Pacientes mineiros com câncer de rim podem participar de pesquisa internacional

Estudo clínico vai testar a eficácia e eficiência da combinação de dois medicamentos

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Publicação:28/08/2015 15:00Atualização:28/08/2015 15:10

A equipe do oncologista e professor da UFMG André Murad vai acompanhar 900 pacientes com câncer renal durante o estudo clínico (Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
A equipe do oncologista e professor da UFMG André Murad vai acompanhar 900 pacientes com câncer renal durante o estudo clínico
Belo Horizonte é uma das capitais brasileiras participantes de um estudo clínico internacional que vai comparar a eficácia e eficiência do atual medicamento utilizado no tratamento do carcinoma renal avançado ou metastático com uma nova combinação. Em BH, o Centro Avançado de Tratamento Oncológico (Cenatron) conduzirá o estudo e precisa de 900 voluntários, pacientes com portadores de carcinoma de rim já em fase avançada ou metastática, mas que ainda não receberam outros tipos de tratamentos não cirúrgicos. Os pacientes serão divididos em dois grupos diferentes: um receberá a medicação padrão para esse tipo de caso, o sunitinibe, e o outro receberá a combinação de dois modernos imunoterápicos: o nivolumabe e o ipilumumabe.

O oncologista André Márcio Murad, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador do Hospital das Clínicas é o investigador principal em Belo Horizonte. Segundo o especialista, resultados preliminares já obtidos em estudos menores com essa combinação foram promissores e sugerem que tanto a taxa de regressão do tumor, quanto a sobrevida média de cerca de 27 meses obtidas com o uso do sunitinibe possam ser elevadas em até 20% com a combinação proposta. Os voluntários receberão o tratamento gratuitamente e serão acompanhados pela equipe do Cenatron. O estudo, realizado em vários países do mundo, também terá voluntários em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro.

Como funciona

Os tumores estimulam o crescimento de vasos sanguíneos para adquirirem nutrientes e oxigênio suficientes. Por meio desse processo, denominado angiogênese, um tumor continua a crescer e a se disseminar, resultando nas metástases. Para se vasculizarizar, os tumores produzem uma proteína, o fator de crescimento vascular endotelial, o VEGF, sigla de “vascular endothelial growth fator”. O VEGF age nos vasos sanguíneos vizinhos e os estimula a produzir novos ramos para irrigar o tumor.

Recentemente, foram desenvolvidas novas drogas que bloqueiam a ação do VEGF e, consequentemente, fazem com que os vasos que irrigam o tumor regridam. Isso retira os nutrientes do tumor e retarda seu desenvolvimento. Essas e outras drogas que bloqueiam a proteína responsável pelo crescimento tumoral são denominadas inibidores da angiogênese ou terapias alvo. Segundo Murad, várias terapias alvo já foram aprovadas pelo Food and Drug Administration (FDA), órgão americano responsável pela regulamentação de medicamentos e alimentos nos Estados Unidos, caso do sunitinibe, sorafenibe, pazopanibe, bevacizumabe, temsirolimus e everolimus.

A proposta dos novos medicamentos é combater o sistema de camuflagem, utilizado pelas células cancerosas para não serem identificadas e combatidas pelo sistema imunológico dos pacientes. “Esses medicamentos são inibidores de proteínas dos pontos de checagem imunológica, utilizando o próprio sistema imunológico do paciente para combater as células tumorais, aumentando a ativação e a proliferação da célula T (responsável pela resposta imunológica positiva), resultando assim em uma resposta antitumoral mais efetiva”, explica Murad.Essa nova classe de imunoterapia consegue os resultados ao desligar esse complexo sistema de mascaramento imunológico que as células tumorais utilizam para não serem reconhecidas como invasoras pelo organismo, permitindo então que o sistema imune destrua estas células.

Duas classes destas inovadoras drogas já apresentam comprovação de substancial benefício terapêutico: o ipilumumabe, um anticorpo monoclonal que bloqueia um antígeno dos linfócitos T ativados; o CTLA-4 (antígeno 4 do linfócito T citotóxico), que é um inibidor natural da resposta imunológica; e o grupo formado pelo nivolumabe e o pembrolizumabe, que também são anticorpos monoclonais. Esses últimos, no entanto, atuam bloqueando uma outra proteína de camuflagem utilizada pelas células tumorais para se "esconder" do sistema imunológico, a PD-1 (proteína programadora da morte celular). Segundo Murad, essa proteína está presente na superfície dos linfócitos T e, se ativadas (e as células tumorais assim o fazem), provocam o "desligamento" de todo o sistema imunológico celular de combate a essas células malignas. 


A nefrectomia parcial ou total, que é a retirada total ou de parte do rim, é o tratamento tradicional e mais indicado para casos de tumores que se originam nos rins. Na ilustração, exemplo da nefrectomia parcial por meio de laparoscopia
A nefrectomia parcial ou total, que é a retirada total ou de parte do rim, é o tratamento tradicional e mais indicado para casos de tumores que se originam nos rins. Na ilustração, exemplo da nefrectomia parcial por meio de laparoscopia
Atuando no bloqueio dessas proteínas, esses medicamentos "religam" todo o sistema, permitindo, assim, o combate efetivo dos tumores pelo próprio organismo. Tanto o ipilumumabe (já disponível comercialmente no Brasil) quanto o nivolumabe e o pembrolizumabe (ainda não disponíveis comercialmente por aqui) são ativos no tratamento do melanoma avançado, produzindo taxas de resposta tumoral e sobrevida superiores ao tratamento quimioterápico convencional. “Mais recentemente, tanto o nivolumabe, quanto o pembrolizumabe se mostraram eficazes no tratamento do câncer de pulmão resistente ao tratamento convencional. Essas medicações também se mostram promissoras no tratamento do câncer de rim, bexiga, estômago, ovários e linfomas”, explica.

Incidência do Câncer de Rim

Segundo levantamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e da Universidade de São Paulo (USP), o câncer renal corresponde a de 2% a 3% de todas as neoplasias malignas no mundo. E sua incidência está crescendo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou, em 2012, uma incidência de aproximadamente 7 mil casos somente no Brasil (1,4% dos novos casos de câncer do país), com mortalidade de 50%. Por ser altamente silencioso, o reconhecimento inicial acaba não ocorrendo na maior parte dos casos, sendo esse tipo de câncer diagnosticado já em estágios avançados e metásticos. Estima-se que 30 a 40% dos casos diagnosticados no Brasil já se encontrem em estágio avançado, sendo a cirurgia atualmente o único tratamento definitivo para o câncer de rim. “A nefrectomia parcial ou total, que é a retirada do rim, da glândula adrenal e de linfonodos regionais, é o tratamento tradicional e mais indicado para casos de tumores que se originam nos rins”, informa o médico. Entre os fatores relacionados à causa do cancirnôma estão idade avançada; tabagismo; obesidade; hipertensão; histórico familiar e doença de von Hippel-Lindau (condição hereditária que afeta os vasos sanguíneos do cérebro, olhos e outras partes do corpo).

Serviço

Mais informações sobre o estudo podem ser obtidas no Cenatron (31) 3047-4652, onde os pacientes com o perfil e interessados em se voluntariar podem discutir o caso com o pesquisador André Murad. Mais detalhes, comos os contatos dos outros centros de pesquisa e os critérios para participação estão disponíveis no seguinte endereço: 

http://bristol.com.br/PD/pesquisa_clinica/estudos_clinicos/estudos_adultos/cancer/estudo_CA209-214.aspx

 

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