Ter um propósito na vida reduz riscos de doença cardíaca
Correio Braziliense
Publicação:08/05/2015 15:00Atualização: 28/04/2015 11:52
A moradora do Gama ilustra muito bem uma constatação feita recentemente por pesquisadores do Hospital Mount Sinai, em Nova York. Em estudo apresentado durante encontro da Associação Americana do Coração, no mês passado, os cientistas concluíram que ter um alto senso de propósito na vida pode reduzir o risco de doenças. A equipe de cientistas revisou 10 estudos relevantes sobre o tema e, a partir dos dados de mais de 137 mil pessoas, concluiu que ter uma razão para viver reduz em 23% o risco de morte por qualquer motivo e em 19% as chances de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral (AVC) ou necessidade de cirurgia de revascularização do miocárdio.
Socorro não conhece o estudo americano, mas sente cotidianamente os benefícios das escolhas que fez. “Esse trabalho é uma forma de ajudá-los, mas me ajuda também. Eles têm muito a ensinar, é uma faculdade que ninguém pode tirar deles. Assim, eu ganho conhecimento e melhoro minha forma de pensar e de compreender o ser humano”, conta a aposentada, que há 14 anos se dedica à ação social. Apesar dos obstáculos em conseguir recursos — a iniciativa conta com a contribuição de alguns amigos —, ela não desanima. “A gente tenta gerar renda para fazer o trabalho, e mesmo quando acha que não vai conseguir, a gente se enche de força e segue em frente. Talvez não seja exatamente como nós queremos, mas tiramos força do Altíssimo.”
Significado
No estudo americano, propósito na vida é definido como um senso de significado e direção, ou seja, a sensação de que viver vale a pena. Algo que, aos 76 anos, Ito Hendges conhece bem. Ele constrói uma obra de caridade e evangelização há 30 anos no Centro Espírita Aprendizes do Evangelho (Ceae-DF). A instituição, que ele viu crescer e se consolidar, hoje oferece uma creche para crianças de Planaltina.
“Temos mais de mil metros de área construída, tudo propriedade do centro. A Escolinha Irmã Dulce, às vezes, não tem muitas crianças pelo preconceito, porém temos crianças evangélicas e católicas. Aos sábados, servimos para o público a chamada sopa da amizade”, conta com orgulho o gaúcho. “Nada me desmotivou na vida e, sempre que posso, eu procuro fazer melhor.” Ex-auditor fiscal da Receita Federal, seu Ito transformou a ajuda ao próximo em objetivo de vida e colhe os benefícios. “Se minha saúde melhorar, estraga. Nunca tive uma dor de cabeça. Durmo cedo e acordo cedo.”
Além de reduzir o risco de doenças, em particular de problemas no coração, o propósito de vida também traz grandes benefícios para a saúde psicológica e o bem-estar, como mostraram estudos anteriores. “As evidências atuais sugerem que os efeitos protetores dessas características positivas sejam mediados por diversos aspectos, tais como os biológicos, os psicológicos e os comportamentais. Biologicamente, tem sido demonstrado nesses indivíduos um melhor funcionamento do sistema imunológico (defesa do organismo contra infecções), uma redução dos fatores inflamatórios e um aumento dos níveis de lipoproteínas de alta densidade (o bom colesterol)”, afirma Álvaro Sarabanda, médico e arritmologista da Unidade de Cardiologia Integrada (UCI). “Essas alterações reduzem o risco de eventos cardiovasculares, tais como o infarto do miocárdio e o AVC”, completa.
Como chegar lá?
Para o master coach Homero Reis, a premissa para traçar propósitos na vida é simples: “Construa objetivos que lhe permitam realizar-se e servir à humanidade, porque, afinal, quem vai viver sua vida é você”. Foi com essa ideia que Fábio Oliveira, 31 anos, escolheu a carreira de médico.
Ao terminar o ensino médio, Fábio passou para o curso de enfermagem na Universidade de Brasília, porém não se sentia totalmente realizado. Após muito refletir, decidiu trancar a faculdade e voltar para o cursinho pré-vestibular, retomando o sonho de se tornar médico. A origem humilde da família parecia um empecilho, mas ele contou com muito apoio dos pais, Raimunda Oliveira, 62, e Gentil de Jesus da Silva, 60. “Para todos nós foi muito difícil, mas é como se estivéssemos nos realizando nele. Nós nos esforçamos para que nada faltasse para ele”, lembra Raimunda.
Quando, em 2005, o morador do Gama conseguiu passar no vestibular, ele não sabia que essa seria apenas sua primeira provação. No meio da formação acadêmica, o jovem pensou em desistir após receber uma péssima nota na matéria mais importante do curso. “Nesse momento, fui para um retiro e pedi um sinal de Deus para que pudesse prosseguir. Foi quando um bem-te-vi pousou numa árvore e cantou. Interpretei: se sou bem-visto por Ele, posso seguir em frente. E consegui me superar.”
No fim do curso, Fábio teve outra surpresa nada agradável. “Meu pai foi diagnosticado com câncer na medula óssea, quase não pôde comparecer à minha colação de grau. Porém, conseguimos uma vaga para ele no Hospital do Câncer de Barretos e, em 4 meses, conseguimos reverter a doença”, conta o médico. Agora, o câncer voltou, mas Gentil não se abala: “Temos fé em Deus e na nossa família.”
“Só consigo ser feliz fazendo outras pessoas felizes, por isso sei que estou na profissão certa. Aprendi com meu trabalho que o melhor caminho para ajudar alguém é ouvir e compreender quem você está tratando”, conta o clínico geral. Para Homero Reis, a religião não é o único caminho para se encontrar um propósito na vida, mas ele constata que a fé muitas vezes serve para indicar esse caminho. “Religião e fé são domínios cognitivos ligados a valores. Aquilo que cremos revela os valores em que acreditamos e, de certa forma, determina nossas escolhas. Portanto, pessoas vinculadas a códigos de conduta consequentes de religião é fé, normalmente, conseguem perceber objetivos mais claros para suas vidas”, avalia.
Como agir
A coach e psicóloga Lúcia Romão dá algumas dicas para construir um propósito da vida:
Saiba mais...
Quem vê a determinação e a alegria com as quais a aposentada Socorro Rocha, 67 anos, mantém a Associação Viver a Vida, de apoio a idosos, dificilmente imagina que ela já sofreu um duro golpe, desses que podem derrubar uma pessoa. Há 20 anos, ela perdeu um filho adolescente, depois que ele se envolveu com drogas. É comum que, depois de passar por experiências assim, as pessoas passem por depressão ou desenvolvam doenças. A morte do jovem, no entanto, não paralisou a ex-servidora pública. Ela reagiu e encontrou no voluntariado uma missão. Primeiro, envolveu-se em trabalhos sociais com adolescentes em situação de risco. Depois, passou a dar apoio a mulheres vítimas de violência doméstica. Até que, por fim, montou a associação, que reúne entre 100 e 150 idosos nas segundas e nas sextas-feiras para ouvir palestras e trocar experiências."Mesmo quando acha que não vai conseguir, a gente se enche de força e segue em frente. Talvez não seja exatamente como nós queremos, mas tiramos força do Altíssimo" Socorro Rocha, criadora da Associação Viver a Vida, de apoio a idosos
A moradora do Gama ilustra muito bem uma constatação feita recentemente por pesquisadores do Hospital Mount Sinai, em Nova York. Em estudo apresentado durante encontro da Associação Americana do Coração, no mês passado, os cientistas concluíram que ter um alto senso de propósito na vida pode reduzir o risco de doenças. A equipe de cientistas revisou 10 estudos relevantes sobre o tema e, a partir dos dados de mais de 137 mil pessoas, concluiu que ter uma razão para viver reduz em 23% o risco de morte por qualquer motivo e em 19% as chances de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral (AVC) ou necessidade de cirurgia de revascularização do miocárdio.
Socorro não conhece o estudo americano, mas sente cotidianamente os benefícios das escolhas que fez. “Esse trabalho é uma forma de ajudá-los, mas me ajuda também. Eles têm muito a ensinar, é uma faculdade que ninguém pode tirar deles. Assim, eu ganho conhecimento e melhoro minha forma de pensar e de compreender o ser humano”, conta a aposentada, que há 14 anos se dedica à ação social. Apesar dos obstáculos em conseguir recursos — a iniciativa conta com a contribuição de alguns amigos —, ela não desanima. “A gente tenta gerar renda para fazer o trabalho, e mesmo quando acha que não vai conseguir, a gente se enche de força e segue em frente. Talvez não seja exatamente como nós queremos, mas tiramos força do Altíssimo.”
"Só consigo ser feliz fazendo outras pessoas felizes, por isso sei que estou na profissão certa" Fábio Oliveira, médico
Significado
No estudo americano, propósito na vida é definido como um senso de significado e direção, ou seja, a sensação de que viver vale a pena. Algo que, aos 76 anos, Ito Hendges conhece bem. Ele constrói uma obra de caridade e evangelização há 30 anos no Centro Espírita Aprendizes do Evangelho (Ceae-DF). A instituição, que ele viu crescer e se consolidar, hoje oferece uma creche para crianças de Planaltina.
“Temos mais de mil metros de área construída, tudo propriedade do centro. A Escolinha Irmã Dulce, às vezes, não tem muitas crianças pelo preconceito, porém temos crianças evangélicas e católicas. Aos sábados, servimos para o público a chamada sopa da amizade”, conta com orgulho o gaúcho. “Nada me desmotivou na vida e, sempre que posso, eu procuro fazer melhor.” Ex-auditor fiscal da Receita Federal, seu Ito transformou a ajuda ao próximo em objetivo de vida e colhe os benefícios. “Se minha saúde melhorar, estraga. Nunca tive uma dor de cabeça. Durmo cedo e acordo cedo.”
Além de reduzir o risco de doenças, em particular de problemas no coração, o propósito de vida também traz grandes benefícios para a saúde psicológica e o bem-estar, como mostraram estudos anteriores. “As evidências atuais sugerem que os efeitos protetores dessas características positivas sejam mediados por diversos aspectos, tais como os biológicos, os psicológicos e os comportamentais. Biologicamente, tem sido demonstrado nesses indivíduos um melhor funcionamento do sistema imunológico (defesa do organismo contra infecções), uma redução dos fatores inflamatórios e um aumento dos níveis de lipoproteínas de alta densidade (o bom colesterol)”, afirma Álvaro Sarabanda, médico e arritmologista da Unidade de Cardiologia Integrada (UCI). “Essas alterações reduzem o risco de eventos cardiovasculares, tais como o infarto do miocárdio e o AVC”, completa.
"Se minha saúde melhorar, estraga. Nunca tive uma dor de cabeça. Durmo cedo e acordo cedo" - Ito Hendges, membro do Centro Espírita Aprendizes do Evangelho, que ajudou a erguer uma creche em Planaltina
Como chegar lá?
Para o master coach Homero Reis, a premissa para traçar propósitos na vida é simples: “Construa objetivos que lhe permitam realizar-se e servir à humanidade, porque, afinal, quem vai viver sua vida é você”. Foi com essa ideia que Fábio Oliveira, 31 anos, escolheu a carreira de médico.
Ao terminar o ensino médio, Fábio passou para o curso de enfermagem na Universidade de Brasília, porém não se sentia totalmente realizado. Após muito refletir, decidiu trancar a faculdade e voltar para o cursinho pré-vestibular, retomando o sonho de se tornar médico. A origem humilde da família parecia um empecilho, mas ele contou com muito apoio dos pais, Raimunda Oliveira, 62, e Gentil de Jesus da Silva, 60. “Para todos nós foi muito difícil, mas é como se estivéssemos nos realizando nele. Nós nos esforçamos para que nada faltasse para ele”, lembra Raimunda.
Quando, em 2005, o morador do Gama conseguiu passar no vestibular, ele não sabia que essa seria apenas sua primeira provação. No meio da formação acadêmica, o jovem pensou em desistir após receber uma péssima nota na matéria mais importante do curso. “Nesse momento, fui para um retiro e pedi um sinal de Deus para que pudesse prosseguir. Foi quando um bem-te-vi pousou numa árvore e cantou. Interpretei: se sou bem-visto por Ele, posso seguir em frente. E consegui me superar.”
No fim do curso, Fábio teve outra surpresa nada agradável. “Meu pai foi diagnosticado com câncer na medula óssea, quase não pôde comparecer à minha colação de grau. Porém, conseguimos uma vaga para ele no Hospital do Câncer de Barretos e, em 4 meses, conseguimos reverter a doença”, conta o médico. Agora, o câncer voltou, mas Gentil não se abala: “Temos fé em Deus e na nossa família.”
“Só consigo ser feliz fazendo outras pessoas felizes, por isso sei que estou na profissão certa. Aprendi com meu trabalho que o melhor caminho para ajudar alguém é ouvir e compreender quem você está tratando”, conta o clínico geral. Para Homero Reis, a religião não é o único caminho para se encontrar um propósito na vida, mas ele constata que a fé muitas vezes serve para indicar esse caminho. “Religião e fé são domínios cognitivos ligados a valores. Aquilo que cremos revela os valores em que acreditamos e, de certa forma, determina nossas escolhas. Portanto, pessoas vinculadas a códigos de conduta consequentes de religião é fé, normalmente, conseguem perceber objetivos mais claros para suas vidas”, avalia.
Como agir
A coach e psicóloga Lúcia Romão dá algumas dicas para construir um propósito da vida:
- Tenha sonhos
Eles mantêm as pessoas vivas, e os sonhadores sempre têm um futuro promissor. Nunca desista dos seus sonhos
- Mantenha o foco
Quando alguém tem foco na vida, estabelece prioridades onde concentrar suas energias, estipulando metas. Fica mais fácil realizar o que se deseja
- Estabeleça metas
Elas estimulam o sujeito a seguir em frente. São um ponto definido aonde se quer chegar, passando por planejamento
- Adote uma missão
Cada pessoa é única, e a missão pessoal reflete essa unicidade, o que ela é e de que forma ela ajuda o mundo que a cerca