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Por que algumas pessoas conseguem lidar melhor com o estresse?

Pesquisa com ratos encontra pistas de como o funcionamento cerebral ajuda algumas pessoas a lidarem melhor que outras com o estresse. O trabalho pode ajudar no desenvolvimento de tratamentos contra a depressão

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Vilhena Soares - Correio Braziliense Publicação:13/07/2015 15:00Atualização:05/07/2016 15:37
 Diferentes fatores influenciam o comportamento diante de dificuldades, como a gravidade e a duração da fonte de estresse e o suporte social com o qual o indivíduo pode contar (CB/D.A Press)
Diferentes fatores influenciam o comportamento diante de dificuldades, como a gravidade e a duração da fonte de estresse e o suporte social com o qual o indivíduo pode contar
Situações estressantes são comuns no cotidiano, fazendo parte da vida de todas as pessoas. No entanto, o jeito como cada uma lida com essa pressão pode ser bem diferente. Há quem reaja e enfrente as dificuldades, enquanto outros paralisam, sentindo-se impotentes. Diferentes fatores influenciam o comportamento diante de dificuldades, como a gravidade e a duração da fonte de estresse e o suporte social com o qual o indivíduo pode contar. Um outro fator, sugerem pesquisadores dos Estados Unidos, pode ser o funcionamento cerebral.

Publicado recentemente na revista Frontiers in Neural Circuits, um estudo com ratos encontrou pistas do mecanismo cerebral que pode ajudar ou atrapalhar alguém a enfrentar os desafios do dia a dia. Com isso, a pesquisa traz pistas que podem ajudar no desenvolvimento de tratamentos contra a depressão induzida pelo estresse.

A equipe envolvida no trabalho se dedica há vários anos à análise por imagens da ativação neuronal em todo o cérebro de roedores, evitando estudos que observam partes distintas da mente separadamente. Dessa maneira, buscam identificar possíveis causas dos mais variados distúrbios mentais, como depressão, esquizofrenia e autismo. “Não sabemos onde as mudanças relacionadas com essas enfermidades ocorrem no cérebro humano, seria ingenuidade tentar ‘adivinhar’ as regiões que deveríamos estudar”, explica ao Correio Pavel Osten, professor do Laboratório Cold Spring Harbor, em Nova York, e um dos autores do estudo.

Atividade
Na pesquisa mais recente, os cientistas submeteram ratos a situações desafiadoras, como colocá-los em um recipiente fundo cheio de água, enquanto mapeavam a atividade cerebral dos animais. Eles observaram, então, que as cobaias que logo desistiam de lutar pela sobrevivência apresentavam uma atividade reduzida em várias áreas do cérebro, em comparação com aqueles que se mostravam mais dispostos.

Entre essas regiões menos acionadas, estavam o córtex pré-frontal — ligado a ações e pensamentos e muito associada a desordens de humor e ansiedade — e outras partes vitais para o processamento de emoção e motivação, importantes para o comportamento defensivo. “Isso sugere que as cobaias eram menos comprometidas com o mundo cognitivamente”, diz Osten.

Outro ponto observado nos ratos sem reação foi uma maior ativação do locus coeruleus (LC), fenômeno que outros estudos relacionaram com a depressão. Essa região possui muitas conexões com outras partes do cérebro, principalmente com setores responsáveis pela audição, pelo tato e pela visão. Ela secreta noradrenalina e estimula outras áreas a fazer o mesmo, como uma espécie de marca-passo cerebral. “A ativação elevada do LC nos ratos passivos pode ser explicada como um mecanismo compensatório da baixa atividade do córtex pré-frontal”, destaca o autor.

Para Osten, a descrição desses circuitos cerebrais pode servir como biomarcadores para a descoberta de medicamentos que restaurem a atividade normal do cérebro. “Avaliamos uma série de doenças, incluindo depressão, autismo e esquizofrenia. Nós realmente esperamos que nossa tecnologia abra uma nova era na descoberta de medicamentos para essas desordens cerebrais”, diz.

Ressalvas

Cláudio Roberto Carneiro, coordenador de Neurologia do Hospital Santa Lúcia, destaca que o estudo se soma a uma série de pesquisas que buscam associar áreas do cérebro a problemas de saúde mental, mas lembra o papel de outros fatores. “Esses transtornos envolvem mais do que apenas a atividade de áreas cerebrais, já que os remédios para essas doenças interagem também com, por exemplo, as sinapses e os neurotransmissores. O locus coeruleus está envolvido na produção de um deles, a noradrenalina, então, dependendo da área em que você for usar como alvo de tratamento, ela pode influenciar a produção dessas substâncias”, analisa o especialista, que não participou do estudo.

Carneiro também ressalta que as áreas vistas no experimento com ratos já tinham sido ligadas a distúrbios neurais. “O córtex pré-frontal é realmente uma área mais ligada ao comportamento. Quando as pessoas sofrem um trauma, como o derrame, por exemplo, existem dificuldades de delimitá-la, mas não sabemos ao certo se alterações nesse setor podem causar problemas como a depressão e ansiedade. Outro ponto importante é que essas reações distintas em relação ao estresse podem sofrer a influência de outros fatores, com pessoas que possuem personalidades mais agressivas, mas que não são depressivas. É preciso avaliar melhor”, opina o neurologista.

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