Técnica mindfulness é usada para tratar emoções
Abordagem consiste em usar o pensamento para produzir no cérebro atividade que equilibra níveis hormonais na corrente sanguínea
Valquiria Lopes
Publicação:30/04/2015 13:00Atualização: 30/04/2015 13:35
Pessoas com diagnóstico de ansiedade, depressão, dor crônica, câncer, síndrome do pânico, transtorno de humor bipolar, esquizofrenia ou com sofrimentos relacionados ao estresse do dia a dia podem ser tratadas usando o poder da mente. Técnicas que aliam meditação e foco em pensamentos positivos têm sido indicadas para prevenir e curar traumas psiquiátricos. Evitam também situações de angústia ou completo desgaste. Ainda recentes, as intervenções baseadas em mindfulness têm conquistado espaço no campo da ciência, com aplicações práticas em ambulatórios e já integradas à rede do Sistema Único de Saúde (SUS).
O que se busca nesse conjunto de exercícios mentais, que tem como base a meditação e técnicas respiratórias, é o aumento da capacidade cerebral e o melhor funcionamento da atividade celular, resultados já comprovados em estudos norte-americanos e em pesquisas brasileiras em andamento no estado de São Paulo. O conceito de mindfulness ou “atenção plena” consiste em direcionar o pensamento para produzir, no cérebro, atividade capaz de equilibrar níveis hormonais na corrente sanguínea, como os de cortisol, o que ajuda o organismo a controlar o estresse, reduzir inflamações, contribuir para o funcionamento do sistema imune, entre outros benefícios. A técnica – oriunda do Budismo, trazida para o Brasil no início dos anos 2000, mas ainda pouco difundida – ajuda ainda a produzir serotonina, o que cria sensação de bem-estar.
RESILIÊNCIA
O especialista destaca ainda a importância do pensamento positivo e da resiliência na reversão do pessimismo característico de quadros de depressão, ansiedade, entre outros transtornos. “A resiliência, termo que vem da física, é a capacidade de se adaptar à realidade e reagir a um determinado evento. Ela ajuda a pessoa a ter propósitos, vencer desafios e se movimentar”, completa.
No caso de pacientes com síndrome do pânico, por exemplo, as técnicas de meditação podem ser usadas para bloquear reações de risco criadas na mente. A médica psiquiatra e sócia fundadora da Sociedade Brasileira de Terapias Cognitvas (SBTC), Melaine Ogliari Pereira, afirma que as terapias cognitivas do mindfulness ativam mecanismos para diminuir a sensação de medo típico da doença. “No pânico, o risco é sempre maximizado. A pessoa pensa sempre que vai ter uma parada cardíaca, vai morrer, que não pode ficar sozinho. Ao aprender a focar o pensamento, em ser otimista, e controlar a respiração diafragmática, ele produz menos adrenalina e diminui os sintomas”, explica.
QUÍMICA
A especialista lembra ainda que, como cada pensamento libera substâncias químicas no organismo, se a pessoa estiver focada nesses pensamentos tóxicos, efetivamente irá criar caminhos neurológicos desfavoráveis. “Isso desacelera o raciocínio e diminui as habilidades, o que eventualmente conduz a quadros de medo, depressão ou a outros transtornos psicológicos”, explica Melaine.
O conceito de mindfulness é um dos assuntos tratados no Congresso Mundial do Cérebro, Comportamento e Emoções, que teve início ontem e vai até sábado, em Porto Alegre. O evento, que reúne especialistas internacionais, trata das questões do cérebro e da mente, criando uma interface entre as especialidades de neurologia, psiquiatria, geriatria, neurocirurgia, neuropsicologia e sono.
Desafio na rede pública
Disseminar as técnicas do mindfulness, inclusive com atendimento na rede pública de saúde, é o maior desafio de pesquisadores dedicados ao tema. Experiências estão adiantadas na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde, desde 2011, atendimentos vêm sendo feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com grupos de pessoas de várias faixas etárias para busca do autocontrole emocional e prevenção a novos episódios de depressão, ansiedade e outros transtornos.
“Estudos norte-americanos mostram que chegamos a passar 50% do nosso tempo fora das nossas cabeças. As pessoas agem quase sempre ligadas a questões negativas que as aprisionam ao passado ou distrações futuras. O desafio do mindfulness é focar o pensamento no agora, entender as emoções, as angústias, sem julgamento, e não fugir delas”, afirma a psicóloga Daniela Sopezki, doutoranda em Saúde Coletiva da Escola Paulista de Medicina da Unifesp.
No Sul do país, há aplicações também avançadas. Presidente da Associação de Terapias Cognitivas do Estado do Paraná, a psicóloga clínica Vânia Bazan explica que já desenvolve técnicas de meditação com pacientes. “Entre os transtornos que prevalecem entre os jovens estão os de ansiedade, depressão, déficit de atenção/hiperatividade, entre outros. A meditação ajuda a tratar esses distúrbios”, diz. Ela lembra ainda que, em tempos de internet e redes sociais, há inclusive aplicativos que orientam na prática de mindfulness.
EFEITOS CEREBRAIS
Neurocientistas descobriram que pessoas mais alegres e mais propensas ao otimismo geralmente têm maior atividade na parte esquerda do córtex pré-frontal.Pensamentos positivos dão suporte ao desenvolvimento do cérebro, criando e reforçando novas sinapses, especialmente no córtex pré-frontal, que serve como o centro de integração de todas as funções do cérebro/mente. Há importantes diferenças entre otimistas e pessimistas. O otimismo envolve elevados componentes cognitivos, emocionais e motivacionais desejáveis. O córtex pré-frontal é a única parte do cérebro que pode controlar as emoções e comportamentos e ajudar a focar nos objetivos que se pretende atingir e perseguir. Por outro lado, o foco em pensamentos negativos têm menor atividade no córtex pré-frontal, o que se concentra no lobo temporal. O pensamento negativo resulta em mau desempenho na escola e trabalho e em relações interpessoais conturbadas. Pessoas pessimistas também têm maior chance de ter depressão e mais probabilidade de morrer mais cedo que os otimistas.
* A repórter viajou a convite do congresso
Exercícios mentais têm como base a meditação e técnicas respiratórias
O que se busca nesse conjunto de exercícios mentais, que tem como base a meditação e técnicas respiratórias, é o aumento da capacidade cerebral e o melhor funcionamento da atividade celular, resultados já comprovados em estudos norte-americanos e em pesquisas brasileiras em andamento no estado de São Paulo. O conceito de mindfulness ou “atenção plena” consiste em direcionar o pensamento para produzir, no cérebro, atividade capaz de equilibrar níveis hormonais na corrente sanguínea, como os de cortisol, o que ajuda o organismo a controlar o estresse, reduzir inflamações, contribuir para o funcionamento do sistema imune, entre outros benefícios. A técnica – oriunda do Budismo, trazida para o Brasil no início dos anos 2000, mas ainda pouco difundida – ajuda ainda a produzir serotonina, o que cria sensação de bem-estar.
Saiba mais...
Mas, alcançar aumento de qualidade de vida, redução da dor ou cura para transtornos psiquiátricos com intervenções do mindfulness exige empenho. Psiquiatra e professor do Departamento de Pós-graduação de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Paulo Knapp explica que estar em estado mental de mindfulness, alcançado por meio da meditação, não significa ficar sem pensamento, sem pensar em nada. “É estar atento ao que sente e pensa, sem brigar com a angústia, a dor física ou a ansiedade. Mas é preciso ter um distanciamento para perceber que toda situação negativa é passageira”, afirma.RESILIÊNCIA
O especialista destaca ainda a importância do pensamento positivo e da resiliência na reversão do pessimismo característico de quadros de depressão, ansiedade, entre outros transtornos. “A resiliência, termo que vem da física, é a capacidade de se adaptar à realidade e reagir a um determinado evento. Ela ajuda a pessoa a ter propósitos, vencer desafios e se movimentar”, completa.
No caso de pacientes com síndrome do pânico, por exemplo, as técnicas de meditação podem ser usadas para bloquear reações de risco criadas na mente. A médica psiquiatra e sócia fundadora da Sociedade Brasileira de Terapias Cognitvas (SBTC), Melaine Ogliari Pereira, afirma que as terapias cognitivas do mindfulness ativam mecanismos para diminuir a sensação de medo típico da doença. “No pânico, o risco é sempre maximizado. A pessoa pensa sempre que vai ter uma parada cardíaca, vai morrer, que não pode ficar sozinho. Ao aprender a focar o pensamento, em ser otimista, e controlar a respiração diafragmática, ele produz menos adrenalina e diminui os sintomas”, explica.
QUÍMICA
A especialista lembra ainda que, como cada pensamento libera substâncias químicas no organismo, se a pessoa estiver focada nesses pensamentos tóxicos, efetivamente irá criar caminhos neurológicos desfavoráveis. “Isso desacelera o raciocínio e diminui as habilidades, o que eventualmente conduz a quadros de medo, depressão ou a outros transtornos psicológicos”, explica Melaine.
O conceito de mindfulness é um dos assuntos tratados no Congresso Mundial do Cérebro, Comportamento e Emoções, que teve início ontem e vai até sábado, em Porto Alegre. O evento, que reúne especialistas internacionais, trata das questões do cérebro e da mente, criando uma interface entre as especialidades de neurologia, psiquiatria, geriatria, neurocirurgia, neuropsicologia e sono.
Desafio na rede pública
Disseminar as técnicas do mindfulness, inclusive com atendimento na rede pública de saúde, é o maior desafio de pesquisadores dedicados ao tema. Experiências estão adiantadas na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde, desde 2011, atendimentos vêm sendo feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com grupos de pessoas de várias faixas etárias para busca do autocontrole emocional e prevenção a novos episódios de depressão, ansiedade e outros transtornos.
“Estudos norte-americanos mostram que chegamos a passar 50% do nosso tempo fora das nossas cabeças. As pessoas agem quase sempre ligadas a questões negativas que as aprisionam ao passado ou distrações futuras. O desafio do mindfulness é focar o pensamento no agora, entender as emoções, as angústias, sem julgamento, e não fugir delas”, afirma a psicóloga Daniela Sopezki, doutoranda em Saúde Coletiva da Escola Paulista de Medicina da Unifesp.
No Sul do país, há aplicações também avançadas. Presidente da Associação de Terapias Cognitivas do Estado do Paraná, a psicóloga clínica Vânia Bazan explica que já desenvolve técnicas de meditação com pacientes. “Entre os transtornos que prevalecem entre os jovens estão os de ansiedade, depressão, déficit de atenção/hiperatividade, entre outros. A meditação ajuda a tratar esses distúrbios”, diz. Ela lembra ainda que, em tempos de internet e redes sociais, há inclusive aplicativos que orientam na prática de mindfulness.
Estudo mostrou que essoas mais alegres e otimistas geralmente têm maior atividade na parte esquerda do córtex pré-frontal
Neurocientistas descobriram que pessoas mais alegres e mais propensas ao otimismo geralmente têm maior atividade na parte esquerda do córtex pré-frontal.Pensamentos positivos dão suporte ao desenvolvimento do cérebro, criando e reforçando novas sinapses, especialmente no córtex pré-frontal, que serve como o centro de integração de todas as funções do cérebro/mente. Há importantes diferenças entre otimistas e pessimistas. O otimismo envolve elevados componentes cognitivos, emocionais e motivacionais desejáveis. O córtex pré-frontal é a única parte do cérebro que pode controlar as emoções e comportamentos e ajudar a focar nos objetivos que se pretende atingir e perseguir. Por outro lado, o foco em pensamentos negativos têm menor atividade no córtex pré-frontal, o que se concentra no lobo temporal. O pensamento negativo resulta em mau desempenho na escola e trabalho e em relações interpessoais conturbadas. Pessoas pessimistas também têm maior chance de ter depressão e mais probabilidade de morrer mais cedo que os otimistas.
* A repórter viajou a convite do congresso