Clínica na Austrália promete curar ressaca em 30 minutos por R$ 400
A 'Hangover Clinic' foi inaugurada em Sydney neste mês com a desaprovação de especialistas: "promessas milagrosas, além de arriscadas, não têm bases científicas"
Correio Braziliense
Publicação:23/12/2015 11:35Atualização: 23/12/2015 11:43
O tratamento mais acessível - de 30 minutos -, batizado de "Jump Start", é, segundo a clínica, para aqueles que não deveriam ter encarado o último drinque: um litro de soro fisiológico direto na veia, vitaminas B e C e medicação à escolha do cliente - para aliviar as dores de cabeça ou os enjoos. Já o procedimento completo, a "Ressurreição", é "para a mais grave das situações". Um pacote "épico" de uma hora ao custo de 200 dólares - nada menos que R$ 571 - com direito a oxigênio e solução antioxidante para encarar as consequências das noites também "épicas".
No país, o centro de tratamento abriu as portas ao público desaprovado por alguns especialistas, que sugerem que os serviços podem incentivar os australianos a beberem além da conta. A opinião é compartilhada pela psiquiatra do Serviço de Estudos e Atenção a Usuários de Álcool e Outras Drogas (Sead) do Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB) Maria Célia Brangioni, para quem as promessas milagrosas, além de arriscadas, não têm bases científicas. "Um serviço assim é um reforço para o uso indiscriminado do álcool. É uma "solução" mercadológica: 'Você pode beber e eu te dou garantia de que a recuperação vai ser rápida'."
A médica adverte ainda sobre o risco da hidratação intravenosa - proposta em todos os pacotes da clínica - e critica a falta de orientação especializada para a oferta dos serviços. "A ressaca é uma manifestação do organismo de que algo não está bem. É um alerta sobre um processo de intoxicação. Uma vez que se ameniza esses sinais, o alerta está sendo ignorado", defende. Maria Célia explica também que não há medicamentos capazes de acelerar a saída de álcool do corpo, uma vez que, para ser eliminada do organismo, a solução precisa ser metabolizada no fígado.
O toxicologista do Centro de Atendimento Toxicológico de Brasília Otávio Brasil endossa a avaliação da psiquiatra, indicando que a medicação contraria o metabolismo do organismo e prejudica o órgão humano. "O álcool demora, em média, seis horas para ser eliminado completamente do corpo. A mim, o tratamento não parece muito eficiente", opina. "Para se livrar da ressaca, a melhor indicação é beber muita água e dormir."
A ideia do tratamento é do ex-advogado Max Petro, que, durante algumas temporadas como instrutor de esqui na Austrália e nos Estados Unidos, observou que as equipes de patrulha das montanhas (responsáveis pelos serviços de emergência médica e resgate aos praticantes do esporte) estavam sempre dispostas no começo da manhã - independente da quantidade de álcool ingerida na véspera. "Perguntando como eles faziam isso, ele descobriu um velho segredo da patrulha de esqui: soro na veia, oxigênio e analgésicos para aliviar os sintomas da ressaca (que eles eram capazes de administrar por serem paramédicos qualificados)", explica o site da clínica.
Além das soluções anti-ressaca, a Hangover oferece uma linha "Saúde & Fitness" para as alterações físicas provocadas por Jetlags, resfriados e práticas esportivas muito intensas - cada uma a 160 dólares (mais ou menos R$ 457). Para quem quiser se prevenir, a empresa oferece um sistema de reservas online com até seis meses de antecedência e direito a quarto individual.
O idealizador do tratamento e cofundador da clínica, Max Petro, posa para foto recebendo soro fisiológico na veia
Saiba mais...
Quem já sofreu com uma ressaca pesada certamente sonhou com um lugar assim: um ambulatório de tratamento que promete acabar com o mal-estar em 30 minutos. Na Austrália, o tal sonho é real. O Hangover Clinic, inaugurado em Sydney no começo deste mês, promete acabar com os sintomais da ressaca, desde que o paciente esteja disposto a desembolsar um bom dinheiro. A terapia mais em conta sai por 140 dólares, ou o equivalente a R$ 400, aproximadamente.- Ressaca não impede desejo por mais álcool
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O tratamento mais acessível - de 30 minutos -, batizado de "Jump Start", é, segundo a clínica, para aqueles que não deveriam ter encarado o último drinque: um litro de soro fisiológico direto na veia, vitaminas B e C e medicação à escolha do cliente - para aliviar as dores de cabeça ou os enjoos. Já o procedimento completo, a "Ressurreição", é "para a mais grave das situações". Um pacote "épico" de uma hora ao custo de 200 dólares - nada menos que R$ 571 - com direito a oxigênio e solução antioxidante para encarar as consequências das noites também "épicas".
No país, o centro de tratamento abriu as portas ao público desaprovado por alguns especialistas, que sugerem que os serviços podem incentivar os australianos a beberem além da conta. A opinião é compartilhada pela psiquiatra do Serviço de Estudos e Atenção a Usuários de Álcool e Outras Drogas (Sead) do Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB) Maria Célia Brangioni, para quem as promessas milagrosas, além de arriscadas, não têm bases científicas. "Um serviço assim é um reforço para o uso indiscriminado do álcool. É uma "solução" mercadológica: 'Você pode beber e eu te dou garantia de que a recuperação vai ser rápida'."
A médica adverte ainda sobre o risco da hidratação intravenosa - proposta em todos os pacotes da clínica - e critica a falta de orientação especializada para a oferta dos serviços. "A ressaca é uma manifestação do organismo de que algo não está bem. É um alerta sobre um processo de intoxicação. Uma vez que se ameniza esses sinais, o alerta está sendo ignorado", defende. Maria Célia explica também que não há medicamentos capazes de acelerar a saída de álcool do corpo, uma vez que, para ser eliminada do organismo, a solução precisa ser metabolizada no fígado.
O toxicologista do Centro de Atendimento Toxicológico de Brasília Otávio Brasil endossa a avaliação da psiquiatra, indicando que a medicação contraria o metabolismo do organismo e prejudica o órgão humano. "O álcool demora, em média, seis horas para ser eliminado completamente do corpo. A mim, o tratamento não parece muito eficiente", opina. "Para se livrar da ressaca, a melhor indicação é beber muita água e dormir."
A ideia do tratamento é do ex-advogado Max Petro, que, durante algumas temporadas como instrutor de esqui na Austrália e nos Estados Unidos, observou que as equipes de patrulha das montanhas (responsáveis pelos serviços de emergência médica e resgate aos praticantes do esporte) estavam sempre dispostas no começo da manhã - independente da quantidade de álcool ingerida na véspera. "Perguntando como eles faziam isso, ele descobriu um velho segredo da patrulha de esqui: soro na veia, oxigênio e analgésicos para aliviar os sintomas da ressaca (que eles eram capazes de administrar por serem paramédicos qualificados)", explica o site da clínica.
Além das soluções anti-ressaca, a Hangover oferece uma linha "Saúde & Fitness" para as alterações físicas provocadas por Jetlags, resfriados e práticas esportivas muito intensas - cada uma a 160 dólares (mais ou menos R$ 457). Para quem quiser se prevenir, a empresa oferece um sistema de reservas online com até seis meses de antecedência e direito a quarto individual.