Atividades físicas ao ar livre também precisam de orientação; veja dicas

A postura, principalmente da coluna, é o principal erro de quem faz exercício físico sem acompanhamento de um profissional

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Lilian Monteiro - Estado de Minas Publicação:12/02/2016 09:30Atualização:12/02/2016 10:08
A curiosidade e o fato de ser professor 24 horas por dia fazem o educador físico e personal trainer Paulo Jaques Soares observar automaticamente as pessoas que praticam atividade física ao ar livre. Se, por um lado, ele incentiva, gosta de ver e acha superbom todo mundo colocar o corpo para se mexer, por outro, ele anda preocupado com a falta de cuidado e de atenção de quem encontra pelas ruas, parques, praças e em aparelhos espalhados pela cidade. “Dou aula de corrida e nas andanças por aí é incontrolável não notar os erros na prática de exercícios e mesmo na caminhada de quem não tem orientação ou nenhuma noção do que é certo na hora dos movimentos. A postura, principalmente da coluna, é o principal erro, assim como a maneira de pisar, o uso de calçados (tênis baixo, sapatênis, sandália etc.)”. Ele confessa que há coisas que assustam diante de uma atitude postural totalmente inadequada.

Ainda que não seja um dado científico, mas de observação e anos de experiência, Paulo assegura que “de 10 pessoas caminhando, ninguém caminha corretamente”. Ele lembra que é preciso saber qual é a pisada (pronada, supinada ou neutra) porque cada indivíduo tem uma postura. “A correção de quem pisa com a parte interna do pé ou com a borda externa é com modelo de tênis específico e palmilha. Se tiver dúvida, melhor buscar orientação de um fisioterapeuta. Se for o errado, haverá uma cadeia de consequências.”

O professor Paulo Jaques Soares orienta praticante sobre a postura que se deve adotar ao fazer exercícios (FOTOS: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS)
O professor Paulo Jaques Soares orienta praticante sobre a postura que se deve adotar ao fazer exercícios


Paulo alerta que, de maneira geral, toda atitude postural errada vai ser agravada se não for corrigida. “Se não retificar, ela pode dar a sensação de abdômen com mais volume, sem falar do maior risco de hérnia de disco. É preciso corrigir e tudo é mais difícil sem orientação.” O personal trainer lembra que o primeiro sinal de que há algo errado é a dor.

Além da caminhada, que as pessoas praticam e a maioria acredita ser inocente, o que também tira o sono de Paulo é o receio quanto aos aparelhos espalhados pela cidade do programa Academia a Céu Aberto, lançado em 2009 pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Smel). “Ao mesmo tempo em que pode ser uma revolução, acredito que é perigoso e irresponsável, já que o órgão dá o equipamento, mas não dá informação. Há o risco de a pessoa usar o aparelho sem avaliação médica e física.”

Paulo até concorda que o risco de lesão é menor, porque a carga é leve. “No entanto, é mais arriscado não saber o condicionamento cardiorrespiratório de cada um, mais a carga e o peso do corpo. Sem falar na velocidade inadequada praticada no aparelho, a posição errado do joelho, além da roupa e do sapato que não são apropriados.” Para o educador físico, o ideal seria ter um profissional para acompanhar. “Para não onerar, a saída seria colocar um profissional de educação física em horários de picos, das 6h às 9h e das 17h às 20h, para maior segurança. Três vezes por semana ou só no sábado. A pessoa aprende a posição correta e depois pode ir no horário que quiser.” Ele confessa que até já sugeriu, anos atrás, um projeto para a PBH chamado Saúde na Cidade, com a instalação de quiosques em regiões de grande concentração, como Pampulha e avenidas dos Andradas e José Cândido da Silveira, em horários distintos e com profissionais tanto da educação física quanto da fisioterapia, em sistema de rodízio, para medir pressão arterial, glicose e montar um programa de treino. “Não tive retorno, mas é meu sonho.”



RISCO ZERO
Marcello Araceli, assessor do gabinete da Secretaria Municipal Adjunta de Lazer, explica que o programa Academia a Céu Aberto foi lançado para que as pessoas abandonem o sedentarismo. “A resposta da população é de muito sucesso. O programa é um incentivo para a atividade física de fácil acesso, gratuita, em local aberto, disponível 24 horas e favorecendo, principalmente, a terceira idade. Montada nos principais pontos de caminhada, há muitos participantes. Em 2015, fechamos o ano com 354 academias instaladas em todas as regionais. No mês passado, já entregamos mais. O projeto é atender a todos os bairros da capital (487), ainda que consideramos 492, já que há bairros extensos, com grande território (onde há mais), e outros pequenos, sem estrutura física para instalação. Os equipamentos são de grande porte e precisamos de um espaço físico mínimo de 150 metros quadrados (m²). Há estudos para adquirirmos aparelhos menores. Mas, mesmo assim, há uma Academia a Céu Aberto não mais distante que 500 metros do bairro vizinho que não a tenha.”

Quanto ao receio do uso da academia, Marcelo Araceli esclarece que “todos os equipamentos são de fácil manuseio e a pessoa usa o próprio peso do corpo conjugado com as roldanas dos aparelhos, que ajudam na coordenação e postura corretas. E os aparelhos contribuem para o fortalecimento muscular, eles não geram crescimento muscular. A academia visa estimular a prática física diária e não é apta para treino pesado.”

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Marcelo explica que há placas de instrução em todos os equipamentos, com a forma de execução do exercício e qual grupo muscular ele trabalha. Quanto à ideia de ter um profissional no local, ele diz que “não seria possível, já que, em algum momento, o profissional não estaria presente”. Mas Marcelo garante que o risco de lesão é zero. “No ano passado, fizemos 512 visitas nas academias para, justamente, quebrar esse medo. Foram várias intervenções, em que profissionais de educação física distribuíram nossa cartilha com material infográfico criado para facilitar o uso das academias (disponível no site da PBH) e deram toda a orientação.”

Siga a cartilha*
“Lançado em 2009, o programa Academia a Céu Aberto, da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Smel), está inserido em praças e parques da capital. Os equipamentos são de fácil manuseio e devem ser usados para exercícios de musculação e alongamento. O sistema se adapta ao usuário, que deve utilizar o peso do próprio corpo, criar resistência e gerar benefício personalizado, independentemente de idade, peso e sexo. No entanto, a utilização dos equipamentos é indicada apenas para maiores de 12 anos. Além de aumentar os locais de convivência, as academias criam uma rotina de prática de exercícios e esses espaços deixam de ser ociosos, contribuindo para uma vida mais saudável e para a melhoria da qualidade de vida de seus usuários. Atualmente, monitores da Smel, como Vida Ativa, Caminhar e BH Cidadania, utilizam também as academias como ponto para suas atividades. Assim, cria-se um espaço gratuito para a prática de atividades físicas, proporcionando diversão e interação para a comunidade.”

Aparelhos disponibilizados:


» Simulador de cavalgada – aumenta a mobilidade dos membros inferiores e desenvolve a coordenação motora.
» Esqui – aumenta a flexibilidade dos membros inferiores, quadris e membros superiores e melhora a função cardiorrespiratória.
» Alongador – alonga articulações dos membros superiores,
cintura escapular, tronco
e cintura pélvica.
» Multiexercitador – fortalece, alonga e aumenta a flexibilidade dos membros superiores e inferiores.
» Rotação dupla diagonal e rotação vertical – fortalece os membros superiores, melhora a flexibilidade das articulações dos ombros e aumenta a mobilidade das articulações dos ombros e dos cotovelos.
» Simulador de remo – fortalece a musculatura das costas e ombros.
» Pressão de pernas – fortalece a musculatura das coxas e quadris, melhora a flexibilidade e a agilidade dos membros inferiores, quadris e região lombar.
» Rotação vertical triplo – fortalece os membros superiores e melhora a flexibilidade das articulações dos ombros.
» Pressão de pernas tripla – fortalece a musculatura das coxas e dos quadris.
» Supino – fortalece os grupos musculares dos peitorais e ombros e articulações dos ombros e braços.

* Fonte: Site da PBH



Ativididade precisa ser prazerosa

“Vejo com bons olhos o programa Academia a Céu Aberto. O risco de lesão não é zero, há risco sim, como em qualquer prática esportiva. Sou contra a burocratização, porque a atividade física tem de despertar interesse e ser prazerosa. A iniciativa é o que mais importa, mas claro que uma boa orientação faz parte. O cidadão é responsável por procurar um médico, fisioterapeuta, nutricionista, enfim, um profissional para ter segurança da sua saúde. Agora, se os aparelhos disponibilizados são simples, de fácil manuseio e com informação, não vejo problema. Senão, ninguém poderia fazer um trekking ou ciclismo. A prática da academia ao ar livre é mais recreativa e acredito que não pode ser desestimulada. E percebo que ela oferece tantos benefícios que, se causar algum prejuízo, não será um grande risco.”

Rafael Duarte, professor e coordenador do curso de fisioterapia da Faculdade de Ciências Médicas

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