Ter uma meta ousada pode mudar - e até salvar - sua vida

Conheça histórias de brasileiros que estabeleceram objetivos corajosos e venceram o desafio de mudar a própria saúde e visão de mundo

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Letícia Orlandi - Saúde Plena Publicação:29/11/2013 08:15Atualização:02/12/2013 09:44

O Annapurna - do sânscrito (língua indiana clássica): 'deusa das colheitas' - é uma montanha do Himalaia, no Nepal. É a décima mais alta da Terra e foi a primeira montanha com mais de 8.000 metros de altitude a ser escalada.

O monte Everest é a mais alta montanha da Terra, com mais de 8.800 metros de altitude. Localizado na mesma cordilheira do Annapurna, na fronteira entre a China (Tibete) e o Nepal, o pico é chamado em Nepalês de Sagarmatha (rosto do céu). Em tibetano, o nome é Chomolangma ou Qomolangma (mãe do universo).

 

Veja a galeria de fotos com a jornada dos entrevistados ao Himalaia

 

Distantes da realidade da imensa maioria dos brasileiros, essas duas montanhas entraram na vida de dois deles. E para promover uma mudança drástica. Conheça agora as histórias de Gustavo Ziller, empresário mineiro de 39 anos que saiu do sedentarismo completo para uma expedição que o ensinou muito mais do que o cuidado com a saúde; e de Karina Oliani, médica que se tornou, aos 31 anos, a brasileira mais jovem a alcançar o topo do Everest.

Para quem acha que isso é coisa de maluco, a consultora Paula Abreu, ouvida pelo Saúde Plena, discorda: basta ter clareza do que você quer para chegar lá.
O roteiro percorrido por Gustavo no Annapurna, uma das montanhas mais altas da Terra: objetivo pontual que significou mudança de vida real (Arquivo Pessoal / Gustavo Ziller)
O roteiro percorrido por Gustavo no Annapurna, uma das montanhas mais altas da Terra: objetivo pontual que significou mudança de vida real

A saga de um pai pelo Himalaia
Desde que se mudou para São Paulo, há cinco anos, o empresário Gustavo Ziller abandonou os exercícios físicos e priorizou o trabalho. Apesar de se sentir bem e se considerar realizado na vida familiar e profissional, ele sentiu um mal estar e os exames apontaram: hipertensão, colesterol alto, excesso de peso. “E a culpa era totalmente minha e da minha obsessão de entrar de cabeça nas coisas – no caso, o novo trabalho”, explica Gustavo. “Eis que em julho de 2012 percebi que nem isso estava fazendo mais. Tinha parado no tempo, no espaço e nas reflexões. Os últimos cinco anos não tinham sido fáceis. A história é popular, cheia de clichês e todo mundo conhece, mas com outros personagens”, descreve.

Ziller: as verdades que construímos na nossa cultura ocidental não são universais (Arquivo Pessoal / Gustavo Ziller)
Ziller: as verdades que construímos na nossa cultura ocidental não são universais
Incentivado pelo amigo Caio Vilela – aventureiro, organizador de viagens não convencionais e, assim como Gustavo, pai de três filhos – o empresário resolveu colocar uma meta real, para resgatar seu rumo na vida – do ponto de vista físico e espiritual. Em uma conversa, o amigo sugeriu um desafio e alertou: ou se prepara e faz direito; ou vai ter sérios problemas, físicos e mentais. Sem meio-termo.

No dia seguinte à conversa, ele comprou uma viagem para realizar o trekking ao Campo Base do monte Annapurna, no Nepal. Apesar de não ser alpinista, ele tem alguma experiência com escalada – quando serviu ao Exército, se especializou em montanha. “Só que eu ainda não tinha consciência do tamanho do projeto”, confessa. Com apoio da esposa, Patrícia; e da 'trinca da pesada', como chama os filhos Joana, Iara e Mateus, de 13, 9 e 7 anos; Gustavo começou uma preparação de oito meses.

 (Arquivo Pessoal / Gustavo Ziller e Arte: Soraia Piva / EM / DA Press)
O treinamento foi baseado em corridas de rua, maratona, musculação, curso de apneia (que trabalha a capacidade de oxigenação do cérebro, essencial para esse tipo de jornada) e primeiros socorros – além de um curso de fotografia.
“Nesse processo, redescobri que cabe tudo dentro da sua vida – a família, o trabalho, a saúde, o prazer de uma atividade física, de fazer o que gosta e de vencer um desafio. Meus filhos acompanharam tudo, desde o início. Eles estudaram a geografia e demografia do Nepal juntos. Minha esposa foi minha parceira durante toda a preparação, correu e malhou comigo. Basta se organizar e tudo se encaixa para dar certo”, explica Gustavo.

Em 14 de abril de 2013, com um currículo de 700 km de treinos e 21 quilos a menos, ele partiu para o desafio de alcançar uma área acima de 4 mil metros conhecida como Santuário, por ser rodeada de montanhas de alta elevação. Todas as dificuldades e recompensas que Gustavo passou durante essa jornada você encontra aqui: projetoannapurna.tumblr.com

 (Arquivo Pessoal / Gustavo Ziller e Arte: Soraia Piva / EM / DA Press)
Ziller não tem dificuldades em definir o que essa meta significou para a sua vida:

-as verdades que construímos na nossa cultura ocidental não são universais. “O que é razão de felicidade para nós, brasileiros, é muito diferente da felicidade dos nepaleses. O que nós consideramos como conforto, para eles não tem valor. São caras evoluídos espiritualmente, mas que têm uma condição social que pode ser classificada como pobreza. Entretanto, eles acham que têm tudo, estão bem. Foi chocante. Minhas verdades ocidentais caíram todas. Procurei me envolver bastante, não só pela experiência, mas também para passar isso aos meus filhos”, resume o empresário;

-o esforço é necessário na vida das pessoas. “Temos que ter essa consciência desde cedo. Ao contrário do que muitos pensam, dinheiro não cai do céu, as coisas não melhoram sozinhas e nem tudo se resolve no final. Se eu não estivesse me esforçado, não teria conseguido. Em dois dias, enfrentamos nevascas não previstas e meu dedão do pé congelou. Se eu não estivesse focado psicologicamente, poderia ter acontecido algo mais grave. É outro aprendizado que quero passar à trinca da pesada”, afirma;

 (Arquivo Pessoal / Gustavo Ziller e Arte: Soraia Piva / EM / DA Press)
- nossa medicina não é de prevenção, é de reação.
“Não procuramos médico para ter uma boa saúde. Procuramos para resolver um problema. Espero que isso mude em breve e que a saúde seja associada ao prazer”, reflete.

-evolução e realização pessoal. “Não estamos aqui para competir com ninguém, para ser o mais bonito, o mais bem vestido, o mais 'fodão' da galera. Estamos aqui para evoluir; e isso depende apenas de você. De mais ninguém. Esperar para colocar em prática sua capacidade de evolução não faz sentido nenhum”, define Gustavo.


Na música 'Passeio no Mundo Livre', o Chico Science dizia: "Um passo à frente / E você não está mais no mesmo lugar". Ziller usa o verso para ilustrar essa mudança de conceitos. “São verdades que já faziam parte da minha vida de alguma forma, mas se tornaram mais presentes. O grande projeto da minha vida são meus filhos. Espero poder transmitir a eles o que aprendi e observar uma reação positiva deles caso vejam um ato de desrespeito na rua, por exemplo”, explica.

 (Arquivo Pessoal / Gustavo Ziller e Arte: Soraia Piva / EM / DA Press)
A experiência de explorar os limites do corpo e da mente não parou por aqui. Com acompanhamento de cardiologista, nutricionista e educador físico, a musculação continua, a alimentação segue os princípios de uma vida mais saudável e as corridas de rua fazem parte do planejamento. A expedição ao Annapurna já conta com um livro e um minidocumentário encaminhados. “Assumi também o papel de contador de histórias”, revela Ziller.

E o próximo passo já toma forma: em 2014, o empresário pretende liderar uma expedição ao monte Kilimanjaro, o ponto mais alto da África, com um alpinista profissional e dez pessoas que nunca estiveram lá. “Pessoas comuns podem fazer coisas incríveis. Não é necessário ser um super atleta”, conclui Gustavo Ziller.
 (Arquivo Pessoal / Karina Oliani e Arte: Soraia Piva / EM / DA Press)

A saúde encarada como aventura
A médica e esportista Karina Oliani, 31 anos, realizou também em 2013 um grande feito: se tornou a brasileira mais jovem a alcançar o topo do Everest. Disposta a ser a primeira mulher do país a completar o desafio dos “seven summits”, o Everest foi o quarto gigante alcançado (suas aventuras são inclusive citadas por Gustavo Ziller no futuro livro sobre a expedição). “Minha mãe diz que desde pequena eu já não era uma criança comum, escalava a casinha de brinquedos enquanto minhas irmãs mais novas brincavam de boneca. A montanha faz a gente voltar para nossas origens, dar valor para as coisas que merecem. Foi um aprendizado e experiência incrível, que vou levar para o resto de minha vida”, afirma.

 (Arquivo Pessoal / Karina Oliani e Arte: Soraia Piva / EM / DA Press)
Karina pratica escalada e montanhismo desde os 20 anos. Já havia ido aos Himalaias duas vezes, além do Kilimanjaro (África), Elbrus (montanha mais alta do continente europeu) e Aconcágua (montanha mais alta das Américas). Mas, assim como Gustavo, passou por uma preparação intensa. Ela optou pelo treinamento funcional. “Dias antes da viagem ao Nepal cheguei a subir o Pico do Jaraguá (ponto mais alto da cidade de São Paulo - 1.135 metros) em 30 minutos. Esse percurso normalmente é feito em duas horas”, conta Karina.

A escaladora diz não acreditar em um 'segredo'. “É preciso foco e dedicação. Em tudo na vida, busquei fazer da melhor forma possível, sem ser injusta ou prejudicar alguém. Não é uma competição com os outros, com quem é o melhor ou pior. É apenas comigo”, ensina. Na verdade, Karina vai um pouco além de “não prejudicar”. Na expedição ao Everest, ela arrecadou recursos para melhorar o sistema de distribuição de água na vila em que seu guia local mora.

 (Arquivo Pessoal / Karina Oliani e Arte: Soraia Piva / EM / DA Press)
Para a médica, ter um objetivo é o que a “mantém na linha”. “Eu preciso de uma missão. A partir dela, tenho a paixão de buscá-la e cumpri-la com responsabilidade. Recomendo a todos que tenham sonhos, metas e, na verdade, o tamanho ou o grau da dificuldade não importa! A única coisa que posso garantir é que quem sonha e busca seus objetivos, se realiza, e é um ser humano mais feliz”, resume a aventureira.

A importância das metas
A consultora Paula Abreu, que acaba de lançar o livro “Escolha sua vida - crie suas próprias regras e seja feliz sendo você mesmo”, afirma algo que pode parecer óbvio, mas é muito difícil: para se ter entusiasmo e engajamento com qualquer tipo de mudança, é essencial saber, com clareza, para onde você está indo. E também saber porque é importante ir nessa direção.

 (Arquivo Pessoal / Karina Oliani e Arte: Soraia Piva / EM / DA Press)
De acordo com a escritora, sem essa clareza, pode até acontecer um pico de empolgação, mas a motivação e a disciplina vão embora diante do primeiro obstáculo. Para traçar uma boa meta – que não esteja fora do alcance ou seja fácil demais – é preciso fazer as perguntas certas. “O que vai te deixar feliz? O que é tão bom e tão importante que faz o tempo parar? Uma vez encontrado esse objetivo maior, ele pode ser quebrado em metas menores, que sejam simples, mensuráveis, realistas e tenham um prazo”, ensina Paula.

E se você está se perguntando como vai mudar a sua vida sem escalar o Everest, a consultora dá a dica: escalar montanhas nos Himalaias é um super desafio, mas a maior aventura é a viagem em busca de autoconhecimento. “Esse processo pode até estar ligado a uma viagem externa – eu mesma vou levar um grupo para atravessar o deserto do Saara agora em dezembro -, mas a paisagem exterior é só um adorno. Não é indispensável para a transformação. Quem não pode escalar o Everest ou atravessar o maior deserto do mundo, pode ir a um parque. Pode ir à praia, estar na natureza, observar a vida. Pode se propor desafios 'menores', como correr uma prova de 5km, ou fazer uma travessia no mar”, revela Paula.

 (Arquivo Pessoal / Gustavo Ziller e Arte: Soraia Piva / EM / DA Press)
E o que é mais difícil? Estabelecer ou cumprir metas? Segundo a consultora, estabelecer metas eficientes é difícil. “É muito comum a gente estabelecer metas impossíveis, ou muito complicadas de serem cumpridas”, alerta.

Por outro lado, na hora de cumprir, as exigências são foco, determinação e disciplina. “Em meu trabalho como coach (algo como mentora de vida), o que eu vejo mais é a falta de clareza mesmo. Depois que ela é alcançada, é muito difícil a pessoa sair da rota”, afirma Paula. Gustavo e Karina já colocaram em prática essa lições. E mais: não pretendem parar. E você?

    • 29/11/2013
    • A conquista do Himalaia
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