Livro 'Filhos' conta história de famosos e anônimos que adotaram crianças
Obra de Eurivaldo Neves Bezerra discute a necessidade de modificar a lei para agilizar o processo de adoção no Brasil
Marina Simões - Diário de Pernambuco
Publicação:22/04/2016 14:01Atualização: 22/04/2016 14:13
O livro de relatos e fotografias, Filhos, de autoria do advogado e fotógrafo Eurivaldo Neves Bezerra, 46 anos, quer sensibilizar para a causa da adoção no Brasil. A obra traz depoimentos de famílias anônimas e famosas como a cantora Elba Ramalho, as atrizes Drica Moraes e Maria Padilha, o ator Marcello Antony, a apresentadora Astrid Fontenelle e discute a necessidade de modificar a lei para que o processo seja mais rápido e favoreça, principalmente, às crianças.
Pai de três filhos adotivos, os gêmeos Francisco e Miguel, 9 anos, além de Maria Vitória, 7, Eurivaldo parte do próprio exemplo para mostrar as dificuldades enfrentadas no processo. "O que pesa mais é a questão da demora. A certidão dos gêmeos levou cinco anos para sair. Nesse período, podia aparecer qualquer pessoa para levá-los", relembra.
A espera gera expectativa e as crianças podem esperar por anos em abrigos por conta da burocracia. "Queremos que a criança seja o objeto do direito. Quem está abandonado tem necessidade e pressa de encontrar um lar. É importante pensar que quanto mais o tempo passa, pior fica". O índice de adoção de crianças até 1 ano no Brasil é 98%, depois dessa idade, a taxa cai vertiginosamente. Aos 7 anos já é considerada uma criança que cresceu em abrigo, o que aumenta a taxa de rejeição pelas famílias.
Filhos levanta ainda dados recentes sobre a adoção no Brasil e atesta que nos sistemas existe cerca de cinco famílias para cada criança, segundo o Conselho Nacional de Justiça. Mas o principal entrave da lei atual é solicitar a reintegração da criança à família biológica por tempo indeterminado. "A realidade que encontramos no Rio de Janeiro acontece em todo o país. São questões comuns que precisam ser transformadas", comenta.
Retratadas nas fotografias de Luiz Garrido, as 40 famílias respondem: O que é adoção para você? No depoimento, a cantora Elba Ramalho relata como despertou o desejo de adotar as filhas Maria Clara, Maria Esperança e Maria Paula. "Muitos foram os comentários inconvenientes de parentes e amigos, vizinhos e até gente que a gente desconhecia completamente. Mas não se adota uma criança por uma simples ação caridosa, mas por amor! Um amor tão amplamente verdadeiro e incondicional que não te deixa tempo para contra-argumentos", diz em trecho do livro.
Já o ator Marcello Antony se declara para os filhos: "Com a chegada do Francisco, da Stéphanie, do Lucas, do Louis e do Lorenzo, pude perceber o quanto minha vida era em preto e branco. Eles trouxeram cor, cheiro, vida, esperança e plenitude".
A segunda parte da obra é composta cliques do próprio autor que retratam a as necessidades de crianças que vivem em abrigos e orfanatos. O advogado e fotógrafo levou dois anos para concluir o projeto e visitou instituições do Rio de Janeiro para fotografar, além de conhecer de perto histórias tocantes. "Lembro de um garoto que foi resgatado de uma caverna em um matagal. Ele viveu por anos em um local onde não podia ver a luz do sol. Só parou de chorar quando mostrei o verso da câmera para ele", relembra.
Entrevista
Eurivaldo Neves Bezerra - autor, fotógrafo e advogado
Qual mensagem quer transmitir com Filhos?
O que preciso mostrar, na verdade, é que se agirmos na raiz do problema, que é o abandono infantil, podemos transformar a vida das pessoas e até do país. Se uma família tem vontade de ter um filho, que seja feito no menor espaço de tempo. Essa oportunidade pode mudar o rumo da vida dessas crianças. Isso não vem acontecendo por uma falha na prática da lei. Pretendemos causar uma comoção social e sensibilizar o poder legislativo. Queremos que a criança seja o objeto do direito. Quem está abandonado tem necessidade e pressa de encontrar um lar e receber o amor de uma família. A pressa emocional de ter seu referencial. É importante refletir que quanto mais o tempo passa, pior fica.
Qual a maior dificuldade enfrentada por famílias que querem adotar uma criança no Brasil?
O que pesa mais é a questão da demora. O maior entrave que percebi é que se leva de quatro a cinco anos para regulamentar uma adoção e, às vezes, tem que se devolver a criança no meio desse processo. É um medo recorrente das famílias adotivas. Se forem tomadas as medidas legais, a probabilidade será reduzida. A lei diz que o dever do estado é tentar a reintegração da criança na família biológica. Como uma criança abandonada, maltratada, retirada desse lar e levada para o abrigo através de denúncia, vai retornar ao seio familiar? Essa seria a melhor opção?
Que alternativa propõe para modificar o processo de adoção no Brasil?
Quero propor um debate para a mudança da lei no Estatuto da Criança e do Adolescente. Que é estabelecer um prazo para a restituição familiar. Até seis meses, seria o tempo justo. Já existem formas mais ágeis de resolver isso, sem precisar esperar anos para que apareça um avô/avó, tio/tia ou qualquer parente distante que possa resgatar a criança.
No início da obra, você traz um relato sobre sua experiência com a adoção. Que lições tirou desse momento?
Tenho três filhos: os gêmeos Francisco e Miguel, 9 anos, e Maria Vitória de 7 anos. Deixo o exemplo de que a adoção é um caminho feliz. Se o estado tiver mais atento, o medo que a criança seja devolvida pode desaparecer. A certidão dos gêmeos levou cinco anos para sair. Nesse período podia aparecer qualquer pessoa para levá-los embora.
Serviço
Filhos, de Eurivaldo Neves Bezerra (240 páginas - 27 x 33 cm)
Editora: EB Studio Brasil
Preço: R$ 150, à venda no www.ebstudiobrasil.com.br e na amazon.com
Maria Padilha e Manoel | Elba Ramalho e as filhas Maria Paula, Maria Clara e Maria Esperança.
Saiba mais...
O autor mostra que a adoção, independemente de dinheiro ou fama, consiste exclusivamente em um ato de amor. "Não se adota por caridade, e sim, porque se quer ter um filho. Todos os depoimentos do livro falam da gratidão e da transformação que a criança proporciona na vida da família", explica.- Adoção de crianças mais velhas cresce no Brasil, mas bebês ainda são preferidos
- Mães debatem a difícil decisão de entregar o filho para adoção
- Poucos estudos se dedicam à mãe que entrega o bebê para adoção
- Apesar de irrevogável aos olho da lei, adoção não impede que mães biológicas sonhem com o reencontro
Pai de três filhos adotivos, os gêmeos Francisco e Miguel, 9 anos, além de Maria Vitória, 7, Eurivaldo parte do próprio exemplo para mostrar as dificuldades enfrentadas no processo. "O que pesa mais é a questão da demora. A certidão dos gêmeos levou cinco anos para sair. Nesse período, podia aparecer qualquer pessoa para levá-los", relembra.
A espera gera expectativa e as crianças podem esperar por anos em abrigos por conta da burocracia. "Queremos que a criança seja o objeto do direito. Quem está abandonado tem necessidade e pressa de encontrar um lar. É importante pensar que quanto mais o tempo passa, pior fica". O índice de adoção de crianças até 1 ano no Brasil é 98%, depois dessa idade, a taxa cai vertiginosamente. Aos 7 anos já é considerada uma criança que cresceu em abrigo, o que aumenta a taxa de rejeição pelas famílias.
Filhos levanta ainda dados recentes sobre a adoção no Brasil e atesta que nos sistemas existe cerca de cinco famílias para cada criança, segundo o Conselho Nacional de Justiça. Mas o principal entrave da lei atual é solicitar a reintegração da criança à família biológica por tempo indeterminado. "A realidade que encontramos no Rio de Janeiro acontece em todo o país. São questões comuns que precisam ser transformadas", comenta.
Drica Moraes e Matheus
Já o ator Marcello Antony se declara para os filhos: "Com a chegada do Francisco, da Stéphanie, do Lucas, do Louis e do Lorenzo, pude perceber o quanto minha vida era em preto e branco. Eles trouxeram cor, cheiro, vida, esperança e plenitude".
A segunda parte da obra é composta cliques do próprio autor que retratam a as necessidades de crianças que vivem em abrigos e orfanatos. O advogado e fotógrafo levou dois anos para concluir o projeto e visitou instituições do Rio de Janeiro para fotografar, além de conhecer de perto histórias tocantes. "Lembro de um garoto que foi resgatado de uma caverna em um matagal. Ele viveu por anos em um local onde não podia ver a luz do sol. Só parou de chorar quando mostrei o verso da câmera para ele", relembra.
Entrevista
Eurivaldo Neves Bezerra - autor, fotógrafo e advogado
Pai de três filhos adotivos - os gêmeos Francisco e Miguel, 9 anos, e Maria Vitória, 7 anos - Eurivaldo Bezerra parte do próprio exemplo para mostrar as dificuldades enfrentadas no processo de adoção.
Qual mensagem quer transmitir com Filhos?
O que preciso mostrar, na verdade, é que se agirmos na raiz do problema, que é o abandono infantil, podemos transformar a vida das pessoas e até do país. Se uma família tem vontade de ter um filho, que seja feito no menor espaço de tempo. Essa oportunidade pode mudar o rumo da vida dessas crianças. Isso não vem acontecendo por uma falha na prática da lei. Pretendemos causar uma comoção social e sensibilizar o poder legislativo. Queremos que a criança seja o objeto do direito. Quem está abandonado tem necessidade e pressa de encontrar um lar e receber o amor de uma família. A pressa emocional de ter seu referencial. É importante refletir que quanto mais o tempo passa, pior fica.
Qual a maior dificuldade enfrentada por famílias que querem adotar uma criança no Brasil?
O que pesa mais é a questão da demora. O maior entrave que percebi é que se leva de quatro a cinco anos para regulamentar uma adoção e, às vezes, tem que se devolver a criança no meio desse processo. É um medo recorrente das famílias adotivas. Se forem tomadas as medidas legais, a probabilidade será reduzida. A lei diz que o dever do estado é tentar a reintegração da criança na família biológica. Como uma criança abandonada, maltratada, retirada desse lar e levada para o abrigo através de denúncia, vai retornar ao seio familiar? Essa seria a melhor opção?
Que alternativa propõe para modificar o processo de adoção no Brasil?
Quero propor um debate para a mudança da lei no Estatuto da Criança e do Adolescente. Que é estabelecer um prazo para a restituição familiar. Até seis meses, seria o tempo justo. Já existem formas mais ágeis de resolver isso, sem precisar esperar anos para que apareça um avô/avó, tio/tia ou qualquer parente distante que possa resgatar a criança.
No início da obra, você traz um relato sobre sua experiência com a adoção. Que lições tirou desse momento?
Tenho três filhos: os gêmeos Francisco e Miguel, 9 anos, e Maria Vitória de 7 anos. Deixo o exemplo de que a adoção é um caminho feliz. Se o estado tiver mais atento, o medo que a criança seja devolvida pode desaparecer. A certidão dos gêmeos levou cinco anos para sair. Nesse período podia aparecer qualquer pessoa para levá-los embora.
Serviço
Filhos, de Eurivaldo Neves Bezerra (240 páginas - 27 x 33 cm)
Editora: EB Studio Brasil
Preço: R$ 150, à venda no www.ebstudiobrasil.com.br e na amazon.com