarquia também é importante, porque, segundo a constelação familiar, quem vem primeiro tem precedência. Uma delas é a ordem entre pais e filhos. “Naqueles casos em que os filhos trabalham pelos pais, há uma inversão da ordem, já que os pais vieram primeiro. A ordem seria os pais darem e os filhos receberem. Se isso se inverte, a confusão começou. Na constelação, a gente trabalha esse lugar”, aponta Cristina Camargo. O mesmo vale para o casamento, por exemplo.

“Quem nasceu primeiro, você ou o casamento?”, questiona a psicóloga. Na visão dela, se uma pessoa tem clareza e consciência disso, vai para o casamento inteira. Depois vem o filho e a pergunta permanece a mesma: quem nasceu primeiro, o casamento ou o filho? “As pessoas priorizam os filhos porque se esquecem que eles precisam de uma boa base para acolhê-los”, explica Cristina Camargo. Se alguém se separa e casa de novo, e aí, o que vem primeiro, o casamento ou os filhos? Outro ponto abordado na terapia é a dinâmica da consciência leve versus a consciência pesada. “Se uma mãe teve um filho que não vingou, a tendência é o filho que vem depois se sentir culpado de estar vivo quando o outro se foi. É como se a pessoa, criando uma doença em si mesma, ficasse com a consciência mais leve”, observa.





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