Pesquisa alerta que dieta vegana não oferece os nutrientes essenciais ao corpo

Revisão de 167 pesquisas faz um alerta a veganos e especialistas reforçam a necessidade de um acompanhamento profissional

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Publicação:21/04/2016 14:30Atualização:21/04/2016 14:45
Os cuidados que envolvem uma dieta vegana vão além da preocupação em cortar do prato alimentos de origem animal. Essa é uma decisão que exige atenção extra para o valor nutricional de cada refeição, pois os vegetais podem não suprir completamente as vitaminas necessárias à saúde. Uma revisão acadêmica feita por especialistas da Mayo Clinic, nos Estados Unidos, reúne estudos que indicam as deficiências nutricionais que podem acometer os veganos e alerta para a necessidade de um acompanhamento nutricional especial e individualizado.

Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais  (Thiago Fagundes / CB / D.A Press)
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Estima-se que 2% da população norte-americana siga uma dieta vegana, uma tendência seguida por questões de saúde, preocupações com o meio ambiente, motivos éticos ou religiosos. No Brasil, acredita-se que 4% da população siga a mesma linha (cerca de 7,7 milhões de pessoas), mas não se sabe ao certo quantos seguem a estrita filosofia vegana, que, além de banir a carne, elimina o consumo de laticínios, ovos e mel. Pesquisas realizadas nas últimas décadas apontam para os benefícios dessa escolha que ajuda a perder peso, reduz os riscos de diabetes, câncer e ataques do coração, podendo até mesmo prolongar a expectativa de vida.

No entanto, esses benefícios podem ser afetados pelas deficiências nutricionais de uma alimentação livre de carnes ou leite. Publicado recentemente no Journal of the American Osteopathic Association, o estudo da Mayo Clinic analisou 167 estudos e concluiu que a dieta vegana pode ser pobre em vitamina B-12, cálcio, ferro, vitamina D, proteínas e ômega 3. Embora as implicações negativas do veganismo ainda não sejam claras, a falta desses nutrientes pode ter graves implicações para a saúde, como anemia, perda óssea e até mesmo distúrbios neurológicos.

O maior risco nutricional é a deficiência de vitamina B-12, um componente que praticamente não é encontrado em alimentos de origem vegetal e que precisa ser ingerido diariamente. Em um estudo realizado com 232 pessoas que seguiam uma dieta estritamente vegana, constatou-se que 52% delas apresentavam deficiência desse composto, enquanto apenas 1% dos 226 onívoros participantes sofria do mesmo problema. A falta do nutriente pode causar distúrbios cognitivos, fraqueza, anemia e neuropatias, além de afetar a digestão, a absorção de outros nutrientes e o funcionamento do metabolismo.

Suplementação
É normal que muitos dos que dispensam os laticínios recorram a vegetais verdes-escuros em busca do componente indispensável ao cuidado com a densidade óssea. Mas a quantidade de couve necessária para repor o cálcio presente em um único copo de leite pode ser demais até mesmo para quem aprecia muito esse alimento. No caso de crianças, que precisam ainda mais desse mineral durante o crescimento, trocar o leite pelo equivalente vegetal excede a capacidade gástrica dos pequenos. A solução pode ser recorrer a produtos como leite de soja ou tofu fortificados com o nutriente.

De acordo com os especialistas responsáveis pelo levantamento, é recomendado que os veganos monitorem o nível desses nutrientes em exames periódicos e considerem o uso de suplementos alimentares para repor componentes como a vitamina D e a B-12. “Acredito que o monitoramento periódico é sensato, especialmente para pacientes que passaram por grandes mudanças na dieta recentemente. A deficiência nutricional é comum em várias populações e qualquer um que elimine um grupo alimentar inteiro pode estar em risco”, alerta Heather Fields, médica da Mayo Clinic e principal autora do estudo. Entre as pessoas que precisam ficar ainda mais alertas estão crianças, idosos, pacientes com doenças crônicas e grávidas.

Industrializados

Os estudos também revelam o hábito que muitos veganos têm de trocar alimentos de origem animal por comidas industrializadas e pobres em nutrientes. Um exemplo são biscoitos e lanches artificiais ou substitutos de carne feitos a partir da proteína de soja ultraprocessada, que podem ser ricos em calorias, açúcar, gordura e sódio. “Acho que alguns veganos podem não ser tão saudáveis e conscientes, além de não compreenderem o risco de comer apenas alimentos processados”, aponta Fields.

Quanto mais restritiva a dieta for, alerta a especialista, mais difícil é obter os nutrientes necessários à saúde. “Alguns veganos não têm nenhuma orientação e, normalmente, estão tentando guiar a dieta por conta própria. Eu acredito que um profissional bem informado pode guiá-los na direção correta, mas ver um nutricionista seria a melhor opção. Também existem vários há recursos on-line e aplicativos que indicam comidas integrais e não processadas, como grãos, legumes, nozes, vegetais e frutas”, recomenda a especialista.

O desafio da proteína
Nutricionistas ressaltam que uma dieta equilibrada e diversificada pode resolver ainda uma das principais preocupações dos veganos: o consumo de proteínas. Embora seja fácil encontrar esse nutriente essencial em carnes, ovos e leite, usar vegetais como fonte proteica é um exercício de planejamento. “Como essa dieta é muito baixa em energia, a proteína é desviada para dar energia ao organismo e deixa de fazer a sua função, a de reparar tecidos. Então, a combinação dessas proteínas de origem vegetal precisa ser muito bem calculada”, explica Olga Amancio, da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (Sban).

A especialista esclarece que as proteínas presentes em alimentos de origem vegetal não são de alto valor biológico, como as encontradas em produtos animais, pois apresentam quantidades limitadas de alguns aminoácidos. Cabe ao vegano procurar compensar o baixo valor de um alimento com outro suplementar. “O arroz com feijão é um ótimo exemplo. No feijão, falta um aminoácido principal; e no arroz, falta outro. Se os dois são combinados, é possível melhorar a qualidade das proteínas. Mas necessita-se ter uma proporção exata para surtir efeito”, ensina.

Outro estudo publicado recentemente na revista Plos One reforça o alerta de que nem todos os veganos aderem às recomendações médicas como deveriam. De acordo com o levantamento, realizado pela University of Eastern Finland, na Finlândia, muitas dos seguidores dessa dieta deixam de lado o consumo de frutas e castanhas e não combinam as fontes proteicas da forma correta. Além dos níveis baixos de vitamina D, os pesquisadores constataram que os veganos não consumiam a quantidade necessária de betacaroteno, selênio e iodo, nutrientes que podem ser supridos com o consumo balanceado de vegetais e alimentos fortificados.

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