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Namorados: na maioria das vezes, não são os opostos que se atraem

Nosso radar geralmente capta pessoas parecidas conosco. Conheça histórias de casais afinados e leia também outras matérias especiais para o Dia dos Namorados

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Renata Rusky - Revista do CB Publicação:10/06/2014 08:00Atualização:10/06/2014 10:23

Os opostos se atraem? Pois o velho clichê dá mostras de cansaço. Levantamentos recentes apontam para a direção contrária: os semelhantes tendem a se aproximar. A maioria das pessoas quer companhia parecida — tanto em traços de personalidade quanto de fisionomia. Um desses estudos foi conduzido pelo cientista Benjamin Domingue, da Universidade do Colorado, e publicado no renomado periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

 

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O trabalho de Domingue conclui que os casados têm DNA mais parecido do que dois indivíduos aleatórios. A investigação envolveu genética, psicologia e estatística — ferramentas que permitiram a comparação do genoma de 825 casais norte-americanos. “Não temos explicações para esse fenômeno, mas eu acredito que as pessoas são propensas a escolher seus parceiros com base em genótipos, como a altura, por exemplo”, explica.

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 (Arte sobre grafite de Plic (Gabriel Marques). Foto de Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Foram encontradas evidências de que há influência da herança genética sobre todos os grandes eventos e as escolhas da vida, inclusive em se tratando de relacionamentos afetivos. De certa forma, uma pessoa se atrairia pela genética da outra. A pesquisa, porém, não desconsidera o ambiente em que os indivíduos estão inseridos — na verdade, o vetor educacional/cultural responderia por parte significativa do sucesso da relação.

Outra pesquisa com resultados similares foi a conduzida pela bióloga computacional Emma Pierson. Ela se baseou em dados estatísticos disponibilizados pelo site de relacionamento norte-americano e-Harmony, cujo objetivo é combinar pessoas compatíveis por meio de um algoritmo que leva em conta as características que elas mesmas se atribuíram — se é romântico, se bebe, se fuma, quanto ganha etc. Se as duas pessoas concordam com o emparelhamento feito pelo site de namoro, elas podem trocar mensagens entre si.

O padrão encontrado por ela foi simples: “Pessoas se interessam por pessoas como elas mesmas”. Pierson notou, no e-Harmony, que homens e mulheres tendem a entrar em contato com pessoas com quem têm mais em comum. Ela ainda evidenciou diferenças entre mulheres e homens. Dos 102 atributos disponíveis no e-Harmony, Pierson não encontrou nenhum em que as mulheres preferissem o oposto ao que elas mesmas são. Quanto aos homens, a pesquisadora evidenciou um pouco mais de tolerância quanto ao grau de escolaridade e à etnia das possíveis futuras namoradas.

Ela também considera algo óbvio: há características que são desejáveis por todos. No entanto, seus estudos indicaram que, mesmo nesse caso, o padrão é válido, pois aqueles com tais particularidades agradáveis a todos dão ainda mais importância a um parceiro que também as tenha.

Estar em contato com o seu oposto pode ser atraente, interessante e expandir referências culturais e visões de mundo, mas manter um relacionamento estável é outra história. Atritos são inevitáveis. “O que acontece é que muitos casais de namorados baseiam seus relacionamentos em diferenças de personalidade e acabam nadando muito e morrendo na praia porque não têm os mesmos interesses na vida”, explica a psicóloga Marina Vidigal, especializada em terapia conjugal. O relacionamento com alguém semelhante a você seria, portanto, mais promissor. A especialista, porém, não descarta outras possibilidades: “Um casal também pode ser muito diferente, desde que também seja muito compreensivo”.

Mayara e Thiago. Em comum: são cantores, compositores e professores de canto. São empreendedores. Costumam cantar juntos: Bee Gees, Jason Mraz (Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Mayara e Thiago. Em comum: são cantores, compositores e professores de canto. São empreendedores. Costumam cantar juntos: Bee Gees, Jason Mraz
O casal Mayara Dourado, 25 anos, e Thiago Lunar, 29, ambos cantores, acredita que experiências com pessoas com características muito diferentes das suas próprias podem ser interessantes para aprender a valorizar certos atributos. “Cada um tem seu número de sapato. Às vezes, precisamos machucar o pé um pouco para encontrar o certo”, compara Thiago. Para Mayara, os opostos se atraem, sim, mas não permanecem atraídos. “Ser parecida com o namorado permite planejamento a longo prazo”, opina a jovem. Os dois se conhecem há quase seis anos, namoram há três e estão noivos há sete meses.

Eles contam que, no meio musical brasiliense, todos se conhecem ou acabam se conhecendo. Não foi diferente com os dois. No verão de 2008, Mayara e Thiago fizeram juntos um curso de canto popular na Escola de Música de Brasília. Tinham amigos em comum, tocavam e cantavam nas noites da capital e eram comprometidos. Até aí, não nutriam interesse especial um pelo outro.

Em 2011, desta vez solteiros, bolaram um projeto juntos: “Duetos de amor e outras canções”, em que, a princípio, cantavam clássicos românticos e, aos poucos, incluíram também canções compostas pelo casal. Apesar de já terem carreiras independentes — a dele voltada para a música regional e a dela, para a música pop —, a parceria profissional funcionou e não demorou para que se tornasse uma parceria para vida. “Nós temos estilos diferentes, mas temos muito respeito pelo trabalho do outro”, orgulha-se Mayara.

Para o duo, o fato de serem artistas adiciona um coeficiente de compreensão. “Nós dois somos muito dedicados à música e precisamos ser assim. Recentemente, no aniversário dela, tive de fazer um show. Se ela não fosse do meio, não entenderia uma situação dessas e nosso relacionamento se desgastaria aos poucos”, explica Thiago.

Além do gosto pela música, mais coisas unem o casal. Hoje, eles dividem uma sala na Asa Norte, onde, além de ensaiar, dão aulas de canto separadamente e recebem clientes de sua pequena empresa, Música no meu casamento (eles também cantam em festas de casamento). Uma veia empreendedora e uma acadêmica pulsam em ambos. “Nós nos completamos no sentido de sermos parecidos e somarmos nossas forças na mesma direção”, define Mayara.

 

"Cada um tem seu número de sapato. Às vezes, precisamos machucar o pé um pouco para encontrar o certo”
Thiago Lunar

“Ser parecida com o namorado permite planejamento a longo prazo”
Mayara

 

Quando é para ser

Nathália e Rodrigo. Em comum: cultivam hábitos saudáveis: malham todos os dias e se alimentam bem. Estudam para concurso. Têm dificuldade para tomar decisões. Lugares que costumam frequentar: restaurantes de comida japonesa Zimbrus (Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Nathália e Rodrigo. Em comum: cultivam hábitos saudáveis: malham todos os dias e se alimentam bem. Estudam para concurso. Têm dificuldade para tomar decisões. Lugares que costumam frequentar: restaurantes de comida japonesa Zimbrus
Quem nunca namorou firme pode ter a impressão de que se trata de algo monótono, que conduz a uma rotina morna. Muita gente tem visões distorcidas de um relacionamento amoroso, como se fosse algo que limitasse a liberdade dos envolvidos. Nathália Saffi, 24 anos, sempre gostou de sair à noite e curtir a solteirice. Teve de rever seus conceitos quando conheceu Rodrigo Clemente, 25, engenheiro mecânico. Os dois se encontraram, é claro, em uma festa.

Ele também gostava muito de sair. Enfim, tinham tudo para dar certo, exceto o fato de que, em três meses, ela embarcaria para a França para um semestre de intercâmbio. Sem se preocupar com a viagem, ficaram juntos até o dia do embarque — foram a muitas festas de música sertaneja e eletrônica. “Foi quando eu vi que namorar podia, sim, ser legal”, descobriu Nathália. Finalmente, quando ela voltou, o relacionamento recomeçou exatamente do mesmo ponto em que havia parado. O namoro se oficializou e, hoje, o casal soma dois anos e quatro meses de convívio.

Em seu tempo fora, Nathália já pensava em voltar e ter hábitos mais saudáveis, se alimentar melhor e fazer mais exercício físico. Rodrigo, que já era acostumado com essa vida, foi um incentivo maior. Os dois vão à academia todos os dias, exceto domingos. De segunda a sexta, vão separados por terem rotinas diferentes — ela estuda para concursos e ele estuda e trabalha. Mas, no sábado, vão juntinhos.

Agora, os dois baladeiros estão mais comedidos, curtem preferencialmente um barzinho com os amigos. Jamais, porém, descuidam da alimentação — fast-food nem pensar. De vez em quando, em casa, até se aventuram na cozinha. “Outro dia, testamos uns cookies de proteína”, ela conta. Não aprovaram a receita, mas pretendem incrementá-la e melhorá-la da próxima vez.

Não costumam brigar nem entre si nem com outras pessoas. Simplesmente, não é do feitio deles. “Nós somos bastante compreensivos um com o outro, não somos ciumentos e não somos bons em decidir coisas”, lista Rodrigo. Ainda assim, admite diferenças: “Ela é mais sensível, mais romântica. Nisso, eu preciso me esforçar às vezes”.

Acertando os ponteiros
Gabriela e Bruno. Em comum: administradores. Depois de formados, iniciaram outro curso. Adoram festivais de rock. Séries favoritas Breaking bad Game of Thrones. Bandas prediletas 'The Killers', 'Strokes', 'Coldplay', 'Queens of the stone age'  ( Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Gabriela e Bruno. Em comum: administradores. Depois de formados, iniciaram outro curso. Adoram festivais de rock. Séries favoritas Breaking bad Game of Thrones. Bandas prediletas 'The Killers', 'Strokes', 'Coldplay', 'Queens of the stone age'
Com a namorada anterior, Bruno Saboya, 25 anos, administrador e mestrando, tinha um problema: ela gostava de ficar em casa e ele, não. Quando conheceu Gabriela Malvar, 25, administradora e estudante de direito, com quem já namora há cinco anos, sentiu que ia dar certo. “Desde que conheci o Bruno, saímos tanto… Então, deu pra ver que seria uma relação bacana”, conta Gabriela.

O caminho dos dois se cruzou em 2009, na Universidade de Brasília. Ele já tinha cursado uma parte de outro curso quando decidiu trocar para administração, então, ela era veterana dele. A princípio, eram apenas colegas, mas não demorou muito para perceberem que tinham muitas ideias e gostos parecidos. Eles costumavam ir às mesmas festas e lugares e curtiam as mesmas músicas.

Tornaram-se amigos, além de namorados. “Nós somos muito companheiros mesmo. Por sermos parecidos, criamos vínculos além da paixão”, explica o rapaz. Um é sempre companhia do outro para festivais de música fora de Brasília. Foram às três edições nacionais do Lollapalooza, a uma do Planeta Terra, sem contar o SWU e o Rock in Rio.

Os inseparáveis só divergem no quesito futebol. Ele adora, ela detesta. No início, Gabriela assistia com o namorado, chamava amigas para se distrair enquanto a partida rolava, mas, com o tempo, deixou de lado — a não ser que seja um jogo mais importante. Da parte de Bruno, a falta de paciência é para acompanhá-la em lojas de roupa. Nada disso, no entanto, chega a ser um problema.

“Nós somos mais parecidos do que diferentes, mas tem alguns detalhes na personalidade”, Gabriela relata. “Ela se atrasa, eu sou pontual”, Bruno exemplifica. As brigas entre os dois são raras. “Às vezes, é até difícil aceitar que ele pensa diferente de mim em relação a alguma coisa, mas já nos acostumamos com algumas surpresas”, pondera a jovem.

Parte do plano divino
Mariel e Luan. Em comum: filhos únicos de mães solteiras. Católicos tradicionais. Valorizam a família. Querem muitos filhos (Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Mariel e Luan. Em comum: filhos únicos de mães solteiras. Católicos tradicionais. Valorizam a família. Querem muitos filhos
Mariel Silva, 24 anos, estudante, e Luan Batista, 26, servidor público, acreditam terem sido feitos um para o outro. A história é rara: um mês após se conhecerem, começaram a namorar sem nunca terem se beijado, após um pedido formal feito à mãe dela. Namoraram por três meses, ficaram noivos por três anos e três meses e, enfim, se casaram. Hoje, são pais de Miguel, de 1 ano e 3 meses.

O encontro dos dois se deu na capela da faculdade onde estudavam. Ela estava matriculada no turno da noite e considerava passar para o período da manhã. O percurso que percorria todos os dias para estudar seria mais seguro, mas teria de abdicar do grupo noturno de orações. Decidiu que passaria a frequentar as aulas matutinas e criaria ela mesma um grupo semelhante nesse turno. O que ela não imaginava é que Luan, que estudava de manhã, já estava engajado em fazer o mesmo.

Ela sempre carregou a certeza que só se uniria a alguém que compartilhasse seus valores e a vontade de formar uma grande família. Até então, só tinha tido relacionamentos que, embora longos, não foram sérios. E já estava cansada disso. “Eu achava que Deus já tinha desistido de mim. Eu queria uma família”, lamenta. É aí que entra Luan, cujas características se encaixavam exatamente num sonho premonitório tido pela tia de Mariel.

A religião, sem dúvida, os aproximou. Mas havia outros pontos de afinidade. Ambos são filhos únicos de mães solteiras e valorizam muito a família e a presença paterna. Assim, pretendem ter uma família grande, com, pelo menos, três filhos. Já estão planejando um irmão para Miguel, mas Mariel tem dificuldade. “Até o Miguel foi um milagre em nossa vida. A médica admitiu que não acredita em Deus, mas que devia dar o braço a torcer nessa”, conta a estudante.

Mesmo com tantas coisas em comum, eles gostam do que têm de diferente e acham isso importante. “Se tudo o que eu quiser fazer, ele concordar, fica chato, mas não chega a ter conflito”, explica Mariel. O importante para Luan, nesses momentos, é querer fazer o outro feliz, sem egoísmo. Esse é o segredo, garantem.

Cada panela com sua tampa
Marina e Luiz Gustavo. Em comum: amam viajar. Gostam de dançar. Frequentam restaurantes. São chorões. São ansiosos. Têm o mesmo signo (sagitário) (Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Marina e Luiz Gustavo. Em comum: amam viajar. Gostam de dançar. Frequentam restaurantes. São chorões. São ansiosos. Têm o mesmo signo (sagitário)
Quando se conheceram, ambos estavam em uma situação delicada. Marina Pinheiro, 21 anos, estudante, havia acabado de chegar de Arraial D’Ajuda, na Bahia, para começar a faculdade em Brasília. Deixou um ex para trás. Enquanto isso, Luiz Gustavo Ferreira estava com uma pessoa que havia conhecido há pouco tempo, mas o relacionamento já apresentava desgaste.

Marina queria fazer amizades e conhecer a cidade. Em uma balada, esbarrou em Luiz Gustavo e o interesse foi mútuo, mas não flertaram. Por coincidência, o grupo de amigos com o qual ela estava se juntou ao dele, facilitando a aproximação. Ainda demorou até oficializarem o namoro, que já dura mais de três anos.

“Nós somos parecidos até na data de aniversário”, brinca Luiz Gustavo. Ela é de 2 de dezembro e ele, do dia 1º. Ambos até acham que opostos se atraem, mas é uma atração que não dura. “Tudo o que é diferente acaba chamando a atenção”, constata a namorada. Para Luiz Gustavo, isso é verdadeiro, principalmente na juventude, fase em que “o diferente é desafiador”.

O terapeuta de casal Vitor Molina confirma esse entendimento, pois as pessoas tendem a se tornar mais intolerantes com o tempo. “O indivíduo constrói o próprio caráter aos poucos. Quando é muito novo, ainda não conhece o que lhe incomoda em outra pessoa”, explica.

Marina e Luiz Gustavo se encontraram ao acaso, mas o sucesso da relação nada tem de fortuito. “Nós somos emotivos, sensíveis e até chorões”, brinca Marina. Além disso, compartilham o amor por viagens. E o fato de Marina ser de outro estado fez de passeios simples, como uma ida a Pirenópolis, aventuras inesquecíveis.

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