Escolas adotam punição socioeducativa para bullying e outros comportamentos que infringem alguma regra

Organizar a biblioteca da escola, ajudar colegas mais novos em alguma atividade escolar e escrever um relatório explicando às famílias a atitude errada estão entre as opções adotadas

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Agência Estado Publicação:18/04/2016 11:23Atualização:18/04/2016 11:29
Paredes que cercam uma escola em Curitiba foram grafitadas com os cinco personagens tema do projeto 'Bullying não é brincadeira'  (Fotos Públicas)
Paredes que cercam uma escola em Curitiba foram grafitadas com os cinco personagens tema do projeto "Bullying não é brincadeira"
Colégios particulares de São Paulo trocaram a forma de punir os estudantes que infringirem alguma regra escolar. Em vez das punições tradicionais, advertências e suspensões, os alunos são dispensados das aulas por um período para que cumpram atividades socioeducativas, como organizar os livros da biblioteca, ajudar os colegas mais novos e até montar um projeto de pesquisa.

Foi o que aconteceu no mês passado com Leonardo Ribeiro, de 13 anos, aluno do 8º ano do Colégio Horizontes Uirapuru, em Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. Ele e outros quatro amigos estavam escondendo os materiais escolares de um colega de sala quando foram flagrados, e a coordenação deu aos pais a opção de suspensão ou trabalho socioeducativo. Eles acabaram organizando a biblioteca da escola.

"Achei ótimo que tivemos a opção de escolher uma atividade que o responsabilizou pelo que havia feito. Ele aprendeu que tudo o que faz tem uma consequência, até mesmo o que para ele era apenas uma brincadeira", contou Flávia Cristina Ribeiro, de 40 anos, mãe de Leonardo.

Segundo Andrea Favero, coordenadora do colégio, ao trocar a punição tradicional por uma alternativa, o objetivo é justamente que os alunos se responsabilizem pelo que fizeram. O mesmo ocorre no Colégio Santa Maria, no Jardim Marajoara, zona sul de São Paulo. "O estudante não pode ficar isento da responsabilidade sobre o que ele provocou. A ideia não é punir o jovem, mas mostrar para ele que há consequências e ele precisa lidar com elas", disse a coordenadora do Santa Maria, Ana Lúcia Parro.

No colégio, um aluno que quebrou a porta do banheiro foi dispensado das aulas para acompanhar e auxiliar a equipe de manutenção da escola durante o conserto. "Os estudantes não têm grandes problemas de indisciplina, mas às vezes eles querem quebrar as regras e não pensam que isso pode prejudicar outras pessoas. É esse lado que queremos mostrar a eles", explicou Ana Lúcia.

Aviso aos pais
No Colégio Horizontes Uirapuru, a introdução das punições alternativas não foi a única mudança. Quando há episódios de indisciplina, não é mais o colégio que telefona para os pais para informá-los sobre o ocorrido. Agora, o estudante tem de fazer um relatório explicando o que houve e, depois, apresentá-lo aos pais.

"O próprio aluno faz uma carta em que conta o que houve, como ele se sentiu, o que o motivou a tomar aquela atitude. Isso faz com que ele reflita sobre seu comportamento. É o estudante também que fica responsável por contar para os pais. É um exercício de maturidade", afirmou a coordenadora.

Para Andrea, as punições tradicionais não alcançam o efeito de responsabilizar o aluno, apenas o castigam. "Qual o impacto na vida de um aluno que levou uma advertência? Nenhum, ele não sofre nenhuma consequência. E a suspensão? É quase um prêmio para o aluno não ir à aula e ficar em casa."

Erros e limites
De acordo com a coordenadora do Colégio Horizonte Uirapuru, a maioria dos pais do colégio opta atualmente pela punição socioeducativa quando questionados após um episódio de indisciplina. "Nós lidamos com adolescentes, e eles erram não por serem maus, mas porque não conhecem os limites."

Cyberbullying também rende 'pena alternativa'
Em São Paulo, há colégios que adotaram a punição alternativa em casos de cyberbullying, caracterizado pela violência e pelo deboche feitos por meio da internet.

No Colégio Humboldt, em Interlagos, zona sul, após o episódio de violência, o aluno é levado para uma mediação com os coordenadores, que, depois, fazem uma ação coletiva na turma. "Precisamos trabalhar com todos eles, porque os papéis da cena do bullying são rotativos. Quem é hoje o agressor, amanhã pode ser a vítima”, disse Karin Kenzler, psicóloga do colégio.

No Colégio Santa Maria, o aluno que pratica o cyberbullying precisa fazer um trabalho e acompanhamento na sala de informática. "A ideia é que o estudante pesquise as consequências do que fez, reflita sobre o que sentiu e como pode ter afetado a vítima", disse Muriel Rubens, coordenador de Tecnologia.

Seis alunos já fizeram o trabalho com Rubens - todos meninos. Os casos registrados na escola foram de bullying, preconceito racial e violência de gênero. "O estudante vem para cá e, juntos refletimos sobre o que houve. Na maioria das vezes, ele não tem noção da gravidade do que cometeu, acha que está protegido na internet.”

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