Meninas de 10 e 11 anos receberão vacina contra HPV no início do ano letivo de 2014
Apesar do avanço, os meninos brasileiros continuam desprotegidos contra vários tipos de câncer relacionados ao vírus
Da redação
Publicação:01/07/2013 13:13Atualização: 01/07/2013 14:20
A vacina contra o papilomavírus (HPV) será oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas de 10 e 11 anos no início do ano letivo de 2014. De acordo com o Ministério da Saúde, a vacina estará disponível em cerca de 5 mil postos, entre escolas públicas e particulares (em forma de campanha) e unidades de saúde, de maneira permanente. O Brasil registrou em 2012 17,5 mil novos casos de HPV em mulheres, uma das principais causas de câncer do colo do útero.
A meta do governo é atingir 80% das mais de 3,3 milhões de pessoas consideradas público-alvo. Neste primeiro momento, serão disponibilizadas 12 milhões de doses apenas para meninas. Com os custos da vacina, serão gastos R$ 30 por unidade, somando R$ 452,5 milhões. A vacina, que será produzida pelo Instituto Butantã e pela Merck, será administrada em três doses, e protegerá contra quatro subtipos de HPV: 6, 11, 16 e 18 – os dois últimos são os que causam o maior risco de câncer. Em 70% dos casos de câncer do colo do útero, há vestígio da presença dos subtipos 16 e 18.
"Estamos oferecendo a melhor vacina que existe. Setenta e cinco porcento das vacinas usadas contra o HPV no mundo é essa que vamos aplicar. Essa é mais uma medida para enfrentarmos um problema de saúde púbica, que é o câncer do colo do útero – sobretudo nas regiões Norte e Nordeste e em áreas economicamente menos desenvolvidas em outras regiões do país", informou o ministro Alexandre Padilha.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que 17,5 mil casos de câncer de colo do útero surjam em 2013 no país. Segundo dados do Ministério da Saúde, são registrados, em média, 685,4 mil casos da doença por ano, que levam a 4,8 mil mortes. Em 2011, foram 5,1 mil óbitos. Anualmente, são descobertos, em média, 18,4 mil casos. De janeiro a março de 2013, foram feitas 5,6 mil internações por esse tipo de câncer, com as quais foram gastos R$ 7,6 milhões. O Ministério da Saúde estima que, entre 2011 e 2014, sejam gastos mais de R$ 382 milhões em investimentos na doença.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que haja 291 milhões de mulheres com o vírus no mundo, das quais 32% estão infectadas pelos tipos 16 e 18. Segundo a OMS, 80% da população feminina sexualmente ativa será infectada.
Mas e os meninos?
Apesar do avanço, uma questão permanece sem resposta no calendário de imunização brasileiro: por que vacinar apenas meninas se a bula da quadrivalente é indicada para ambos os sexos? De acordo com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia das Doenças Associadas ao HPV, no Brasil e em outros países em desenvolvimento, quase 15% dos cânceres registrados são causados pelo HPV.
O vírus é responsável por 100% dos casos de câncer de colo de útero, mas também por 50% dos casos de câncer de pênis, que pode levar à amputação e morte em casos mais graves. Segundo projeções do Instituto Nacional do Câncer (INCA), são registrados em média cinco mil casos da doença anualmente. Deste total, mil resultam em amputações totais ou parciais, de acordo com o Data/SUS. Nos dados mais recentes do banco de dados do INCA, referentes a 2010, ele também aparece como responsável por 363 mortes.
A presidente da regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM-RJ), Isabella Ballalai, informou ao Saúde Plena (saiba mais aqui) que a Austrália é modelo na implantação da imunização gratuita. Apesar de atualmente a campanha imunizar crianças de ambos os sexos entre 12 e 13 anos, em 2007 e 2008 a campanha contemplou apenas meninas de 13 a 26 anos.
O país acompanha o impacto da campanha de imunização com estudos recorrentes. “Os resultados mostraram que os meninos da mesma faixa etária das meninas vacinadas ficaram protegidos para as verrugas genitais. É o que chamamos de proteção de rebanho: vacinando as meninas, protegemos também os meninos”, explica. Um dado curioso é que os garotos que fazem sexo entre si ficaram sem a proteção. “Os homossexuais não ficaram protegidos e depois da constatação, o país adotou também a vacinação dos meninos”, conclui.
Garganta e sexo oral desprotegido
Um estudo de 2012 do A.C.Camargo Câncer Center, de São Paulo, aponta que 80% dos tumores de orofaringe (garganta) têm associação com o HPV. Há dez anos, essa associação existia em 25% dos casos. Mas ainda há dúvida se houve um aumento real de casos ou simplesmente uma mudança no perfil da doença. Antes, os cânceres de boca e da orofaringe afetavam homens mais velhos, tabagistas/e ou alcoólatras.
Hoje atingem os mais jovens (entre 35 e 45 anos), que não fumam e nem bebem em excesso, mas praticam sexo oral desprotegido. Outra hipótese é que a incidência esteja aumentando porque a tecnologia que permite o diagnóstico melhorou com o desenvolvimento de mais exames de biologia molecular capazes de detectar o HPV, o que antes não acontecia.
O que já está claro é que o HPV é um vírus muito presente na pele ou em mucosas e afeta homens e mulheres. Cerca de 80% da população já se infectou, mas não tiveram verrugas nem câncer. Há mais de cem subtipos de HPV, entre 30 e 40 deles podem causar doenças, como verrugas genitais e tumores no pênis, ânus, vulva, orofaringe e, o mais comum, no colo do útero.
Os tumores de orofaringe relacionados ao HPV têm, no entanto, um melhor prognóstico em relação àqueles provocados pelo fumo. Eles respondem melhor à quimioterapia e à radioterapia e, muitas vezes, não há necessidade de cirurgia. Mas o calendário de vacinação gratuito do Ministério da Saúde ainda tem espaço para avançar neste sentido.
Com informações da Agência Brasil
Neste primeiro momento, serão disponibilizadas 12 milhões de doses apenas para meninas
A meta do governo é atingir 80% das mais de 3,3 milhões de pessoas consideradas público-alvo. Neste primeiro momento, serão disponibilizadas 12 milhões de doses apenas para meninas. Com os custos da vacina, serão gastos R$ 30 por unidade, somando R$ 452,5 milhões. A vacina, que será produzida pelo Instituto Butantã e pela Merck, será administrada em três doses, e protegerá contra quatro subtipos de HPV: 6, 11, 16 e 18 – os dois últimos são os que causam o maior risco de câncer. Em 70% dos casos de câncer do colo do útero, há vestígio da presença dos subtipos 16 e 18.
"Estamos oferecendo a melhor vacina que existe. Setenta e cinco porcento das vacinas usadas contra o HPV no mundo é essa que vamos aplicar. Essa é mais uma medida para enfrentarmos um problema de saúde púbica, que é o câncer do colo do útero – sobretudo nas regiões Norte e Nordeste e em áreas economicamente menos desenvolvidas em outras regiões do país", informou o ministro Alexandre Padilha.
Saiba mais...
A vacinação será feita em meninas nessa faixa etária, em intervalos de dois e seis meses entre a segunda e a terceira doses, respectivamente. A administração será feita segundo a autorização dos pais. "A vacina não elimina a necessidade do uso de preservativo e da realização do exame papanicolau. Mesmo protegendo contra a maior proporção dos cânceres, não protege 100%. Essas meninas estarão mais protegidas, nas continuarão realizando o rastreamento [do vírus] com o exame preventivo", explicou o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa. Em 2012, o ministério contabilizou 11 milhões de exames papanicolau realizados.- Queda no número de adolescentes com HPV indica eficácia da vacina nos EUA
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O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que 17,5 mil casos de câncer de colo do útero surjam em 2013 no país. Segundo dados do Ministério da Saúde, são registrados, em média, 685,4 mil casos da doença por ano, que levam a 4,8 mil mortes. Em 2011, foram 5,1 mil óbitos. Anualmente, são descobertos, em média, 18,4 mil casos. De janeiro a março de 2013, foram feitas 5,6 mil internações por esse tipo de câncer, com as quais foram gastos R$ 7,6 milhões. O Ministério da Saúde estima que, entre 2011 e 2014, sejam gastos mais de R$ 382 milhões em investimentos na doença.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que haja 291 milhões de mulheres com o vírus no mundo, das quais 32% estão infectadas pelos tipos 16 e 18. Segundo a OMS, 80% da população feminina sexualmente ativa será infectada.
O vírus é responsável por 100% dos casos de câncer de colo de útero, mas também por 50% dos casos de câncer de pênis, que pode levar à amputação e morte em casos mais graves. Na Austrália e no Canadá, meninos também recebem a vacina
Apesar do avanço, uma questão permanece sem resposta no calendário de imunização brasileiro: por que vacinar apenas meninas se a bula da quadrivalente é indicada para ambos os sexos? De acordo com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia das Doenças Associadas ao HPV, no Brasil e em outros países em desenvolvimento, quase 15% dos cânceres registrados são causados pelo HPV.
O vírus é responsável por 100% dos casos de câncer de colo de útero, mas também por 50% dos casos de câncer de pênis, que pode levar à amputação e morte em casos mais graves. Segundo projeções do Instituto Nacional do Câncer (INCA), são registrados em média cinco mil casos da doença anualmente. Deste total, mil resultam em amputações totais ou parciais, de acordo com o Data/SUS. Nos dados mais recentes do banco de dados do INCA, referentes a 2010, ele também aparece como responsável por 363 mortes.
A presidente da regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM-RJ), Isabella Ballalai, informou ao Saúde Plena (saiba mais aqui) que a Austrália é modelo na implantação da imunização gratuita. Apesar de atualmente a campanha imunizar crianças de ambos os sexos entre 12 e 13 anos, em 2007 e 2008 a campanha contemplou apenas meninas de 13 a 26 anos.
O país acompanha o impacto da campanha de imunização com estudos recorrentes. “Os resultados mostraram que os meninos da mesma faixa etária das meninas vacinadas ficaram protegidos para as verrugas genitais. É o que chamamos de proteção de rebanho: vacinando as meninas, protegemos também os meninos”, explica. Um dado curioso é que os garotos que fazem sexo entre si ficaram sem a proteção. “Os homossexuais não ficaram protegidos e depois da constatação, o país adotou também a vacinação dos meninos”, conclui.
Garganta e sexo oral desprotegido
Estudo brasileiro aponta que 80% dos tumores de garganta têm associação com o HPV
Hoje atingem os mais jovens (entre 35 e 45 anos), que não fumam e nem bebem em excesso, mas praticam sexo oral desprotegido. Outra hipótese é que a incidência esteja aumentando porque a tecnologia que permite o diagnóstico melhorou com o desenvolvimento de mais exames de biologia molecular capazes de detectar o HPV, o que antes não acontecia.
O que já está claro é que o HPV é um vírus muito presente na pele ou em mucosas e afeta homens e mulheres. Cerca de 80% da população já se infectou, mas não tiveram verrugas nem câncer. Há mais de cem subtipos de HPV, entre 30 e 40 deles podem causar doenças, como verrugas genitais e tumores no pênis, ânus, vulva, orofaringe e, o mais comum, no colo do útero.
Os tumores de orofaringe relacionados ao HPV têm, no entanto, um melhor prognóstico em relação àqueles provocados pelo fumo. Eles respondem melhor à quimioterapia e à radioterapia e, muitas vezes, não há necessidade de cirurgia. Mas o calendário de vacinação gratuito do Ministério da Saúde ainda tem espaço para avançar neste sentido.
Com informações da Agência Brasil