Jovem brasileiro cruzará Oceano Atlântico a remo para financiar pesquisa sobre câncer
Travessia pretende arrecadar recursos para o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) e conta com doações pela internet. O osteossarcoma é o câncer nos ossos que mais atinge crianças e jovens, com taxa de mortalidade que chega a 95%
A escolha da causa tem uma motivação pessoal – Caê perdeu um amigo/irmão, em 2006, em decorrência do osteossarcoma. Rafael Cordeiro tinha 25 anos e o período que se passou entre o diagnóstico e a morte dele foi de apenas dez meses.
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Aqui entra o quarto nome na equação de Caê, Rafael e Amyr: o Into. A sigla designa o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into), referência no tratamento do osteossarcoma, que está desenvolvendo um estudo promissor com células-tronco tumorais. A pesquisa brasileira, iniciada em 2012, é inédita. Existe um trabalho similar, mas não idêntico, na Espanha. “Desde os anos 70, não há grandes avanços no tratamento do osteossarcoma, que tem alta taxa de mortalidade e atinge principalmente crianças, adolescentes e adultos jovens”, explica o chefe do Centro de Oncologia Ortopédica do Into, Walter Meohas.
Travessia
Atravessar o Oceano Atlântico em um barco a remo parece uma loucura. De fato, mais pessoas já estiveram no espaço ou no topo do Everest do que completaram a travessia, mas...acredite: existe até uma corrida com pessoas dispostas a enfrentar a jornada, de dois em dois anos. Na edição de 2013, 16 equipes largaram do arquipélago espanhol das Canárias. Nem todas chegaram ao destino. Saiba mais na galeria de fotos:O único brasileiro a concluir o trajeto com sucesso foi Amyr Klink, sozinho, em 1984. Mas ele não estava disputando com ninguém quem chegaria primeiro. No caso do jovem carioca, a história será um pouco diferente. Klink saiu da Namíbia, na costa africana; e chegou à Bahia. O percurso de Caê será menos solitário e mais ao norte: o barco de fibra de carbono levará 8 remadores, que vão se revezar de duas em duas horas. Eles sairão do arquipélago espanhol das Canárias e têm como ponto de chegada o pequeno país insular de Barbados, na América Central, percorrendo o Atlântico Norte por três mil milhas náuticas, ou 5.500 quilômetros. “Ou seja, o maior período contínuo de sono será de uma hora e 40 minutos”, brinca o advogado.
O recorde atual é de 32 dias e sete horas. Para que a façanha seja registrada no Guiness Book, uma das exigências é que não haja barco de resgate. Mas não é perigoso? “Com toda a preparação que nós fazemos, não. É mais perigoso viver em uma grande cidade, em que o inesperado pode acontecer a qualquer momento e você não estará preparado; do que atravessar o oceano. Para cada possibilidade que existe, nós temos um treinamento e um plano”, garante o animado atleta, lembrando que a última fatalidade nesse trajeto foi registrada em 2001. “Mas sim, alguns amigos e parentes estão apreensivos. Uma amiga da família disse que não quer nem saber de nada até eu voltar são e salvo”, se diverte.
A partida está prevista para 10 de dezembro, mas a confirmação da data dependerá das condições climáticas. Um planejamento minucioso avaliará toda as condições possíveis para que o grupo enfrente o melhor tempo e corra menos riscos.
Uma consequência dessa viagem é certa: a perda de pelo menos dez quilos do peso corporal. Caetano está reforçando a alimentação para ficar mais ‘gordinho’ até o fim do ano e ter o que queimar nesse mês sobre as águas. “Meu sentimento não é de medo, é de ansiedade por estar logo no mar”, diz Caetano. Não é à toa que o site do projeto indica exatamente quantos dias, horas, minutos e segundo faltam para o início da aventura.
O mestre
No momento em que estava amadurecendo a ideia da travessia, Caetano conseguiu encontrar o mestre e trocar ideias. “Amyr foi muito gentil, dividiu experiências, mapas e dicas, me mostrou os estudos que fez. Como ele mesmo diz, para cada situação, você tem uma preparação especifica. Sendo muito analítico no projeto da viagem, você cobre todos os espaços”, assegura o advogado. “Amyr compartilhou comigo seu famoso ‘Dossiê Amarelo’, que detalha como sua ideia inicialmente maluca de atravessar o Atlântico Sul fazia pleno sentido”, emociona-se.
Caê pôde conhecer o I.A.T, barquinho de madeira utilizado na histórica travessia, que suportou sete dias de tempestade e três capotagens. “Como foi estar na pequena e tão acolhedora cabine do I.A.T.? Senti a liberdade que desde os dez anos de idade buscava. Foi maravilhoso voltar aos meus sonhos de criança e ser adulto para poder realizá-los”, conta ele no blog do projeto (http://remacae.com/blog/).
Paixão pelo voluntariado
Depois de fazer contato com alguns clubes de remo oceânico, Caê ficou sabendo que o remador escocês Leven Brown (três recordes mundiais, sendo o primeiro homem a ter remado da Espanha até o Caribe) estava recrutando oito pessoas para a travessia. Era sua chance. Após a aprovação na entrevista, realizada pela internet mesmo, o capitão Brown revelou a Caê que não é tão complicado encontrar pessoas com preparo físico e técnica suficientes para a travessia. O mais difícil é encontrar pessoas com o espírito e a motivação certos para ajudar a equipe. Caê tinha, portanto, o mais difícil.
Mas isso só até o dia 16 de setembro. Para completar sua preparação antes da grande travessia, no entanto, ele terá que se mudar para Londres, onde vai se encontrar com os companheiros – ele é o único brasileiro – e poderá treinar em mar aberto.
Esta não é a primeira vez que o advogado usa a paixão pelo esporte para incentivar uma boa causa. Fã de futebol, Caetano chegou a morar em Belo Horizonte quanto tentou ser jogador profissional no Cruzeiro. Mas uma lesão grave no joelho impediu esse sonho, quando ele tinha 15 anos. Dois anos depois, o amigo Rafael, que já estudava Educação Física, chegou com um convite: precisava indicar uma pessoa que gostasse de futebol, fosse comunicativo e soubesse falar inglês, para um projeto na Irlanda.
Caetano passou a integrar o projeto SambaSoccer: acampamentos de férias na Europa que se propõem a ensinar futebol às crianças e promovem encontros da garotada com seus ídolos no esporte. Caê decidiu ampliar o trabalho e incluiu crianças com deficiência. O projeto deu tão certo, que eles conheceram até a presidente irlandesa à época, Mary McAlesse. Veja o vídeo abaixo para entender melhor. Está em inglês, mas as imagens falam por si só.
Um ano (além de várias outras temporadas mais curtas na Irlanda e na África do Sul) depois, Caê retornou ao Brasil apaixonado pelo voluntariado. Com Rafael Cordeiro, fundou em 2002 a Ong FuteFeliz, que tinha o objetivo de promover a inclusão social por meio do esporte, com abertura e estruturação de mais de 20 escolinhas de futebol no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. Em 2006, com mais experiência e conhecimento sobre as necessidades das comunidades em que atuavam, os rapazes mudaram o nome da ONG para Crescendo Feliz e lançaram o projeto Um Pé de Biblioteca, junto com o amigo mineiro André Lara Resende.
O projeto já apoiou a abertura de oito bibliotecas no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, sendo que mais cinco estão em andamento, em Belo Horizonte, Juiz de Fora e Porto Velho (RO). A Ong capta doações de móveis e trabalho voluntário para ampliar sua ação no país.
A pesquisa
Uma das frases do amigo, que Caê nunca esqueceu, foi: “se eu tivesse osteossarcoma daqui a 20 anos, eu teria tido mais chance, porque a medicina está sempre evoluindo”. A pesquisa que está sendo desenvolvida no Into pode ajudar a previsão de Rafael a se tornar realidade.
O cirurgião oncológico Walter Meohas explica que a pesquisa com células-tronco tumorais avalia a resposta de cada paciente à quimioterapia. O estudo está sendo feito com 12 pacientes já operados, mas é necessário ampliar o número para pelo menos 40. “A ação do RemaCaê é importante não só pelos recursos, mas pela conscientização em torno do trabalho desenvolvido no Into. Tudo que fazemos depende da conscientização e autorização das famílias”, lembra o especialista.
Há oito tipos de osteossarcoma e as causas da doença ainda não foram esclarecidas. Também não foram identificados componentes hereditários. Se não há como prevenir, a pesquisa torna-se ainda mais importante, para que pelo menos o tratamento seja mais eficiente.
O sentimento de Meohas em relação a Caetano é de agradecimento. “Quanto mais recursos e apoio de pacientes e famílias, mais rápido chegaremos ao resultado”, resume.
Como funciona?
As células-tronco tumorais representam cerca de 1% da massa tumoral. Elas são mais resistentes às terapias e têm o potencial de formar as células que compõem os tumores, dependendo do estímulo que recebem. São chamadas de células-mãe, o reservatório do tumor.
Na pesquisa realizada no Into, as células-tronco tumorais são colhidas no momento em que se faz a biópsia inicial do paciente. Elas passam por uma cultura e são inoculadas em ratos. Depois que a criança ou jovem passa pela quimioterapia e a cirurgia, é coletada nova amostra. A partir daí, é realizado um estudo genético para verificar alterações cromossomiais. Assim, poderia ser possível identificar fatores que levaram a uma maior ou menor necrose tumoral durante o tratamento quimioterápico – ou seja, em quais casos houve mais morte de células cancerígenas.
Essa comparação é feita entre indivíduos com o mesmo tipo de tumor e permite verificar a agressividade e o grau de resistência ao tratamento. Também serão realizados testes em camundongos estéreis para provocar a doença e acompanhar o desenvolvimento in vivo.
O tratamento poderá, no futuro, ser baseado nas características individuais do tumor, permitindo uma estratégia personalizada e mais eficaz. Será possível identificar quais foram os efeitos da quimioterapia, observando em laboratório a proliferação, sobrevivência e invasão das células no organismo do paciente, além de saber se houve melhora com o tratamento e se as chances de ocorrer metástase vão crescer ou não.
O osteossarcoma
O osteossarcoma é um tumor maligno dos ossos que atinge, principalmente, crianças e jovens entre 10 e 20 anos, em fase de crescimento. Mas pode aparecer também em jovens adultos, sendo secundário à irradiação da radioterapia e da doença de Paget.
Segundo Walter Meohas, os sintomas mais comuns são as dores e o inchaço no local afetado, sendo que a maior frequência é no joelho. O índice de mortalidade é alto. Cerca de 50% a 60% dos pacientes morrem em cinco anos e apenas 5% sobrevivem após esse período. Em 27% dos casos, é necessária a amputação. “Com a introdução da quimioterapia neoadjuvante, que é utilizada antes da realização da cirurgia, foi possível utilizar técnicas mais conservadoras, ou seja, que preservam os membros e permitem mais qualidade de vida. Mas essa evolução não altera o prognóstico da doença, que é muito agressiva”, esclarece o médico.
O tumor atinge o aparelho locomotor, como pernas, braços e coluna, e acomete os pulmões com frequência, em decorrência de metástase.
Ele ganhou diversos títulos como jogador cadeirante de basquete e, em 1981, deu início a uma corrida pelo Canadá para arrecadar fundos para a pesquisa do câncer.
Com uma prótese, Terry percorreu 5373 quilômetros em 143 dias. Logo depois, ele não se sentiu bem e foi levado ao hospital, quanto teve a notícia de que o câncer havia se espalhado.
O jovem morreu em junho de 1981, aos 21 anos, mas a Terry Fox Run continua acontecendo em diversos países. Desde sua criação, já arrecadou mais de US$600 milhões.
Para quem estiver interessado em saber mais, os vídeos da Terry Fox Foundation, disponíveis no canal da instituição no YouTube, são emocionantes: https://www.youtube.com/user/terryfoxcanada