É hora dos pais aprenderem a brincar; participação é essencial no desenvolvimento cognitivo dos pequenos

Jogos educativos e pedagógicos auxiliam no desenvolvimento sensorial, motor e cognitivo das crianças, mas não fazem isso sozinhos. Pais e professores são parte essencial no processo e precisam estar atentos para não transformar a brincadeira em avaliação. A vontade de brincar deve partir tanto das crianças quanto dos responsáveis pela sua educação.

Diminuir Fonte Aumentar Fonte Imprimir Corrigir Notícia Enviar
Alessandra Alves - Saúde Plena Publicação:04/10/2013 09:15Atualização:04/10/2013 12:37
No núcleo infantil da Escola Balão Vermelho o eixo estruturante da educação são os jogos e as brincadeiras (Arquivo/Escola Balão Vermelho)
No núcleo infantil da Escola Balão Vermelho o eixo estruturante da educação são os jogos e as brincadeiras

Jogos de memória, encaixe, construção, quebra-cabeça, pergunta e resposta, formas geométricas, faz de conta... Todas estas brincadeiras estão no topo da lista de preferência de pais e educadores. De fato, há muito tempo que pedagogos e psicólogos recomendam atividades que despertem na criança curiosidade, imaginação, poder de decisão, respeito pelas regras, enfim, brincadeiras que auxiliem no desenvolvimento cognitivo dos pequenos. A questão que hoje se coloca como desafio é: como utilizar estes jogos de forma que eles sejam atraentes e divertidos para a criança ao mesmo tempo em que colaboram com o processo educativo?

”Comprar um jogo que na caixa esteja escrito educativo não é suficiente”, afirma a pedagoga e coordenadora do curso de Pedagogia da Fumec, Alessandra Latalisa. Para ela, pais e professores devem ter atenção em como utilizam os jogos para interagir com a criança. “Não adianta, por exemplo, propor um jogo de cartas se o objetivo for descobrir se a criança tem agilidade para fazer conta de cabeça”, afirma. “Neste caso, o caráter lúdico desaparece, a criança perde o interesse e corre o risco de ficar exposta”.

Ela explica que diante da proposta de um jogo, as crianças não agem com outra finalidade senão a da brincadeira. Mergulham com inocência em qualquer tipo de atividade que seja apresentada como forma de diversão. Neste caso, além de se sentirem trapaceadas ao descobrir que existe um outro objetivo, elas correm o risco de sentirem-se envergonhadas ou expostas diante dos colegas, caso sejam “reprovadas” no teste.

O pequeno Pedro abraçado ao seu boneco Toy Story (Arquivo pessoal)
O pequeno Pedro abraçado ao seu boneco Toy Story
O pequeno Pedro, de 3 anos, acabou de ganhar da mãe um jogo de alfabeto. Os pais dele, a fisioterapeuta Emiliana Alcântara e o administrador Cristiano Meireles, decidiram comprar o brinquedo depois que viram o interesse do menino pelo assunto. “Percebi que ele assistia com freqüência um programa na televisão que repete o alfabeto em inglês. Ele começou a repetir pela casa o som das letras que ouvia. Foi então que decidimos: se ele gosta do programa em inglês, por que não ensina-lo o alfabeto em português?”, explica Emiliana.

Neste caso, a pedagoga lembra que mais importante que as propriedades do jogo são as possibilidades que os pais podem encontrar para interagir com o filho. No caso do Pedro, que já se mostrou interessado em aprender o alfabeto, é importante que os pais estejam presentes para dividir essa nova experiência com ele. Um dos motivos para a fuga das crianças desta geração para os jogos eletrônicos, por exemplo, é a solidão.

Jogos eletrônicos


“Jogos eletrônicos são uma brincadeira solitária”, afirma Latalisa. “A criança brinca com ela mesma. Há, na maioria das vezes, uma grande carência dos pais”. A opção por estes jogos, na opinião da pedagoga, é mais comum em famílias onde ambos os pais são atarefados e não têm tempo para brincar com os filhos. Mas há salvação.

“Em primeiro lugar os pais tem que pensar no tempo que dedicam aos seus filhos. É preciso criar um horário para brincar com ele”, diz. Encontrando o ingrediente principal, que é o tempo, as brincadeiras, segundo a pedagoga, podem ser diversas. Até mesmo, eletrônicas. Um jogo de videogame, por exemplo, pode ser muito mais divertido se jogado em dupla. Um jogo no iPad ou no aparelho celular fica mais interessante se for criada uma gincana em família.

O Pedro, apesar da pouca idade, já sabe mexer no iPad do pai. Ele é apaixonado pelo desenho Toy Story, e por isso, Cristiano e Emliana instalaram um jogo de memória do herói da Disney no aparelho. “Uma vez por dia deixamos ele brincar por no máximo 30 minutos”. Para o casal, dessa forma, o filho aprende a noção de limite, além de associar um gosto pessoal a um jogo desafiador.

O papel da escola

Na Escola Estadual Leon Renault, no bairro Gameleira, em Belo Horizonte, a programação para a Semana das Crianças inclui um resgate aos jogos tradicionais. O grupo de ensino optou pelo programa no intuito de despertar o gosto por atividades ao ar livre e em grupo, além de apresentar às crianças brincadeiras que ficaram esquecidas, como as corridas de saco, a corda, o elástico, os jogos com bola, além das oficinas de teatro, pintura e literatura.

O projeto é voltado para os alunos do primeiro ao quinto ano e, apesar das boas expectativas, tem gerado alguma desconfiança por parte dos educadores. “Estamos ansiosos para ver se haverá adesão de todas as turmas. As atividades serão livres, sem nenhuma obrigação, por um isso é um desafio tão grande. Será gratificante se conseguirmos tirar os olhos de um aluno do celular e traze-lo para as atividades”, afirma uma das coordenadoras da escola, Margareth Marra.

Já no núcleo infantil da Escola Balão Vermelho, o eixo estruturante são os jogos e as brincadeiras. A escola trabalha principalmente a arte, a cultura, a cidadania e a ecologia e usa a combinação professor x aluno para atingir seus objetivos. A professora do 2º período, Bárbara Coura Mol, diz que os jogos são uma excelente forma de agregar diversão e conhecimento. Segundo a educadora, é essencial que as crianças aprendam brincando. “Tudo depende da postura do professor. É preciso tornar o jogo interessante para o aluno”, afirma. “Nos jogos de matemática, por exemplo, eles entram na brincadeira por pura diversão, não entendem a atividade como um dever”.

A professora Bárbara Coura Mol brinca com a turma do 2º período (Arquivo/Escola Balão Vermelho)
A professora Bárbara Coura Mol brinca com a turma do 2º período


As crianças brincam com o jogo Aposta Secreta, uma criação da professora Bárbara Coura Mol (Arquivo/Escola Balão Vermelho)
As crianças brincam com o jogo Aposta Secreta, uma criação da professora Bárbara Coura Mol
Para evitar o método tradicional de aprendizado dos números, Bárbara criou um novo jogo. O “Aposta Secreta” desafia as crianças a adivinharem as apostas dos colegas. Funciona da seguinte forma: cada aluno escreve sete vezes cada número de 1 a 9 em um papel. Depois, cada participante circula cinco números quaisquer, que representarão sua aposta. Em seguida, eles tem que adivinhar quais números estão escritos nas cartelas dos colegas. Dessa forma, o jogo evita a assimilação por cópia, além de incentivar o raciocínio e a memória. "Neste jogo, a criança aprende a respeitar as regras, a esperar sua vez de jogar, a respeitar as ideias do próximo, a elaborar estratégias e a lidar com o sucesso e a derrota", completa a professora.

Inventar novas brincadeiras, aliás, é uma excelente forma de estimular não só a criatividade das crianças como também a dos responsáveis pela sua educação. Para Alessandra, “não existe nada melhor que construir brinquedos com seus filhos. Pode ser um papagaio, um carrinho de rolimã, um jogo... Que filho não vai gostar de amarrar uma corda na árvore de uma praça e brincar? Vai aparecer uma fila de crianças”.

COMENTÁRIOS

Os comentários são de responsabilidade exclusiva dos autores.