As crianças sabem o segredo da felicidade?
Saiba quais são os pontos mais críticos para tornar uma criança mais feliz e veja 10 coisas que os adultos precisam reaprender
Letícia Orlandi - Saúde Plena
Publicação:05/09/2013 09:00Atualização: 04/09/2013 15:47
Adulto: Pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma. Essa é a definição de Andrés Felipe Bedoya, 8 anos, no livro 'Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças', que ficou conhecido nas redes sociais como 'dicionário das crianças colombianas'. Por que será, que quando crescemos, perdemos a capacidade de ver a felicidade em coisas mais simples? O adulto tem preocupações e responsabilidades, mas será que precisa esquecer totalmente como era sua postura quando criança?
A psicanalista Cristina Silveira ressalta que as posturas de uma criança saudável e feliz – as quais podemos tentar trazer mais para o nosso dia a dia apressado e cheio de preocupações – são fruto de um contexto, cujos principais pontos são:
-a brincadeira: uma criança que não brinca se torna um adulto infantilizado. É na brincadeira que a criança consegue vencer seus limites e vivencia experiências que vão além de sua idade e realidade, fazendo com que ela desenvolva sua consciência. Na brincadeira, podemos propor desafios e questões que façam a criança refletir, propor soluções e resolver problemas. Brincando, elas podem desenvolver sua imaginação, além de criar e respeitar regras de organização e convivência, que serão, no futuro, utilizadas para a compreensão da realidade. A brincadeira permite também o desenvolvimento do autoconhecimento, elevando a autoestima, propiciando o desenvolvimento físico-motor, do raciocínio e da inteligência, propiciando assim uma adolescência e vida adulta saudável.
-ambiente doméstico equilibrado, sem abuso: segundo pesquisas, as crianças que mais sofrem agressão física estão na faixa dos 3 aos 15 anos. Elas são vítimas de várias formas de abusos: físicos, sexuais, psicológicos e negligências. Segundo Cristina, não se sabe, na verdade, qual dessas categorias é a mais danosa para a saúde psíquica da criança e do adolescente. Esses abusos podem ser causadores de muitos transtornos, que podem se manifestar de várias formas, em qualquer idade. Podem aparecer como depressão, ansiedade, pensamentos suicidas ou estresse pós-traumático. Mas podem também expressar-se externamente como agressão, impulsividade, delinquência, hiperatividade ou abuso de substâncias. Uma condição psiquiátrica fortemente associada a maus tratos na infância é o chamado distúrbio de personalidade limítrofe (borderline personality disorder).
A psicanalista lembra que os maus tratos na infância não provocam apenas traumas psicológicos e transtornos psiquiátricos. “Podem provocar danos permanentes no desenvolvimento das funções cerebrais, já que os hemisférios esquerdos de pessoas vitimadas pela violência desenvolvem-se significativamente menos do que deveriam. Pesquisas americanas recentes comprovam que, como o abuso infantil ocorre durante o período formativo crítico, em que o cérebro está sendo fisicamente esculpido pela experiência, o impacto do extremo estresse pode deixar uma marca incurável em sua estrutura e função. Tais abusos induzem a uma cascata de efeitos moleculares e neurobiológicos, que interferem na regulagem da emoção e da memória. Ou seja: podem desencadear doenças psiquiátricas e mesmo neurológicas graves.
-educação que privilegia a independência: Cristina lembra uma citação muito popular na internet (que já foi até atribuída ao escritor português José Saramago, embora não seja dele): "Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isso mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo".
Segundo a psicanalista, quando se é mãe, concordar com essa colocação e praticar o desapego em relação aos nossos filhos parece impossível. Criar os filhos para o mundo? Mas como? “Contudo, essa é a maior prova de amor que uma mãe pode oferecer ao seu filho. E é necessário.
O que deve ser feito por nós, mães, é, sem dúvida, oferecer uma 'moldura psíquica' e subsídios aprendidos através do modelo, para que a criança tome as suas próprias decisões. Conversar com ela sobre as suas dificuldades e tentar apoiá-la a achar formas de resolver os seus próprios conflitos, sem ficar tentada a interferir e resolver o problema por ela”, explica Cristina.
Pode ser duro assistir às dificuldades que surgem na vida de seu filho, mas, se elas não existirem, ele vai deixar de desenvolver certas habilidades e se fortificar para as lutas cotidianas do mundo real. Momentos de solidão e de tensão são imprescindíveis para as crianças aprenderem a pensar por si próprias e se tornarem adultos independentes e conscientes. Para enfrentar o mundo é preciso experimentar, mesmo que se erre algumas vezes. Sem isso, se tornarão adultos inseguros, incapazes às vezes de terem sucesso na vida pessoal e profissional”, completa a especialista.
-criança que é tratada como criança: vestir uma criança e produzi-la como adulto é deslocá-la da fase em que ela deveria estar e jogá-la no outro universo. “Munir uma criança de sexualidade é lhe dar uma arma carregada que ela não saberá usar, até porque passa longe dela o sentido erótico por trás do que ela veste ou usa”, explica Cristina. A maturidade psicológica certamente não acompanhará o seu comportamento e sua aparência adultizada. Tal fato pode causar transtornos ansiosos e de pânico, que podem culminar em depressão. Ou então, podem repercutir na adolescência, através de comportamentos agressivos e antissociais, ou o contrário, gerando adolescentes inseguros e infantilizados, podendo culminar no uso de drogas. Pulando “fases”, a criança não amadurece psiquicamente o suficiente para lidar com as transformações que virão.
Anda logo, não temos tempo para isso!
Uma pessoa que aprendeu a virar o jogo com a própria filha foi a professora Rachel Macy Stafford. No texto “O dia em que parei de falar 'ande logo'”, que fez muito sucesso nas redes sociais. Rachel conta sua saga com a filha de seis anos – uma criança tranquila, sem preocupações, do tipo que desvia o caminho para admirar as flores e 'conversar' com os cachorros no caminho – até o momento em que ela percebeu que deveria parar de apressar a menina, falar que 'não temos tempo para isso', 'vamos nos atrasar' e deixá-la curtir mais cada momento. Clique aqui para ler a versão original em inglês.
Quando chegou à conclusão que dizia mais “anda logo” do que “eu te amo”, Rachel aprendeu a separar mais tempo para cada coisa e a observar mais as coisas simples. Viver o hoje. “Nunca mais direi: 'não temos tempo pra isso', pois é basicamente dizer que não se tem tempo para viver. Eu aprendi com a especialista mundial na arte de viver feliz”, concluiu a professora.
A psicanalista Cristina Silveira ressalta que as posturas de uma criança saudável e feliz – as quais podemos tentar trazer mais para o nosso dia a dia apressado e cheio de preocupações – são fruto de um contexto, cujos principais pontos são:
-a brincadeira: uma criança que não brinca se torna um adulto infantilizado. É na brincadeira que a criança consegue vencer seus limites e vivencia experiências que vão além de sua idade e realidade, fazendo com que ela desenvolva sua consciência. Na brincadeira, podemos propor desafios e questões que façam a criança refletir, propor soluções e resolver problemas. Brincando, elas podem desenvolver sua imaginação, além de criar e respeitar regras de organização e convivência, que serão, no futuro, utilizadas para a compreensão da realidade. A brincadeira permite também o desenvolvimento do autoconhecimento, elevando a autoestima, propiciando o desenvolvimento físico-motor, do raciocínio e da inteligência, propiciando assim uma adolescência e vida adulta saudável.
-ambiente doméstico equilibrado, sem abuso: segundo pesquisas, as crianças que mais sofrem agressão física estão na faixa dos 3 aos 15 anos. Elas são vítimas de várias formas de abusos: físicos, sexuais, psicológicos e negligências. Segundo Cristina, não se sabe, na verdade, qual dessas categorias é a mais danosa para a saúde psíquica da criança e do adolescente. Esses abusos podem ser causadores de muitos transtornos, que podem se manifestar de várias formas, em qualquer idade. Podem aparecer como depressão, ansiedade, pensamentos suicidas ou estresse pós-traumático. Mas podem também expressar-se externamente como agressão, impulsividade, delinquência, hiperatividade ou abuso de substâncias. Uma condição psiquiátrica fortemente associada a maus tratos na infância é o chamado distúrbio de personalidade limítrofe (borderline personality disorder).
A psicanalista lembra que os maus tratos na infância não provocam apenas traumas psicológicos e transtornos psiquiátricos. “Podem provocar danos permanentes no desenvolvimento das funções cerebrais, já que os hemisférios esquerdos de pessoas vitimadas pela violência desenvolvem-se significativamente menos do que deveriam. Pesquisas americanas recentes comprovam que, como o abuso infantil ocorre durante o período formativo crítico, em que o cérebro está sendo fisicamente esculpido pela experiência, o impacto do extremo estresse pode deixar uma marca incurável em sua estrutura e função. Tais abusos induzem a uma cascata de efeitos moleculares e neurobiológicos, que interferem na regulagem da emoção e da memória. Ou seja: podem desencadear doenças psiquiátricas e mesmo neurológicas graves.
-educação que privilegia a independência: Cristina lembra uma citação muito popular na internet (que já foi até atribuída ao escritor português José Saramago, embora não seja dele): "Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isso mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo".
Segundo a psicanalista, quando se é mãe, concordar com essa colocação e praticar o desapego em relação aos nossos filhos parece impossível. Criar os filhos para o mundo? Mas como? “Contudo, essa é a maior prova de amor que uma mãe pode oferecer ao seu filho. E é necessário.
O que deve ser feito por nós, mães, é, sem dúvida, oferecer uma 'moldura psíquica' e subsídios aprendidos através do modelo, para que a criança tome as suas próprias decisões. Conversar com ela sobre as suas dificuldades e tentar apoiá-la a achar formas de resolver os seus próprios conflitos, sem ficar tentada a interferir e resolver o problema por ela”, explica Cristina.
Saiba mais...
É claro que quando você fica sabendo de uma situação de preconceito, uma amizade não correspondida ou até uma tirada de sarro com uma pitada de maldade, tão comum nas crianças, você se pergunta: “Será que eu me intrometo?”. “O coração vai mandar você fazer qualquer coisa para a história terminar logo. Mas a razão vai levar você a outro destino: é na experiência que ele aprende a se defender. E assim você estará cuidando para a formação do caráter de seu filho.-
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Pode ser duro assistir às dificuldades que surgem na vida de seu filho, mas, se elas não existirem, ele vai deixar de desenvolver certas habilidades e se fortificar para as lutas cotidianas do mundo real. Momentos de solidão e de tensão são imprescindíveis para as crianças aprenderem a pensar por si próprias e se tornarem adultos independentes e conscientes. Para enfrentar o mundo é preciso experimentar, mesmo que se erre algumas vezes. Sem isso, se tornarão adultos inseguros, incapazes às vezes de terem sucesso na vida pessoal e profissional”, completa a especialista.
-criança que é tratada como criança: vestir uma criança e produzi-la como adulto é deslocá-la da fase em que ela deveria estar e jogá-la no outro universo. “Munir uma criança de sexualidade é lhe dar uma arma carregada que ela não saberá usar, até porque passa longe dela o sentido erótico por trás do que ela veste ou usa”, explica Cristina. A maturidade psicológica certamente não acompanhará o seu comportamento e sua aparência adultizada. Tal fato pode causar transtornos ansiosos e de pânico, que podem culminar em depressão. Ou então, podem repercutir na adolescência, através de comportamentos agressivos e antissociais, ou o contrário, gerando adolescentes inseguros e infantilizados, podendo culminar no uso de drogas. Pulando “fases”, a criança não amadurece psiquicamente o suficiente para lidar com as transformações que virão.
Anda logo, não temos tempo para isso!
Uma pessoa que aprendeu a virar o jogo com a própria filha foi a professora Rachel Macy Stafford. No texto “O dia em que parei de falar 'ande logo'”, que fez muito sucesso nas redes sociais. Rachel conta sua saga com a filha de seis anos – uma criança tranquila, sem preocupações, do tipo que desvia o caminho para admirar as flores e 'conversar' com os cachorros no caminho – até o momento em que ela percebeu que deveria parar de apressar a menina, falar que 'não temos tempo para isso', 'vamos nos atrasar' e deixá-la curtir mais cada momento. Clique aqui para ler a versão original em inglês.
Quando chegou à conclusão que dizia mais “anda logo” do que “eu te amo”, Rachel aprendeu a separar mais tempo para cada coisa e a observar mais as coisas simples. Viver o hoje. “Nunca mais direi: 'não temos tempo pra isso', pois é basicamente dizer que não se tem tempo para viver. Eu aprendi com a especialista mundial na arte de viver feliz”, concluiu a professora.
Não é tarde demais. Confira na galeria de fotos dez dicas preciosas – inspiradas em crianças pequenas, com menos de 5 anos - para você recuperar estratégias simples e ser mais feliz.