Biossensor é novidade para detectar precocemente câncer de mama
Aparelho encontra, no sangue de mulheres, proteína ligada à mutação que provoca tumores na mama
Vilhena Soares - Correio Braziliense
Publicação:09/09/2015 09:03Atualização: 09/09/2015 10:29
O segundo tipo de câncer de mama mais comum no Brasil também chama a atenção pela alta taxa de mortalidade: 15,2% do total de óbitos por tumores em mulheres. Isso porque, segundo especialistas, geralmente é detectado em estágio avançado. Um grupo de pesquisadores da Itália e da Arábia Saudita trabalha para facilitar a descoberta precoce da doença por meio de nanotecnologia. Com o biossensor, garantem, podem-se detectar sinais da doença antes mesmo de ela se manifestar. Detalhes sobre a técnica foram divulgados na revista Science Advances.
O biossensor tem formato quadrado e é composto por uma variedade de nanoesferas de prata. Para verificar se há no corpo da paciente substâncias ligadas ao câncer de mama, analisa-se o sangue dela. Uma amostra do fluido é colocada sobre o dispositivo, que é iluminado por um laser com comprimentos de onda muito pequenos, menores que um fóton (estrutura considerada uma das menores da física). Dessa forma, dá para fazer uma varredura minuciosa do sangue. “Quando iluminado por um laser de comprimento de onda adequado, o sensor gera um forte campo elétrico na região, e isso faz com que as moléculas possam ser vistas por meio de um efeito de dispersão”, detalha Fabrizio.
O processo de espectroscopia – análise de substâncias por meio de ondas de luz – permitiu aos cientistas identificar individualmente aminoácidos presentes no BRCA1, gene que, quando alterado, aumenta as chances de desenvolvimento de tumores na mama e no ovário. “Nossos resultados mostram que o material pode ser analisado de uma forma que a gente compreenda a sua composição e a sua estrutura. O sensor foi concebido, fabricado e usado em uma amostra humana e pode ser utilizado para a detecção precoce da doença”, destaca Fabrizio.
André Murad, oncologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que a tecnologia faz parte de uma corrente de pesquisa que tem como foco de diagnóstico a análise de proteínas, em vez da observação do DNA da paciente. “Diferentemente dos testes que usam a análise de gene, essa alternativa apresentada se chama análise proteômica e busca mutações que ocorrem em uma proteína, como os aminoácidos, substâncias pequenas que caracterizam a doença e podem ser analisadas apenas pela nanotecnologia”, explica.
Murad acrescenta que a busca por essas substâncias menores torna o processo mais simples. “Na análise genômica, há cerca de 33 mil genes para analisar, sequenciar e encontrar mutações. Quando se busca uma proteína, você procura uma substância específica. É um recurso mais objetivo”, diz.
Para Ruffo de Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, o biossensor proposto usa uma estratégia inteligente e pode auxiliar futuramente até no combate ao câncer de mama. “Trata-se de uma técnica revolucionária. Primeiro, temos o trabalho de detecção com a ajuda do campo magnético, mas podemos pensar nela para o tratamento. Poderíamos usar os mesmos recursos para corrigir essa alteração do BRCA 1 e ajudar as mulheres a se livrarem da doença.”
ALTERNATIVA AO TESTE GENÉTICO
O biossensor também tem como vantagem a possibilidade de servir como uma opção mais viável financeiramente de prevenção ao câncer de mama. Isso porque os testes genéticos com esse intuito custam em torno de R$ 6 mil no Brasil. “Cerca de 15% dos casos da doença são hereditários. Se a mulher nasce com as mutações nos genes BRCA1 e BRCA 2, ela tem 80% de chance de ter a doença. Para descobrir esse risco, o indicado é fazer o teste genético, mas ele é muito caro, e nem todos têm como arcar”, diz Murad. Ele acredita que ter uma forma de análise mais simples e barata beneficiaria milhares de mulheres. “Seria uma opção para testes em massa que se encaixaria muito bem na rede pública, auxiliando na prevenção da doença.”
Para Ruffo Júnior, o dispositivo precisa de mais aperfeiçoamento para se tornar uma opção mais barata de prevenção. “Ao ser patenteado, esse recurso pode ficar muito caro. Vai ser uma opção para poucos, inicialmente. Acredito que ainda falta muito tempo para que ele barateie.” A aposta dos especialistas é que outors tipos de câncer possam ser detectados usando a mesma técnica. E é essa justamente a próxima fase do estudo na Arábia Saudita.
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Enzo Di Fabrizio, pesquisador da King Abdullah University of Science and Technology, na Arábia Saudita, e um dos autores do estudo, conta que a inspiração para o dispositivo vem de um avanço na física. “A ideia surgiu quando observei que, ao ser criado em uma escala pequena, nanométrica, o campo elétrico pode ser usado para a análise de misturas de moléculas complexas”, explicou ao Estado de Minas.- Obesidade adultera as células da mama e favorece câncer
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O biossensor tem formato quadrado e é composto por uma variedade de nanoesferas de prata. Para verificar se há no corpo da paciente substâncias ligadas ao câncer de mama, analisa-se o sangue dela. Uma amostra do fluido é colocada sobre o dispositivo, que é iluminado por um laser com comprimentos de onda muito pequenos, menores que um fóton (estrutura considerada uma das menores da física). Dessa forma, dá para fazer uma varredura minuciosa do sangue. “Quando iluminado por um laser de comprimento de onda adequado, o sensor gera um forte campo elétrico na região, e isso faz com que as moléculas possam ser vistas por meio de um efeito de dispersão”, detalha Fabrizio.
O processo de espectroscopia – análise de substâncias por meio de ondas de luz – permitiu aos cientistas identificar individualmente aminoácidos presentes no BRCA1, gene que, quando alterado, aumenta as chances de desenvolvimento de tumores na mama e no ovário. “Nossos resultados mostram que o material pode ser analisado de uma forma que a gente compreenda a sua composição e a sua estrutura. O sensor foi concebido, fabricado e usado em uma amostra humana e pode ser utilizado para a detecção precoce da doença”, destaca Fabrizio.
André Murad, oncologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que a tecnologia faz parte de uma corrente de pesquisa que tem como foco de diagnóstico a análise de proteínas, em vez da observação do DNA da paciente. “Diferentemente dos testes que usam a análise de gene, essa alternativa apresentada se chama análise proteômica e busca mutações que ocorrem em uma proteína, como os aminoácidos, substâncias pequenas que caracterizam a doença e podem ser analisadas apenas pela nanotecnologia”, explica.
Murad acrescenta que a busca por essas substâncias menores torna o processo mais simples. “Na análise genômica, há cerca de 33 mil genes para analisar, sequenciar e encontrar mutações. Quando se busca uma proteína, você procura uma substância específica. É um recurso mais objetivo”, diz.
Para Ruffo de Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, o biossensor proposto usa uma estratégia inteligente e pode auxiliar futuramente até no combate ao câncer de mama. “Trata-se de uma técnica revolucionária. Primeiro, temos o trabalho de detecção com a ajuda do campo magnético, mas podemos pensar nela para o tratamento. Poderíamos usar os mesmos recursos para corrigir essa alteração do BRCA 1 e ajudar as mulheres a se livrarem da doença.”
ALTERNATIVA AO TESTE GENÉTICO
O biossensor também tem como vantagem a possibilidade de servir como uma opção mais viável financeiramente de prevenção ao câncer de mama. Isso porque os testes genéticos com esse intuito custam em torno de R$ 6 mil no Brasil. “Cerca de 15% dos casos da doença são hereditários. Se a mulher nasce com as mutações nos genes BRCA1 e BRCA 2, ela tem 80% de chance de ter a doença. Para descobrir esse risco, o indicado é fazer o teste genético, mas ele é muito caro, e nem todos têm como arcar”, diz Murad. Ele acredita que ter uma forma de análise mais simples e barata beneficiaria milhares de mulheres. “Seria uma opção para testes em massa que se encaixaria muito bem na rede pública, auxiliando na prevenção da doença.”
Para Ruffo Júnior, o dispositivo precisa de mais aperfeiçoamento para se tornar uma opção mais barata de prevenção. “Ao ser patenteado, esse recurso pode ficar muito caro. Vai ser uma opção para poucos, inicialmente. Acredito que ainda falta muito tempo para que ele barateie.” A aposta dos especialistas é que outors tipos de câncer possam ser detectados usando a mesma técnica. E é essa justamente a próxima fase do estudo na Arábia Saudita.