Candy Crush: você é um viciado?
Game se tornou uma verdadeira mania, principalmente entre usuários de smartphones
Revista do CB - Correio Braziliense
Publicação:05/09/2013 13:01Atualização: 05/09/2013 09:46
Quem tem mais de 30 se lembra (emocionado) de Tetris. Talvez tenha jogado o clássico Genius (juventude, dê um Google). Mesmo os veteranos, porém, não estão imunes ao fascínio multicolorido de Candy Crush. Criado em 2012 pela empresa King, o game era, inicialmente, compatível apenas com dispositivos IOS. Hoje, está disponível para Android e roda em PCs via Facebook ou no site do desenvolvedor.
Além dessa particularidade, existem outros aspectos do jogo desenhados para seduzir os jogadores. Entre eles, podemos citar as “vidas” do jogo. Cada pessoa pode acumular, no máximo, cinco vidas — quando o limite ainda não foi atingido, é oferecida uma oportunidade a cada 30 minutos. “O jogo não é montado dessa forma por acaso. Tem uma lógica que busca cativar o jogador, criando a expectativa e a ansiedade”, explica o psicólogo Valmor Borges.
O especialista ressalta que a fórmula é antiga. Jogos que alternam fases fáceis e difíceis são bem conhecidos por sua capacidade de atrair as pessoas. Valmor explica que isso acontece pela sensação da competitividade, pela curiosidade da próxima fase e pelo prazer de se descobrir capaz de vencer mais um desafio. Um dos fatores que mais envolve o jogador, porém, é o fato de que o jogo está sempre incompleto, impulsionando-o para as próximas fases.
Lívia Lins Cardoso Borges, 23 anos, servidora pública, conta que conheceu o jogo por meio de amigos e hoje se considera “viciada”. “É um caminho sem volta”, brinca. A jovem começou a jogar há dois meses, está na fase 103 e joga cerca de três horas por dia. O também servidor público Gregório Borges Machado, 30, é contra a mania da mulher. “Quando nos mudamos, eu não trouxe meu videogame, acho injusto”, argumenta. A jovem se conecta ao Crush após o expediente, das 19h às 22h. A tolerância de Gregório aumentou quando ele próprio se viu fisgado. A dificuldade agora é compartilhar o celular — o casal passou a competir pelo dispositivo e pelas vidas gastas.
O maior atrito trazido pelo jogo aconteceu antes de uma viagem. Lívia e Gregório estavam indo para o Festival Literário de Paraty, um antigo sonho, e quase perderam o avião porque se atrasaram. Lívia estava jogando e acabou perdendo a noção do tempo. “Eu me estressei porque era a viagem dos nossos sonhos, e ela se distraiu, fiquei bravo!”, conta Gregório, que, além de servidor público, é escritor e apaixonado pela festa literária que mobiliza a cidade fluminense. Hoje, os jovens encontraram o equilíbrio: enquanto Lívia está jogando, Gregório aproveita para escrever.
A psicóloga Izabela Maria de Oliveira Pinheiro explica que não há como determinar um parâmetro único para saber se a pessoa precisa de um “detox”. “Não tem um padrão, mas o jogo é saudável quando não altera os outros aspectos da sua vida”, explica. Ela chama a atenção para o fato de que o aplicativo está integrado ao Facebook, o que o torna rotineiro. “A interação que vem com a rede social aumenta o desejo de jogar, toda hora tem alguém te lembrando”, completa.
Esse foi o caso de Lidiane Martins Silva, 32, que recebeu um convite por meio da rede social e se sentiu atraída pela figura colorida dos doces. No início, achava o jogo infantil, mas conforme o nível de dificuldade foi aumentando, foi se sentindo desafiada, o que a impeliu a continuar. A bancária, porém, garante que nunca gastou dinheiro com o hobby. A economia só é possível com a cumplicidade da família inteira. “Quando acabam as vidas, de imediato, mandamos mensagens e ligamos uns para os outros, para enviar mais. Usamos também a tática de mudar de plataforma, uma vez que o progresso do jogo é sincronizado, mas a quantidade de vidas não tem relação”, explica Lidiane, que joga no celular, no tablet e no notebook.
Lidiane, que está na fase 163, reconhece já ter “passado dos limites”. Como, por exemplo, quando deixou de sair de casa apenas para continuar jogando. Outro aspecto sacrificado foi o sono. “Quando jogo antes de dormir, fecho os olhos e vejo os docinhos explodindo, aí volto a jogar até passar de fase”, confessa.
Os casos de Lidiane e Lívia não são críticos como o da americana Ashley Feinberg, que publicou um relato na internet no qual confessa ter gasto cerca de 230 dólares com itens do game. Valmor Borges explica que, em casos como esse, o jogo geralmente está preenchendo espaços ou aspectos da vida da pessoa que não estão funcionando bem, e alerta para a importância do autoconhecimento e da resolução do problema que trouxe a dependência.
Fique atento aos sinais
Lidiane e a família dividem as "vidas" no game. Na foto, Lidiane (notebook rosa), ao lado da irmã, Liliana, e da sobrinha Alicia, à direita. Atrás, a sobrinha Ana Beatriz e o irmão, José Luiz
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Funciona assim: o jogo é dividido em diversas fases, que, por sua vez, estão divididas em episódios. Para ultrapassar uma etapa, o jogador precisa fazer combinações de três ou mais doces da mesma cor, cumprindo assim o objetivo proposto, que pode ser um número de pontos ou uma missão específica. Já para ir de um episódio a outro, o jogador precisa ter mais paciência. São três as opções disponíveis, pedir que três amigos, conectados via Facebook, enviem tíquetes, cumprir três missões diferentes, uma por dia, ou comprar a sua “passagem” para uma nova etapa do jogo por preços que variam de 99 centavos de dólar a US$ 2,99.- Aplicativo gratuito permite que diabéticos controlem açúcares via smartphone
- Luz branca emitida por tablets e smartphones prejudica a qualidade do sono
- Usuários do Facebook são mais conectados, mas não mais felizes
- Gostar de games não é fruto de bloqueio social e pode ser um ótimo aprendizado
- Paradoxo das redes sociais: comunicação instantânea possibilita individualismo narcisístico
- Equilíbrio emocional pode ser alcançado por meio de jogos interativos
- Videogame pode recuperar a memória em idosos
Além dessa particularidade, existem outros aspectos do jogo desenhados para seduzir os jogadores. Entre eles, podemos citar as “vidas” do jogo. Cada pessoa pode acumular, no máximo, cinco vidas — quando o limite ainda não foi atingido, é oferecida uma oportunidade a cada 30 minutos. “O jogo não é montado dessa forma por acaso. Tem uma lógica que busca cativar o jogador, criando a expectativa e a ansiedade”, explica o psicólogo Valmor Borges.
O especialista ressalta que a fórmula é antiga. Jogos que alternam fases fáceis e difíceis são bem conhecidos por sua capacidade de atrair as pessoas. Valmor explica que isso acontece pela sensação da competitividade, pela curiosidade da próxima fase e pelo prazer de se descobrir capaz de vencer mais um desafio. Um dos fatores que mais envolve o jogador, porém, é o fato de que o jogo está sempre incompleto, impulsionando-o para as próximas fases.
Gregório e Lívia passaram por um grande estresse: quase perderam um voo por conta do joguinho
O maior atrito trazido pelo jogo aconteceu antes de uma viagem. Lívia e Gregório estavam indo para o Festival Literário de Paraty, um antigo sonho, e quase perderam o avião porque se atrasaram. Lívia estava jogando e acabou perdendo a noção do tempo. “Eu me estressei porque era a viagem dos nossos sonhos, e ela se distraiu, fiquei bravo!”, conta Gregório, que, além de servidor público, é escritor e apaixonado pela festa literária que mobiliza a cidade fluminense. Hoje, os jovens encontraram o equilíbrio: enquanto Lívia está jogando, Gregório aproveita para escrever.
A psicóloga Izabela Maria de Oliveira Pinheiro explica que não há como determinar um parâmetro único para saber se a pessoa precisa de um “detox”. “Não tem um padrão, mas o jogo é saudável quando não altera os outros aspectos da sua vida”, explica. Ela chama a atenção para o fato de que o aplicativo está integrado ao Facebook, o que o torna rotineiro. “A interação que vem com a rede social aumenta o desejo de jogar, toda hora tem alguém te lembrando”, completa.
Interface do jogo: é tudo uma questão de agrupar guloseimas
Lidiane, que está na fase 163, reconhece já ter “passado dos limites”. Como, por exemplo, quando deixou de sair de casa apenas para continuar jogando. Outro aspecto sacrificado foi o sono. “Quando jogo antes de dormir, fecho os olhos e vejo os docinhos explodindo, aí volto a jogar até passar de fase”, confessa.
Os casos de Lidiane e Lívia não são críticos como o da americana Ashley Feinberg, que publicou um relato na internet no qual confessa ter gasto cerca de 230 dólares com itens do game. Valmor Borges explica que, em casos como esse, o jogo geralmente está preenchendo espaços ou aspectos da vida da pessoa que não estão funcionando bem, e alerta para a importância do autoconhecimento e da resolução do problema que trouxe a dependência.
Fique atento aos sinais
- Preocupação excessiva em continuar jogando.
- Agressividade e descuido de si mesmo enquanto joga.
- Mudanças emocionais e fisiológicas ao se afastar do jogo.
- Tentativas frustradas de parar de jogar.
- Esconder ou minimizar o tempo que joga de amigos e familiares.
- A atividade começa a prejudicar outros aspectos da vida, como trabalho, relacionamentos e lazer.
Curiosidades coloridas
- A página oficial do Candy Crush no Facebook tem aproximadamente 42 milhões de fãs.
- O perfil do jogo no Twitter tem cerca de 29 mil seguidores.
- Candy Crush é, atualmente, o segundo jogo mais popular na App Store (loja de downloads da Apple).
- O site Distimo, que faz análises de aplicativos e suas rentabilidades, indicou que o Candy Crush foi o aplicativo que mais gerou renda na App Store e na Google Play (loja de aplicativos dos dispositivos Android) em julho passado.
- Existem grupos no Facebook nos quais as pessoas fazem amizade com desconhecidos para obter ajuda no jogo.
- O cantor Psy, autor do hit Gangnam style, lançou o clipe de sua nova música, no qual aparece jogando Candy Crush.
- De acordo com a desenvolvedora do jogo, o Candy Crush tem cerca de 9 milhões de usuários ativos, por dia, no Facebook.
- 69% dos jogadores são mulheres, 30% são homens e 1% não foi possível identifi]car.