Problemas no sono podem ser um alerta para o Alzheimer e o Parkinson
Ao revistar estudos, cientistas do Canadá reforçam a associação entre as noites maldormidas e o desenvolvimento de males neurodegenerativos, e destacam a importância de agir preventivamente diante do primeiro complicador
Leia também: Dormir bem emagrece e diminui o desejo por alimentos mais doces e calóricos
“Pela série de estudos que analisamos, vimos que problemas como o Alzheimer primeiro afetam as células do cérebro que controlam o sono REM, em seguida, isso se espalha para outras áreas degenerativas”, destaca John Peever, professor associado do Departamento de Fisiologia da Universidade de Toronto e autor principal do estudo. Peever ressalta que ter o distúrbio comportamental do sono REM não é uma sentença de desenvolvimento de problemas neurológicos, mas a condição serve de alerta.
- Alzheimer tem novo método de diagnóstico precoce e simplificado
- Estudante larga tudo e vira 'pai' de avó com Alzheimer
- Droga utilizada para doença do sono interrompe autismo em ratos
- Sono melhora a habilidade reprodutiva
- Pacientes com Parkinson têm mais criatividade
- Portadores do mal de Parkinson em São Paulo contam com transplante que minimiza sintomas da doença
- Saiba quais são os sete pecados do sono e livre-se deles
- Veja dicas para ter uma boa noite de sono
- Relação entre depressão e demência fica mais forte na velhice
- Descoberto no Canadá gene que retarda surgimento do Alzheimer
- Sinais do Alzheimer poderão ser detectados em testes de olfato e de visão
Gleison Guimarães, pneumologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que a pesquisa possa auxiliar em novos tratamentos, mas ressalta que medicamentos para tratar o distúrbio de sono REM já são prescritos com sucesso. “Usamos clonazepan, pramipexole e melatonina no controle dos movimentos anormais visto que uma das condições obrigatórias para classificar o sono REM é a atonia muscular.” Com a medicação, evita-se que, ao entrar nessa fase do sono, o paciente execute golpes, pule e realize outras práticas que o coloquem em risco ou as pessoas que estejam próximas a ele.
O especialista reforça ainda que não existem explicações mais claras sobre a ligação entre os dois problemas. “Não é seguro totalmente afirmar que exista uma relação causa/efeito definida. Na própria conclusão da pesquisa, define-se como necessária a realização de mais estudos randomizados, prospectivos, com populações mais homogêneas e sem fatores confundidores para que isso seja atribuído”, destaca.
Parkinson
Neurologista e coordenador do Programa de Parkinson e Distúrbios de Movimento do Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Andre Dalbem diz que, no caso do Parkinson, o transtorno do sono é considerado como um antecessor da doença, mas que outros fatores, como o histórico genético, são considerados pelos especialistas ao avaliar o paciente. Ainda assim, ele considera bem-vindos os estudos que reforçam a ligação entre os dois problemas (leia Para saber mais).
Leia também: Nem todo tremor é sinal de Parkinson. E a doença não é sinônimo de fim da vida
“Acredito que novos horizontes possam surgir caso esse tema seja estudado a fundo, não só quanto a possíveis medicamentos, mas como um auxílio na identificação da doença. O Parkinson é um transtorno de difícil diagnóstico, conseguimos chegar a ele somente quando está avançado, identificá-lo antes pode auxiliar em tratamentos”, destaca.
Forma mais comum de demência neurodegenerativa, o mal de Alzheimer atinge principalmente idosos. Entre 60 e 65 anos, a prevalência é inferior a 1%. A partir dos 65, ela praticamente dobra a cada cinco anos. O Parkinson, na grande maioria dos pacientes, surge dos 55 aos 60 anos, sendo que a prevalência aumenta a partir dos 70.
Cérebro a mil
Ocorre na etapa do sono caracterizada pela intensa atividade cerebral, muito semelhante ao estado de vigília. Embora essa fase não resulte em um descanso profundo, ela é importante principalmente para a recuperação emocional. O distúrbio leva as pessoas a agirem como se estivessem no sonho. Gritos, choros, socos e pontapés são recorrentes, o que pode provocar fraturas e outros tipos de machucados na pessoa ou em que estiver próximo a ela.
A revista científica Lancet Neurology tem publicado regularmente estudos relacionando o distúrbio comportamental do sono REM com complicações neurodegenerativas. A dopamina, neurotransmissor relacionado a funções como memória, atenção, aprendizagem e sono, surge nesses estudos como peça-chave. Um trabalho do Hospital Clínico de Barcelona, divulgado em 2011, detalha as conclusões obtidas pela análise de exames de tomografia computadorizada de 40 pacientes durante três anos. A metade tinha distúrbios comportamentais do sono REM. A outra era saudável e formou o grupo de controle. Os cientistas observaram, no período, a presença de dopamina na substância nigra, área do cérebro responsável pela produção da dopamina. Constataram que, devido ao avanço da idade, os voluntários do grupo de controle sofreram uma redução na produção do neurotransmissor de 8%. No caso dos participantes com problemas de sono, a diminuição média foi de 20%. Desses, três desenvolveram o mal de Parkinson.