O passado é professor »

Psicóloga recomenda olhar para trás e observar somente os fatos positivos

Quanto ao futuro, o ideal é não criar muitas expectativas

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Paula Takahashi - Estado de Minas Publicação:21/08/2013 15:02Atualização:21/08/2013 10:23
Tânia Xavier Viana encontrou na meditação um caminho para evitar o nervosismo e uma tendência à intolerância (Maria Tereza/EM/D.A Press)
Tânia Xavier Viana encontrou na meditação um caminho para evitar o nervosismo e uma tendência à intolerância
O ambiente ficava carregado com sua presença e o administrador de empresas Alexandre Bacelar Smith, de 36 anos, sabia disso. À frente de duas empresas e com quase 18 horas do dia dedicadas ao trabalho, ele não tinha outra alternativa. “Era agressivo, perdia o controle fácil”, lembra. Em 2010, desenvolveu um quadro de estresse que evoluiu para depressão e o levou a ficar, por duas vezes, de frente com a morte. “Primeiro, tive uma convulsão e parada cardiorrespiratória. Recuperei-me e 20 dias depois dormi ao volante e bati o carro. Tive hemorragia interna e fiquei 15 dias no hospital. Pensei: ‘Deus está me dando sinais. Se não ouvi-lo, ele vai me chamar para conversar pessoalmente’”, conta aos risos.

O peso que carregava e contagiava todos ao seu redor foi, aos poucos, sendo aliviado. “Fechei as duas empresas e abri outro negócio que me garante uma qualidade de vida muito maior. Passei por um processo de separação e fui procurar ajuda”, comenta. A carga que curvava seus ombros e pesava a alma foi deixada para trás. “Carregava uma culpa do passado muito grande. Principalmente por determinadas atitudes que tomei, que magoaram quem eu não queria. Hoje, sei que fiz o melhor que podia com a consciência que tinha naquele momento e, com isso, tirei das costas o maior dos pesos”, garante, com a certeza de que a caminhada ainda é longa.

Para Clarissa Haddad, psicóloga e instrutora da escola Free Mind Cóndor Blanco – voltada para técnicas de desconstrução de crenças e de manejo de estresse –, o passado deve ser encarado como um professor apenas de coisas boas. “Enquanto se olha com algum desconforto para ele, é porque a pessoa ainda não o aceitou. É preciso fechar os ciclos”, explica Clarissa.

Quanto ao futuro, é óbvia a necessidade de programá-lo, mas é ainda mais importante ter cuidado com as expectativas criadas. Não conferir a ele a felicidade atual evita que decisões sejam constantemente adiadas e que as conquistas e prazeres fiquem cada vez mais distantes. “Por isso, nosso trabalho tem duas vias. Primeiro, ter consciência do momento presente, livrando-se da culpa do passado e da ansiedade gerada pelo futuro”, explica Clarissa. “Segundo, ter a capacidade de comandar os pensamentos que nos comandam. Aquela voz que fala que não somos capazes e conduzem nossas atitudes”, acrescenta.

Alexandre Bacelar deu uma guinada profissional depois que percebeu que estava trabalhando 18 horas por dia, no comando de duas empresas (Jair Amaral/EM/D.A Press)
Alexandre Bacelar deu uma guinada profissional depois que percebeu que estava trabalhando 18 horas por dia, no comando de duas empresas
IDEALISMO
O grande desafio fica por conta de trazer a mente para o agora. “E com isso aumentar o estado de leveza e fluidez da vida, já que o sofrimento é causado pela dedicação que damos a algo que não existe, que não corresponde à realidade”, alerta a instrutora da Free Mind. Júlio Fernandes, psicólogo e psicanalista, coordenador do curso de psicologia do Uni-BH, confere grande parte do peso e sofrimento às interpretações que fazemos de pessoas e situações. “Fazemos montagem e idealizamos o outro de uma forma que não corresponde”, pondera. Prato cheio para o acúmulo de ansiedades, frustrações e medos.




A vida como peça de teatro
A auxiliar administrativa Tânia Xavier Viana, de 36, foi buscar na meditação as ferramentas que poderiam auxiliá-la a abandonar pelo caminho os rancores e amarguras acumulados na travessia. “Era conhecida como nervosa, tinha tendência a uma certa impaciência e às vezes era intolerante. Por isso, senti que precisava fazer algo para evitar essas situações que me desgastavam e angustiavam. E descobri na meditação uma forma de administrar melhor minhas emoções”, conta.

Vendo a vida como uma peça de teatro, ela conseguiu encontraroque antes parecia inexistente: mais leveza para encarar o cotidiano. “Vejo as pessoas como personagens dessa grande peça e respeito o outro em seu papel. Aceito as diferenças e com isso vivo com mais serenidade e calma”, afirma. Diante da busca pelo autoconhecimento, ela garante que o que antes era visto como obstáculo hoje é encarado como desafio. “Nossa tendência é transformar um grão de areia em uma montanha. Agora, enfrento de maneira mais clara, sensata e madura os acontecimentos”, garante.

Coordenadora da Organização Brahma Kumaris–meditação baseada no raja yoga – em Belo Horizonte, Patrícia Carvalho fala sobre a possibilidade de mudar a percepção dos problemas. “As pessoas podem, definitivamente, mudar a abordagem da situação e descobrir o melhor método para lidar com elas”, explica. O psicólogo e psicanalista Júlio Fernandes acrescenta: “Numa discussão, por exemplo, se me dou conta de que me senti agredido e não que o outro me agrediu, vou ver a situação de outra forma”, observa.

Levar tudo a ferro e fogo, com extremismo e superficialidade, faz com que se viva no campo da emoção e da reação. “É meio que um toma ládá cá, gerando muito mais desgaste nas relações”, observa. Por isso, doses de serenidade, clareza, entendimento e até de misericórdia pelo próximo são os ingredientes certos para trazer a leveza tão desejada. “A partir do momento em que que se cultivam essas qualidades internas, ganha-se um nível de contentamento, bem-estar e satisfação que independe do meio”, aconselha Patrícia.

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