Brasil vê crescimento de gravidez após os 40 anos; veja mitos e verdades
Dados do IBGE mostram que a gravidez entre 40 e 44 anos aumentou mais de 17% entre 2003 e 2012. Para especialistas, fenômeno social é irreversível
Valéria Mendes - Saúde Plena
Publicação:10/02/2014 09:00Atualização: 10/02/2014 15:30
Entre 2003 e 2012 o número de mulheres que engravidou entre 40 e 44 anos passou de 53.016 para 62.371, um aumento de 17,6% de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “É um processo irreversível. São mudanças sociais que acontecem em todo o mundo. No Brasil, o acesso maior à universidade e consequentemente a vida profissional começando mais tarde, o esforço para ter uma carreira estruturada e a total independência da mulher influem diretamente nessa escolha”, aponta o ginecologista e diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (SOGIMIG), Sandro Magnavita Sabino. Apesar de o intervalo entre 25 e 35 anos ser considerado o auge da vida reprodutiva da mulher – e esse critério evoluir com o tempo em função da expectativa de vida, por exemplo -, a incidência de gravidez entre 35 e 39 anos também cresce, segundo o IBGE: o aumento é de 26,3%; foram 201.077 gestações em 2003 e 254.011 em 2012.
O senso comum é rico em histórias sobre as implicações para a saúde da mãe e do bebê em casos de gravidez tardia. Mas quais as consequências reais dessa mudança social? O que é fato e o que é exagero? Sandro Magnavita Sabino gosta de iniciar a explicação com um exemplo usado em congressos dos quais participou. “Foram exibidas duas imagens de grávidas: uma mulher de 25 anos com pressão alta, sobrepeso e fumante, e outra acima dos 40 que não fuma, que não tem pressão alta ou diabetes. Qual delas terá uma gestação mais saudável? Os riscos serão maiores em qual das duas situações?”, provoca. A constatação é simples: as ameaças estão muito mais relacionadas ao estado de saúde da mulher do que à sua idade.
Para o especialista, o importante é a mulher que deseja engravidar tardiamente ter consciência das dificuldades biológicas que enfrentará e, com isso, se preparar para uma vida saudável. Nesses casos, o acompanhamento médico é ainda mais importante e deve acontecer desde cedo, quando a mulher estiver com cerca de 30 anos. Após os 40, também são necessários cuidados e exames específicos para evitar doenças e condições que aparecem mais facilmente com o aumento da idade, como diabetes, hipertensão e sobrepeso, e garantir um parto seguro e saudável.
Chances de gravidez natural
Outra informação importante é que mesmo após os 40 anos, a maioria dos casais alcançará uma gravidez de forma natural. No entanto, não se pode negar a queda nas taxas de fertilidade. “A maioria vai conseguir uma gestação espontânea. Entre 20% e 25% dos casais podem ter dificuldade e precisar de um tratamento de reprodução assistida”, afirma o ginecologista. A orientação da Organização Mundial de Saúde para quem está nessa faixa etária é clara: após 6 meses de tentativa, se o casal não engravidar, deve procurar um especialista. “Se de fato tiver algum problema, quanto antes o médico atuar, maiores são as chances de gravidez”, reforça Sandro Magnavita Sabino. O médico ressalta que procurar um profissional de reprodução assistida não significa iniciar um tratamento. “Pode-se concluir que não existe nenhum problema”, diz.
Por outro lado, as taxas de abortamento são maiores por questões biológicas, da natureza. Esse é o ponto principal que deve pautar o entendimento dessa variável. “As taxas de alterações cromossômicas do óvulo aumentam com a idade. Aos 30 anos, de cada dez embriões formados, 50% deles terão alterações cromossômicas que vão gerar modificações nos embriões. Aos 37 anos, chega a 65% e aos 42, a 95%”, esclarece o ginecologista. Sandro Magnavita Sabino pondera que a grande maioria desses embriões não vai implantar no útero ou será abortada. “Noventa por cento das causas de abortamento têm origem cromossômica. Ou seja, o óvulo fertilizado não era normal”, informa. As exceções podem estar relacionadas a problemas imunológicos da mulher como lúpus ou diabetes.
Síndromes
A conclusão é a de que em qualquer faixa etária a chance de uma síndrome – seja ela Down, Turner ou Klinefelter – é pequena. O que acontece com o passar da idade é que, apesar de muito pequena, a brecha para uma mulher de 39 anos gerar uma criança com síndrome é maior que em uma de 25, por exemplo. “Mas mesmo assim continua sendo baixa e isso não é considerado um risco preocupante que contraindique uma gravidez após os 40”, repete o especialista. Sandro reforça que o maior número de crianças nasce perfeita já que a grande maioria dessas síndromes não são compatíveis com a vida. Uma exceção clara é a Síndrome de Down que cada vez mais tem vencido as barreiras do preconceito com exemplos de pessoas que se destacam no mercado profissional.
Por outro lado, gravidez muito precoce, antes dos 15 anos, é considerada fator de risco. “A mulher ainda está na fase do próprio desenvolvimento, na fase de crescimento. Além de as taxas de abortamento serem maiores, há o risco de anemia, de parto prematuro, de influência no crescimento fetal”, esclarece Sandro.
Menstruação tardia
Menstruar mais tarde não significa que a faixa ideal (de 25 a 35 anos) para engravidar é ampliada. Sandro explica que o bebê do sexo feminino – a partir do quinto mês de gestação, ainda na barriga da mãe – começa a gastar cerca de mil óvulos por mês. “Uma mulher tem aproximadamente 3 milhões de óvulos. Aos 12 anos, ela estará com 500 mil. Essa perda de óvulos é um processo contínuo no organismo feminino, mesmo quando a mulher está grávida”, reforça. Ou seja, menstruar mais cedo ou mais tarde não faz diferença nenhuma.
Reprodução assistida
Para Sandro, o mais importante quando o assunto é a gravidez após os 40 anos é a mulher entender que as chances vão diminuir. À medida que envelhece, os óvulos se tornam mais difíceis de serem fertilizados. A probabilidade de uma mulher com mais de 35 anos ter uma gravidez natural é de uma em seis, a cada mês, ou seja, 15%. As taxas de gravidez diminuem com a idade, sendo que a partir dos 37 anos, essa redução segue um ritmo mais acelerado, tanto que aos 42 anos a chance de gravidez espontânea é de apenas 5%. “É importante não perder tempo. Se a mulher está tentando há 6 meses e não consegue, procure um especialista em reprodução assistida”, encerra.
Conheça a história da mulher que teve uma gestação durante tratamento de endometriose e outra 30 dias após uma cirurgia bariátrica
Contrariando todas as probabilidades, estatísticas e intempéries da vida, Patrícia Silva Athayde, 43 anos, é exemplo de como fatos improváveis podem acontecer. Ela tem cinco filhos, Gabriel, 21, Luna, 19 e Enzo, 14, do primeiro casamento. Aos 39, engravidou de Valentina, hoje com 4 anos. A caçula, Antonella, de um terceiro relacionamento, tem apenas 5 meses e foi gestada aos 42 anos. O primeiro imprevisto aconteceu na gestação do terceiro filho. Patrícia, que atua no mercado de vendas, mas que atualmente se dedica exclusivamente à família, estava em tratamento de endometriose – a doença é uma das principais causas de infertilidade em mulheres –, fazendo o controle do problema com o uso do anticoncepcional há cerca de um ano e já se preparava para a cirurgia. “Fui fazer um ultrasson para dar início ao preparatório e, assustada, a médica que me acompanhava disse: ´você está grávida’”, relembra. Patrícia conta que foi uma fase difícil da sua vida, porque estava em processo de separação e nem na mais remota hipótese imaginava ter outro filho. Socialmente, ainda se preocupava em parecer que ela tinha engravidado na tentativa de manter a união. Na época do nascimento de Enzo, ela pediu para fazer cesariana porque queria ligar as trompas, mas, segundo ela, o médico negou o pedido com o argumento de que ela ainda era nova, 29 anos.
Dez anos depois, fruto de um relacionamento de seis, veio Valentina. Decidida, Patrícia queria uma cesariana para aproveitar e ligar as trompas. “Nem pagando ele quis me operar”, brinca. Meu médico me convenceu que o parto normal é sempre a primeira opção, que eu era uma ‘parideira’ e que eu fizesse a operação depois”, diz. Patrícia adiou e fez até uma tatuagem com os nomes dos quatros filhos. “Achei que ela seria a última. Pensando racionalmente, não tinha a menor pretensão, nem condição financeira ou psicológica de ter outro”. Além disso, relembra que chegou aos 106 quilos na gestação de Valentina. Adiou o ligadura de trompas e investiu na cirurgia bariátrica. Após 30 dias do procedimento, ainda em processo de convalescença, outra surpresa: estava novamente grávida.
Após quatro partos normais, Antonella nasceu de cesariana e Patrícia fez a tão esperada esterelização. “Ela é filha de um namorado e não tínhamos pretensão alguma de um relacionamento sério”, fala. Até os 7 meses de gravidez, ela escondeu o fato da família e dos filhos. “Estava em processo de emagrecimento e a barriga demorou a aparecer”, relata. Ela fez o pré-natal com o ginecologista e com o cirurgião da bariátrica. “Eu não conseguia comer quase nada e tinha muito medo de o bebê nascer com algum problema”, afirma.
Na gravidez inteira, Patrícia ganhou quatro quilos e no primeiro mês de vida de Antonella, emagreceu 15. Hoje ela pesa 63. “Deu tudo certo, ela nasceu com três quilos e 48 centímetros. Apesar das limitações da idade, sou ativa, magra, tenho energia e estou curtindo a maternidade com mais maturidade”, encerra.
Mesmo após os 40 anos da mulher, a maioria dos casais alcançará uma gravidez de forma natural
O senso comum é rico em histórias sobre as implicações para a saúde da mãe e do bebê em casos de gravidez tardia. Mas quais as consequências reais dessa mudança social? O que é fato e o que é exagero? Sandro Magnavita Sabino gosta de iniciar a explicação com um exemplo usado em congressos dos quais participou. “Foram exibidas duas imagens de grávidas: uma mulher de 25 anos com pressão alta, sobrepeso e fumante, e outra acima dos 40 que não fuma, que não tem pressão alta ou diabetes. Qual delas terá uma gestação mais saudável? Os riscos serão maiores em qual das duas situações?”, provoca. A constatação é simples: as ameaças estão muito mais relacionadas ao estado de saúde da mulher do que à sua idade.
Após os 40 anos da mulher, se o casal está tentando engravidar há 6 meses a recomendação da OMS é procurar um especialista em reprodução assistida
Chances de gravidez natural
Outra informação importante é que mesmo após os 40 anos, a maioria dos casais alcançará uma gravidez de forma natural. No entanto, não se pode negar a queda nas taxas de fertilidade. “A maioria vai conseguir uma gestação espontânea. Entre 20% e 25% dos casais podem ter dificuldade e precisar de um tratamento de reprodução assistida”, afirma o ginecologista. A orientação da Organização Mundial de Saúde para quem está nessa faixa etária é clara: após 6 meses de tentativa, se o casal não engravidar, deve procurar um especialista. “Se de fato tiver algum problema, quanto antes o médico atuar, maiores são as chances de gravidez”, reforça Sandro Magnavita Sabino. O médico ressalta que procurar um profissional de reprodução assistida não significa iniciar um tratamento. “Pode-se concluir que não existe nenhum problema”, diz.
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Por outro lado, as taxas de abortamento são maiores por questões biológicas, da natureza. Esse é o ponto principal que deve pautar o entendimento dessa variável. “As taxas de alterações cromossômicas do óvulo aumentam com a idade. Aos 30 anos, de cada dez embriões formados, 50% deles terão alterações cromossômicas que vão gerar modificações nos embriões. Aos 37 anos, chega a 65% e aos 42, a 95%”, esclarece o ginecologista. Sandro Magnavita Sabino pondera que a grande maioria desses embriões não vai implantar no útero ou será abortada. “Noventa por cento das causas de abortamento têm origem cromossômica. Ou seja, o óvulo fertilizado não era normal”, informa. As exceções podem estar relacionadas a problemas imunológicos da mulher como lúpus ou diabetes.
Síndromes
A conclusão é a de que em qualquer faixa etária a chance de uma síndrome – seja ela Down, Turner ou Klinefelter – é pequena. O que acontece com o passar da idade é que, apesar de muito pequena, a brecha para uma mulher de 39 anos gerar uma criança com síndrome é maior que em uma de 25, por exemplo. “Mas mesmo assim continua sendo baixa e isso não é considerado um risco preocupante que contraindique uma gravidez após os 40”, repete o especialista. Sandro reforça que o maior número de crianças nasce perfeita já que a grande maioria dessas síndromes não são compatíveis com a vida. Uma exceção clara é a Síndrome de Down que cada vez mais tem vencido as barreiras do preconceito com exemplos de pessoas que se destacam no mercado profissional.
Por outro lado, gravidez muito precoce, antes dos 15 anos, é considerada fator de risco. “A mulher ainda está na fase do próprio desenvolvimento, na fase de crescimento. Além de as taxas de abortamento serem maiores, há o risco de anemia, de parto prematuro, de influência no crescimento fetal”, esclarece Sandro.
Menstruação tardia
Menstruar mais tarde não significa que a faixa ideal (de 25 a 35 anos) para engravidar é ampliada. Sandro explica que o bebê do sexo feminino – a partir do quinto mês de gestação, ainda na barriga da mãe – começa a gastar cerca de mil óvulos por mês. “Uma mulher tem aproximadamente 3 milhões de óvulos. Aos 12 anos, ela estará com 500 mil. Essa perda de óvulos é um processo contínuo no organismo feminino, mesmo quando a mulher está grávida”, reforça. Ou seja, menstruar mais cedo ou mais tarde não faz diferença nenhuma.
Reprodução assistida
Para Sandro, o mais importante quando o assunto é a gravidez após os 40 anos é a mulher entender que as chances vão diminuir. À medida que envelhece, os óvulos se tornam mais difíceis de serem fertilizados. A probabilidade de uma mulher com mais de 35 anos ter uma gravidez natural é de uma em seis, a cada mês, ou seja, 15%. As taxas de gravidez diminuem com a idade, sendo que a partir dos 37 anos, essa redução segue um ritmo mais acelerado, tanto que aos 42 anos a chance de gravidez espontânea é de apenas 5%. “É importante não perder tempo. Se a mulher está tentando há 6 meses e não consegue, procure um especialista em reprodução assistida”, encerra.
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Patricia brinca que é difícil juntar os cinco filhos em uma foto. Na imagem, a ausência é do primogênito, Gabriel, de 21 anos
Dez anos depois, fruto de um relacionamento de seis, veio Valentina. Decidida, Patrícia queria uma cesariana para aproveitar e ligar as trompas. “Nem pagando ele quis me operar”, brinca. Meu médico me convenceu que o parto normal é sempre a primeira opção, que eu era uma ‘parideira’ e que eu fizesse a operação depois”, diz. Patrícia adiou e fez até uma tatuagem com os nomes dos quatros filhos. “Achei que ela seria a última. Pensando racionalmente, não tinha a menor pretensão, nem condição financeira ou psicológica de ter outro”. Além disso, relembra que chegou aos 106 quilos na gestação de Valentina. Adiou o ligadura de trompas e investiu na cirurgia bariátrica. Após 30 dias do procedimento, ainda em processo de convalescença, outra surpresa: estava novamente grávida.
Após quatro partos normais, Antonella nasceu de cesariana e Patrícia fez a tão esperada esterelização. “Ela é filha de um namorado e não tínhamos pretensão alguma de um relacionamento sério”, fala. Até os 7 meses de gravidez, ela escondeu o fato da família e dos filhos. “Estava em processo de emagrecimento e a barriga demorou a aparecer”, relata. Ela fez o pré-natal com o ginecologista e com o cirurgião da bariátrica. “Eu não conseguia comer quase nada e tinha muito medo de o bebê nascer com algum problema”, afirma.
Na gravidez inteira, Patrícia ganhou quatro quilos e no primeiro mês de vida de Antonella, emagreceu 15. Hoje ela pesa 63. “Deu tudo certo, ela nasceu com três quilos e 48 centímetros. Apesar das limitações da idade, sou ativa, magra, tenho energia e estou curtindo a maternidade com mais maturidade”, encerra.