Consumo de peixe pelas mães aumenta inteligência de bebês
DHA, ácido da série ômega-3 presente em pescados, está no leite materno e dá à criança maior capacidade de desenvolvimento cognitivo e visual
Humberto Siqueira - Estado de Minas
Publicação:29/09/2013 07:59Atualização: 29/09/2013 08:10
O leite materno ganha cada dia mais defensores na medicina, diante de uma série de estudos científicos ao redor do planeta confirmando seus benefícios. Alguns deles mostram que um ácido graxo específico presente em sua fórmula promove o desenvolvimento cognitivo e visual na infância, e que perdurará por toda a vida. A substância milagrosa é o DHA (ácido docosahexaenoico), um lipídio da série ômega-3.
A suplementação de DHA é importante para o desenvolvimento cerebral. Isso porque todas as células do nosso organismo apresentam uma membrana que as isola do meio exterior. A membrana celular é constituída por fosfolipídios, colesterol e proteínas. É por isso que se costuma dizer que as membranas celulares, também chamadas de membranas plasmáticas, têm constituição lipoproteica. Os fosfolipídios são constituídos por fósforo, colina, ácido araquidônico (ARA) e DHA e são chamados genericamente de fosfatidilcolina. Como o DHA é demandado também nas membranas das células cerebrais, ele é essencial na formação e manutenção da grande máquina do corpo humano.
ÁGUA FRIA
Para o bebê ter acesso à quantidade ideal do nutriente é necessário que a mãe faça a ingestão de alimentos ricos em DHA durante a gravidez e lactação. “As mães precisam incluir peixes de água fria na alimentação. O peixe branco, mais comum no país, tem menor índice de DHA. Isso porque o DHA não é do peixe, mas de uma alga unicelular presente em águas frias. As plantas desenvolvem camadas de tecido adiposo, ricas em ácidos graxos poli-insaturados essenciais, para os protegerem do frio excessivo.”
Gestantes e mulheres que estão amamentando devem consumir, no mínimo, 200mg de DHA por dia segundo a Comissão Europeia de Pesquisa para Recomendações Lipídicas. Para alcançar essa meta é preciso ingerir duas porções de peixes por semana, mas devem ser evitadas as espécies de águas profundas, como o peixe-espada, tubarão, arenque e o cação. Nas regiões mais profundas há maior quantidade de metais pesados, o que pode contaminar a carne desses peixes.
Segundo Mário Falcão, testes das funções cerebral e visual com crianças que tiveram maior acesso ao DHA mostraram que elas apresentaram um melhor desempenho. “Ao consumir o DHA, a criança consegue expressar o melhor potencial genético do seu desenvolvimento neurológico. Mas ele não faz milagre sozinho. O bebê também precisa ter acesso a outros neuronnutrientes como ferro, zinco e cobre”, esclarece. Entre os testes realizados, pesquisadores mostraram um chocalho colorido para bebês de 9 meses e em seguida o esconderam debaixo de um pano. Entre os bebês com boa ingestão de DHA, todos levantaram o pano para pegar o chocalho, enquanto aqueles com pouco DHA na dieta ficaram dispersos.
O DHA está presente no leite materno e só agora começa a aparecer em fórmulas infantis. Pesquisas sobre os ácidos graxos essenciais e sua ligação com o desenvolvimento infantil mostram que crianças amamentadas no seio apresentam um melhor desenvolvimento comportamental e intelectual.
A suplementação com DHA faz bem também à mamãe. Para aquelas que não consomem peixe, a suplementação de DHA pode ser feita com óleo de peixe. Na Europa e Estados Unidos já existe o óleo feito da própria alga, uma opção para os vegetarianos. Estudos têm demonstrado menor probabilidade na ocorrência de distúrbios neurológicos como o Alzheimer, doenças cardíacas e emocionais, bem como redução nos níveis de colesterol, triglicérides e do risco de formação de coágulos sanguíneos. Associa-se a ele ainda redução nas reações alérgicas. “As grávidas ou lactantes podem tomar o suplemento de DHA uma vez ao dia, de preferência com o estômago vazio, para melhor absorção”, ensina o nutrólogo. “Temos evidências de que ele também ajuda a diminuir o risco de parto prematuro e de depressão pós-parto”, acrescenta.
Alimentos devem ser a fonte
“O DHA é muito importante para qualquer ser humano em qualquer fase da vida. E especialmente para as gestantes e mães que estão amamentando. O DHA no feto e até os 5 anos influencia positivamente no desenvolvimento do sistema nervoso e da retina. Há vários trabalhos mostrando que a presença desse lipídio resulta em melhor desenvolvimento cognitivo, apresentando mais cedo evoluções na fala, no andar e em outras habilidades da criança. Mas acredito que as mães devam se esforçar para obter o DHA de alimentos e não de suplementos. O DHA em pílulas pode, por exemplo, perder sua eficácia se exposto à claridade. Além dos peixes, pode ser obtido em castanhas, amêndoas e nozes.”
Virgínia Resende Weffort professora da universidade federal do triângulo mineiro
Baixo índice no país é preocupante
Dados do Ministério da Pesca indicam que o consumo anual de peixe no Brasil é de nove quilos por habitante, bem abaixo do mínimo recomendado pela OMS, de 12 quilos por habitante. “Até os 5 anos de idade o cérebro atinge 85% do seu tamanho final. É nessa fase que a alimentação, os estímulos e o carinho construirão as bases para um desempenho neurológico saudável que se refletirá por toda a vida”, reforça o pediatra e nutrólogo Mário Falcão. Estudos também mostraram que recém-nascidos prematuros que não receberam quantidades adequadas de DHA podem apresentar um subdesenvolvimento da retina, se comparados aos que receberam quantidades recomendadas.
Na contramão de sua importância, um estudo brasileiro publicado na última edição do Jornal de Pediatria analisou o leite humano de um grupo de mães do interior de São Paulo e mostrou que o líquido continha um dos menores teores de DHA no mundo, apenas 0,09%, enquanto a média preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 0,3%.
“Isso tem relação com a alimentação dos brasileiros. A principal fonte desse nutriente são peixes marinhos, como a sardinha, atum, cavala, salmão e truta. Mas sabemos que nas regiões interioranas o consumo desses alimentos é ainda mais limitado”, pondera Falcão. “Entre os nutrientes presentes no leite humano, no Brasil, o baixo índice de DHA é muito preocupante e pode refletir em déficit neurológico e visual”, completa o médico.
LAÇO IMPORTANTE
A amamentação é um vínculo insubstituível entre mãe e filho que protege a criança contra várias infecções e previne a mortalidade infantil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o leite materno é um alimento completo e deve ser exclusivo durante os primeiros seis meses de vida por conter anticorpos, fatores imunomoduladores e anti-inflamatórios que não podem ser reproduzidos. O aleitamento materno também apresenta benefícios em longo prazo na diminuição dos riscos de doenças crônicas decorrentes da alimentação inadequada, como obesidade e hipertensão.
Por mais de uma década cientistas de todo o mundo têm demonstrado os benefícios desse lipídio durante a gestação e a amamentação
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Por mais de uma década cientistas de todo o mundo têm demonstrado os benefícios desse lipídio durante a gestação e a amamentação. “O DHA é um nutriente importante para o desenvolvimento do sistema nervoso e para a retina. Já nas primeiras semanas de formação do feto, ele participa da construção dessas estruturas, que continuarão se desenvolvendo durante os primeiros anos de vida”, explica Mário Cícero Falcão, pediatra, nutrólogo e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).- Comer peixe durante a gravidez pode evitar a ansiedade
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A suplementação de DHA é importante para o desenvolvimento cerebral. Isso porque todas as células do nosso organismo apresentam uma membrana que as isola do meio exterior. A membrana celular é constituída por fosfolipídios, colesterol e proteínas. É por isso que se costuma dizer que as membranas celulares, também chamadas de membranas plasmáticas, têm constituição lipoproteica. Os fosfolipídios são constituídos por fósforo, colina, ácido araquidônico (ARA) e DHA e são chamados genericamente de fosfatidilcolina. Como o DHA é demandado também nas membranas das células cerebrais, ele é essencial na formação e manutenção da grande máquina do corpo humano.
ÁGUA FRIA
Para o bebê ter acesso à quantidade ideal do nutriente é necessário que a mãe faça a ingestão de alimentos ricos em DHA durante a gravidez e lactação. “As mães precisam incluir peixes de água fria na alimentação. O peixe branco, mais comum no país, tem menor índice de DHA. Isso porque o DHA não é do peixe, mas de uma alga unicelular presente em águas frias. As plantas desenvolvem camadas de tecido adiposo, ricas em ácidos graxos poli-insaturados essenciais, para os protegerem do frio excessivo.”
Gestantes e mulheres que estão amamentando devem consumir, no mínimo, 200mg de DHA por dia segundo a Comissão Europeia de Pesquisa para Recomendações Lipídicas. Para alcançar essa meta é preciso ingerir duas porções de peixes por semana, mas devem ser evitadas as espécies de águas profundas, como o peixe-espada, tubarão, arenque e o cação. Nas regiões mais profundas há maior quantidade de metais pesados, o que pode contaminar a carne desses peixes.
Segundo Mário Falcão, testes das funções cerebral e visual com crianças que tiveram maior acesso ao DHA mostraram que elas apresentaram um melhor desempenho. “Ao consumir o DHA, a criança consegue expressar o melhor potencial genético do seu desenvolvimento neurológico. Mas ele não faz milagre sozinho. O bebê também precisa ter acesso a outros neuronnutrientes como ferro, zinco e cobre”, esclarece. Entre os testes realizados, pesquisadores mostraram um chocalho colorido para bebês de 9 meses e em seguida o esconderam debaixo de um pano. Entre os bebês com boa ingestão de DHA, todos levantaram o pano para pegar o chocalho, enquanto aqueles com pouco DHA na dieta ficaram dispersos.
O DHA está presente no leite materno e só agora começa a aparecer em fórmulas infantis. Pesquisas sobre os ácidos graxos essenciais e sua ligação com o desenvolvimento infantil mostram que crianças amamentadas no seio apresentam um melhor desenvolvimento comportamental e intelectual
A suplementação com DHA faz bem também à mamãe. Para aquelas que não consomem peixe, a suplementação de DHA pode ser feita com óleo de peixe. Na Europa e Estados Unidos já existe o óleo feito da própria alga, uma opção para os vegetarianos. Estudos têm demonstrado menor probabilidade na ocorrência de distúrbios neurológicos como o Alzheimer, doenças cardíacas e emocionais, bem como redução nos níveis de colesterol, triglicérides e do risco de formação de coágulos sanguíneos. Associa-se a ele ainda redução nas reações alérgicas. “As grávidas ou lactantes podem tomar o suplemento de DHA uma vez ao dia, de preferência com o estômago vazio, para melhor absorção”, ensina o nutrólogo. “Temos evidências de que ele também ajuda a diminuir o risco de parto prematuro e de depressão pós-parto”, acrescenta.
Alimentos devem ser a fonte
“O DHA é muito importante para qualquer ser humano em qualquer fase da vida. E especialmente para as gestantes e mães que estão amamentando. O DHA no feto e até os 5 anos influencia positivamente no desenvolvimento do sistema nervoso e da retina. Há vários trabalhos mostrando que a presença desse lipídio resulta em melhor desenvolvimento cognitivo, apresentando mais cedo evoluções na fala, no andar e em outras habilidades da criança. Mas acredito que as mães devam se esforçar para obter o DHA de alimentos e não de suplementos. O DHA em pílulas pode, por exemplo, perder sua eficácia se exposto à claridade. Além dos peixes, pode ser obtido em castanhas, amêndoas e nozes.”
Virgínia Resende Weffort professora da universidade federal do triângulo mineiro
Segundo o Ministério da Pesca, o consumo anual de peixe no Brasil é de nove quilos por habitante, bem abaixo do mínimo recomendado pela OMS, de 12 quilos por habitante
Dados do Ministério da Pesca indicam que o consumo anual de peixe no Brasil é de nove quilos por habitante, bem abaixo do mínimo recomendado pela OMS, de 12 quilos por habitante. “Até os 5 anos de idade o cérebro atinge 85% do seu tamanho final. É nessa fase que a alimentação, os estímulos e o carinho construirão as bases para um desempenho neurológico saudável que se refletirá por toda a vida”, reforça o pediatra e nutrólogo Mário Falcão. Estudos também mostraram que recém-nascidos prematuros que não receberam quantidades adequadas de DHA podem apresentar um subdesenvolvimento da retina, se comparados aos que receberam quantidades recomendadas.
Na contramão de sua importância, um estudo brasileiro publicado na última edição do Jornal de Pediatria analisou o leite humano de um grupo de mães do interior de São Paulo e mostrou que o líquido continha um dos menores teores de DHA no mundo, apenas 0,09%, enquanto a média preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 0,3%.
“Isso tem relação com a alimentação dos brasileiros. A principal fonte desse nutriente são peixes marinhos, como a sardinha, atum, cavala, salmão e truta. Mas sabemos que nas regiões interioranas o consumo desses alimentos é ainda mais limitado”, pondera Falcão. “Entre os nutrientes presentes no leite humano, no Brasil, o baixo índice de DHA é muito preocupante e pode refletir em déficit neurológico e visual”, completa o médico.
LAÇO IMPORTANTE
A amamentação é um vínculo insubstituível entre mãe e filho que protege a criança contra várias infecções e previne a mortalidade infantil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o leite materno é um alimento completo e deve ser exclusivo durante os primeiros seis meses de vida por conter anticorpos, fatores imunomoduladores e anti-inflamatórios que não podem ser reproduzidos. O aleitamento materno também apresenta benefícios em longo prazo na diminuição dos riscos de doenças crônicas decorrentes da alimentação inadequada, como obesidade e hipertensão.