Uma mala extraviada, uma consulta médica, uma paquera no ponto do ônibus: o amor está em todo lugar
Em cada esquina um amor, casais falam sobre namoros que começaram do nada, de um encontro fortuito, mas resultaram em histórias eternas
Revista do CB - Correio Braziliense
Publicação:11/06/2016 11:00Atualização: 10/06/2016 15:36
A primeira vez que Paulo viu Nélia, em 1981, não foi em uma situação agradável. A jovem, então com 24 anos, chegava de um voo de Manaus e a mala não veio com todas as outras na esteira. Paulo era o agente da Varig responsável pelas bagagens extraviadas. Com profissionalismo, ele deu início ao processo de busca. Não prestou muita atenção se a passageira era bonita. Nélia, em contrapartida, reparou que o agente era bonitão, charmoso, meio clássico, mas roía as unhas.
Nélia não entendia o sentimento pelo moço do telefone. Ela se lembrava dele clássico, enquanto ela era bem moderninha. “Ele ficava sempre me ligando e me chamando pra ir lá no aeroporto pra falar sobre a mala. Eu ficava enrolando não sei por quê. Eu sabia pela conversa que o dia que a gente se encontrasse, iríamos namorar”, explica. Nélia viajou para encontrar a família em Unaí e a conversa ficou em suspenso.
Quando voltou, recebeu outro telefonema de Paulo. Desta vez, quase um ultimato. Ela precisava ir ao aeroporto para falar sobre algo muito importante da mala, assinar uns papéis. Não era nada disso, era só um pretexto. Quando Nélia chegou, era exatamente o que ele esperava. Naquela época, o aeroporto era aberto. Ficaram ali conversando e olhando os aviões. O menos importante era a história da bagagem. Saíram do aeroporto para tomar um chope. No fim daquele ano, já estavam casados. “Ele era a pessoa certa.”
A mala nunca foi encontrada. Apesar de o chefe de Paulo brincar que ele estava escondendo a bagagem só para conversar com Nélia, o objeto foi dado como roubado. Nélia recebeu uma indenização, mas, nessa história, ganhou mais do que perdeu. Ganhou 33 anos de companhia, dois filhos, três netos, e o resto da vida com Paulo.
No fim das contas, a verdade é que não existe fórmula para encontrar um grande amor. Não necessariamente vai ser alguém conhecido, ou alguém do trabalho, ou alguém que estudou junto e nunca mais se afastou. Nos assuntos do coração, o acaso é ingrediente dos mais importantes para que a receita dê certo. O amor pode estar na parada de ônibus, no grupo da igreja, no aeroporto, na aula de forró, na academia, no rádio, no caixa do banco e até na emergência do hospital. Pode aparecer em qualquer idade, em qualquer lugar, a qualquer hora. Neste Dia dos Namorados, contamos histórias que contaram com uma mãozinha do destino, como a de Nélia e Paulo.
Tremilique no coração
Anna Carolina Cardoso, 21 anos, e Caio Henrique Castela, 22, se conhecem desde os 4 anos de idade. As duas famílias sempre foram muito envolvidas na igreja, e o ministério das crianças acontecia na casa de uma tia do estudante. Apesar de terem a mesma idade, nunca tiveram o mesmo grupo de amigos. Até os 14, sabiam que o outro existia, mas nunca tinham se falado. Nessa época, a mãe de Caio, que é militar, foi transferida para o Rio de Janeiro.
Anos depois, a família voltou a Brasília. Caio passou para matemática na UnB e retomou o grupo da igreja. “Quando eu vi ele fazendo grafite em um acampamento da igreja, achei muito gatinho, me interessei e comecei a observar. Todo mundo gostava do Caio; Caio ajudava todo mundo. Mas eu não tinha coragem de ir lá falar”, lembra Carol. Apesar da discrição, Caio percebeu. “Ela tem personalidade forte e se impõe com todo mundo, mas sempre foi muito simpática comigo”, conta. “Eu não conseguia mandar nele, me dava um tremilique no coração”, confessa a jovem.
Um dia, a coragem apareceu. Começaram a dividir o círculo de amizades e sair juntos. Ela conta que nunca tinha sentido nada do tipo, era um sentimento muito forte. “Fui me apaixonando, e quando assumi para mim mesma o que estava sentindo, não consegui esconder. Ficava agoniada porque achava que ele não tinha percebido. O Caio fazia uns carinhos e logo virava melhor amigo, eu ficava doida”, lembra.
Enquanto isso, o estudante ia só observando. Percebeu que a personalidade forte dela funcionava como uma proteção, mas que, no fundo, era muito doce. Foi se interessando, mas resolveu testar para ter certeza de que não era coisa da cabeça dele. Marcaram um encontro no Pontão em que o assunto se tornou inevitável. Como dois amigos furaram, eles se viram sozinhos pela primeira vez. Depois de jantar, sentaram-se no deck para conversar. “Não fui nada sutil: perguntei logo se ela estava gostava de mim”, conta. Carol quis abrir um buraco no chão, desaparecer de tanta vergonha, mas exultou por dentro. “Ela respondeu que ia ser direta, que estava mesmo afim de mim, e que eu podia fazer o que eu quisesse com essa informação”, detalha Caio. E nada de beijo.
No dia seguinte, foram para um show e o romance já era visível. Dias depois, Caio pediu permissão para a mãe de Carol para iniciar o namoro. Porém, dois meses depois, o estudante passou para desenho industrial, o curso que sempre quis fazer, no Rio de Janeiro. “A gente se sentou e conversou sobre o que fazer. Eu senti que a gente tinha que encarar. Tivemos algumas crises, passamos quase um semestre sem nos vermos. Aprendemos muito”, revela a jovem.
Já são três anos e cinco meses de relacionamento. Caio ainda mora no Rio. A distância foi difícil, mas os dois aprenderam a lidar com a situação. Fazem planos para o futuro, querem se casar e morar na praia.
Paquera no ponto de ônibus
O mais improvável dos ambientes para encontrar um amor foi o responsável pela união de Thaís Holanda, 19 anos, e Caíque Holanda, 25. A pedagoga tinha então 13, e fazia um curso de espanhol. Caíque saía da escola com amigos. Esperavam todos pelo ônibus na mesma parada. Caíque viu a moça e se apaixonou no mesmo instante. Ainda na época do Orkut, o auxiliar de enfermagem entregou um papel com seu nome para que Thaís o encontrasse na rede social. Muito tímida e séria, ela não quis dizer o nome. Mas a amiga que a acompanhava deu o dela.
Empenhado em conquistar a menina, Caíque se pôs a procurar Thaís na rede social entre todos os contatos da agora amiga em comum. Semanas depois, encontrou a página e o e-mail de Thaís. “Ainda era aquela época de MSN. Ele veio falar comigo e eu fingi que não lembrava quem ele era, mas nunca me esqueci do sorriso. Achei que a gente nunca mais ia se ver e comecei a conversar com ele”, conta a pedagoga. A conversa despretensiosa se manteve esporadicamente. Um dia, Thaís, que estava muito focada nos estudos, resolveu sair com as amigas. E quem foi a primeira pessoa que ela encontrou na balada? Caíque.
Ficaram juntos e conversaram ainda mais. Acharam mil assuntos em comum. Depois da festa, passaram a se encontrar na esquina da casa da pedagoga com medo da reação do pai da menina. “Depois de dois meses, começamos a namorar. Minha mãe nos ajudou a esconder o relacionamento do meu pai por quase seis meses. O Caíque ia à minha casa dia sim, dia não, sempre quando meu pai estava fora. Ele passou bastante confiança para a minha mãe”, lembra. O namoro dos dois saiu da esquina e da clandestinidade. Até hoje o casal da parada de ônibus está junto. Lá se vão seis anos de muito amor.
Jogo de perguntas e respostas
Na hora do almoço, na UnB, muitas aulas e atividades ocorrem nos anfiteatros. São cultos de várias religiões, ensaios de coral ou aulas de dança. A história de Karol Antunes, 19 anos, e Jonas Prado, 20, começa no fim de uma aula de forró, quando um som mais eletrônico tomava conta dos alto-falantes. Sentada em uma das cadeiras, Karol olhava o movimento. “Acho engraçado observar, mas não gosto de dançar esse ritmo nem um pouco. Um rapaz, desconhecido, a duas cadeiras de distância, virou para mim e disse: ‘Eletrônico é a desgraça da humanidade’. Dei um sorriso de simpatia, mas sou muito tímida e achei ele estranho”, conta.
Sem motivo, sem sentido e sem se entender, Karol decidiu chamar o rapaz para almoçar. Já foram emendando pergunta em pergunta, nome em signo, curso em idade. Criaram uma brincadeira de perguntas e respostas que durou a tarde toda. Não sentiram o gosto do almoço de tanta conversa. “Eu me apaixonei logo nas primeiras horas do 14 de agosto”, conta Karol. O problema é que Jonas estava apaixonado por outra. A estudante já estava conformada que seria aquela amiga que está sempre de vela.
Conversaram intensamente por um mês e dois dias. Foi quando aconteceu o primeiro beijo. Um mês e dois dias depois, começaram a namorar. Um mês e dois dias depois, contaram para os amigos que estavam juntos. E são vários meses e dois dias desde então. “Eu namorei outras vezes, mas agora é diferente. A gente tem muita coisa em comum e, ao mesmo tempo, não tem. Dá tudo certo.”
Um atendimento inusitado
Em 2013, recém-formada, a pediatra Danielle Ribeiro atendia como clínica em um hospital. A rotina era corrida. Em um plantão, chegou um paciente com a pulseira laranja — esses são atendidos pelos médicos do Bope. O médico estava na UTI com outro paciente e a enfermeira pediu a Danielle que atendesse o rapaz. “Examinei, vi que era pedra nos rins e precisava internar. Pedi uns exames e ele foi fazer o procedimento com outro profissional, não vi mais”, lembra. Como qualquer paciente. Ele não mexeu com ela, não conversaram, mas o advogado Rodrigo Noleto, 29 anos, ficou com a médica bonita na cabeça.
Rodrigo procurou nos exames o nome da médica e achou sua página no Facebook. Adicionou. “Eu não me lembrava dele, mas gostei das fotos no perfil e fui perguntar de onde nos conhecíamos. Ele lembrou que era o paciente da pedra nos rins, me agradeceu pelo atendimento e começou a puxar papo”, conta a médica. O advogado a chamou para sair na sexta. Saíram mais quatro dias sem nem um beijo, só conversa. Na terça, o primeiro beijo. Na sexta seguinte, começaram a namorar ao som de Zezé de Camargo e Luciano, em um show da dupla.
Danielle lembra que jamais esperava conhecer alguém dessa maneira. Estava desiludida com relacionamentos, estudando para a prova de residência com muito afinco. Não saía mais de casa, trocava as festas pelos livros. Não esperava conhecer alguém tão distante da área médica. Começou a namorar com Rodrigo sem estar muito apaixonada, mas logo descobriu que ele era o cara certo. “Namoramos um ano e oito meses e estamos noivos há 11 meses. Vamos nos casar em novembro.”
Nas ondas do rádio
Desde muito novinha, a radialista e pedagoga Lúcia Pereira trabalhava. Aos 17 anos, era responsável por um programa em uma rádio de Formosa chamado Ao cair da tarde. “Era um programa direcionado às pessoas que se amavam, uma coisa bem romântica. Eram os anos 1970, quase ninguém tinha televisão, só rádio mesmo”, conta. Em Lagoa Feia, um ponto turístico de Formosa, estava o gerente rural Manuel Pereira, na época com 33 anos. Ao ouvir aquela voz feminina e grave no rádio, Manuel se impressionou e comentou com o dono do bar onde estava. O comerciante retrucou que conhecia a locutora — e que ela era ainda mais bonita que a voz.
No dia seguinte, Lúcia estava trabalhando quando o chefe disse que um homem estava do lado de fora do prédio da rádio e queria conhecê-la, se ela podia descer. “Quando ele me viu, foi aquele olhar 43. Ele disse que eu era tão perfeita quanto a minha voz, e, quando eu olhei pra ele, já tive certeza de que era o homem da minha vida. Meu sonho era me casar com alguém mais velho, de cabelo grisalho”, lembra a radialista. No dia seguinte, Manuel estava de novo na porta da rádio. Foram conversando e ele chamou Lúcia para sair. Naquela época, ela conta que era muito difícil sair com um homem sem se casar, mas quebrou todos os tabus.
Pouca gente tinha telefone, e Formosa só tinha uma central de ligações. Lúcia morava lá e Manuel morava em Brasília. Todos os dias marcavam de estar às 16h na central para conversar. Menos de um ano depois, foram morar juntos. Já são 43 anos de casados. “Por causa da minha voz surgiu um grande amor.”
Uma mala extraviada deu início ao relacionamento de Nélia e Paulo
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Naquela época, não havia celular. Paulo precisou ligar para o trabalho de Nélia para contar as novidades sobre o sumiço. “O que me chamou a atenção foi a voz. Uma voz doce, boa. Eu não lembrava da fisionomia dela...”, conta o aposentado, hoje com 62 anos. Nessa história de “e aí, achou minha mala?” e conversinhas engraçadas no telefone, deu química. “O papo tinha tudo a ver, ele me tratava muito bem, era muito cuidadoso”, lembra a aposentada.Nélia não entendia o sentimento pelo moço do telefone. Ela se lembrava dele clássico, enquanto ela era bem moderninha. “Ele ficava sempre me ligando e me chamando pra ir lá no aeroporto pra falar sobre a mala. Eu ficava enrolando não sei por quê. Eu sabia pela conversa que o dia que a gente se encontrasse, iríamos namorar”, explica. Nélia viajou para encontrar a família em Unaí e a conversa ficou em suspenso.
Quando voltou, recebeu outro telefonema de Paulo. Desta vez, quase um ultimato. Ela precisava ir ao aeroporto para falar sobre algo muito importante da mala, assinar uns papéis. Não era nada disso, era só um pretexto. Quando Nélia chegou, era exatamente o que ele esperava. Naquela época, o aeroporto era aberto. Ficaram ali conversando e olhando os aviões. O menos importante era a história da bagagem. Saíram do aeroporto para tomar um chope. No fim daquele ano, já estavam casados. “Ele era a pessoa certa.”
A mala nunca foi encontrada. Apesar de o chefe de Paulo brincar que ele estava escondendo a bagagem só para conversar com Nélia, o objeto foi dado como roubado. Nélia recebeu uma indenização, mas, nessa história, ganhou mais do que perdeu. Ganhou 33 anos de companhia, dois filhos, três netos, e o resto da vida com Paulo.
No fim das contas, a verdade é que não existe fórmula para encontrar um grande amor. Não necessariamente vai ser alguém conhecido, ou alguém do trabalho, ou alguém que estudou junto e nunca mais se afastou. Nos assuntos do coração, o acaso é ingrediente dos mais importantes para que a receita dê certo. O amor pode estar na parada de ônibus, no grupo da igreja, no aeroporto, na aula de forró, na academia, no rádio, no caixa do banco e até na emergência do hospital. Pode aparecer em qualquer idade, em qualquer lugar, a qualquer hora. Neste Dia dos Namorados, contamos histórias que contaram com uma mãozinha do destino, como a de Nélia e Paulo.
Tremilique no coração
Anna Carolina Cardoso, 21 anos, e Caio Henrique Castela, 22, se conhecem desde os 4 anos de idade. As duas famílias sempre foram muito envolvidas na igreja, e o ministério das crianças acontecia na casa de uma tia do estudante. Apesar de terem a mesma idade, nunca tiveram o mesmo grupo de amigos. Até os 14, sabiam que o outro existia, mas nunca tinham se falado. Nessa época, a mãe de Caio, que é militar, foi transferida para o Rio de Janeiro.
Anos depois, a família voltou a Brasília. Caio passou para matemática na UnB e retomou o grupo da igreja. “Quando eu vi ele fazendo grafite em um acampamento da igreja, achei muito gatinho, me interessei e comecei a observar. Todo mundo gostava do Caio; Caio ajudava todo mundo. Mas eu não tinha coragem de ir lá falar”, lembra Carol. Apesar da discrição, Caio percebeu. “Ela tem personalidade forte e se impõe com todo mundo, mas sempre foi muito simpática comigo”, conta. “Eu não conseguia mandar nele, me dava um tremilique no coração”, confessa a jovem.
Um dia, a coragem apareceu. Começaram a dividir o círculo de amizades e sair juntos. Ela conta que nunca tinha sentido nada do tipo, era um sentimento muito forte. “Fui me apaixonando, e quando assumi para mim mesma o que estava sentindo, não consegui esconder. Ficava agoniada porque achava que ele não tinha percebido. O Caio fazia uns carinhos e logo virava melhor amigo, eu ficava doida”, lembra.
Enquanto isso, o estudante ia só observando. Percebeu que a personalidade forte dela funcionava como uma proteção, mas que, no fundo, era muito doce. Foi se interessando, mas resolveu testar para ter certeza de que não era coisa da cabeça dele. Marcaram um encontro no Pontão em que o assunto se tornou inevitável. Como dois amigos furaram, eles se viram sozinhos pela primeira vez. Depois de jantar, sentaram-se no deck para conversar. “Não fui nada sutil: perguntei logo se ela estava gostava de mim”, conta. Carol quis abrir um buraco no chão, desaparecer de tanta vergonha, mas exultou por dentro. “Ela respondeu que ia ser direta, que estava mesmo afim de mim, e que eu podia fazer o que eu quisesse com essa informação”, detalha Caio. E nada de beijo.
No dia seguinte, foram para um show e o romance já era visível. Dias depois, Caio pediu permissão para a mãe de Carol para iniciar o namoro. Porém, dois meses depois, o estudante passou para desenho industrial, o curso que sempre quis fazer, no Rio de Janeiro. “A gente se sentou e conversou sobre o que fazer. Eu senti que a gente tinha que encarar. Tivemos algumas crises, passamos quase um semestre sem nos vermos. Aprendemos muito”, revela a jovem.
Já são três anos e cinco meses de relacionamento. Caio ainda mora no Rio. A distância foi difícil, mas os dois aprenderam a lidar com a situação. Fazem planos para o futuro, querem se casar e morar na praia.
Thaís não saía da cabeça de Caíque desde o brevíssimo encontro na porta da escola: persistência valeu a pena
Paquera no ponto de ônibus
O mais improvável dos ambientes para encontrar um amor foi o responsável pela união de Thaís Holanda, 19 anos, e Caíque Holanda, 25. A pedagoga tinha então 13, e fazia um curso de espanhol. Caíque saía da escola com amigos. Esperavam todos pelo ônibus na mesma parada. Caíque viu a moça e se apaixonou no mesmo instante. Ainda na época do Orkut, o auxiliar de enfermagem entregou um papel com seu nome para que Thaís o encontrasse na rede social. Muito tímida e séria, ela não quis dizer o nome. Mas a amiga que a acompanhava deu o dela.
Empenhado em conquistar a menina, Caíque se pôs a procurar Thaís na rede social entre todos os contatos da agora amiga em comum. Semanas depois, encontrou a página e o e-mail de Thaís. “Ainda era aquela época de MSN. Ele veio falar comigo e eu fingi que não lembrava quem ele era, mas nunca me esqueci do sorriso. Achei que a gente nunca mais ia se ver e comecei a conversar com ele”, conta a pedagoga. A conversa despretensiosa se manteve esporadicamente. Um dia, Thaís, que estava muito focada nos estudos, resolveu sair com as amigas. E quem foi a primeira pessoa que ela encontrou na balada? Caíque.
Ficaram juntos e conversaram ainda mais. Acharam mil assuntos em comum. Depois da festa, passaram a se encontrar na esquina da casa da pedagoga com medo da reação do pai da menina. “Depois de dois meses, começamos a namorar. Minha mãe nos ajudou a esconder o relacionamento do meu pai por quase seis meses. O Caíque ia à minha casa dia sim, dia não, sempre quando meu pai estava fora. Ele passou bastante confiança para a minha mãe”, lembra. O namoro dos dois saiu da esquina e da clandestinidade. Até hoje o casal da parada de ônibus está junto. Lá se vão seis anos de muito amor.
A história de Karol Antunes, 19 anos, e Jonas Prado, 20, começa no fim de uma aula de forró...
Jogo de perguntas e respostas
Na hora do almoço, na UnB, muitas aulas e atividades ocorrem nos anfiteatros. São cultos de várias religiões, ensaios de coral ou aulas de dança. A história de Karol Antunes, 19 anos, e Jonas Prado, 20, começa no fim de uma aula de forró, quando um som mais eletrônico tomava conta dos alto-falantes. Sentada em uma das cadeiras, Karol olhava o movimento. “Acho engraçado observar, mas não gosto de dançar esse ritmo nem um pouco. Um rapaz, desconhecido, a duas cadeiras de distância, virou para mim e disse: ‘Eletrônico é a desgraça da humanidade’. Dei um sorriso de simpatia, mas sou muito tímida e achei ele estranho”, conta.
Sem motivo, sem sentido e sem se entender, Karol decidiu chamar o rapaz para almoçar. Já foram emendando pergunta em pergunta, nome em signo, curso em idade. Criaram uma brincadeira de perguntas e respostas que durou a tarde toda. Não sentiram o gosto do almoço de tanta conversa. “Eu me apaixonei logo nas primeiras horas do 14 de agosto”, conta Karol. O problema é que Jonas estava apaixonado por outra. A estudante já estava conformada que seria aquela amiga que está sempre de vela.
Conversaram intensamente por um mês e dois dias. Foi quando aconteceu o primeiro beijo. Um mês e dois dias depois, começaram a namorar. Um mês e dois dias depois, contaram para os amigos que estavam juntos. E são vários meses e dois dias desde então. “Eu namorei outras vezes, mas agora é diferente. A gente tem muita coisa em comum e, ao mesmo tempo, não tem. Dá tudo certo.”
No primeiro contato, Rodrigo foi paciente da médica Danielle. Depois, tiveram uma mãozinha do Facebook
Um atendimento inusitado
Em 2013, recém-formada, a pediatra Danielle Ribeiro atendia como clínica em um hospital. A rotina era corrida. Em um plantão, chegou um paciente com a pulseira laranja — esses são atendidos pelos médicos do Bope. O médico estava na UTI com outro paciente e a enfermeira pediu a Danielle que atendesse o rapaz. “Examinei, vi que era pedra nos rins e precisava internar. Pedi uns exames e ele foi fazer o procedimento com outro profissional, não vi mais”, lembra. Como qualquer paciente. Ele não mexeu com ela, não conversaram, mas o advogado Rodrigo Noleto, 29 anos, ficou com a médica bonita na cabeça.
Rodrigo procurou nos exames o nome da médica e achou sua página no Facebook. Adicionou. “Eu não me lembrava dele, mas gostei das fotos no perfil e fui perguntar de onde nos conhecíamos. Ele lembrou que era o paciente da pedra nos rins, me agradeceu pelo atendimento e começou a puxar papo”, conta a médica. O advogado a chamou para sair na sexta. Saíram mais quatro dias sem nem um beijo, só conversa. Na terça, o primeiro beijo. Na sexta seguinte, começaram a namorar ao som de Zezé de Camargo e Luciano, em um show da dupla.
Danielle lembra que jamais esperava conhecer alguém dessa maneira. Estava desiludida com relacionamentos, estudando para a prova de residência com muito afinco. Não saía mais de casa, trocava as festas pelos livros. Não esperava conhecer alguém tão distante da área médica. Começou a namorar com Rodrigo sem estar muito apaixonada, mas logo descobriu que ele era o cara certo. “Namoramos um ano e oito meses e estamos noivos há 11 meses. Vamos nos casar em novembro.”
Manuel precisava saber de quem era aquela voz tão bonita. Assim, encontrou Lúcia
Desde muito novinha, a radialista e pedagoga Lúcia Pereira trabalhava. Aos 17 anos, era responsável por um programa em uma rádio de Formosa chamado Ao cair da tarde. “Era um programa direcionado às pessoas que se amavam, uma coisa bem romântica. Eram os anos 1970, quase ninguém tinha televisão, só rádio mesmo”, conta. Em Lagoa Feia, um ponto turístico de Formosa, estava o gerente rural Manuel Pereira, na época com 33 anos. Ao ouvir aquela voz feminina e grave no rádio, Manuel se impressionou e comentou com o dono do bar onde estava. O comerciante retrucou que conhecia a locutora — e que ela era ainda mais bonita que a voz.
No dia seguinte, Lúcia estava trabalhando quando o chefe disse que um homem estava do lado de fora do prédio da rádio e queria conhecê-la, se ela podia descer. “Quando ele me viu, foi aquele olhar 43. Ele disse que eu era tão perfeita quanto a minha voz, e, quando eu olhei pra ele, já tive certeza de que era o homem da minha vida. Meu sonho era me casar com alguém mais velho, de cabelo grisalho”, lembra a radialista. No dia seguinte, Manuel estava de novo na porta da rádio. Foram conversando e ele chamou Lúcia para sair. Naquela época, ela conta que era muito difícil sair com um homem sem se casar, mas quebrou todos os tabus.
Pouca gente tinha telefone, e Formosa só tinha uma central de ligações. Lúcia morava lá e Manuel morava em Brasília. Todos os dias marcavam de estar às 16h na central para conversar. Menos de um ano depois, foram morar juntos. Já são 43 anos de casados. “Por causa da minha voz surgiu um grande amor.”