Fiocruz alerta sobre possível transmissão do zika vírus pela saliva e urina

Pesquisadores encontraram o vírus ativo nos dois fluídos. A relação ainda será investigada, mas grávidas já devem evitar o compartilhamento de utensílios de uso pessoal

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Estado de Minas Publicação:05/02/2016 11:51Atualização:05/02/2016 12:52
O vírus ativo na saliva significa um potencial de transmissão (AFP/Georges Gobet)
O vírus ativo na saliva significa um potencial de transmissão
Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constataram a presença do vírus zika ativo em amostras de saliva e de urina. O anúncio foi feito na manhã desta sexta-feira, na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro. Segundo Paulo Gadelha, presidente do órgão vinculado o Ministério da Saúde, o fato de existir vírus ativo na saliva e urina, e portanto, com potencial de infecção, ainda não é uma comprovação. “Não significa que há uma possibilidade de infecção de maneira sistêmica por esses fluídos”, explicou. Mas a orientação é de que, principalmente as gestantes, evitem o compartilhamento de copos e talheres, como outras medidas clássicas para evitar transmissão de vírus pela via oral. A hipótese é também de pesquisadores americanos que reforçaram o interesse nessa possibilidade de transmissão depois que um paciente de Dallas foi infectado por transmissão sexual. Além da transmissão pelo mosquito, outra forma é a perinatal: já está confirmado que o zika consegue atravessar a placenta e infectar o bebê.

A evidência inédita da Fiocruz, que sugere a necessidade de investigar a relevância destas vias alternativas de transmissão viral, foi constatada pelo Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Os estudos foram liderados pela pesquisadora Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório, em colaboração com a infectologista Patrícia Brasil, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz (INI/Fiocruz). Foram analisadas amostras referentes a dois pacientes e as coletas foram realizadas durante a apresentação de sintomas compatíveis com o vírus Zika. Alíquotas das amostras foram colocadas em contato com células Vero, que são amplamente usadas em estudos sobre atividade viral no caso da família dos flavivírus, à qual pertencem os vírus Zika, dengue e febre amarela, entre outros.

Confira o vídeo sobre o que já sabemos sobre o vírus zika e a microcefalia


Os cientistas observaram o efeito citopático provocado nas células – ou seja, foi observada a destruição ou danificação das células, o que comprova a atividade viral. A presença do material genético do vírus Zika foi confirmada pela técnica de RT-PCR em Tempo Real. Também foi realizado o sequenciamento parcial do genoma do vírus. Diagnósticos laboratoriais descartaram a presença dos vírus dengue e chikungunya – para estas análises, foi usado o Kit NAT Discriminatório para Dengue, Zika e Chikungunya recentemente desenvolvido pela Fiocruz. “Já se sabia que o vírus poderia estar presente tanto em urina quanto em saliva. Esta é a primeira vez em que demonstramos que o vírus está ativo, ou seja, com potencial de provocar a infecção, o que abre novos paradigmas para o entendimento das rotas de transmissão do vírus Zika. Isso responde uma pergunta importante, porém, o entendimento da relevância epidemiológica destas potenciais vias de infecção demanda novos estudos”, situa Myrna Bonaldo.

A Fiocruz alerta que, com base nos conhecimentos disponíveis até o momento, as medidas de controle do vetor Aedes aegypti continuam sendo centrais. “Em uma situação como esta, em que estamos conhecendo mais a cada dia sobre este vírus, todos os aspectos precisam ser considerados. Muito ainda precisa ser investigado em relação à importância de cada via de transmissão para a propagação de casos. Porém, é fundamental que a vigilância ao vetor permaneça. Não podemos esquecer que ele é comprovadamente o vetor para os vírus dengue, chikungunya e Zika”, reforça o presidente da Fiocruz. Myrna destaca a mobilização da comunidade científica sobre o vírus Zika. "É nossa missão enquanto cientistas contribuir para o entendimento desta situação de saúde pública que preocupa a todos e que já está afligindo milhares de famílias no Brasil, com o crescimento de casos de microcefalia", Myrna diz, agradecendo à dedicação da equipe de pesquisa. "Como temos um Laboratório que é justamente focado em flavivírus, família à qual o Zika pertence, desde o primeiro momento vimos a possibilidade de ajudar. Isso somente foi possível devido ao compromisso integral das pessoas envolvidas e da instituição", completa.

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