Entenda a diferença entre herpes labial, genital e zóster
Nova opção de tratamento previne a doença na boca, diminui a recidiva e cicatriza as lesões cutâneas
Carolina Cotta - Estado de Minas
Publicação:11/12/2015 11:48Atualização: 11/12/2015 12:19
Herpes quase sempre nos lembra as pequenas bolhas em torno dos lábios que incomodam pela vermelhidão, ardência e coceira. E pelo constrangimento. Mas esse é apenas um dos tipos da doença, causada por um vírus que parece banal, mas pode evoluir se não tratada. Apesar do nome comum, há grande diferença entre o herpes simples, que forma vesículas na região labial ou genital, e o herpes zóster.
Segundo o dermatologista Walmar Roncalli de Oliveira, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), o herpes labial, genital e zóster são provocados por uma classe de vírus chamada herpes vírus humanos (HSV), mas apesar de apresentarem mecanismos de ação semelhantes, eles guardam diferenças clínicas importantes. O herpes simples tipo 1 está associado, principalmente, ao herpes labial, da mucosa oral e da face. Já o herpes simples tipo 2 está mais ligado ao herpes genital.
Entretanto, há casos de herpes labial associado ao herpes simples tipo 2 e vice-versa. Já o herpes zóster é uma doença mais grave, sem relação com o herpes simples, sendo provocada pelo vírus Varicella zoster, o mesmo da catapora.
HERPES LABIAL É alta a incidência de herpes labial. Segundo Roncalli, de 20% a 40% da população mundial apresenta herpes labial recidivante e alguns doentes podem apresentar vários surtos de infecções durante o ano. “Acredita-se que 90% dos adultos apresentem sorologia positiva para o herpes simples tipo 1 (HSV-1)”, alerta.
“O mecanismo exato que determina essa reativação é desconhecido, porém é frequentemente associado à diminuição da resposta imunológica. Muitos casos de reativação viral, entretanto, não são associados a nenhum fator desencadeante”, explica o médico do HC/FMUSP. O estresse emocional e físico pode desencadear crises de herpes labial e genital porque provoca diminuição da resposta imunológica do doente portador da infecção, facilitando a reativação do vírus. “A pessoa deve evitar a automedicação por causa dos prováveis efeitos colaterais dos medicamentos, devendo sempre procurar o dermatologista para receber orientação”, alerta Walmar Roncalli.
Nos doentes que já apresentam a infecção, a crise pode ser evitada por meio do tratamento profilático com drogas antivirais como o aciclovir, famciclovir e valaciclovir. “Recentemente, foi lançado no Brasil o Resist, medicamento baseado no aminoácido lisina, com importante ação profilática no controle dos surtos de herpes labial e poucos efeitos colaterais”, adianta. O tratamento visa evitar a replicação do vírus e, assim, diminuir o tempo e a gravidade do surto, uma vez que ainda não existe medicamento que efetivamente destrua o vírus do herpes simples. É importante tratar porque em casos extremos o herpes pode comprometer o sistema nervoso central. As lesões também podem sofrer infecções bacterianas secundárias, agravando o quadro.
A prevenção, por outro lado, é difícil, não só pela altíssima prevalência. “Muitas pessoas têm infecção sem desenvolver lesões na pele ou mucosas. Esses são os chamados portadores assintomáticos, doentes que eliminam, frequentemente, grande quantidade de partículas virais na ausência de lesões clínicas, podendo infectar outras pessoas por meio do beijo, sexo oral ou compartilhamento de copo e talheres”, alerta o especialista.
HERPES GENITAL Pequenas alterações genéticas diferenciam o vírus que causa o herpes genital daquele que provoca o labial. Segundo Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, os vírus do herpes são, inclusive, de famílias diferentes. A incidência do vírus causador do herpes genital muda de um lugar para o outro. Onde há menos educação para o sexo seguro e baixa noção de higiene, ele está mais presente. Há pessoas que não manifestam os sintomas e outras que têm crises recorrentes, com a formação de lesões bem características nos genitais. Um exame de sangue é capaz de identificar quem está infectado pelo vírus, mesmo quando não há sintomas. A transmissão pode ocorrer no sexo oral, anal, na penetração vaginal, principalmente se o sexo for feito sem preservativo. Segundo Estevão, as lesões em que a quantidade de vírus é muito grande facilitam a transmissão. Mas o vírus não está apenas nas lesões, pode estar presente também nas secreções genitais. Gestantes portadoras de herpes genital podem contaminar o recém-nascido durante o parto, determinando sequelas neurológicas e oftalmológicas extremamente graves, às vezes irreversíveis.
HERPES ZóSTER Mais comum entre idosos, o herpes zóster é uma consequência tardia da catapora, já que é causado pelo menos vírus. Segundo João Bastos Freire Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), o Varicela zoster continua adormecido em nosso organismo, estável, próximo à região dos gânglios do sistema nervoso. “A partir dos 50 anos, o organismo passa por um processo chamado imunossenescência, que é o envelhecimento do sistema imunológico. Algumas funções se perdem nesse processo, uma delas a de manter a vigilância sobre o vírus, que corre o risco de ser reativado”, explica. Quando isso ocorre, o vírus causa uma lesão de pele, de aspecto linear, já que segue o trajeto do nervo. “É uma lesão avermelhada, com vesículas e uma dor muito forte, já que o que dói é o nervo, e não as lesões”, explica. O herpes zóster tem mais efeito sobre a qualidade de vida porque pode evoluir para dor crônica, mas se um nervo mais importante for atingido, como o nervo óptico, as complicações podem levar à perda da visão. No ano passado, foi lançada vacina que diminui o risco de herpes zóster em até 60%. Também pode diminuir em até 70% a evolução pra dor crônica. “A população pode se vacinar a partir dos 50 anos, mas principalmente depois dos 60. Um em cada três idosos pode ter herpes zóster”, alerta o geriatra.
Novo tratamento
Ainda não há cura definitiva para o herpes labial, mas é possível controlar a doença. Pacientes com crises recorrentes ou severas podem recorrer às drogas antivirais para inibir a replicação do vírus e, assim, diminuir o tempo e a intensidade da infecção. Porém, os medicamentos anti-herpéticos têm uma ação limitada no controle das recidivas e o uso frequente pode determinar casos de resistência viral.
O mais novo deles, o cloridrato de lisina, por outro lado, pode ser administrado de forma regular, prolongada e segura pelo fato de o aminoácido estar presente em nossa alimentação, sendo seguro em doses diárias de até 20 vezes as quantias de suplementação diária. “Isso permite usar a lisina com segurança nas infecções, com administração por longos períodos na profilaxia das infecções recidivantes”, explica o dermatologista Walmar Roncalli, do HC/FMUSP.
De acordo com o dermatologista, o medicamento tem resultados importantes quando administrado durante o curso do herpes labial recorrente, mas deve ser ministrado precocemente, no início dos primeiros sintomas, e também de maneira preventiva. “Por apresentar mecanismo de ação supressivo da replicação viral, ele é empregado, principalmente, de forma profilática, diminuindo a frequência das recidivas.”
De 20% a 40% da população mundial tem herpes labial reincidiva, para a qual há nova opção de tratamento
Segundo o dermatologista Walmar Roncalli de Oliveira, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), o herpes labial, genital e zóster são provocados por uma classe de vírus chamada herpes vírus humanos (HSV), mas apesar de apresentarem mecanismos de ação semelhantes, eles guardam diferenças clínicas importantes. O herpes simples tipo 1 está associado, principalmente, ao herpes labial, da mucosa oral e da face. Já o herpes simples tipo 2 está mais ligado ao herpes genital.
Entretanto, há casos de herpes labial associado ao herpes simples tipo 2 e vice-versa. Já o herpes zóster é uma doença mais grave, sem relação com o herpes simples, sendo provocada pelo vírus Varicella zoster, o mesmo da catapora.
HERPES LABIAL É alta a incidência de herpes labial. Segundo Roncalli, de 20% a 40% da população mundial apresenta herpes labial recidivante e alguns doentes podem apresentar vários surtos de infecções durante o ano. “Acredita-se que 90% dos adultos apresentem sorologia positiva para o herpes simples tipo 1 (HSV-1)”, alerta.
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O baixo nível socioeconômico está associado à alta prevalência da doença. Outros fatores de risco são ser do sexo feminino, ter idade avançada e apresentar infecções frequentes do trato respiratório superior e doenças sistêmicas que diminuem a quantidade de linfócitos, as células de defesa do organismo. A primeira infecção pelo HSV-1 é mais comum em crianças e adultos jovens, mas o herpes labial recidivante atinge mais adultos. Diversos fatores podem desencadear uma crise de herpes labial. As vesículas podem aparecer depois de um trauma local, exposição solar intensa, febre, infecções do trato respiratório superior, período pré-menstrual, estresse psicológico, cirurgias odontológicas e procedimentos dermatológicos estéticos, como laser e dermoabrasão. - Sociedade brasileira de geriatria lança campanha de prevenção ao herpes-zóster
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“O mecanismo exato que determina essa reativação é desconhecido, porém é frequentemente associado à diminuição da resposta imunológica. Muitos casos de reativação viral, entretanto, não são associados a nenhum fator desencadeante”, explica o médico do HC/FMUSP. O estresse emocional e físico pode desencadear crises de herpes labial e genital porque provoca diminuição da resposta imunológica do doente portador da infecção, facilitando a reativação do vírus. “A pessoa deve evitar a automedicação por causa dos prováveis efeitos colaterais dos medicamentos, devendo sempre procurar o dermatologista para receber orientação”, alerta Walmar Roncalli.
Nos doentes que já apresentam a infecção, a crise pode ser evitada por meio do tratamento profilático com drogas antivirais como o aciclovir, famciclovir e valaciclovir. “Recentemente, foi lançado no Brasil o Resist, medicamento baseado no aminoácido lisina, com importante ação profilática no controle dos surtos de herpes labial e poucos efeitos colaterais”, adianta. O tratamento visa evitar a replicação do vírus e, assim, diminuir o tempo e a gravidade do surto, uma vez que ainda não existe medicamento que efetivamente destrua o vírus do herpes simples. É importante tratar porque em casos extremos o herpes pode comprometer o sistema nervoso central. As lesões também podem sofrer infecções bacterianas secundárias, agravando o quadro.
A prevenção, por outro lado, é difícil, não só pela altíssima prevalência. “Muitas pessoas têm infecção sem desenvolver lesões na pele ou mucosas. Esses são os chamados portadores assintomáticos, doentes que eliminam, frequentemente, grande quantidade de partículas virais na ausência de lesões clínicas, podendo infectar outras pessoas por meio do beijo, sexo oral ou compartilhamento de copo e talheres”, alerta o especialista.
HERPES GENITAL Pequenas alterações genéticas diferenciam o vírus que causa o herpes genital daquele que provoca o labial. Segundo Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, os vírus do herpes são, inclusive, de famílias diferentes. A incidência do vírus causador do herpes genital muda de um lugar para o outro. Onde há menos educação para o sexo seguro e baixa noção de higiene, ele está mais presente. Há pessoas que não manifestam os sintomas e outras que têm crises recorrentes, com a formação de lesões bem características nos genitais. Um exame de sangue é capaz de identificar quem está infectado pelo vírus, mesmo quando não há sintomas. A transmissão pode ocorrer no sexo oral, anal, na penetração vaginal, principalmente se o sexo for feito sem preservativo. Segundo Estevão, as lesões em que a quantidade de vírus é muito grande facilitam a transmissão. Mas o vírus não está apenas nas lesões, pode estar presente também nas secreções genitais. Gestantes portadoras de herpes genital podem contaminar o recém-nascido durante o parto, determinando sequelas neurológicas e oftalmológicas extremamente graves, às vezes irreversíveis.
HERPES ZóSTER Mais comum entre idosos, o herpes zóster é uma consequência tardia da catapora, já que é causado pelo menos vírus. Segundo João Bastos Freire Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), o Varicela zoster continua adormecido em nosso organismo, estável, próximo à região dos gânglios do sistema nervoso. “A partir dos 50 anos, o organismo passa por um processo chamado imunossenescência, que é o envelhecimento do sistema imunológico. Algumas funções se perdem nesse processo, uma delas a de manter a vigilância sobre o vírus, que corre o risco de ser reativado”, explica. Quando isso ocorre, o vírus causa uma lesão de pele, de aspecto linear, já que segue o trajeto do nervo. “É uma lesão avermelhada, com vesículas e uma dor muito forte, já que o que dói é o nervo, e não as lesões”, explica. O herpes zóster tem mais efeito sobre a qualidade de vida porque pode evoluir para dor crônica, mas se um nervo mais importante for atingido, como o nervo óptico, as complicações podem levar à perda da visão. No ano passado, foi lançada vacina que diminui o risco de herpes zóster em até 60%. Também pode diminuir em até 70% a evolução pra dor crônica. “A população pode se vacinar a partir dos 50 anos, mas principalmente depois dos 60. Um em cada três idosos pode ter herpes zóster”, alerta o geriatra.
Novo tratamento
Ainda não há cura definitiva para o herpes labial, mas é possível controlar a doença. Pacientes com crises recorrentes ou severas podem recorrer às drogas antivirais para inibir a replicação do vírus e, assim, diminuir o tempo e a intensidade da infecção. Porém, os medicamentos anti-herpéticos têm uma ação limitada no controle das recidivas e o uso frequente pode determinar casos de resistência viral.
O mais novo deles, o cloridrato de lisina, por outro lado, pode ser administrado de forma regular, prolongada e segura pelo fato de o aminoácido estar presente em nossa alimentação, sendo seguro em doses diárias de até 20 vezes as quantias de suplementação diária. “Isso permite usar a lisina com segurança nas infecções, com administração por longos períodos na profilaxia das infecções recidivantes”, explica o dermatologista Walmar Roncalli, do HC/FMUSP.
De acordo com o dermatologista, o medicamento tem resultados importantes quando administrado durante o curso do herpes labial recorrente, mas deve ser ministrado precocemente, no início dos primeiros sintomas, e também de maneira preventiva. “Por apresentar mecanismo de ação supressivo da replicação viral, ele é empregado, principalmente, de forma profilática, diminuindo a frequência das recidivas.”