Como lidar com a timidez das crianças?

Pais e escola têm papel fundamental na minimização do problema, que ocorre em momentos de interação social ou exposição pública

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Ellen Cristie Publicação:23/05/2016 11:17Atualização:23/05/2016 11:21

Luciana Guimarães de Morais fala do progresso da filha, Manuella, em relação ao acanhamento (Lucília Guimarães/Divulgação
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Luciana Guimarães de Morais fala do progresso da filha, Manuella, em relação ao acanhamento
Acanhamento, sensação de desconforto ou inibição em situações que exigem interação social ou exposição pública. Assim os especialistas definem a timidez, traço da personalidade que pode afetar crianças, adolescentes e adultos e faz parte, em algum momento da vida, de aproximadamente metade da população.

Foi o que ocorreu com Manuella, hoje com 8 anos. A mãe, a administradora Luciana Guimarães de Morais, conta que sempre achou que a filha seria ‘despachada’, pelo fato de ela e o pai serem pessoas bastante extrovertidas. Mas antes dos 2 anos, Manuella já demonstrava sinais da timidez. Se ela aprendia alguma coisa e os pais pedissem a ela que repetisse na frente de um adulto, “ela empacava”, diz Luciana.

Na escola, os traços ficaram mais evidentes. Manuella chorava continuamente nos primeiros dias de aula, o que levou a professora a solicitar a presença dos pais. “Ela é tímida, né?”, questionou a professora à época. À medida que ia crescendo, não gostava de participar de aulas de teatro e nem demonstrava interesse em atividades que demandavam ações como cantar ou falar em público. “Nas festas, ela só largava a ‘barra da minha saia’ quando cantavam os ‘parabéns’. Aí já era hora de ir embora. Na casa dos meus amigos, ficava atrás de mim. Tinham que prometer mundos e fundos para ganhar sua atenção. Quando queria alguma coisa, me pedia, para eu pedir para outra pessoa. Não tinha coragem de se dirigir ao garçom, por exemplo, para pedir um suco”, conta a mãe.

Segundo a psicóloga clínica Cynthia Dias Pinto Coelho, a timidez, em grau muito acentuado, pode ser uma fobia social – patologia que traz sofrimento e sérios problemas de comunicação e interação social.

No entanto, a especialista ressalta que, antes de rotular uma criança como tímida, é preciso lembrar que ela está descobrindo o mundo aos poucos e o fato de ela não conversar de forma solta e extrovertida com pessoas estranhas não é sintoma de timidez. “As relações costumam ser mais espontâneas e leves em ambientes familiares e é comum haver certa retração com estranhos.”

A psicóloga Cynthia Dias Coelho lembra que os pais devem ter muito cuidado com o excesso de críticas e com o grau de exigência e perfeccionismo em relação aos seus filhos (Arquivo Pessoal)
A psicóloga Cynthia Dias Coelho lembra que os pais devem ter muito cuidado com o excesso de críticas e com o grau de exigência e perfeccionismo em relação aos seus filhos
E como pais e educadores podem ajudar as crianças tímidas? Segundo Cynthia, a família e a escola podem intervir de forma a ajudá-las a se soltar e a se relacionar. “O ideal é organizar brincadeiras e atividades que promovam a integração e a aceitação das diferenças individuais, auxiliando na segurança afetiva e na autoestima da criança”, explica.

ACOLHIMENTO
A psicóloga clínica acrescenta que o elogio ao desempenho da criança nas apresentações e o estímulo à convivência coletiva, a prática de esportes e os trabalhos em grupo são essenciais para que ela se sinta acolhida.

Ela esclarece que é grande a responsabilidade dos pais. “Eles devem ter muito cuidado com o excesso de críticas e com o grau de exigência e perfeccionismo em relação aos seus filhos, pois eles são a primeira referência da criança no que tange à sua segurança à exposição pública. Críticas severas podem gerar um sentimento de rejeição e um medo do desamor e, para não viver esse medo, a criança pode optar, de forma inconsciente, a não se expor novamente, assumindo um comportamento extremamente reservado e calado.

Pela experiência de consultório, Cynthia diz que a indicação para psicoterapia existirá sempre que houver sofrimento para a criança, ou seja, quando ela passar a evitar festas, contatos sociais, brincadeiras coletivas e exposição pública.

Luciana procurou ajuda de uma psicóloga especializada em timidez infantil quando Manuella tinha 4 anos. “Acompanhávamos seus progressos e regressos, já que, vez por outra ela dava uns dois passos para trás. Depois de um ano e meio, teve uma melhora substancial e alta. Já dormia na casa das colegas mais íntimas e conseguia brincar em encontros infantis.” A administradora diz que também contou com a ajuda fundamental da escola, que sempre esteve presente.

“Hoje, Manuella ainda tem dificuldades ao fazer uma prova oral de inglês, decorar um texto, mas já dorme sozinha e já foi a várias montanhas-russas. Não se aventura tanto quanto a maioria dos amigos e às vezes deixa de aproveitar muita coisa legal na vida, mas aprendi a não forçá-la a nada, embora tente convencê-la do quão importante são certas coisas. Mas a palavra final sempre é dela. Dentro de suas limitações, ela é muito feliz!”

 

Principais sintomas de timidez na infância

Geralmente, fora dos ambientes familiares, a criança:

» Fala pouco
» Tem poucas relações de amizade
» Fica constrangida ou paralisada nas apresentações escolares (dança, leitura, interpretação de texto)
» Não interage facilmente em brincadeiras coletivas
» Prefere atividades individuais, como ouvir música, jogos no celular, leitura na hora do recreio

Sintomas físicos comuns em situações de exposição

» Sudorese
» Boca seca
» Mãos geladas
» Choro
» Dores de barriga (desarranjos intestinais)
» Vômitos
» Medo
» Ansiedade
» Alterações de sono
» Alterações de comportamento

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