Neuralgia do trigêmeo provoca dor insuportável e é confundida com enxaqueca e problema nos dentes
Doença afeta até 5% das pessoas que têm dor de cabeça
Elian Guimarães
Publicação:10/11/2013 13:00Atualização: 10/11/2013 13:16
A dor de dente é uma de suas manifestações, mas a neuralgia do trigêmeo pode atingir outros pontos da região anterior da cabeça, como testa, maxilar e mandíbula. Trata-se de uma dor que beira o insuportável e, apesar da curta duração, pode se repetir ao longo do dia ou a pessoa convive com o problema por muitos anos. “A doença é caracterizada por qualquer dor no nervo que atinge a face em área que vai desde o queixo até a testa. Esse nervo trigêmeo sai de dentro do tronco encefálico – região muito importante do corpo, pois liga o cérebro à medula e é dessa área que se propagam todos os nervos cranianos. São muitos nervos em região muito pequena e com muitas estruturas importantes”, diz a médica, que atua no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG).
Esse nervo é conhecido como trigêmeo justamente por estar distribuído por três regiões da face: a parte oftálmica, a maxilar e a mandibular. Quando o nervo encosta em alguma artéria da região, que tenha uma parede mais espessa, ou mesmo por dilatação dessa artéria, pode surgir a dor. “Essa proximidade entre nervo e artéria provoca sensibilidade e aumenta a pressão no local, gerando então dor intensa, como se fosse uma forte dor de dente. Quando ocorre na parte oftálmica, às vezes pode ser confundida com outras dores cranianas”, acrescenta Elizabeth.
O tratamento da neuralgia do trigêmeo, segundo especialistas, pode ir de medicação, passando por infiltrações diretas no local e até mesmo intervenção cirúrgica. Segundo Elizabeth, os remédios atuam diretamente na membrana do nervo, tornando-o menos sensível. Eles são anticonvulsivantes desenvolvidos com a intenção de coibir a dor do nervo. “Já a intervenção cirúrgica envolve mais riscos, com a abertura do crânio. Se for esse o procedimento acordado entre médico e paciente, geralmente coloca-se uma película entre o nervo e a artéria afetados para desfazer a pressão”, explica. A neurologista recomenda que o paciente passe por um exame rigoroso, precisando a origem da dor, para que se possa decidir sobre o melhor procedimento.
De acordo com o neurocirurgião coordenador do Centro de Dor do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, Cláudio Fernandes Corrêa, a cura ou alívio por tempo mais prolongado, na maioria das vezes, ocorre por meio da cirurgia. Segundo o médico, os medicamentos considerados mais eficazes para o tratamento – cujos princípios ativos são o carbamazepin e o oxcarbamazepin)–, em doses elevadas, podem afetar a parte cognitiva do paciente e é preciso monitorar o sangue onde pode ocorrer diminuição dos leucócitos. “São efeitos colaterais consideráveis e há também aquelas pessoas que não toleram a medicação, pois apresentam algum tipo de alergia”, diz ele, ressaltando que nesses casos, a cirurgia é um caminho.
Especialistas são unânimes em dizer que não há tratamento preventivo, mas pode haver um controle adequado no grupo de maior risco, como a glicemia nos diabéticos ou pressão arterial dos hipertensos. O problema não evolui para patologias graves, entretanto, segundo Cláudio Corrêa a dor é cada vez mais insuportável.
Tratamentos mais comuns
1. “Em um dos procedimentos, usamos um raio X lateral para nos orientar ao local exato para fazer uma punção, que é feita injetando vários tipos de medicamentos, dependendo do diagnóstico. Pode-se usar inclusive álcool. Esse procedimento pode levar a uma remissiva (volta do problema) em 50% dos pacientes em até dois anos.
2. A outra técnica é uma punção por meio de eletrodos, onde não se injeta nenhuma substância e provoca-se uma lesão térmica (causada por frio ou calor, e feita por uma aplicação que atinge o local que origina a dor). Essa lesão diminui a sensibilidade que provoca a dor. Essa técnica não deve ser usada em casos que envolvam nervos óticos, sob risco de se perder a visão. É indicada somente para dores na mandíbula e no maxilar. Em torno de 30% dos pacientes submetidos a essa técnica podem ter o problema de volta em até cinco anos.
3. Um dos procedimentos considerados eficazes e que têm mostrado resultados satisfatórios é a cirurgia de compressão do gânglio de Gasser. Um catéter com um balão é introduzido na região da nervatura atingida e inflado por 50 segundos, pressionando o gânglio do nervo. “É um dos procedimentos mais executados no mundo, com 1.611 casos operados, sendo a primeira delas realizada em 1990. Acreditamos que há 98% de solução para o problema, suspendendo a dor de imediato”, diz o médico Cláudio Corrêa. No entanto, há remissiva em 30% dos pacientes.
4. A cirurgia com abertura do crânio é mais complexa e arriscada e é executada onde nasce o nervo trigêmeo, junto ao sistema troncal. O índice de remissão da dor está entre 30% e 35%.
5. Outra opção seria a radiocirurgia, modalidade de tratamento não invasiva que usa radiação ionizante (aparelho de radioterapia) em alta dose, numa única sessão e de forma extremamente precisa, ou seja, toda a radiação é dirigida para a área a ser tratada. As células do tecido expostas à radiação ionizante são destruídas devido a modificações que ocorrem no DNA. O procedimento é ambulatorial, não necessitando de internação. Essa técnica é indicada para tratar várias patologias neurológicas, como dor crônica (do trigemeo e de origem oncológica), distúrbios do movimento (pacientes com doença de Parkinson ou tremor); distúrbios do comportamento; e alguns casos de epilepsia refratária.
Saiba mais...
Uma pontada forte como se um dentista atingisse o nervo de um dente com um instrumento ponteagudo durante um tratamento. Uma dor que analgésicos habituais não conseguem deter. A neuralgia do trigêmeo atinge entre 1% e 5% das pessoas que sofrem dor de cabeça (70% da população sentirá dor encefálica ao menos uma vez na vida), segundo a neurologista e secretária de Neuroimunologia da Academia Brasileira de Neurologia, Elizabeth Regina Comini Frota. A incidência da neuralgia do trigêmeo é mais registrada em idosos e, entre eles, em diabéticos ou com doenças vasculares.- Estudos apontam que enxaqueca pode causar lesões cerebrais permanentes
- Sono desregulado anda de mãos dadas com a enxaqueca
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- Dor crônica pode ter origem natural
- Alimentos e excesso de exercícios podem piorar a dor de cabeça
- Aparelhos dentários aplicados por amadores podem provocar até perda dos dentes
- Terapia consegue bloquear a dor crônica
A dor de dente é uma de suas manifestações, mas a neuralgia do trigêmeo pode atingir outros pontos da região anterior da cabeça, como testa, maxilar e mandíbula. Trata-se de uma dor que beira o insuportável e, apesar da curta duração, pode se repetir ao longo do dia ou a pessoa convive com o problema por muitos anos. “A doença é caracterizada por qualquer dor no nervo que atinge a face em área que vai desde o queixo até a testa. Esse nervo trigêmeo sai de dentro do tronco encefálico – região muito importante do corpo, pois liga o cérebro à medula e é dessa área que se propagam todos os nervos cranianos. São muitos nervos em região muito pequena e com muitas estruturas importantes”, diz a médica, que atua no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG).
Esse nervo é conhecido como trigêmeo justamente por estar distribuído por três regiões da face: a parte oftálmica, a maxilar e a mandibular. Quando o nervo encosta em alguma artéria da região, que tenha uma parede mais espessa, ou mesmo por dilatação dessa artéria, pode surgir a dor. “Essa proximidade entre nervo e artéria provoca sensibilidade e aumenta a pressão no local, gerando então dor intensa, como se fosse uma forte dor de dente. Quando ocorre na parte oftálmica, às vezes pode ser confundida com outras dores cranianas”, acrescenta Elizabeth.
O tratamento da neuralgia do trigêmeo, segundo especialistas, pode ir de medicação, passando por infiltrações diretas no local e até mesmo intervenção cirúrgica. Segundo Elizabeth, os remédios atuam diretamente na membrana do nervo, tornando-o menos sensível. Eles são anticonvulsivantes desenvolvidos com a intenção de coibir a dor do nervo. “Já a intervenção cirúrgica envolve mais riscos, com a abertura do crânio. Se for esse o procedimento acordado entre médico e paciente, geralmente coloca-se uma película entre o nervo e a artéria afetados para desfazer a pressão”, explica. A neurologista recomenda que o paciente passe por um exame rigoroso, precisando a origem da dor, para que se possa decidir sobre o melhor procedimento.
De acordo com o neurocirurgião coordenador do Centro de Dor do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, Cláudio Fernandes Corrêa, a cura ou alívio por tempo mais prolongado, na maioria das vezes, ocorre por meio da cirurgia. Segundo o médico, os medicamentos considerados mais eficazes para o tratamento – cujos princípios ativos são o carbamazepin e o oxcarbamazepin)–, em doses elevadas, podem afetar a parte cognitiva do paciente e é preciso monitorar o sangue onde pode ocorrer diminuição dos leucócitos. “São efeitos colaterais consideráveis e há também aquelas pessoas que não toleram a medicação, pois apresentam algum tipo de alergia”, diz ele, ressaltando que nesses casos, a cirurgia é um caminho.
Especialistas são unânimes em dizer que não há tratamento preventivo, mas pode haver um controle adequado no grupo de maior risco, como a glicemia nos diabéticos ou pressão arterial dos hipertensos. O problema não evolui para patologias graves, entretanto, segundo Cláudio Corrêa a dor é cada vez mais insuportável.
Tratamentos mais comuns
- Acupuntura: O tratamento com a técnica de medicina milenar chinesa pode ajudar a resolver o problema sem uso de medicamentos ou intervenções cirúrgicas, garante a médica acupunturista Chirley Costa Lima, para quem o resultado é muito bom. “O tempo para eliminar a dor depende de cada paciente porque a acupuntura trabalha com a reação individual de cada pessoa”.
- Cirúrgico: São cinco técnicas cirúrgicas adotadas, sendo que três não exigem corte ou pontos.
1. “Em um dos procedimentos, usamos um raio X lateral para nos orientar ao local exato para fazer uma punção, que é feita injetando vários tipos de medicamentos, dependendo do diagnóstico. Pode-se usar inclusive álcool. Esse procedimento pode levar a uma remissiva (volta do problema) em 50% dos pacientes em até dois anos.
2. A outra técnica é uma punção por meio de eletrodos, onde não se injeta nenhuma substância e provoca-se uma lesão térmica (causada por frio ou calor, e feita por uma aplicação que atinge o local que origina a dor). Essa lesão diminui a sensibilidade que provoca a dor. Essa técnica não deve ser usada em casos que envolvam nervos óticos, sob risco de se perder a visão. É indicada somente para dores na mandíbula e no maxilar. Em torno de 30% dos pacientes submetidos a essa técnica podem ter o problema de volta em até cinco anos.
3. Um dos procedimentos considerados eficazes e que têm mostrado resultados satisfatórios é a cirurgia de compressão do gânglio de Gasser. Um catéter com um balão é introduzido na região da nervatura atingida e inflado por 50 segundos, pressionando o gânglio do nervo. “É um dos procedimentos mais executados no mundo, com 1.611 casos operados, sendo a primeira delas realizada em 1990. Acreditamos que há 98% de solução para o problema, suspendendo a dor de imediato”, diz o médico Cláudio Corrêa. No entanto, há remissiva em 30% dos pacientes.
4. A cirurgia com abertura do crânio é mais complexa e arriscada e é executada onde nasce o nervo trigêmeo, junto ao sistema troncal. O índice de remissão da dor está entre 30% e 35%.
5. Outra opção seria a radiocirurgia, modalidade de tratamento não invasiva que usa radiação ionizante (aparelho de radioterapia) em alta dose, numa única sessão e de forma extremamente precisa, ou seja, toda a radiação é dirigida para a área a ser tratada. As células do tecido expostas à radiação ionizante são destruídas devido a modificações que ocorrem no DNA. O procedimento é ambulatorial, não necessitando de internação. Essa técnica é indicada para tratar várias patologias neurológicas, como dor crônica (do trigemeo e de origem oncológica), distúrbios do movimento (pacientes com doença de Parkinson ou tremor); distúrbios do comportamento; e alguns casos de epilepsia refratária.