Qualidade de vida »

Diabetes não é motivo para deixar de praticar exercícios físicos, muito antes pelo contrário

Com orientação correta, pessoas com a doença metabólica podem até correr maratonas. Conheça os mitos e verdades que envolvem a prática esportiva por quem tem diabetes

Diminuir Fonte Aumentar Fonte Imprimir Corrigir Notícia Enviar
Letícia Orlandi - Saúde Plena Publicação:17/04/2013 08:29Atualização:17/04/2013 08:35
Projeto Volta Monitorada reuniu 70 atletas com diabetes na última edição. Participação é gratuita e mostra que a doença pode se transformar em motivo de saúde (Divulgação/Volta Monitorada)
Projeto Volta Monitorada reuniu 70 atletas com diabetes na última edição. Participação é gratuita e mostra que a doença pode se transformar em motivo de saúde
Pequenas corridas de rua (5-10km), Volta Internacional da Pampulha (18km), meia-maratona (21,1 km), maratona (42,1 km) e ultramaratona (provas que chegam a atingir mais de 200 km). Alguns ficam cansadas só de imaginar tanto esforço. Mas Rodrigo Alves Pinto, de 28 anos, não só superou algumas dessas provas como agora tem a meta de completar uma maratona e partir pra a ultramaratona.

O detalhe que torna esta história mais especial é que ele tem diabetes. “Ouvi da minha família e dos meus amigos; e até de outros corredores, que isso é um absurdo, que diabético não pode correr. Mas, na verdade, depois que recebi o diagnóstico, minha qualidade de vida só aumentou e eu cuido muito melhor da minha saúde”, define o gerente de manutenção, que sempre praticou futebol amador. “Eu ia ao médico, quando ia, uma vez por ano, no máximo. Hoje, a prática de exercício e os bons hábitos são um prazer”, ressalta.

Rodrigo faz parte de um grupo de 70 pessoas, de diversos estados brasileiros, que completou os 18 quilômetros da última Volta Internacional da Pampulha e se tornou o maior encontro de corredores com diabetes do Brasil. A motivação: saúde. Esses atletas participam do projeto Volta Monitorada, coordenado pelo médico mineiro Rodrigo Lamounier, que acompanha e orienta pessoas com diabetes na prática de exercícios físicos. O projeto começou em 2009, está inserido na Lei de Incentivo ao Esporte e é gratuito. Para mais informações, acesse o site www.voltamonitorada.com.br

A endocrinologista Amanda de Souza Silva: prática esportiva orientada diminui as chances de complicações em longo prazo  (Divulgação/CDBH)
A endocrinologista Amanda de Souza Silva: prática esportiva orientada diminui as chances de complicações em longo prazo
De acordo com a médica endocrinologista do Centro de Diabetes de Belo Horizonte, Amanda de Souza Silva, já é bem estabelecido que a prática esportiva é benéfica para todas as pessoas, inclusive os portadores de diabetes. A atividade física regular traz inúmeros ganhos ao corpo, melhora o condicionamento cardiorrespiratório físico, auxilia no controle da pressão arterial, dos níveis de gordura no sangue e da glicose. “E diminui as chances de complicações em longo prazo da pessoa com diabetes”, pondera a médica.

Hoje atleta, Rodrigo sabe bem disso. “Perdi um irmão com apenas 28 anos. Ele dizia que preferia 'curtir a vida', não fez concessões, não se cuidava. Acabou tendo complicações na visão e nos rins”, lamenta. Rodrigo tem um perfil cooperativo e se preocupa com a condição dos colegas durante as provas. Este é um outro benefício dos grupos de corrida – um participante estimula o outro. “São pessoas que passam pelas mesmas dificuldades e alegrias. Com a sua experiência, você pode ajudar o colega”, define.

Mas ele tem ainda um outro incentivo. “Na chegada da Volta da Pampulha, ver minha esposa e meu filhinho me apoiando foi um grande presente. Quero ser um belo exemplo para a minha família”, define.

Rodrigo, com a esposa Izabella e o filho, Arthur Gabriel: portador de diabetes tipo 1, ele chegou a ouvir que não poderia mais jogar futebol ou correr. Agora, ele já pensa em disputar uma ultramaratona (Arquivo Pesoal)
Rodrigo, com a esposa Izabella e o filho, Arthur Gabriel: portador de diabetes tipo 1, ele chegou a ouvir que não poderia mais jogar futebol ou correr. Agora, ele já pensa em disputar uma ultramaratona

Cuidado é necessário
É possível ser um atleta de alto desempenho, mesmo com diabetes. E não há restrição em relação ao tipo de atividade física. “Qualquer atividade física bem praticada e orientada por profissionais capacitados é indicada”, resume Amanda. Um dos maiores exemplos é o nadador norte-americano Gary Hall Jr., ganhador de cinco medalhas de ouros em Jogos Olímpicos, considerado um dos grandes velocistas da história da natação.

Após receber o diagnóstico de diabetes, o nadador estadunidense Gary Hall Jr ganhou cinco medalhas nas Olimpíadas (AFP Photo/Stan Ronda)
Após receber o diagnóstico de diabetes, o nadador estadunidense Gary Hall Jr ganhou cinco medalhas nas Olimpíadas
Em sua primeira Olimpíada (Atlanta 96), com 21 anos, era considerado o principal rival de Alexander Popov. Em 1999, ele teve o diagnóstico de diabetes tipo 1 e sofreu com as expectitvas de que sua carreira chegaria ao fim. Em Sydney 2000, Hall ganhou duas medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze. Ele ainda competiu em Atenas, em 2004, aos 29 anos, se tornando o nadador americano mais velho em 80 anos a se qualificar para uma Olimpíada.

Os especialistas explicam que é necessário, sim, cuidado. No caso dos portadores de diabetes tipo 1, usuários de insulina, pode ocorrer uma grande variabilidade glicêmica, com riscos de hipoglicemia.

“Os riscos dependem do tipo, intensidade e duração da atividade, assim como do tratamento de cada um. A avaliação médica deve ser feita antes e, para maior segurança da prática esportiva entre quem tem diabetes tipo 1, a automonitorização da glicose é essencial antes, durante e após o exercicio”, ensina a endocrinologista.

A automonitorização glicêmica – medida da glicose na ponta do dedo - é essencial para um bom controle metabólico. Ele pode ser feito inclusive com um monitor contínuo de glicose, aparelho instalado sob a pele que mede a glicemia em tempo real e que foi utilizado pelos atletas da Volta Monitorada.

Saiba mais...
O projeto começou em 2009, com apenas nove atletas. Um dos objetivos é diminuir os preconceitos, promover a saúde e a educação em diabetes. Além das corridas como a Volta Internacional da Pampulha, a maratona internacional de São Paulo e a meia maratona do Rio de Janeiro, são realizadas campanhas educativas para a comunidade, eventos, reuniões científicas, treinos, capacitação de profissionais de saúde no meio esportivo e em diabetes e encontros entre os portadores de diabetes.

Outro objetivo é avaliar cientificamente o impacto do exercício físico na variação glicêmica dos atletas, contribuindo para a evolução das pesquisas sobre a prática esportiva neste contexto. Todo o projeto é gratuito para os corredores com diabetes.

Confira os mitos e verdades sobre a prática de exercícios físicos entre os diabéticos:

 (Arte: Soraia Piva/ EM / DA Press)

COMENTÁRIOS

Os comentários são de responsabilidade exclusiva dos autores.