Vale tudo para emagrecer?

Não é de hoje que as pessoas estão dispostas a fazer sacrifícios em nome de um belo corpo

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Carolina Samorano - Revista do CB Renata Rusky - Revista do CB Publicação:16/08/2013 09:00Atualização:16/08/2013 09:28
O século 21 chegou com uma nova pirâmide alimentar, mocinhos e vilões inéditos no prato, dietas espetaculares e só uma certeza: o cardápio ideal é individual (Arte: CB/D.A Press)
O século 21 chegou com uma nova pirâmide alimentar, mocinhos e vilões inéditos no prato, dietas espetaculares e só uma certeza: o cardápio ideal é individual
Alimentar-se apenas de proteínas durante semanas até chegar ao peso ideal, cortar o glúten da dieta mesmo sem ser intolerante a ele, comer à vontade por alguns dias e jejuar por outros. Não é de hoje que as pessoas estão dispostas a fazer sacrifícios em nome de um belo corpo. Mas, ao que parece, os sacrifícios têm assumido ares cada vez mais extremistas. Algumas dietas que apareceram nos últimos anos:

Dieta Dukan

  • A dieta, criada pelo médico francês Pierre Dukan, é dessas que prometem muitos quilos em poucos dias e sem passar fome. O livro do francês vendeu mais de 3,5 milhões de cópias na França em 2008 e começou a fazer barulho no resto do mundo quando passou a circular por aí que Kate Middleton (Foto) havia lançado mão do método para perder quilos extras antes do casamento real. Daí o apelido pela qual ficou conhecida: Dieta da Princesa.
  • O método é dividido em quatro fases: ataque, transição, consolidação e estabilização, sendo que as duas primeiras visam o emagrecimento e as duas últimas a manutenção do peso alcançado. O ataque varia de um a cinco dias, de acordo com os quilos a serem eliminados, e consiste basicamente em proteínas: leites, carnes magras, ovo, queijo e iogurte. Depois, saladas e carboidratos vão sendo introduzidos aos poucos.
  • No ano passado, o médico lançou um segundo livro, revisando algumas receitas e recomendando a prática de atividade física diária paralelamente à restrição alimentar. A dieta se assemelha muito à Atkins, criada por um cardiologista norte-americano e sucesso nos anos 1960. A diferença, segundo o próprio francês, é que seu método desaconselha o consumo de proteínas gordas e pouco saudáveis, como o bacon. Desde 2010, a dieta consta na lista das “cinco piores dietas das celebridades que não devem ser seguidas” da Associação Dietética Britânica.

Dieta sem glúten

  • A dieta sem glúten foi alvo de críticas e de bajulações nos últimos anos. Alguns médicos e pesquisadores acreditam que não faria sentido deixar de consumir a proteína sem apresentar alergia a ela, a doença celíaca. O emagrecimento e a sensação de bem-estar promovido por essa dieta, para eles, seriam apenas consequências da troca de produtos gordurosos e industrializados por opções mais saudáveis ou, até mesmo, da descoberta de que se tem, sim, alergia ao glúten.
  • Os pesquisadores e médicos defensores da generalização da dieta sem glúten acreditam que essa substância provoca a desaceleração da digestão. Ela ocorreria em cerca de 18 horas em uma dieta com glúten e em 26 na com a proteína, portanto seria adequado que qualquer um deixasse de consumir produtos com glúten.

Você encara a dieta do astronauta? (Banco de Imagens / sxc.hu)
Você encara a dieta do astronauta?
Dieta do astronauta


  • Já famosa fora do Brasil, essa dieta foi difundida por aqui quando, em 2012, um centro de estética passou a vender comida de astronauta com a promessa de emagrecimento. O alimento desidratado e em saquinhos seriam uma alternativa de refeição balanceada, de baixa caloria, sem conservantes ou sal, rápida de fazer, fácil de transportar e que não exige refrigeração.
  • O garoto propaganda do kit de dieta era o astronauta Marcos Pontes, primeiro brasileiro a ir ao espaço. Muitos especialistas são contra esse tipo de dieta pela pobreza em nutrientes, afinal, elimina totalmente os carboidratos procedentes dos cereais, legumes e frutas.

A dieta do tipo sanguíneo

 

  • No Brasil, essa dieta foi popularizada no ano 2000, pelo médico Sérgio Teixeira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a publicação do livro A dieta que está no sangue (editora Campus). A proposta é diferenciar cardápios de acordo com cada tipo.
  • A dieta já era famosa desde no exterior devido a um outro livro, A dieta do tipo sanguíneo (editora Campus), do norte-americano Peter J. D’Adamo, fez sucesso. De acordo com ela, os alimentos se dividiriam em benéficos — alimentos protetores, capazes de prevenir e tratar doenças e favorecer a perda de peso — neutros — aqueles que serviriam apenas para prover energia — e os nocivos — que desequilibrariam o organismo, desaceleraria o metabolismo, causaria má digestão, alterações na produção da insulina etc.

Dieta do jejum

  • Uma dieta que permite que se coma tudo e na quantidade que quiser — desde que só cinco dias por semana. Os outros dois devem ser de jejum: no máximo, 600 calorias. A dieta pregada no livro The fast diet, lançado este ano por dois jornalistas britânicos e já na lista de mais vendidos da Inglaterra e dos Estados Unidos, ganhou adeptos e deu o que falar. Michael Mosley, um dos autores do livro, é repórter especializado em saúde e diz que se baseou no trabalho de cientistas, segundo os quais o jejum intermitente ajudaria na perda de gordura e criaria sensibilidade à insulina, além de reduzir o colesterol. Em outras palavras, sua invenção seria boa não só para perda de medidas, mas também para redução do diabetes e de riscos de doenças cardiovasculares.
  • Mosley testou sua dieta para um programa do canal britânico BBC e, em três meses, perdeu 8kg e reduziu suas taxas de colesterol e açúcar. A princípio, o Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha alertou que poderia acarretar insônia, falta de ar, ansiedade, irritabilidade e sonolência.
  • No entanto, em maio último, voltou atrás e disse que a Associação Dietética Britânica revisou um estudo de 2011, sugerindo que o jejum intermitente poderia ajudar a reduzir os riscos de alguns tipos de câncer relacionados à obesidade.

Dieta dos pontos

  • A dieta foi criada pelo endocrinologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Alfredo Halpern na década de 1970, mas, até hoje, ele escreve livros a respeito. Nela, o valor calórico dos alimentos é convertido em pontos. Mulheres consomem cerca de 300 por dia, dependendo da massa corporal e da altura, e homens podem chegar até a 400. Cada ponto equivale a 3,6 calorias.
  • As refeições devem incluir carboidratos, gorduras e proteínas. A vantagem dela seria o fato de não ser necessário se privar de certos alimentos calóricos, mas saber que, depois dele, vai ser necessária uma compensação, com alimentos menos calóricos. Com o tempo, o endocrinologista acredita que a pessoa aprende a fazer as escolhas certas.

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Consultores da matéria:
Walter C. Willett, professor de medicina na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e diretor do Departamento de Nutrição Da Escola de Saúde Pública da instituição. Propôs a nova pirâmide alimentar em 2005, revisando a usada até então, de 1992, que, segundo ele, não era eficiente em prevenir doenças crônico-degenerativas. Autor de Coma, beba e seja saudável: O guia da alimentação saudável da escola de medicina de Harvard (Editora Campus, 2005).

José Eduardo Dutra, especializado em nutrição médica clínica nos Estados Unidos e professor titular aposentado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo. Ajudou a implantar no Brasil a especialidade médica de nutrologia, reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina desde 1978.

José Marcos Gontijo Mandarino, pesquisador da Embrapa Soja na área de Utilização e Segurança Alimentar.

Ênio Cardillo, nutrólogo e professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

Anthony Fardet, PhD em nutrição humana, engenheiro agrônomo e cientista pesquisador em Nutrição Preventiva da Unidade de Nutrição do Instituto Nacional Francês de Pesquisa em Agricultura.

Marion Nestle, pesquisadora do Departamento de Nutrição da Universidade de Nova York.

Arnoldo Velloso, nutrólogo, autor de Magnésio — o que ele pode fazer por você (Editora Thesaurus, 2010).

Alan Bojanic, engenheiro agrônomo, representante do Conselho das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) no Brasil.

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