Enxaqueca aumenta risco de infarto em mulheres, indica estudo
Cientistas chegaram à conclusão após analisar dados de 17.531 voluntárias durante 22 anos. Segundo especialistas, as complicações cardiovasculares são ainda maiores em pacientes fumantes e submetidas a terapias de reposição hormonal
Vilhena Soares - Correio Braziliense
Publicação:16/06/2016 13:10Atualização: 16/06/2016 13:43
“Encontramos um risco cerca de 50% aumentado para doenças cardiovasculares. Essa associação persistiu após o ajuste para fatores de risco vascular tradicionais e foi mais evidente para o infarto do miocárdio, os acidentes vasculares cerebral e coronariano e os procedimentos de revascularização angina e coronária”, detalharam os autores, no artigo divulgado na edição desta semana do British Medicine Journal. A equipe também detectou chances maiores de mortalidade por essas enfermidades nas mulheres que sofrem de enxaqueca.
Para chegar às conclusões, o grupo liderado por Tobias Kurth, do Instituto de Saúde Pública vinculado à Universidade Humboldt e à Universidade Livre de Berlim, analisou informações do Nurses’ Health Study II, uma das maiores investigações sobre os fatores de risco para as principais doenças crônicas em mulheres feito com enfermeiras dos Estados Unidos. A abordagem envolveu dados de 115.541 inscritas no grande levantamento. Elas tinham entre 25 e 42 anos, estavam livres de angina e doenças cardíacas no começo da análise e foram acompanhadas de 1989 a 2011 com enfoque em complicações cardiovasculares e mortalidade vinculadas a elas.
No início do estudo, 17.531 mulheres — 15,2% das participantes — relataram ter recebido o diagnóstico de enxaqueca. Vinte e dois anos depois, 1.329 haviam sofrido de doenças cardiovasculares e 223 tinham morrido devido a esse tipo de enfermidade. As conclusões mantiveram-se após ajustes incluindo fatores que podem aumentar os riscos para as doenças cardíacas, como a idade, o uso de contraceptivos orais, o tabagismo e a terapia de reposição hormonal pós-menopausa.
“Os resultados desse grande estudo de coorte prospectivo apoiam a hipótese de que a enxaqueca é um marcador de aumento de risco de eventos cardiovasculares. Dada a elevada prevalência dessa doença na população em geral, existe uma necessidade urgente de compreender os processos biológicos envolvidos nessa relação com os problemas cardiovasculares para fornecer soluções preventivas aos pacientes”, defenderam os autores, no artigo divulgado.
A importância de aprofundar os estudos fica ainda mais forte pelo fato de a enxaqueca ser comum nas mulheres — a estimativa é de que ela seja três vezes mais frequente nelas do que nos homens, segundo o Manual Merck de Informação Médica — e de os ataques cardíacos estarem crescendo entre o público feminino. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, há cerca de 50 anos, 10% das mortes por infarto do miocárdio no país eram de mulheres. Hoje, elas representam quase 50% das vítimas.
Reforço científico
Em um editoral divulgado com o artigo dos cientistas alemães e norte-americanos, Rebecca Burch, Harvard Medical School; e Melissa Rayhill, do Jacobs School of Medicine and Biomedical Sciences, ambos nos Estados Unidos, ressaltaram que os dados da nova pesquisa reforçam conclusões anteriores. “A enxaqueca está associada a um aumento de duas vezes ou menos no risco de acidente vascular cerebral isquêmico e um risco 1,5 maior de derrame cerebral”, escreveram, ressaltando, em seguida, que as chances de surgimento das complicações pioram quando há a ocorrência de fatores de risco, como o tabagismo e o uso de estrogênio com contraceptivo.
A dupla também cogita a possibilidade de a associação ocorrer em pacientes do outro gênero. “Como todos os participantes eram mulheres, é incerto se o risco cardiovascular também é elevada nos homens que têm enxaqueca. Ambas as coisas parecem prováveis”, acreditam Burch e Rayhill. Independentemente das observações, elas defendem que é “hora de adicionar a enxaqueca à lista de condições de vida médica precoce que são marcadores de risco cardiovascular”.
Nesse cenário, acreditam, surge a possibilidade de os tratamentos que diminuem a frequência ou a gravidade da enxaqueca reduzirem também os riscos vasculares. As especialistas concluem, porém, que “as poucas evidências sugerem a necessidade de contenção terapêutica (para prevenir o risco cardiovascular) até que haja uma melhor compreensão dos mecanismos subjacentes à ligação entre a enxaqueca e as doenças vasculares”.
Ranking mundial
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a depressão é a doença que mais causa limitações físicas e mentais que comprometem a vida social de pessoas no mundo. Os nove fatores seguintes são dores nas costas e na coluna, anemia por deficiência de ferro, doenças pulmonares crônicas, transtornos causados pelo álcool, transtornos de ansiedade, diabetes, perda de audição, traumatismos por quedas e enxaqueca.
Risco de enxaqueca é três vezes mais frequente nas mulheres do que nos homens
Saiba mais...
Na lista das doenças incapacitantes do mundo, a enxaqueca pode estar vinculada a complicações médicas que também têm forte potencial para alterar negativamente a rotina de uma pessoa: as cardíacas. Segundo um estudo conduzido por pesquisadores dos Estados Unidos e da Alemanha, as mulheres que sofrem com as crises de dor de cabeça latejante apresentam um risco mais elevado de desenvolver doenças cardiovasculares, como infarto e derrames, se comparadas às não acometidas pela enxaqueca.“Encontramos um risco cerca de 50% aumentado para doenças cardiovasculares. Essa associação persistiu após o ajuste para fatores de risco vascular tradicionais e foi mais evidente para o infarto do miocárdio, os acidentes vasculares cerebral e coronariano e os procedimentos de revascularização angina e coronária”, detalharam os autores, no artigo divulgado na edição desta semana do British Medicine Journal. A equipe também detectou chances maiores de mortalidade por essas enfermidades nas mulheres que sofrem de enxaqueca.
Para chegar às conclusões, o grupo liderado por Tobias Kurth, do Instituto de Saúde Pública vinculado à Universidade Humboldt e à Universidade Livre de Berlim, analisou informações do Nurses’ Health Study II, uma das maiores investigações sobre os fatores de risco para as principais doenças crônicas em mulheres feito com enfermeiras dos Estados Unidos. A abordagem envolveu dados de 115.541 inscritas no grande levantamento. Elas tinham entre 25 e 42 anos, estavam livres de angina e doenças cardíacas no começo da análise e foram acompanhadas de 1989 a 2011 com enfoque em complicações cardiovasculares e mortalidade vinculadas a elas.
"Dada a elevada prevalência dessa doença (a enxaqueca) na população em geral, existe uma necessidade urgente de compreender os processos biológicos envolvidos nessa relação com os problemas cardiovasculares para fornecer soluções preventivas aos pacientes” - Trecho do artigo divulgado na última edição do British Medicine Journal
No início do estudo, 17.531 mulheres — 15,2% das participantes — relataram ter recebido o diagnóstico de enxaqueca. Vinte e dois anos depois, 1.329 haviam sofrido de doenças cardiovasculares e 223 tinham morrido devido a esse tipo de enfermidade. As conclusões mantiveram-se após ajustes incluindo fatores que podem aumentar os riscos para as doenças cardíacas, como a idade, o uso de contraceptivos orais, o tabagismo e a terapia de reposição hormonal pós-menopausa.
“Os resultados desse grande estudo de coorte prospectivo apoiam a hipótese de que a enxaqueca é um marcador de aumento de risco de eventos cardiovasculares. Dada a elevada prevalência dessa doença na população em geral, existe uma necessidade urgente de compreender os processos biológicos envolvidos nessa relação com os problemas cardiovasculares para fornecer soluções preventivas aos pacientes”, defenderam os autores, no artigo divulgado.
A importância de aprofundar os estudos fica ainda mais forte pelo fato de a enxaqueca ser comum nas mulheres — a estimativa é de que ela seja três vezes mais frequente nelas do que nos homens, segundo o Manual Merck de Informação Médica — e de os ataques cardíacos estarem crescendo entre o público feminino. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, há cerca de 50 anos, 10% das mortes por infarto do miocárdio no país eram de mulheres. Hoje, elas representam quase 50% das vítimas.
Reforço científico
Em um editoral divulgado com o artigo dos cientistas alemães e norte-americanos, Rebecca Burch, Harvard Medical School; e Melissa Rayhill, do Jacobs School of Medicine and Biomedical Sciences, ambos nos Estados Unidos, ressaltaram que os dados da nova pesquisa reforçam conclusões anteriores. “A enxaqueca está associada a um aumento de duas vezes ou menos no risco de acidente vascular cerebral isquêmico e um risco 1,5 maior de derrame cerebral”, escreveram, ressaltando, em seguida, que as chances de surgimento das complicações pioram quando há a ocorrência de fatores de risco, como o tabagismo e o uso de estrogênio com contraceptivo.
A dupla também cogita a possibilidade de a associação ocorrer em pacientes do outro gênero. “Como todos os participantes eram mulheres, é incerto se o risco cardiovascular também é elevada nos homens que têm enxaqueca. Ambas as coisas parecem prováveis”, acreditam Burch e Rayhill. Independentemente das observações, elas defendem que é “hora de adicionar a enxaqueca à lista de condições de vida médica precoce que são marcadores de risco cardiovascular”.
Nesse cenário, acreditam, surge a possibilidade de os tratamentos que diminuem a frequência ou a gravidade da enxaqueca reduzirem também os riscos vasculares. As especialistas concluem, porém, que “as poucas evidências sugerem a necessidade de contenção terapêutica (para prevenir o risco cardiovascular) até que haja uma melhor compreensão dos mecanismos subjacentes à ligação entre a enxaqueca e as doenças vasculares”.
Ranking mundial
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a depressão é a doença que mais causa limitações físicas e mentais que comprometem a vida social de pessoas no mundo. Os nove fatores seguintes são dores nas costas e na coluna, anemia por deficiência de ferro, doenças pulmonares crônicas, transtornos causados pelo álcool, transtornos de ansiedade, diabetes, perda de audição, traumatismos por quedas e enxaqueca.