Pesquisadores desenvolvem exame que avalia efeito de antidepressivo

Método proposto por grupo internacional de cientistas identifica se o medicamento funciona a partir da ação em proteína que regula os circuitos cerebrais. A técnica permitirá que pacientes recebam um tratamento mais personalizado

Diminuir Fonte Aumentar Fonte Imprimir Corrigir Notícia Enviar
Vilhena Soares - Correio Braziliense Publicação:04/12/2015 15:00Atualização:04/12/2015 16:04
Saber se um paciente vai responder de forma positiva a determinado medicamento intriga médicos e cientistas. Por isso, há muitas pesquisas focadas em desenvolver métodos mais personalizados de tratamento. Nessa linha, cientistas suecos e alemães resolveram investigar como os antidepressivos agem no cérebro. O grupo realizou experimentos em ratos e em humanos com uma droga muito utilizada no combate à depressão, a paroxetina. Conseguiram determinar uma proteína importante para a eficácia do remédio. E o melhor: esse biomarcador pode ser detectado em um exame de sangue. Detalhes do achado foram publicados recentemente na revista Science Sginaling.

A equipe utilizou como base informações já conhecidas na área psiquiátrica, como a ligação da depressão e de outros transtornos mentais com desequilíbrios na metilação do DNA — responsável pela ativação ou pela desativação de genes — que podem afetar o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF, pela sigla em inglês). O BDNF é uma molécula que regula os circuitos cerebrais envolvidos na aprendizagem, na memória e em formas de como lidar com o estresse. Desajustado, pode provocar as enfermidades.

Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais  (Cristiano Gomes / CB / D.A Press)
Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais


Gustavo Guida, geneticista do Laboratório Exame de Brasília, explica que os distúrbios psiquiátricos estão ligados aos neurotransmissores e o que mais interfere no funcionamento deles são os padrões de metilação. “Por causa disso, a necessidade de saber o mecanismo exato envolvido nisso para encontrar um remédio que possa transferir a função de um gene”, diz.

Ao analisar a ação da paroxetina, os cientistas observaram que o medicamento estimula um par de proteínas chamadas FKBP51, conhecidas por influenciar a resposta ao estresse, diminuindo a atividade da DNMT1, uma enzima responsável pela metilação do DNA. Dessa forma, aumenta-se a expressão do BNDF, desregulando os circuitos cerebrais. “O nosso trabalho mostrou que os antidepressivos diminuíram a atividade de DNMT1, e que os efeitos do antidepressivo dependem de como age a proteína FKBP51”, destacou ao Correio Theo Rein, um dos autores do estudo e pesquisador do Instituto de Psiquiatria Max Planck, na Alemanha.

Com as novas informações, os cientistas acreditam que seria mais fácil observar a proteína reguladora de DNMT1 de cada paciente a fim de saber se o remédio provocará o efeito esperado. “A mudança de BDNF e de DNMT1 poderia ser monitorada diretamente nas células em cultura do paciente; e, paralelamente, alterações podem ser feitas de acordo com a classificação da depressão”, cogita o autor.

Segundo Guida, a nova pesquisa trata de um tema que tem sido bastante explorado na área médica. “Os estudos têm se voltado a descobrir qual o caminho celular gerado por esses remédios, já que, com ele, pode-se identificar se é possível reagir pior ou melhor”, explica. “Eles observaram que, de acordo com o aumento ou a diminuição da expressão das proteínas, dá para ter atividades distintas de DNMTI e, consequentemente, de BNDF, que está associado ao aumento de eficácia do remédio”, completa.

O geneticista reforça ainda que novos testes como o descrito na Science Sginaling podem ajudar a otimizar o tratamento de pacientes com problemas psiquiátricos. “Existem algumas dificuldades de ajustar tratamentos para uma parcela de pacientes. Pode-se levar de três a quatro meses para mudar um remédio que não responde de forma esperada ou para ajustar a dose. Em doenças como a depressão, essa demora se torna um fator muito prejudicial”, destaca.

Casos específicos

Frederico Duarte Garcia, professor do Departamento de Saúde Mental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca que a busca por exames que avaliem o desempenho de remédios psiquiátricos tem sido útil para uma parcela diferenciada de pacientes. “Temos pessoas que sofrem com o que chamados de depressão resistente ou refratária. Ao usar dois até três tipos de remédios, não respondem da maneira esperada. E isso se deve a vários fatores, como a ausência de receptores que reconheçam o medicamento, porque o fígado elimina rápido as substâncias ou até por complicações com outras drogas usadas no mesmo período.”

O especialista, porém, observa que, apesar de os testes de sangue serem de grande ajuda, a ferramenta tem um custo alto. “É um avanço muito bem-vindo, mas que ainda não foi muito explorado devido ao preço expressivo. Testes semelhantes a esse, que avaliam o sangue ou a saliva dos pacientes, custam cerca de R$ 6 mil e nem todos os pacientes precisariam desse exame”, opina.

Os pesquisadores acreditam que também será possível desenvolver testes mais personalizados que englobem outros tipos de antidepressivos. “Pretendemos ampliar a amostra de pacientes, se houver recursos disponíveis, para, desse modo, conseguir diferenciar entre os diferentes tratamentos medicamentosos. Além disso, os inibidores DNMT1 devem ser testados”, adiantou Rein.

COMENTÁRIOS

Os comentários são de responsabilidade exclusiva dos autores.