Uma em cada cem mulheres infectadas pelo zika no início da gravidez pode ter bebê com microcefalia
Risco de 1% apontado em estudo realizado pelo Instituto Pasteur é 50 vezes maior do risco habitual para a microcefalia que é de 0,02%
AFP - Agence France-Presse
Publicação:16/03/2016 11:55
Uma em cada cem mulheres infectadas pelo vírus da zika durante o primeiro trimestre de gravidez pode dar à luz uma criança com microcefalia. A proporção da malformação é 50 vezes superior à normal, segundo o primeiro estudo que quantifica o risco, realizado pelo Instituto Pasteur. "O primeiro trimestre de gravidez é o de maior risco, o mais crítico", disse o médico Simon Cauchemez, principal autor da pesquisa, baseada em cálculos matemáticos, publicada na revista médica The Lancet.
Segundo as estimativas dos pesquisadores, "1% dos fetos ou recém-nascidos cuja mãe foi infectada ao longo do primeiro trimestre de gravidez tiveram microcefalia, enquanto o risco é de apenas 0,02% normalmente, representando um risco multiplicado por 50".
"Este novo nível de risco por mulher grávida infectada é mais fraco do que em outras infecções virais associados a lesões cerebrais durante a gravidez", ressaltou o biólogo do Pasteur. Para a rubéola contraída no primeiro trimestre de gravidez, o risco de complicação grave é de 38% a 100%.
Os resultados continuam preocupantes, já que diferentemente da rubéola, que afeta menos de 10 grávidas por ano na França, e contra a qual existe uma vacina, a proporção de pessoas infectadas durante uma epidemia de zika pode ultrapassar 50% e "isso se torna um problema de saúde pública", aponta Cauchemez.
Outros estudos são necessários para saber se a presença de sinais clínicos de infecção de zika na mãe aumenta o risco de microcefalia.
Ainda é preciso esclarecer também se as formas de infecção de zika sem sintomas representam um risco para o feto, disse recentemente Eric Rubin, da universidade de Harvard (Boston, Estados Unidos) na New England Journal of Medicine (NEJM).
Uma questão importante, já que "a maior parte das infecções pelo vírus da zika, geralmente benignas, passam despercebidas", nota Cauchemez. "Acreditamos que cerca de 80% das pessoas infectadas não apresentam sintomas", afirmou o pesquisador, citando um estudo da NEJM sobre a ilha de Yap (Pacífico).
Risco igual ou variável?
Estes resultados embasam as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para que as mulheres grávidas se protejam das picadas de mosquitos, especialmente durante o primeiro trimestre de gestação, segundo o professor Arnaud Fontanet, co-autor do estudo.
As gestantes devem, além disso, ser proteger contra uma possível transmissão sexual do vírus, já que alguns casos foram assinalados.
O estudo evidencia oito casos de microcefalia, dos quais sete surgidos durante os quatro meses que seguiram a epidemia de zika, segundo os pesquisadores.
Num comentário acompanhando o artigo, a médica Laura Rodrigues, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, nota que "a constatação do risco mais elevado de infecção no primeiro trimestre é biologicamente plausível, tendo em conta o calendário de desenvolvimento do cérebro e do tipo e da gravidade dos problemas neurológicos".
Outros resultados permitirão saber se há um "risco uniforme" de microcefalia durante o primeiro trimestre de gravidez ou "se há reais variações do risco, segundo a presença de sintomas clínicos ou outros co-fatores", nota.
Segundo especialistas, o risco pode não ser o mesmo na América do Sul em razão, por exemplo, de diferenças étnicas, ou até de evolução do vírus.
Um estudo preliminar no Brasil avançou um risco de 22% nas mulheres que tiveram sintomas, mas com grande margem de incerteza.
País mais afetado pela epidemia, o Brasil já tem mais de um milhão e meio de casos de zika desde 2015, e 745 crianças brasileiras com microcefalia e 157 bebês morreram por causa desta condição, de acordo com um balanço fixado em 10 março.
No início de fevereiro, a OMS estimou que uma possível ligação entre a zika e a explosão de casos de microcefalia era "uma emergência de saúde pública de preocupação internacional". Não existe vacina ou tratamento curativo contra a zika.
Último boletim do Ministério da Saúde confirma 745 casos de microcefalia no Brasil
Saiba mais...
A análise dos pesquisadores toma como base os dados coletados durante a epidemia de zika na Polinésia Francesa, entre 2013 e 2014, que atingiu cerca de 66% da população e a identificação retrospectiva de todos os casos de microcefalia ocorridos num período de 23 meses entre setembro de 2013 e julho de 2015. - Governo federal lança plano que beneficia crianças com microcefalia
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Segundo as estimativas dos pesquisadores, "1% dos fetos ou recém-nascidos cuja mãe foi infectada ao longo do primeiro trimestre de gravidez tiveram microcefalia, enquanto o risco é de apenas 0,02% normalmente, representando um risco multiplicado por 50".
"Este novo nível de risco por mulher grávida infectada é mais fraco do que em outras infecções virais associados a lesões cerebrais durante a gravidez", ressaltou o biólogo do Pasteur. Para a rubéola contraída no primeiro trimestre de gravidez, o risco de complicação grave é de 38% a 100%.
Os resultados continuam preocupantes, já que diferentemente da rubéola, que afeta menos de 10 grávidas por ano na França, e contra a qual existe uma vacina, a proporção de pessoas infectadas durante uma epidemia de zika pode ultrapassar 50% e "isso se torna um problema de saúde pública", aponta Cauchemez.
Outros estudos são necessários para saber se a presença de sinais clínicos de infecção de zika na mãe aumenta o risco de microcefalia.
Ainda é preciso esclarecer também se as formas de infecção de zika sem sintomas representam um risco para o feto, disse recentemente Eric Rubin, da universidade de Harvard (Boston, Estados Unidos) na New England Journal of Medicine (NEJM).
Uma questão importante, já que "a maior parte das infecções pelo vírus da zika, geralmente benignas, passam despercebidas", nota Cauchemez. "Acreditamos que cerca de 80% das pessoas infectadas não apresentam sintomas", afirmou o pesquisador, citando um estudo da NEJM sobre a ilha de Yap (Pacífico).
Risco igual ou variável?
Estes resultados embasam as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) para que as mulheres grávidas se protejam das picadas de mosquitos, especialmente durante o primeiro trimestre de gestação, segundo o professor Arnaud Fontanet, co-autor do estudo.
As gestantes devem, além disso, ser proteger contra uma possível transmissão sexual do vírus, já que alguns casos foram assinalados.
O estudo evidencia oito casos de microcefalia, dos quais sete surgidos durante os quatro meses que seguiram a epidemia de zika, segundo os pesquisadores.
Num comentário acompanhando o artigo, a médica Laura Rodrigues, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, nota que "a constatação do risco mais elevado de infecção no primeiro trimestre é biologicamente plausível, tendo em conta o calendário de desenvolvimento do cérebro e do tipo e da gravidade dos problemas neurológicos".
Outros resultados permitirão saber se há um "risco uniforme" de microcefalia durante o primeiro trimestre de gravidez ou "se há reais variações do risco, segundo a presença de sintomas clínicos ou outros co-fatores", nota.
Segundo especialistas, o risco pode não ser o mesmo na América do Sul em razão, por exemplo, de diferenças étnicas, ou até de evolução do vírus.
Um estudo preliminar no Brasil avançou um risco de 22% nas mulheres que tiveram sintomas, mas com grande margem de incerteza.
País mais afetado pela epidemia, o Brasil já tem mais de um milhão e meio de casos de zika desde 2015, e 745 crianças brasileiras com microcefalia e 157 bebês morreram por causa desta condição, de acordo com um balanço fixado em 10 março.
No início de fevereiro, a OMS estimou que uma possível ligação entre a zika e a explosão de casos de microcefalia era "uma emergência de saúde pública de preocupação internacional". Não existe vacina ou tratamento curativo contra a zika.