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Voluntariado na internet ajuda milhões de pessoas e exige apenas um computador e boa vontade

Pioneiro no país, o portal Voluntários Online foi criado pelo Instituto Voluntários em Ação (IVA) em 2008

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Maria Júlia Lledó - Revista CB Publicação:19/09/2013 15:01Atualização:19/09/2013 15:49
Em 1998, o Instituto Voluntários em Ação (IVA) foi criado para difundir a cultura do voluntariado em Santa Catarina. Até então, uma realidade que não tinha qualquer impacto em Brasília. No entanto, 10 anos depois, com a criação do portal Voluntários Online, pioneiro em trabalho voluntário pela internet, a distância entre Santa Catarina e a capital do país encurtou consideravelmente. O portal abriu as portas para que organizações não governamentais de todo o Brasil aderissem à proposta.

Thalita Gomes usou seus conhecimentos em administração para elaborar projetos para ONGs: o voluntariado acabou direcionando sua carreira  (Janine Moraes/CB/D.A Press)
Thalita Gomes usou seus conhecimentos em administração para elaborar projetos para ONGs: o voluntariado acabou direcionando sua carreira
A partir daí, o instituto viu o potencial da internet para difundir o voluntariado. Em 10 anos de trabalho com voluntários que atuavam de forma presencial, o IVA reuniu 5 mil cadastrados. Um volume bem menor ao que o portal arrebatou: 55 mil cadastrados em cinco anos de atuação na rede. Bastava a conexão da internet em casa, no trabalho ou em qualquer espaço com rede wi-fi para que mais voluntários navegassem na web a fim de ajudar como diagramadores, pesquisadores, advogados ou webdesigners. A empresária Thalita Gomes de Oliveira, de 23 anos, faz parte desse grupo.

Ela ainda era estudante de administração da Universidade Católica de Brasília (UCB) quando soube ser possível trabalhar como voluntária na área em que estudava. Ou seja, ajudaria outras pessoas e colocaria em prática as teorias vistas em sala de aula. Durante seis meses, em 2011, e outros seis, no ano passado, Thalita elaborou projetos e atuou como pesquisadora em duas ONGs: uma de Santa Catarina e outra de São Paulo. No começo, ela lembra, não foi fácil. “Boa vontade não é suficiente. Você tem que organizar seu tempo e também se qualificar. O bom do portal é que ele não só conecta você com outros voluntários como também fornece cursos gratuitos de capacitação. Tudo para incentivar.” Disciplina foi outra coisa que Thalita aprendeu como voluntária na internet. Qualquer meia hora que tinha ao longo do dia, entre trabalhar pela manhã e à tarde na Asa Norte, estudar à noite em Taguatinga, voltar para a casa onde mora, em Ceilândia Norte, ela se dedicava aos projetos com que havia se comprometido.

Hoje, ela dá créditos a essa experiência que a ajudou, inclusive, no fim da faculdade. O trabalho de conclusão de curso na área de políticas públicas estava diretamente relacionado aos assuntos com que lidava a distância, como voluntária, pela internet. Sem nunca ter trabalhado com voluntariado antes, Thalita acredita que se comprometeu ainda mais com os problemas sociais. “Montei uma empresa de webdesign e, no escopo do plano de negócios, inseri a responsabilidade social. Por exemplo, para organizações e projetos sociais, a gente cobra 50% do valor do contrato normal. Também estou fazendo uma pós-graduação em políticas públicas”, reforça.

Além de influenciar a carreira da estudante, o voluntariado on-line exerceu uma mudança importante na vida de Thalita. “Você passa a lidar com problemas que redimensionam a importância dos seus, porque aprendi a lidar com coisas realmente valiosas, a própria vida. Você também fica mais tolerante e aprende a dialogar com as diferenças. Senti uma diferença grande em mim, mas ainda tenho que melhorar muito.”

Fique ligado!
No próximo 24 de setembro, a 2ª edição do Social Good Brasil ocorre na cidade de São Paulo e em livestream (plataforma que permite assistir — e postar — por vídeo na internet). Evento que apresenta soluções para problemas sociais a partir de novas mídias e da tecnologia, o Social Good Brasil surgiu da parceria entre o Instituto Voluntários em Ação (IVA), que gerencia o Portal Voluntários Online (VOL), e o Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICom). Confira mais informações e acompanhe as discussões pela página na internet socialgoodbrasil.org.br

Em casa, Eduarda usa o notebook como ferramenta do bem (Janine Moraes/CB/D.A Press)
Em casa, Eduarda usa o notebook como ferramenta do bem
Primeiro passo

A estudante de ciências políticas na Universidade de Brasília (UnB) Eduarda Oliveira Zoghbi, de 20 anos, alimenta o mesmo sonho que tinha quando criança: mudar o mundo. O mesmo sonho dos ídolos do rock que ilustram a parede do apartamento onde mora com a mãe. Utopia ou não, o fato é que esse otimismo ganhou reforço no dia a dia dessa estudante de classe média assim que ela conheceu o trabalho voluntário pela internet.

Foi em 2012 que, por seis meses, durante uma greve da universidade, decidiu ajudar na revisão e na tradução de textos do português para o inglês. Optou por traduzir e revisar textos da área de ecologia. O trabalho era feito em casa, no notebook, por meio do portal Voluntários Online (www.voluntariosonline.org.br). Feliz com o resultado, Eduarda acredita que o voluntariado digital tem e terá grande apelo entre o público jovem. “Não só porque é mais fácil, mas porque temos muito acesso à internet. ”

Para a diretora do Instituto Voluntários em Ação Ana Maria Warken do Vale Pereira, jovens são responsáveis pelo aumento de voluntários. Na época em que o Voluntários Online foi ao ar, existia apenas o Orkut. Com a chegada do Facebook, a adesão cresceu. “Hoje, mobilizamos mais voluntários nas redes sociais. Esse é um caminho sem volta em que a tecnologia pode reduzir a exclusão social”, vislumbra Ana Maria.

Para evitar fraudes e criar livros
Toda vez que fazemos o download de um filme, série, fotos ou livros na internet, nos deparamos com uma pequena caixa com letras e números distorcidos. A esse recurso usado pelo programa para saber se você é humano ou um robô, dá-se o nome de captcha. Acreditava-se que essa ferramenta só tinha uma utilidade: evitar fraudes e vírus na rede. Até que um dos inventores dessa ferramenta, Luis von Ahn, notou outro potencial a partir dessa ferramenta. Que tal transformar esses 10 segundos de atenção dos usuários da internet para promover uma boa ação? A partir desse ano, sempre que o captcha usado no site for do projeto Recaptcha, ao digitar as letras da caixa, você estará ajudando a digitalizar livros. Como? Há um processo automático que digitaliza obras literárias, mas o computador tem dificuldades em ler algumas palavras de livros mais antigos. Assim, essas palavras que o sistema não compreende são jogadas no captcha. Nós as reconhecemos e ajudamos o mundo a ter mais livros digitais. Todos os dias, 200 milhões de captchas são resolvidos por internautas em todo mundo, o que corresponde a, aproximadamente, 5 milhões de livros por ano. Saiba mais na página:  www.google.com/recaptcha

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